Segundo o Global Wealth Databook 2018, do banco Credit Suisse, o 01% mais rico detém 45% do total da riqueza no mundo.

As dez pessoas mais ricas do mundo detém patrimônios superiores aos produtos internos brutos de alguns países, dentre eles, os seguintes: Suíça, Argentina, Polônia. Taiwan, Suécia, Bélgica, Tailândia, Áustria e Noruega.

De acordo com o World Inequality Lab, no World Inequality Report 2018, os rendimentos dos 10% mais ricos correspondem às seguintes percentagens da renda nacional total: no Oriente Médio a 60,86%, na Índia a 55,46%, no Brasil a 55,33%, na África a 54,45%, noa Estados Unidos e Canadá a 46,96%, na Rússia a 45,51%, na China a 41,42% e na Europa a 37,07%. Estes dados referem-se ao ano de 2016.

Nos Estados Unidos verifica-se a maior concentração, entre países da OECD, da riqueza nas mãos do 01% mais rico, eis que detém 42,48% de toda a riqueza do país. Por outro lado, a riqueza média detida por pessoa adulta é muito menor nos EUA que em outros países da OECD como Austrália, Bélgica, Holanda, France, Canadá, Japão e Reino Unido.

A hiperconcentração de riquezas é um projeto, não uma resultante natural de diferenças naturais. Basta observar as mudanças nos níveis de concentração, no tempo e no espaço, para perceber que não se trata de tendência natural, fortuita ou a depender da superioridade intelectual ou moral deste ou daquele grupo nacional ou étnico.

Em alguns lugares, os padrões materiais já atingidos e a existência, ou persistência, de alguns mecanismos de assistência social atenuam um pouco os efeitos da hiperconcentração nas vidas de uma enorme massa de pobres.

Em outros, a brutalidade da hiperconcentração a par com a inexistência de mecanismos de assistência, tais como rendas mínimas e sistemas de saúde pública, permitem antever graves perturbações a serem enfrentadas.

Os primeiros grandes problemas que a hiperconcentração acarreta são a pobreza e a miséria em si mesmas, pelo sofrimento imediato que elas implicam para vastos contingentes. Ou seja, muita gente a sofrer com falta de alimentos, de higiene, de saúde, de moradia, de educação o que, numa simples perspectiva de solidariedade humana, não é desejável.

Por isso, um dos assuntos mais interessantes para a classe dominantes mundial é a contenção social, seus meios táticos e estratégicos. Mas, mesmo preocupando-se em dominar as técnicas de contenção social, as classes dominantes não escapam à inércia da hiperconcentração, mesmo que a racionalidade recomende prestar mais atenção à provável ineficácia futura dos meios de contenção baseados no discurso mediático.

Como dito acima, em muitos países os níveis de bem estar material chegaram a pontos elevados, o que significou pobres aparentemente ricos, às vezes à custa de aparências mantidas por crédito barato. Mas a aceleração na concentração, que se viu marcadamente a partir da década de 1980, tornou frágeis as aparências mesmo na Europa e nos Estados Unidos.

Na Europa e nos Estados Unidos é evidente um processo aparentemente lento de desaparecimento da classe média tradicional e o surgimento de um afastamento contínuo entre os extremos alto e baixo das classes médias. Este é um ambiente particularmente fértil para o ressurgimento de fascismos mais ou menos explícitos, eis que o ressentimento das pessoas é enorme e sempre identificaram-se socialmente com os de cima.

Essa face do problema tem sido muito comentada, porque não são poucas as pessoas que perceberam estarmos em situação semelhante à dos anos iniciais da década de 1930. Contudo, a ressurgência dos fascismos, alojados nas classes médias como em seu habitat preferencial, pode não ser, isoladamente, o maior dos problemas ou implicações que a hiperconcentração pode trazer.

O potencial caótico dos fascismos tem de ser compreendido levando-se em conta outros fatores. Embora seja uma forma de estar e ver o mundo caracterizada pelo primarismo intelectual, pelo moralismo hipócrita e pela raiva, ele ainda se cria, se reproduz e se expressa por linguagem.

Ocorre que em muitas partes do mundo há vastos contingentes de pessoas que não se situam na pobreza intermediária, mas na pobreza aguda ou mesmo na indigência. As emergências e necessidades cotidianas são tamanhas que estas pessoas não poderão ser contidas por meio de novelas de TV ou movimentos cuidadosamente erráticos de políticos, ou escândalos que falam ao moralismo primário ou a qualquer coisa que implique linguagem.

É muito claro que o passo seguinte – opção não seria exatamente o termo adequado – é a violência física e as classes dominantes não têm quaisquer escrúpulos de recorrer a ela, sistematicamente. A questão é: diante da situação que se afigura provável, a violência resolverá? Quanto dela será necessária, caso admita-se que seja eficaz?

Ela só seria eficaz, na hipótese de deflagração de caos generalizado, caso se destinasse à total eliminação da pobreza e da indigência. Uma coisa deve ser lembrada, contudo, pelos entusiastas da idéia nas classes médias: a eliminação física da indigência não gera qualquer excedente a ser apropriado, eis que a indigência nada tem.

Mas, tudo indica que a hiperconcentração levará à hiperviolência e consumirá muita energia e recursos que serão apropriados de forma concentrada, o que traz em si a reprodução do modelo.