Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

Uma gente proclítica e intransitiva.

Pronomes pessoais oblíquos querem mandar nos verbos, mas findam por deixar clara sua sucumbência a estes. Por serem oblíquos, não é o agente a comandar a ação, antes é a ação que consente em dar ao sujeito a posição de aparente comando, consente em que fique, obliquamente, na primeira posição, antesposto ao real.

Porém, manda o real e delicadamente permite ao sujeito – que já não é agente – que se insinue afirmando sua pessoalidade, obliquamente: Me dá! Curiosa afirmação de pessoalidade, que prescinde do pronome do caso reto: Me dá fica a parecer mais pessoal que Tu, me dá.

Intransitivos e, consequentemente, reticentes. Sem complementos, diretos ou indiretos, ação pura e, portanto, abstrata! Somos muito mais abstratos do que supomos, nós que nos queremos tão concretos e atuantes.

Queremos domar a ação, afirmar-nos principais em relação a ela, por-nos antes dela. Precisamos, pois, de uma ação sem complementos, aberta à compreensão das reticências, que precise antes da compreensão do sujeito para ser compreensão de qualquer outra coisa.

Assim, os complementos são um estorvo para nós. Eles podem conferir muita objetividade, muita concretude; podem reduzir drasticamente o campo aberto das reticências e as várias possibilidades da ambiguidade.

Se uma pátria – um pertencimento – é sua língua, somos, os brasileiros, isso mesmo: proclíticos e intransitivos.

5 Comments

  1. miguel

    Meu caro, está brilhante! Atreves-te a pensá-lo poeticamente?
    um abraço.

  2. andrei barros correia

    Obrigado.

    Não me atreveria a tentar dizê-lo poeticamente, que me falta talento.

    Nunca escrevi um único, escasso, verso. Se tentasse, acho que acabaria por tentar seguir, talvez involuntariamente, algum estilo.

    A poesia, que gosto de ler ouvindo, ou seja, ler para mim mesmo, tem que ter uma métrica preciosa, um desenho eufônico, que é difícil.

  3. andrei barros correia

    Teria que ter uma educação pela pedra, captar seus sons. Teria que tomar lições com a matéria e a forma.

  4. Bira

    Muito bonito. Mesmo! Preciso, inclusive.

  5. miguel

    Lembra-te de Vinicius!
    abraço

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