Pronomes pessoais oblíquos querem mandar nos verbos, mas findam por deixar clara sua sucumbência a estes. Por serem oblíquos, não é o agente a comandar a ação, antes é a ação que consente em dar ao sujeito a posição de aparente comando, consente em que fique, obliquamente, na primeira posição, antesposto ao real.

Porém, manda o real e delicadamente permite ao sujeito – que já não é agente – que se insinue afirmando sua pessoalidade, obliquamente: Me dá! Curiosa afirmação de pessoalidade, que prescinde do pronome do caso reto: Me dá fica a parecer mais pessoal que Tu, me dá.

Intransitivos e, consequentemente, reticentes. Sem complementos, diretos ou indiretos, ação pura e, portanto, abstrata! Somos muito mais abstratos do que supomos, nós que nos queremos tão concretos e atuantes.

Queremos domar a ação, afirmar-nos principais em relação a ela, por-nos antes dela. Precisamos, pois, de uma ação sem complementos, aberta à compreensão das reticências, que precise antes da compreensão do sujeito para ser compreensão de qualquer outra coisa.

Assim, os complementos são um estorvo para nós. Eles podem conferir muita objetividade, muita concretude; podem reduzir drasticamente o campo aberto das reticências e as várias possibilidades da ambiguidade.

Se uma pátria – um pertencimento – é sua língua, somos, os brasileiros, isso mesmo: proclíticos e intransitivos.