Os EUA pretendem estancar o processo de integração euro asiática. Todas as pessoas que possuem conhecimentos históricos suficientes e que pensam a partir de condicionantes e estímulos que não venham da imprensa corporativa sabem que o intuito de travar este processo é vão.
Bem, é possível estancar este processo de integração, mas isto implicaria estancar a vida humana na terra, o que não seria um problema em si, mas não me parece que seja o desejado pela maioria.
Subjaz ao desejo, como sua razão básica, o apego tenaz à idéia imperial da unipolaridade. Ou seja, a pretensão dos EUA ao poder mundial absoluto e inquestionável. Claro que esta razão de poder não é ou é muito raramente invocada abertamente.
Abertamente fala-se de coisas sem sentido real algum, tais como disseminação da democracia, da liberdade, dos valores ocidentais e outros lugares comuns que só servem para escancarar os níveis obscenos de hipocrisia a que chegaram os filhos da tradição greco judaica.
Embora seja óbvio, convém dizê-lo: se alguém em posição de exercer poder, nos EUA e na Europa, estivesse preocupado com democracia, os Estados da península arábica e do golfo pérsico não existiriam, simplesmente.
Para levar adiante a tentativa de atrapalhar e retardar o processo de integração euro asiática usam-se os meios de combates híbridos, hoje já bem teorizados, principalmente depois do livro de Andrew Korybko. É o manejo do caos administrado para derrubar governos que não servem aos interesses imperiais.
Isso vem sendo feito em países que se situam geograficamente vizinhos à China e à Rússia, bem como em países situados ao longo da Nova Rota da Seda – Belt and Road Initiative. Acontece que, se eu posso perceber isso, é claro que os chineses já o perceberam há muito e dispõe das tecnologias para resistir.
O assustador é perceber o nível intelectual e civilizacional rasteiro das pessoas que movem o aparelho estatal dos EUA. Lastimavelmente, são ignorantes, principalmente de história, não desconfiam que sejam ignorantes, são seguros de si e, o mais grave sinal, estão menos hipócritas que as pessoas que desempenhavam as mesmas funções há sessenta ou cinquenta anos.
Essa redução na hipocrisia dos altos funcionários é algo a temer, por contraditório que possa parecer. Porque a hipocrisia dos que estão nos grandes jogos decorre de um esforço intelectual que fizeram para criar um suporte narrativo e disfarçar, na medida do possível, as contradições entre ações e motivos alegados.
Quando se supera este estágio, há uma regressão à sinceridade e a adoção de modelos de ação primários. O Secretário de Estado dos EUA acredita no que diz e isto é preocupante.
É claro que ele é um negociante que sempre estará na porta giratória e, breve, será executivo da Boeing, da Lockheed Martin ou da Raytheon. Mas, além de um negociante, ele é um cruzado, um pregador religioso, um destinado por Deus a uma missão de não deixar os EUA perderem o que já perderam.
Sendo esta gente assim, trata-se de quem não admite insucessos. Ora, o ungido, investido em missão divina, não é passível de insucessos, porque o representado por ele, por definição, nunca perde. Resulta que ele agirá desesperadamente e fora de qualquer racionalidade.
É o que acontece hoje. Para sabotar um processo de integração com sólidas e antigas bases, que gera ganhos para todos os envolvidos, os EUA estão dispostos a coisas que, se não desencadearem a guerra nuclear, apressarão sua própria decadência. E isto os levará a despejar sua raiva no quintal da América do Sul, como playboys vândalos enfurecidos.