Cansa. Cansa imensamente o mar de superficialidade afirmativa em que se vive. Por todos os lados está o homem massa – é necessário, sempre, dizer que não se trata do homem pobre – a espalhar as vulgaridades que traz na cabeça, os ditos que reputa graciosos, os disparates que reputa expressões de espontaneidade brilhante.

O tipo que vive a espalhar os títulos acadêmicos, sub-acadêmicos, pseudo-acadêmicos ou nada acadêmicos que obteve. Que propõe a irresponsabilidade e que corre para colher algum fruto que ela eventualmente dê e para afastar-se dos resultados desastrosos que provavelmente dará.

O tipo que tem inúmeros direitos adquiridos e quase nenhum dever, nem consigo mesmo. Não tem deveres de cordialidade, de contenção, de nobreza, de esforço, de decoro, de detenção de alguma cultura que vá além da resenha feita por outro igual a ele. Não tem obrigações com outros, com a vida em comum, com o Estado, com a honestidade intelectual.

Acha-se muito seguro de si mesmo e plenamente suficiente com as poucas e descoordenadas informações que ajuntou no cérebro. Fala de qualquer coisa, cita fulano e beltrano que não leu, pratica o oportunismo superficial porque acredita nele com devota sinceridade. Somente nisso não é dissimulado, pois acredita que todos são iguais, rebaixados ao mesmo nível de sub-homem.

O homem massa acredita em uma deformação da igualdade material. Essa crença é uma acusação de tudo quanto não for igual a ele, porque é intolerante com aquilo que o supera, que é menos mesquinho e estúpido que ele. Não percebe realmente essa diferença e apreende-a como se fosse alguma tentativa de mistificação.

Mede as pessoas por sua curtíssima régua e, por isso mesmo, diante do excepcional fica inicialmente perdido, não o compreende, não percebe algo que deva ser medido por outras réguas, e finda por julgar que está diante de alguma representação como é a dele. Retira do excepcional o que tem de superior para poder contê-lo na sua perspectiva vulgar. É, por isso, um destruidor, um assassino de nobrezas, um caçador de estetas.

Quem achar que isso é lamento de um leitor contumaz de José Ortega y Gasset, um leitor que tenta desconfiar de si mesmo todo o tempo, que tenta perguntar mais que responder, está certo. É isso mesmo, infelizmente.