Os grupos de pessoas que comandam o mundo têm uma racionalidade que deve ser percebida a partir de um conceito ampliado, que não exclua, como se fossem coisas antagônicas e incompatíveis, inclinações místicas e religiosas.

Os misticismos e as religiosidades são formas de racionalidade, eis que se exprimem mediante linguagem, ainda que nem sempre verbalizada. Tudo aquilo que se exprima mediante linguagem ou constitua uma linguagem provem de alguma racionalização, como é óbvio.

O que pode haver é modelos lógicos diferentes por trás de cada forma de racionalização, o que não infirma o que foi dito precedentemente. E, na medida em que discursos baseados em modelos lógicos diferentes podem interagir e construir um novo discurso, percebe-se que nem mesmo um paradoxo resultará necessariamente.

Pois bem, alguns misticismos estão entre os móveis das pessoas que comandam o mundo. Estas são, basicamente, os detentores dos capitais financeiro e dos setores de tecnologia e de comunicações e seus intermediários agentes nas corporações estatais militares e de inteligência e segurança.

Os que comandam o mundo herdeiro da tradição judaico cristã romana são imbuídos do misticismo do destino manifesto e da cruzada para converter ou exterminar os infiéis. Aspiram ao domínio absoluto de todo o mundo, economicamente e culturalmente. Há uma vertente deles que aspira ao controle de espectro total do mundo mediante o extermínio físico dos infiéis, mais que da sua escravização. Estes últimos cultivam o misticismo ecológico neomalthusiano.

Pode-se dizer que outras grandes civilizações têm misticismos entre seus grandes motivos e isto é verdadeiro. Todavia, estas outras nunca manifestaram o desejo, nem afirmaram terem a missão de controlar todo o resto, além de os converter culturalmente às suas formas.

A China tem o misticismo do Império do Meio, mas nunca visou a ser mais que o espaço geográfico chinês – exceto por algumas querelas territoriais que envolvem, de qualquer forma, o grande espaço chinês tradicional. A China, mesmo agora que é a maior economia do mundo, por PPP, não quer converter ninguém nem fazer de ninguém culturalmente chinês.

Não quererá achinesar ninguém, não quererá impor seus valores como os melhores que há. Talvez a enorme história que têm os leve a não querer isso por mero desprezo, talvez sejam gente superior mesmo e respeitem as diferenças e queiram somente fazer negócios.

A Rússia e alguns países cristãos ortodoxos que usam alfabetos grego ou cirílico inspiram-se muito em certo misticismo do pan-eslavismo. Mas, isto funciona num âmbito mais ou menos delimitado e muito bem contido geograficamente por outros países que recusam essa matriz cultural. O pan-eslavismo nunca se propôs a derramar-se para qualquer outro espaço que não fosse já eslavizado.

Estes misticismos – se assim se lhes podemos chamar propriamente – chinês e pan-eslavo não têm características imperiais no sentido de expandirem geograficamente um espaço pre-existente, nem de mudarem os padrões culturais e religiosos de outros povos. Mesmo quando a China teve poder de o fazer, não o fez. E agora que volta a ter, não dá sinais de querer tornar o mundo uma grande e única China.

A classe dominante da civilização de matriz judaica cristã romana aspira ao domínio de amplo espectro, com a imposição irrestrita de seus valores e padrões culturais como superiores, além do domínio econômico de todo o restante.

A divisão interna neste grupo dominante ocidental – ainda é a melhor palavra – limita-se a que um dos subgrupos cultiva um misticismo refundador e aspira à quase extinção da população mundial.

Hoje, a China e parte do Sudeste Asiático vivem quatro epidemias virais. A pneumonia humana por Coronavírus, a gripe suína africana, a gripe suína de H1N1 e a gripe aviária de H5N1. Estas epidemias causam imensos danos e podem causar danos ainda muito mais graves, eis que o contágio cresce geometricamente.

O despovoamento e a perda de segurança alimentar – nomeadamente de proteína animal – são fatores de destruição para o espaço asiático, a despeito de quanto creiam em contrário os neomalthusianos sonhadores com mortes em massa. A economia entraria em colapso, na medida em que as pessoas enterradas são as que antes produziam e consumiam e que os custos dos enterros não cessariam de aumentar.

Isso interessaria à elite ocidental e, por isso, é plausível que isto seja uma guerra biológica, embora eu ache improvável. Improvável porque nem todos os componentes da elite ocidental são absolutamente estúpidos a ponto de crerem na possibilidade de escaparem do contágio mediante barreiras sanitárias ou medicamentos.

A China saberá, cedo ou tarde, se isto deve-se a acidente ou se foi um ato de guerra biológica. Faz um esforço hercúleo de contenção do contágio, a um custo altíssimo, o que é coerente com estarem a pensar que não foi um ato de guerra e, sim, um acidente.

Todavia, se chegarem à conclusão de que foi um ato de guerra biológica, para os destruir economicamente, reagirão. E a reação mais simples e eficaz seria simplesmente suspender as ações de contenções e deixar o contágio espalhar-se pelo mundo, permitindo que os geniais agressores experimentassem as benesses da sua idéia.

Mas, como disse acima, acho mais provável que tenha sido um acidente a desencadear esta epidemia.

Todavia, a hipótese da guerra biológica é plausível, porque entre os que mandam no mundo há os inspirados pelo misticismo refundador e esta gente está mais ou menos discretamente infiltrada em muitos órgãos estatais militares e de inteligência, bem como em entidades não governamentais com os mais belos propósitos declarados.

É interessante notar a existência, entre os hiper ricos, nomeadamente os ligados ao setor de tecnologia da informação e ao setor financeiro, daquela gente chamada preppers. Não me refiro aos de classe média que vivem a seguir modismos e seriam melhor definidos como campistas com aptidões para agricultura sustentável e reciclagem de água.

Refiro-me a pessoas que andam a comprar antigos abrigos anti nucleares ou a construírem espaços supostamente autossustentáveis na Patagônia argentina ou na Nova Zelândia. Essa gente acredita na hipótese de guerra nuclear controlada ou parcial, acredita em pandemias de que se escapa.

Na verdade, a crença na possibilidade de escapar de coisas que matariam 99% da população da terra não consegue disfarçar que esta crença está lado a lado com o desejo que isto aconteça. Estes místicos, assim, teriam a oportunidade de refundar a humanidade e atuarem como novos deuses.