Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

Mês: junho 2010 (Page 4 of 5)

Entreguistas contra nacionalistas. Esta é a dicotomia política fundamental brasileira.

Fiz questão de utilizar o adjetivo fundamental, no título, para deixar evidente que há outras díades notáveis nos antagonismos políticos. Todavia, o corte entre nacionalistas e entreguistas é o mais nítido e profundo que há. Desde a metade do século XX até hoje, todos os conflitos políticos brasileiros podem ser vistos sob a perspectiva dessa díade, embora, evidentemente, possam ser vistos por vários outros prismas e modelos de compreensão.

As expressões consagraram-se no vocabulário político a partir da questão do petróleo brasileiro. A divisão estabeleceu-se entre os partidários da exploração pela companhia estatal Petrobrás, criada por Getúlio Vargas com esse propósito, e partidários da exploração a partir dos capitais e empresas transnacionais. Essa foi uma enorme fratura político-ideológica.

As circunstâncias históricas do ocorrido foram determinantes para sua complicada inserção na lógica política bipolar da guerra-fria. O Brasil estava no quintal dos Estados Unidos da América e seguia sob seu domínio. Qualquer desvio de conduta tendente a contrariar os interesses norte-americanos era acusado de inclinação comunista.

Ora, a questão do petróleo, rigorosamente falando, não dividia as posições entre capitalistas e comunistas, mas entre nacionalistas e entreguistas. Nada obstante, este último grupo fez da questão uma dicotomia ideológica que ela não revestia e tentou fazer dos nacionalistas comunistas. Não era disso que se tratava, todavia, mas de autonomia nacional frente a dependência externa pois, de fato, nunca houve qualquer risco de tornar-se o Brasil seguidor de alguma variante do bolchevismo.

Figuras insuspeitas de professarem algum comunismo eram adeptos claros da exploração nacional do petróleo e de outros minerais estratégicos. Eram-no por um evidente nacionalismo de direita, mas o discurso então oposicionista chamava a isso de comunismo! É perfeitamente compreensível, na medida em que o suporte em que se apoiavam não podia ser outro: para serem contra os governos, notadamente de Vargas, de Kubitschek e de Goulart, tinham que contar com o apoio norte-americano.

Uma questão difícil de investigar são os verdadeiros móveis das figuras proeminentes do entreguismo, tanto as civis, quanto as militares. Até que ponto acreditavam no entreguismo, até que ponto julgavam válida a cretina idéia de que o nacionalismo de direita era comunismo e até que ponto agiam como simples corretores a soldo dos norte-americanos? É difícil até porque os subornos costumam ser mal documentados.

Raramente um e outro motivador age sozinho, para desespero de quantos buscam causas únicas, claras, isoladas. As coisas terminam conspirando para dificultar a compreensão e misturam-se todos os fatores. As abordagens que se pretendem racionalistas costumam negar às figuras proeminentes e aparentemente mais bem dotadas intelectualmente as motivações fanáticas, puramente inspiradas na propaganda, mas convém ser menos cético.

O caso da histeria contra o comunismo é bastante revelador. Porções das classes dominantes civis e militares, que se forjaram na oposição a Vargas, viam em tudo que fosse uma contrariedade aos interesses norte-americanos a marca do comunismo, mesmo que ignorassem profundamente o que fosse propriamente comunismo e seus aspectos políticos e econômicos. E pareciam também ignorar o que era e é a base teórica do liberalismo político clássico: a democracia eletiva.

Acostumamo-nos a confundir racionalismo com mercantilismo ideológico e, assim, passamos ao largo do que parece impossível se não se motivar apenas na compra-e-venda de opiniões e posições. Todavia, as crenças e o fanatismo existem, sim, e são até mais fortes que a posição comprada. Como as idéias gratuitas tendem a parecer simples adesões àlguma tolice, reputamo-las inexistentes.

Parece-me que a necessidade de dissociar causas conduz à eleição de apenas uma e outra, quando, na verdade, elas costumam andar juntas e bem misturadas. Ademais, não se excluem necessariamente. Se é verdade que muitos dos oposicionistas ao nacionalismo brasileiro das décadas de 1940, 1950 e 1960 agiam por terem-se seduzido pela propaganda norte-americana, também é verdade que muitos agiam seduzidos pelo dinheiro norte-americano.

Vistas as coisas com a distância do tempo, muito do que era confuso torna-se claro. O Brasil era muito pouco importante economicamente e encontrava-se em uma região indiscutivelmente partícipe da esfera de influência norte-americana. Não havia outras adesões possíveis e nem parecia haver outras desejáveis. Nessa perspectiva, não causa qualquer estranheza que tenha sido possível recrutar elites dispostas à defesa dos interesses dominantes nessa parte do mundo.

E foi possível levar a coisa adiante, dando-lhe ares teóricos e postulando a inevitabilidade da dependência. Aqui desnuda-se a insuficiência epistemológica de quantos, a partir de constatações, criaram prisões doutrinárias, negando a própria história, entre outros fatores mais. A dependência que se constatou então realmente havia, mas sua permanência não era um axioma, como quiseram seus defensores.

Hoje, quando a dependência brasileira diminui a galope, ainda há quem insista na impossibilidade disso, embora o processo marche nas suas vistas. Ainda mais contraditório é que a dependência recua – notadamente pelo aumento da detenção de meios energéticos – ao passo que a integração econômica com o mundo também progride. É possível, para horror de muitos, seguir a marcha autonomista e abrir-se aos mercados mundiais, simultaneamente.

Por isso, os mais recentes suspiros entreguistas revelam poucas potencialidades. E, por ser possível que estejam por esgotar-se enfim, podem ser os mais perigosos. O moribundo ergue-se muito teso e crispado na última vez que se ergue.

Forró, Baião, Xote e afins porra… Que afinal é São João!! =)

Flávio José apareceu devagarinho e tomou, bem tomado, um lugar que estava sem dono fazia tempo. Afinal, o poder não aceita vácuo…
http://www.youtube.com/watch?v=MatHc5hgNic
“Pra todo mundo”:

Pra todo mundo
A minha cara é de alegria
Porque ninguém tem nada a ver
Com a minha dor
O meu lamento
Ninguém não pode dar jeito
Se todo mundo tem
A marca de um amor (bis)

Ai! tem um amor
Que dá prazer e alegria
Tem outro amor
Que faz a gente delirar
Há quem diga
Que tem amor diferente
Que amarra a gente
Pelo jeito de olhar, oi!
Quanto mais quente
Mais fogoso é duvidoso
E o mais gostoso
Bota a gente pra chorar

Essa era muito cantada por Marinês, infelizmente não consegui encontrar com ela no Youtube, só com Genival Lacerda, que sempre fez um genero mais escrachado, mas ta ai representando, a terra, a música e até mesmo, quem sabe, Marinês.
http://www.youtube.com/watch?v=77hRI2ghhHw
“Quem dera”:

Quem dera ter você de novo
De novo, chegando
Quem dera ter você agora
De novo, me amando

Gostoso era o tempo de lua na beira do mar
um cafuné na rede, um chamego daqui, um chamego de lá
E o amor espalhando a doidice quando não se foi
Mas quem é que não sente saudade do tempo que foi tão feliz

Por último a música que deveria ir era “Quando o mês de Junho chegar”, dela não encontrei nenhum intérprete, então fica só na letra…

“Quando o mês de Junho chegar”:

Quando o mês de junho chegar,
eu vou, eu vou me esfarrear.

Eu vou brincar de roda,
eu vou forrorear,
pra festejar São João,
só, só no arraiá,
tem milho no asseiro bom de quebrar,
e tem moça donzela doidinha pra se arrumar.

E tem jenipapo, tem canjica-ca,
já tem um sanfoneiro pra tocar pra nós dançar.

Para substituir ela, encontrei outra de Flávio José, essa mais séria, e uma de minhas preferidas…
http://www.youtube.com/watch?v=53vscfKLQ4w

“Cidadão comum”:

Sou um sujeito
Pacato nordestino
Acredito até mesmo no destino
Posso até ser chamado sonhador
Acredito em tudo que eu quero
Apostei tudo em mim e considero
Que o opositor é um perdedor
E assim vou seguindo a minha sina
Sou um forte de alma nordestina
Obrigado a sair lá do sertão
Acredito em tudo que eu faço
Se deixei minha terra
É porque acho que não sou
Só um simples cidadão

E você me vem
Com esse preconceito
Pode despistar
Que eu não aceito
Pois eu nasci lá
E não sou mais um
Sem ter importância
Cidadão Comum

Se não fosse
Essa seca que atormenta
Expulsando de lá
Toda essa gente
Nos tornando um povo sofredor
Como é que vivia o paulistano
Sem contar com a força do baiano
Que sem dúvida
É um bom trabalhador
Se o nordestino tivesse cuidado
E escolhesse um governante arretado
Que investisse um pouquinho no sertão
Queria ver se o Rio e São Paulo
Sem contar com os maus remunerados
Se não iriam cair na depressão

Severiano Miranda

A economia brasileira cresceu 9% e houve quem achasse ruim!

A economia brasileira cresceu, no primeiro trimestre de 2010, 9% em relação a igual período de 2009. É crescimento econômico em ritmo chinês ou indiano, muito superior à média mundial e à média brasileira.

Não há, no crescimento econômico, o que se considerar ruim. Há, claro, que se buscar formas mais equânimes de distribuir os resultados, que são apropriados muito desproporcionalmente, mas isso é outra estória. Junto com esse exuberante crescimento, verificou-se uma redução do desemprego.

Não obstante, alguns meios de comunicação de massa esforçaram-se até os limites da incoerência absoluta e do desrespeito pelo inteligência alheia para apontar aspectos negativos de um crescimento econômico de 9%.

Por um lado, isso é bom, porque deixa evidente que os meios de comunicação não estão minimamente preocupados com a qualidade ou com a veracidade de quanto dizem. Estão preocupados em fazer campanha política partidária contra o atual presidente da república e sua candidata.

Avançarão até os píncaros da incoerência e da estupidez para prestar serviços ao candidato de oposição ao governo, José Serra, tentando inclusive negar que crescimento econômico seja bom! Eu gostaria muito que esses jornalistas de globos, folhas de são paulo, estados de são paulo e outros meios desse tipo, fossem dizer na Europa que crescimento econômiuco é uma coisa ruim.

A senhora Clinton e o furor de impor sanções ao Irã. Os EUA movem-se por má-fé ou estupidez?

Teerão.

Anatole France dizia que a estupidez é pior que a má-fé, porque a primeira é mais laboriosa, descansa nunca, enquanto a segunda pára em alguns momentos. O elegantíssimo escritor furtou-se a tecer algum comentário sobre essas duas inclinações atuando conjuntamente, todavia. Teria sido precioso se o tivesse feito.

Os Estados Unidos da América, falando por intermédio de uma enfurecida senhora Rodham Clinton, querem que seu braço diplomático, a ONU, imponha sanções ao Irã, a despeito do acordo nuclear recentemente celebrado. E, se querem, vão conseguir. A questão é: para quê?

Por apreço a normas e preocupação com a paz mundial não é, a toda evidência, porque se prezassem essas coisas não apoiavam irrestritamente os crimes israelenses. Restam, como possíveis causas, a vontade de fazer uma guerra e de levar mais adiante a encenação de polícia moral do mundo.

Os governantes norte-americanos são mantidos pelo dinheiro das indústrias bélica, energética e pelos bancos e devem a elas submissão integral. Assim, devem atuar em função dos interesses dessas mesmas indústrias. Portanto, uma guerra sempre é desejável, senão não se vendem armas, gasolina e promissórias. Até esse ponto, as coisas podem ser compreendidas a partir da atuação da má-fé. Porém, a estupidez entrará em cena, para tornar pior a situação.

Não convém testar certos limites, ante o risco de gerar situações sem retorno. Quando se testam os limites do discurso mentiroso, distribuindo-o fartamente, produz-se não apenas sua desconstrução. No limite, mais que incoerente ele torna-se desprezível. Em momento posterior, não somente uma linha discursiva, mas toda e qualquer variante, tendem a serem consideradas desprezíveis.

Então, age-se sem apoio teórico, apenas com a força e os interesses. Nesse campo, também, a situação pode fugir ao controle. É lugar-comum que se sabe como uma guerra começa, mas que dificilmente sabe-se como termina. Uma guerra contra o Irã deve começar com os indefectíveis bombardeios aéreos israelenses, mas pode encerrar-se de várias maneiras, inclusive com a destruição de Jerusalém.

Os conflitos põem em evidência conectivos de solidariedade que antes eram ignorados ou desprezados, porque os senhores da guerra gostam de desconhecer a cultura, a história e as religiões. Quando essas ligações evidenciam-se e põem-se a atuar, percebe-se que a guerra foi gerada sem se considerarem todas as variáveis possíveis. Enfim, sem mais palavras, os problemas são muito maiores do que aparentavam ser e certas potencialidades adormecidas acordam.

Curiosamente, depois de despertados alguns seres que se julgavam acometidos por uma doença do sono eterno, alguém tem a idéia de tentar novamente o discurso, aquele mesmo que foi conduzido à categoria de coisa desprezível, por terem sido testados seus limites. Nesse momento, pode já ser muito tarde para tentar curar feridas com palavras, ademais palavras falsas.

Saúde e educação públicas, no Brasil. É necessário envolver as classes médias.

Na democracia representativa o poder pertence ao povo apenas em termos formais ou retóricos. O ato de votar em representantes não se confunde com o exercício real do poder, materializado em decisões tomadas cotidianamente. O poder está muito mais na potencialidade econômica e na inserção nas camadas do estado que na possibilidade de manifestar uma escolha em um dado momento.

Feita a escolha, as distâncias se alargam entre os mandantes e os mandatários e entre os mandantes e os burocratas não mandatários. Então, os serviços públicos fundamentais, como saúde e educação, não estão voltados a uma boa prestação porque as camadas que exercem efetivamente o poder não os consomem.

Não há interesse em prestações públicas eficazes de saúde e educação, no Brasil, porque os estratos sociais dominantes não são seus utilizadores finais preponderantes. Esses estratos preferem aumentar a apropriação de rendas e consumir serviços privados, deixando aos serviços públicos a tarefa de atender aos mais pobres e menos poderosos.

Para que fossem melhor prestados, esses serviços teriam que ter as camadas médias e médias-altas como destinatárias. Mas, observa-se precisamente uma inversão da lógica do serviço público, pois o estado dá subsídios a quem menos precisa, para que adquiram serviços privados em setores de participação pública formalmente universal.

Vigora no Brasil um absurdo que são as deduções de despesas médicas e educacionais privadas do imposto de renda devido anualmente. Essa renúncia fiscal é concentradora de rendas e ajuda precisamente a quem menos precisa de ajuda. Ademais disso, é destituída de lógica institucional porque se os serviços são públicos e universais não há razões para oferecer subsídios a quem os compra à iniciativa privada.

O dinheiro das deduções de despesas médicas e educacionais do imposto de renda deveria ser gasto nos sistemas públicos dessas duas áreas. É preciso jogar as classes médias e altas no Sistema Único de Saúde e na educação básica pública, para que elas melhorem para todos. Porque essas classes tem poder de reclamar uma melhora real das prestações.

Trata-se de envolver o máximo de pessoas, de classes sociais mais elevadas, no problema dos serviços públicos fundamentais, evitando que sigam sua trajetória de coisas para pobres e, portanto, coisas que podem funcionar mal. As prestações privadas de saúde, por meio de planos e seguros, não devem ser subsidiadas com dinheiros públicos, pois isso representa a iniquidade pelo duplo e chancelada pelo estado.

A dedutibilidade é o prêmio da inércia concentradora que permeia a história desse país. Por outro lado, retrata bem nosso oportunismo na apropriação de recursos públicos, sob os vários disfarces utilizados, sendo o mais comum o discurso meritocrático. O mérito aqui consiste em uma minoria retirar o máximo de uma maioria, por intermédio do Estado, embora esse devesse atuar para todos.

Essa sistemática explica porque os discursos repetidos à exaustão contra os tributos são essencialmente insinceros. Quem reclama contra os tributos altos sem correspondência com serviços públicos bons é precisamente o grupo que recebe compensações estatais indiretas, como salários maiores que as utilidades, isenções e subsídios. Na verdade, esse grupo paga poucos tributos por poucos serviços. Apropriou-se do estado para receber dele os meios financeiros de consumir serviços privados.

Os mais pobres, esses pagam muitos tributos por serviços ruins e são precisamente aqueles cujas reclamações são menos articuladas e menos tomadas em conta. Pagam mais porque fazem-no sobre o consumo, de forma inescapável. Proporcionalmente às rendas, um sistema que tributa preferencialmente o consumo, penaliza evidentemente os mais pobres.

Até mesmo por imperativo de coerência discursiva liberal e meritocrática, os subsídios embutidos nas deduções de despesas médicas e educacionais deviam ser absolutamente suprimidos. Quem pode e quer escapar dos serviços públicos de saúde, que o faça por sua conta e sem a ajuda da entidade que deveria provê-lo igualmente a todos.

Enfim, se as camadas mais ricas da sociedade brasileira tivessem que recorrer à saúde e educação básica públicas, rapidamente esses serviços melhorariam de nível, em benefício de todo o grupo.

A obra do capitalismo sem regulação.

Essa fotografia é terrível. Um pelicano inteiramente impregnado de óleo, em alguma praia no Golfo do México. Como ele, vários outros bichos vão morrer banhados em óleo, por conta do imenso vazamento de um poço da British Petroleum.

Hoje sabe-se que as agências de regulação norte-americanas oscilam entre a não exigência de qualquer medida de segurança e a leniência com o descumprimento de alguma exigência. As corporações agem da maneira que melhor lhes parece, sem qualquer consideração por normas ou pelo risco ambiental de suas atividades.

Essa mesma gente sente-se à vontade para financiar embaraços ambientais em países mais pobres, exatamente para travar-lhes algum desenvolvimento, que implicaria menos dependência com relação a elas. Fazem seus papéis de mentir e dominar e as platéias, aceitando os discursos, fazem o seu de serem espectadores tolos e disciplinados.

Carros com adesivos religiosos. Deus é fiel. Sim, mas a quê ou a quem?

Reparem no adesivo no vidro traseiro.

O trânsito é palco da maior reunião simultânea de absurdos e infrações que há. Acredito que isso deva-se basicamente a dois fatores: primeiro, à existência de carros demais; segundo, ao profundo egoísmo dos condutores. Na raiz desse egoísmo profundo e dissimulado poderíamos apontar várias outras causas, mas então partiríamos para a regressão infinita.

O fato é que nos dizemos cordiais, simpáticos, solidários, ordeiros, mas somos bastante egoístas, na verdade. O condutor brasileiro típico age como se o mundo estivesse em função dele, como se as regras mais triviais pudessem ser flexibilizadas segundo sua conveniência imediata, como se seus interesses fossem o suficiente para reclamar a complacência dos restantes.

Sendo assim a mentalidade dominante, quase todos sentem-se muito à vontade para estacionar carros em locais proibidos, para ocupar vagas destinadas a deficientes físicos, para ocupar duas vagas por ter preguiça de estacionar o automóvel corretamente, para desrespeitar as faixas de pedestres, para violar os limites de velocidades, para parar em local inadequado, quando alguém vai descer ou subir, impondo que todos esperem e toda uma coleção de infrações.

Muito curiosamente, a maioria das infrações é cometida por veículos com adesivos de teor religioso, que são uma verdadeira praga de gafanhotos. Os adesivos mais comuns são Esse carro pertence a Jesus; Foi presente de Deus; Jesus, é dele que você precisa e o campeão de todos Deus é fiel.

Essa última frase, estampada em adesivos automotivos, Deus é fiel, mereceria um estudo acadêmico profundo, uma vez que é destituída de qualquer significado. Ora, Deus é fiel a quê, a quem e como? As pessoas parecem acreditar em uma espécie de intransitividade desse adjetivo, em um valor absoluto desse complemento, que ele não tem.

Se alguém diz que Deus é amarelo, tudo bem. Se diz que Deus é brasileiro, tudo bem, que embora cômico tem sentido. Mas, fiel e só, não diz coisa alguma! Acho que poderiam ir mais além e dizer Deus é fiel a mim, o que seria herético, mas teria sentido. Porém, essa estória de coerência discursiva é bobagem e, no fundo, quem nada diz é porque nada quer dizer.

Significativo é que os proclamadores de insignificâncias religiosas sejam precisamente os maiores violadores das normas de trânsito. Talvez queiram dizer que respondem a normas mais elevadas e, por isso mesmo, têm o direito de desprezar as mais triviais e humanas. Todavia, continua sendo curiosa postura essa, porque a figura tão proclamada em frases sem sentido teria ele mesmo afirmado que não visava a revogar a lei!

Humor israelense… Ou "o amigo de meu inimigo é meu inimigo"?

O quadro é legal. E está tudo beleza, fora é claro, que foi feito por Israel em momento extremamente oportuno… Apesar de ser um quadro de humor, e não se dever dar-lhe mais importância que essa, foi feito quando Lula conseguiu o acordo com o Irã. Se fosse de qualquer outro lugar seria até mais engraçado, afinal só quem não gostou do acordo foram os EUA, Israel e a imprensa nacional. (Tudo bem, tudo bem, há outros paises que os Estados Unidos forçaram a estar em desagrado com o acordo, mas esses foram forçados… A força vale!? Afinal quem faz sexo a força é estuprador, e quem faz relações internacionais a força é o que?)

http://www.youtube.com/watch?v=4oaixch0aDY&feature=related

Segue abaixo outro vídeo de Israel, esse não tão engraçado assim… Será que algum programa de humor tem coragem de ironizar isso?

http://www.youtube.com/watch?v=dbCO-L1hPvo&feature=player_embedded

Olhe aqui Mr. Buster.

Olhe aqui, Mr. Buster: está muito certo
Que o Sr. tenha um apartamento em Park Avenue e uma casa em Beverly Hills.
Está muito certo que em seu apartamento de Park Avenue
O Sr. tenha um caco de friso do Partenon, e no quintal de sua casa em Hollywood
Um poço de petróleo trabalhando de dia para lhe dar dinheiro e de noite para lhe dar insônia
Está muito certo que em ambas as residências
O Sr. tenha geladeiras gigantescas capazes de conservar o seu preconceito racial
Por muitos anos a vir, e vacuum-cleaners com mais chupo
Que um beijo de Marilyn Monroe, e máquinas de lavar
Capazes de apagar a mancha de seu desgosto de ter posto tanto dinheiro em vão na guerra da
Coréia.
Está certo que em sua mesa as torradas saltem nervosamente de torradeiras automáticas
E suas portas se abram com célula fotelétrica. Está muito certo
Que o Sr. tenha cinema em casa para os meninos verem filmes de mocinho
Isto sem falar nos quatro aparelhos de televisão e na fabulosa hi-fi
Com alto-falantes espalhados por todos os andares, inclusive nos banheiros.
Está muito certo que a Sra. Buster seja citada uma vez por mês por Elsa Maxwell
E tenha dois psiquiatras: um em Nova York, outro em Los Angeles, para as duas “estações” do
ano.
Está tudo muito certo, Mr. Buster ? o Sr. ainda acabará governador do seu estado
E sem dúvida presidente de muitas companhias de petróleo, aço e consciências enlatadas.
Mas me diga uma coisa, Mr. Buster
Me diga sinceramente uma coisa, Mr. Buster:
O Sr. sabe lá o que é um choro de Pixinguinha?
O Sr. sabe lá o que é ter uma jabuticabeira no quintal?
O Sr. sabe lá o que é torcer pelo Botafogo?

Olha aqui Mr. Buster, de Vinícius de Moraes. Essa é espetacular.

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=z-xxy9_8duM&hl=pt_PT&fs=1&]

Mandou-me o vídeo o meu estimado Ubiratan. É uma curta poesia de Vinicius, a propósito da incompreensão de um certo Mr. Buster. Esse camarada não entendia como Vinícius, então cônsul brasileiro em Los Angeles, queria voltar para o Brasil. Os norte-americanos são assim, arrogantes a ponto de serem cegos, totalmente cegos. Aí o mundo muda e eles ficam com raiva porque não perceberam, nem foram avisados. E se fossem não compreenderiam…

É de escutar-se com atenção.

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