As farsas têm público cativo. Quanto mais burlescas, superficiais e desempenhadas por personagens padronizados, mais chances de êxito com seu público têm.

Nicolas Sarkozy produziu encanto nos analistas políticos de revista Caras. São aqueles fulanos de frases rápidas, daquelas que julgam serem o máximo em graça e precisão, os ditos irresistíveis e impassíveis de objeções, enfim. No fundo, tolices com a superficiliadade própria dos deslumbrados amantes dos julgamentos sumários e dos personagens de filmes de entretenimento.

Quase toda personagem que estimula o próprio folclore indica duas coisas: primeiro, que está aquém de grandes postos; segundo, que desvia a atenção de seus desvios com a mitologia em torno a bobagens.

A mitologia de Sarkozy gira em torno da figura do amante sedutor, o que é o tipo de preocupação do espectador de novelas, mas não o tipo de abordagem que se dá ao Presidente da França.

A Gália escolheu não ter mais reis, por isso precisa de algo que se aproxime o máximo de um rei com mandato. O presidente na constituição da Vª República não é menos que isso: um rei com mandato. Ele pode ser de direita, de centro ou de esquerda, mas deve ter a dignidade do cargo.

O General De Gaulle produziu um efeito político interessantíssimo. Depois dele, só há duas formas de ser direita na França, a direita gaullista e a direita realista. Ambas são formas muito peculiares à França. A segunda só funcionou com Valéry Giscard D´Estaing, que se comportava mesmo como se fosse um rei para sete anos e talvez quatorze.

De Giscard pode-se dizer que aproximou-se um pouco do ridículo ao reestabelecer até mesmo o protocolo borbónico. Mas, não deu sua vida em espetáculo público, nem foi processado por supostas corrupções. Teve seus momentos de grandeza, foi proponente da Europa Federal.

Quando as opções à direita são por alguém que fuja às balizas gaullistas ou realistas, as coisas tornam-se arriscadas. E, o que pode dar errado geralmente dá.

Pois o Presidente da República Francesa está prestes a ser envolvido na investigação por pagamento de subornos na venda de submarinos ao Paquistão. Companhias francesas contratadas teriam pago suborno às autoridades paquistanesas e essas teriam retornado parte do dinheiro para a campanha de Edouard Balladur, em 1995. Sarkozy era ministro do orçamento, então.

Se as investigações marcharem e concluirem por envolvimento do Presidente, creio que de pouco lhe servirão os apoios de quem o vê como o sedutor apaixonado, o político eficiente e viciado em trabalho. Enfim, se concluirem que houve recebimento ilegal de fundos, a revista Caras e seus leitores dificilmente salvarão Sarkozy, a delícia de todos os analistas de cultura de revista.

Será curioso se ouvirem De Villepin…