Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

Mês: junho 2010 (Page 3 of 5)

O ministério público eleitoral tem quantos votos?

A pergunta pode, à primeira vista, parecer impertinente. Mas, não é. Se o ministério público eleitoral quer fazer política tem que ir em busca de votos pois, do contrário, não está habilitado para as últimas práticas adotadas.

O fato é que essa instituição pediu ao tribunal superior eleitoral a retirada do ar de um blogue chamado Amigos do Presidente, porque veiculou a notícia de que um relatório de bancos suíços previu a possibilidade da candidata à presidência Dilma Roussef vencer as eleições logo no primeiro turno.

Ora, essa previsão dos bancos foi amplamente divulgada em vários meios de comunicação. Por que, então, a fúria do ministério público eleitoral dirige-se apenas contra o blogue mencionado?

Existe um blogue chamado Amigos do Serra, o outro candidato na disputa, e este site faz campanha aberta para ele. Porque nunca foi objeto de alguma preocupação do zeloso ministério público eleitoral?

Não cabe a essa instituição o papel de censura, prévia ou póstuma, de qualquer meio de comunicação, principalmente se os critérios para a censura são desconhecidos, ou se são aleatórios, ou mesmo inspirados pela vontade de privilegiar uma das candidaturas à presidência.

Não é pouco absurdo o pedido de retirada do site do ar, porque a discussão política é livre. Além disso, revela uma abordagem até mesmo tola. Ora, se um site estiver hospedado em outro país, nem ministério público, nem qualquer tribunal brasileiro conseguirão retirá-lo do ar e a tentativa soará como um flerte com o autoritarismo ridículo.

Se o autoritarismo passar a dirigir-se indistintamente a sites apoiadores das duas candidaturas permanecerá o absurdo. Uma coisa é violar as condições de igualdade formal das eleições por abuso de poder econômico ou violar a lei com ataques à honorabilidade à guisa de fazer campanha e outra distinta é discutir política e dar informações. Convém não as confundir ou partir em busca de votos.

A celebração da irrelevância. A tolice falada com solenidade. A ciência de coisa nenhuma. Qualquer desses títulos serve.

Não são todos os jogos do mundial que assisto totalmente sem som. São apenas os narrados por um funcionário da Rede Bobo que se destaca verdadeiramente na falação de tolices. Os outros eu os vejo com o mínimo volume possível, por hábito mesmo, porque afinal a narração e os comentários são desnecessários. O jogo vê-se.

Mas isso que me chama a atenção não é próprio da Rede Bobo. No fundo, todas as transmissões de futebol são parecidas e o que se destaca na Bobo é a quantidade, não a qualidade. Ela é pior porque tem mais do que torna ruim uma transmissão. Abusa da celebração da irrelevância, da oferta da bobagem com solenidade.

Tudo tem que ser tornado em alguma coisa especial, em alguma coisa que se explique com um número, com uma data. Então, quando jogam duas equipes nacionais, o pessoal da televisão começa a derramar-se em datas e números. Nesse preciso momento faz 473 minutos que a equipe tal não sofre gols em dias ímpares. Ou: quando a equipe tal joga com seu uniforme azul e a Lua está em conjunção com Marte sempre cai uma chuva fininha no segundo tempo do jogo e o atacante escorrega antes de alcançar a bola.

Ora, não há problema algum em se repetirem trivialidades e pseudo-estatísticas durante a transmissão de uma partida de futebol. Nada disso é importante e nenhuma dessas estatísticas consiste em algum dado útil a qualquer pensamento. O problema é anunciar essas bobagens com ares de solenidade, como se estivessem a oferecer preciosidades ao público. Isso é humor e deve ser tratado como tal.

Vai começar mais um jogo e o falador televisivo sai-se logo com alguma coisa assim faz seis anos, quatro meses e vinte e três dias que a equipe A não perde uma partida sempre que seu treinador calça a meia esquerda antes da direita e a humidade relativa do ar está maior que 50%. Sim, mas e daí? Fazia minha vida toda até que eu escrevesse esse texto e antes de escrevê-lo ainda não o tinha feito!

Façam piadas, senhores televisivos. Não há mal em falar cretinices desde que não sejam presunçosas.

Saramago morreu.

José Saramago, já velho.

Um homem sóbrio. Morre sobriamente, em casa, aos 87 anos.

Há vinte anos, deparei-me com dois livros dele, na casa de minha avó. Eram O evangelho segundo Jesus Cristo e A história do cerco de Lisboa. Não me produziram uma imensa sensação de descoberta literária. Alguma surpresa com a forma, alguma satisfação com a abordagem.

Pus-me a ler tudo quanto encontrasse de Saramago há pouco tempo. E gostava de iniciar a leitura de um depois de terminar a de outro livro. Sempre fica a parecer que o estilo cria alguma familiaridade e que os livros todos são um. E acredito que sejam.

Não consigo dizer de outra maneira, embora vá soar ingênuo. O homem parece que não se vendeu. É isso, não se vendeu; dizer que era coerente é simples, pouco.

Acho que seduzi-me pelos livros do Saramago pelos por quê. E não acho que sejam por quê existenciais, mas mais ao rés-do-chão.

Há um ano, mais ou menos, descíamos, Olívia e eu, da Lapa a São Bento. Podíamos tomar o metro, mas resolvemos caminhar. Boa decisão, pois breve voltaríamos e o pequeno deleite de caminhar tornaria a ser interditado. Chegamos aos Aliados e lá estava a Feira do Livro do Porto.

Andamos a ver uns livros e, pelas tantas, Olívia ouviu anunciar que às cinco e meia José Saramago estaria lá e autografaria livros. Ficou entusiasmada e eu disse que era melhor averiguar, que podia ter escutado mal. Quem escuta mal, como eu, sempre cogita essa possibilidade. Mas, tinha ouvido bem, Saramago estaria ali mesmo.

Formou-se uma fila que logo estaria imensa. Olívia comprou dois livros e ofereceu-me um: Manual de Pintura e Caligrafia. Agora mesmo fui apanhá-lo na estante e vi a data precisa, escrita por ele, assim: 2.VI.2009

À nossa frente havia uns jovens eufóricos. Eram estudantes e alguns eram brasileiros. Fosse o Saramago ou a Madonna quem eles iam ver em breve, acho que dava no mesmo. O velho escrevedor perceberia esse entusiasmo que não era de letras, mas de gente conhecida. Percebeu melhor ainda porque um dos rapazes fez alguma pergunta que não se referia a livros. Olívia deve lembrar que pergunta foi, mas eu não lembro, não escutei.

Lembro que Saramago reteve o rapaz e, com um ar de muito cansado, perguntou-lhe se já tinha lido algum livro seu! Pergunta gentil, cansada e sem precisar de resposta.

Chegou minha hora de entregar-lhe o livro para autografar. Um aperto de mãos, boa tarde, boa tarde, obrigado.

Continuarei a pintar o segundo quadro, mas sei que nunca o acabarei. A tentativa falhou, e não há melhor prova dessa derrota, ou falhanço, ou impossibilidade, do que a folha de papel em que começo a escrever: até um dia, cedo ou tarde, andarei do primeiro quadro para o segundo e depois virei a esta escrita, ou saltarei a etapa intermédia, ou interromperei uma palavra para ir pôs uma pincelada na tela do retrato que S. encomendou, ou naquele outro, paralelo, que S. não verá.

Argentina: futebol ofensivo e talentoso não morreu.

Higuaín.

Que sigam os adeptos do Deus Itália seu rumo. Mas, não decretem precocemente a morte do futebol ofensivo, baseado no talento, no toque de bola, na velocidade. Tampouco lancem mão desse lugar-comum terrível da relação necessária entre tática ofensiva e fragilidade defensiva.

A Argentina venceu a Coréia do Sul por 4 gols a 1 e podia ter marcado mais. Com relação à primeira partida, a equipe argentina evoluiu. Pareceu-me menos dependente de Messi, na medida em que, hoje, Di Maria e Tevez deram grandes apresentações.

Se vão ser os grandes vencedores, ou não, pouco me importa. Espero que sigam até as finais, porque oferecerá bons espetáculos.

E a Espanha ein? Que fiasco… E a suiça ein? Que felicidade!!!

A Espanha fez seu debut no mundial. Mundial este que estou acompanhando de vez em quando pelo diário esportivo espanhol Marca, esse dai do calendário (debut inclusive é a palavra que eles usam pro time estreante).

Eu podia escrever aqui muito sobre o jogo, porém o mais interessante de se acompanhar as reportagens pelo Marca, é que há muitos comentários lá mesmo, e além dos espanhóis há também portugueses e muitos sul-americanos, ou como eles chamam “sudacas”, a rivalidade entre as seleções, do Brasil, da Argentina, de Portugal e da Espanha estão presentes, além de outros paises (afinal é um jornal grande e há notícias de todos as seleções, então é de se esperar que quem saiba arranhar uma escrita em castelhano dê uma comentada por ali). Além de ma rivalidade muito grande entre as torcidas do Barcelona e do Real Madrid, entre outras, dentro da própria Espanha.

Então deixo vocês com alguns comentários colhidos por lá e as fotos da vitória da Suiça.

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Calendário da Copa do Mundo 2010.

O diário espanhol Marca lançou um calendário da Copa do Mundo online, dá pra ver as datas dos jogos, pela equipe, pela cidade, pelos grupos, enfim, ficou muito bacana, só falta os horários serem os daqui, porque afinal são os da Espanha… Nem tudo é perfeito né, fazer o que. Vai uma foto de como ficou abaixo, e para acessar basta clicar aqui, há versão em espanhol e em inglês.

Calendário da Copa 2010
Calendário da Copa 2010

Um paradigma engraçado na política campinense.

Sou natural de Campina Grande, não é exatamente uma cidade pequena, e tampouco é uma metrópole. É uma cidade agradável, de médio porte que já oferece alguns bons serviços e outros nem tanto assim, mas que sofre de alguns problemas das cidades grandes (leia-se: das cidades grandes do Brasil!).

Desde que me lembro, em Campina, politicamente falando, sempre existiram 2 candidatos, e ora não é de se espantar, afinal, se hoje é uma cidade de porte médio, o comum (acredito eu) é que antes fosse menor, e sendo assim, seria difícil ter a diversidade política de uma cidade “grande”. Acontece que convencinou-se de uns tempos pra cá, de chamar partidos e coligações, de grupos políticos, acredito eu que isso aconteça porque os políticos não tem identificação nenhuma com os partidos, suas políticas ou ideologias, de forma que é mais fácil identificar os políticos daqui pelas pessoas das quais se acompanham, do que pela legenda partidária. Acredito que exista fenômenos semelhantes nordeste afora.

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Viva Argentina!

A equipe argentina estreou no mundial, vencendo a Nigéria por um gol a zero. As duas equipes jogaram bem, mas a Argentina mostrou uma grande qualidade no toque de bola. E jogaram um futebol aberto, franco, bonito de se ver.

É engraçado – depois de superada a repugnância inicial – observar a evidente torcida contrária à Argentina dos locutores da Rede Bobo de televisão. Não tenho alternativas a ela e vejo as partidas com o mínimo volume de som possível. Eles assumiram uma postura anti-argentina evidente e até ridícula. Acho que têm raiva de Maradona, como têm de todos que pensarem com as próprias cabeças e não os reputarem os emissários de Deus na terra.

Ainda mais terrível é que a propaganda anti-argentina, patrocinada pela Rede Bobo, surte efeitos nos seus espectadores, claro. E as pessoas passam a achar que uma opinião é um dado objetivo. Ou seja, passam a confundir sua contrariedade à Argentina com a crença de que eles andam a jogar mal.

É daí que vêm as surpresas, ou seja, da ignorância de confundir o que se quer que seja com o que pode ser. Suponhamos que os argentinos terminem por ser os maiores vencedores. Resultará em milhares de brasileiros atônitos, sem compreender como aqueles seres desprezíveis afinal venceram.

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