Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

Categoria: Hipocrisias (Page 1 of 14)

Uma aula de tristeza nas Eleições de 2018

Outro dia, vi que uma garota que estudou com os filhos então adolescentes do deputado federal Jair Bolsonaro escreveu um texto. No tal texto, ela contava que os filhos do Bolsonaro eram adolescentes normais, de classe média alta no Rio de Janeiro. Que saiam, paqueravam, eram paquerados, usavam internet, tinham ICQ, e brincavam ou, na gíria do Nordeste, carregavam, em seus círculos de amizade.

Eram adolescentes comuns, enfim. Ela começava o texto se perguntando quando fascistas se tornam fascistas e terminava dizendo que  não sabia quando isso acontecia, mas a situação se transmutava em barbárie quando eles chegavam ao poder.

Nas eleições passadas, e nas retrasadas, e em algumas outras antes dessas, eu não estava no Brasil. Não sentia o clima e, pra mim, sempre era uma grande brincadeira. Especificamente na última, o whatsapp já era um aplicativo de telefone difundido, e eu entrei em vários grupos de colégios onde estudei. O melhor deles, onde haviam mais amigos, mais engraçado, mais carrêgo, era o grupo de meus amigos de terceiro ano colegial, último ano do ensino médio, ou como quer que se chame hoje em dia.

Por estar nesses grupos, eu “senti” mais de perto as eleições, as “brigas”, as discussões acaloradas. Foi uma experiência sui generis participar desse jeito nas eleições. E, aqui novamente, o melhor grupo era o grupo de meu terceiro ano colegial, inclusive onde certa feita alguém escreveu: “-Também, nesse grupo a pessoa tem que estudar antes de fazer uma postagem!”, coisa que não se repetia nos outros grupos. Pra mim, que estava então escrevendo a tese doutoral, era uma despressurização das horas enfurnado na biblioteca, saia e ia conversar aresia no Whatsapp.

Naquele momento, as discussões eram sobre políticas públicas, corrupção, obras, e muitas piadas sobre o português ruim da então Presidenta Dilma Rousseff. Algumas discussões eram boas, outras nem tanto, mas eram interessantes. As conversas davam a tônica do posicionamento de cada um individualmente e o pensamento político era construído a partir daí como singularidades desses posicionamentos, conservadas da época em que estudamos estavam a simpatia de todos e a vontade eterna de nos reunirmos sempre que possível.

Em 2014, a maioria esmagadora do grupo votava em candidatos que eventualmente foram derrotados nas urnas. Os poucos, como eu, que naquele momento elegiam o lado “vermelho” da força pra discutir foram, pouco a pouco, saindo do grupo, até que fiquei eu lá, de Highlander. As discussões eram abundantes, ainda que as vezes pesadas, e eu gostava delas tanto quanto adoro torturar idéias, convicções e rótulos, imagino eu, que com alguma destreza.

Eis que essas eleições 2018 estavam meio… Paradas. Sentia falta de alguma coisa e… Pô, vou entrar no grupo novamente pra conversar besteira com o pessoal. E estavam lá todos, tal qual nas últimas eleições, prontos a discutir, conversar bobagens e contar piadas, como sempre. Os moderados continuavam moderados, os que não eram tão moderados assim, também continuavam não tão moderados assim, enfim… Estavam todos lá, inclusive de bom humor. Depois de algumas provocações, fica evidente o que era de se esperar: em sua maioria, os meus interlocutores votavam em Bolsonaro.

A troça perdeu a graça 5 minutos após eu perceber que Bolsonaro não tem proposta alguma, a não ser na pauta de costumes, sobre a qual não vale a pena nem conversar, ou fazer troça. Nem a minha provocação preferida, que é prometer o voto em troca de um projeto, deu retorno, porque simplesmente não há projetos.

E ai lá vem ela de novo, a pauta de costumes… Chaaaaaata, sem graça, só conservadora e ignorante. São, em sua maioria as mesmas pessoas, bons debatedores, bons humores, tolerantes, nas eleições passadas pautadas pela honestidade dos candidatos, nessa, pela pauta de costumes embalada também pela questão da honestidade.

Eu fiquei matutando hoje sobre o texto que a moça escreveu, acerca dos filhos de Bolsonaro. Também sobre um excelente filme chamado “Diários de Motocicleta” de Walter Salles. A menina se perguntava como se formam os fascistas, o filme de Salles é uma proposta do caminho percorrido pelo rapaz Che Guevara para que este se tornasse então o guerrilheiro Che Guevara, sem dúvidas um bom filme que demonstra esse processo de formação. Eu fiquei então refletindo sobre muitas coisas…

Falando só de Bolsonaro, é um perdido. Uma pena que tenha sido alçado a candidato preferido de larga parcela da população por programas televisivos de comédia com gosto duvidoso. Não representa ideologia, mais por incapacidade do que por qualquer outra coisa. Representa sim, a violência, a estupidez, enfim… Cada linha perdida ao descrever #EleNão é uma linha de tempo perdido na minha vida.

A grande tristeza das eleições desse ano, foi perceber que a pauta defendida por ele tornou-se a defendida por muitos amigos e colegas. Que a defendem tão bem quanto defendiam a pauta outrora defendida por Aécio Neves. Só que agora com mais virulência, entoando expressões como: “vai ter repressão”, “distribuir Meritocracia”, pra ficar em alguns casos. Ora, são meus companheiros de outrora quando era garoto, não acredito nem por meio segundo que algum deles seria capaz de “realizar” algumas das barbaridades.

Não obstante, sempre existe a possibilidade. E é quando eu me pego a pensar, qual será o momento em que isso acontece?! Não precisa se pautar por nenhum exemplo escrito aqui, mas em algum momento na vida desses, eles foram pegos por uma correnteza que os leva por mares que eu, e muitos outros amigos não nos arriscaríamos nem a navegar, de tão incompreensível que é. Qual será o momento em que uma pessoa normal, em que um garoto do colegial decide que deveria “reprimir” o comportamento alheio…

O exemplo das eleições 2018, com um fascista como candidato preferido no Brasil, é na data de hoje, bem vivo. Mas os exemplos são muitos, nas profissões. Por exemplo, qual a hora em que um estudante de Direito se apodera da primeira aposentadoria rural como advogado? Que um engenheiro faz a primeira obra com material imprestável, que o comerciante leva a primeira vantagem indevida, e que todos se unem em prol de matar outra pessoa… Qual a hora que uma pessoa normal, no lugar de defender o mais fraco, passa a se aproveitar das fraquezas alheias?

Reversão gay: não se pode autenticar este discurso aberrante.

O Brasil regressa intelectualmente a estados quase selvagens. Os sinais desta regressão são muitos e a violência desmedida é um dos mais destacados. Neste ambiente, volta a se difundir a proposta de terapias de reversão de homossexualismo, o que atende popularmente pelo nome de cura gay.

Esta estupidez aberrante – porque cura pressupõe moléstia – encontra muitos adeptos entre grupos evangélicos não históricos, neo-pentecostais, mas não somente entre eles. Na pequena burguesia alvo das comunicações centradas na pauta de costumes e tomada por uma fúria difusa contra tudo, a idéia é bem aceita.

Trata-se de uma idéia aberrante, evidentemente. Primeiramente, um dado natural que não implica redução de capacidades não é passível de cura, porque não se inscreve no domínio de doença. Segundo, por ser um dado natural, não se cuida de algo proveniente da vontade – não encontrei palavra melhor – e, portanto, é irreversível.

Dizer que, mesmo que que se tratasse de algo reversível, teríamos de indagar o porque de ser desejável esta reversão é entrar em campo muito sofisticado para algo proposto por gente tão primária. Seria jogar no campo do moralismo rasteiro dos intérpretes dos intérpretes dos intérpretes das vontades de um Deus que se recusa a falar para o mundo todo e por sua própria boca.

Diante deste e de outros discursos aberrantes semelhantes, só percebo duas posturas minimamente eficazes. Ambas conduzem a dois estados de ânimo que podem arrefecer a horda pequeno burguesa: a contradição evidente e a vergonha, ainda que momentânea. São o escracho e a saturação do absurdo. Discutir sensata e racionalmente é fazer um contraponto inútil com que abandonou a sensatez e a racionalidade há muito.

As reações à saturação do absurdo, ou extrapolação do absurdo, são muito interessantes e reveladoras. Essa tática leva o selvagem a ver-se privado da aparência de racionalidade com que se disfarça e a despir-se muito rapidamente das aparências, pois sente rápido o gosto saboroso de sangue. Outros, calam-se por vergonha.

Como o assunto tem-se tornado comum, era previsível que chegasse às mesas de cafés e botequins. Assim como previsível é que os frequentadores adeptos da aberração queiram extrair dos demais opiniões autenticadoras das suas. As opiniões autenticadoras do assunto são as de concordância ou de discordância que giram em torno ao suporte teórico prévio da falsa racionalidade. Há um campo previamente delimitado de objeções e concordâncias e tudo aquilo proferido neste campo é autenticador.

Desconcertante é lançar algo que não faz ponto nem contraponto. A uma insinuação de um fulano de que queria saber minha opinião, resisti ao impulso inicial de simplesmente dizer que não discuto idéias tolas e bárbaras como esta. Preferi dizer isto de outra forma e foi experiência psico social interessante.

Perguntei por que o fulano estava preocupado em curar incuráveis, degenerados essenciais que escolheram a inversão e a afronta aos princípios sagrados do natural. O desconcerto foi tão grande, que o selvagem nem se lembrou de tirar do bolso alguma formulação de caridade cristã, de dever de ser bom e resgatar os desviados. Ficou entre atônito e pensativo.

Neste passo, mais uma volta no parafuso. Por que não simplesmente eliminar os que desviam voluntariamente da ordem natural e imutável das coisas? Nesta altura, eram perceptíveis os inícios de duas sensações no meu interlocutor: começava a sentir o aprazível gosto de sangue da vítima e, também e meio contraditoriamente, um pouco de vergonha.

A extrapolação do absurdo retira o selvagem do disfarce e do conforto da aparente racionalidade. Fá-lo revelar o que realmente quer: eliminar o diferente, quer matar. Fá-lo revelar sua covardia em não se mostrar fascista abertamente. Assim, pode-se despir o fascista que desonestamente propõe a aberração com vernizes de racionalidade de almanaque.

 

 

 

O monstro corporativo e a rejeição à democracia.

Acentua-se nas camadas médias da sociedade e principalmente naqueles instalados no serviço público a rejeição à democracia, seja explícita ou disfarçadamente. No estágio atual, as rejeições explícitas são minoritárias e isoladas em grupos extremistas de pouca elaboração narrativa.

Prepondera a rejeição à democracia da maneira mais vil e desonrosa, que é mediante o disfarce e o discurso profundamente hipócrita da defesa da própria prática democrática. Essa postura é de regra para algumas corporações que se apropriam do Estado em benefício próprio. Hoje, notadamente, todos os serviços jurídicos e adjacências, serviços de contenção social – polícias – e as universidades.

 Os grupos formalmente instruídos que compõem estas corporações insertas no Estado agem contra a prática da democracia representativa, mesmo que o façam dissimuladamente. A ação centra-se na democracia interna e transplanta para o público um discurso que somente tem coerência para o privado. Quem é pago por todos de forma impositiva não pode gerir-se como se fosse pago por serviços privados, optativos, específicos.

O protótipo do modelo por todos desejado encontra-se num arcaísmo destituído de sentido, mas nunca seriamente discutido, adotado pelas universidade. Trata-se da eleição dos reitores das universidades públicas pelos votos dos docentes, discentes e funcionários, eleição que, embora não tenha formalmente caráter vinculante do executivo, tornou-se vinculativa na prática reiterada de ser aceita.

Ora, a escolha do reitor da universidade pública no âmbito restrito da universidade – que via de regra tem um imenso orçamento alimentado por dinheiro coletado junto a toda a sociedade – é algo nitidamente anti democrático, embora seja divulgada como o ápice da prática democrática. Aqui, tem-se o triunfo quase completo dos interesses corporativos, pagos com dinheiro da sociedade, em detrimento dos interesses realmente públicos.

Isso é a democracia dos sem votos; a democracia que escolhe como gastar o dinheiro de todos sem perguntar nada a estes todos. Democracia haveria se o reitor, para ficar neste exemplo, fosse escolhido em eleições gerais ou simplesmente nomeado pelo chefe do executivo, que se submeteu a eleições gerais e majoritárias e, portanto, tem mandato popular e legitimidade para a escolha.

Os poderes judiciais – o de decidir e o de acusar – já contam com uma curiosa variante da restrição democrática corporativa. Ela não se conhece em parte alguma e atende pelo nome de autonomia administrativa. A corporação judicial brasileira conseguiu transbordar uma garantia essencial que é a autonomia funcional, isto é, para decidir, para um privilégio sem sentido que é a autonomia para gastar quanto quiser, como quiser, onde quiser, sem dar contas a ninguém.

Eis que corporações adjacentes à judicial anseiam pelos mesmos privilégios e chegam às raias da absurdidade de pretenderem escolher seus chefes por eleições corporativas internas e impor ao chefe de Estado – que teve a inglória tarefa de ir buscar 50 milhões de votos populares – suas escolhas internas, que só atendem aos seus interesses. É uma investida frontal contra o modelo democrático, embalada no costumeiro besteirol jurídico-moralizante, com uso de lugares-comuns da moda, claro.

 É contrassenso absoluto pretender a autonomia de órgão do Estado relativamente ao povo em geral e aos governantes eleitos em particular. Pelo menos é contrassenso postular isso e manter-se aparentemente alinhado ao modelo da democracia representativa. Isto que se propõe e que se deseja é um modelo híbrido do Estado fascista corporativo, com um pouco mais de desconcentração interna que os modelos históricos recentes.

É ilegítimo pretender atuar à margem de qualquer controle hierárquico e gastar dinheiro público à margem de qualquer crítica social. É patifaria embalar este desejo de apropriação do Estado em causa própria com os papéis e fitas do discurso democrático.

Discurso jurídico e farsa.

Recentemente, falou-se da descoberta de uma carta manuscrita de Adolf Eichmann para o presidente de Israel na época de seu processo de eliminação física. Por meio desta missiva, Eichmann teria pedido para ser poupado do assassinato. Não sei se isto é verídico e não fui averiguar a tal notícia.

Não sou dos que nutrem especiais admiração ou repulsa por Eichmann. Se fosse dos primeiros, certamente o nível de admiração cairia, na medida em que o pedido de clemência é a tolice suprema de um desesperado. Compreende-se que não se queira morrer na forma vil que é a forca, mas pedir aos executores da vingança que a não executem é patético, além de inútil.

Se fosse dos segundos, certamente a repulsa aumentaria, porque sempre se compreende um pedido de clemência como algo necessariamente antecedido de uma confissão de culpa implícita. É como se o fulano dissesse que fez o que fez, mas por razões que lhe fugiam, por cumprir ordens e coisas deste gênero.

O pedido de clemência, caso tenha havido, é bastante revelador. Tanto da ingenuidade do pedidor, quanto da total ausência de juridicidade no processo em que se decretou sua execução após o sequestro. Ou, talvez ainda mais, revelador do correto significado da judicialidade.

 Nossa cultura judaico-cristã sente necessidade imensa de disfarçar as vinganças e o exercício do poder. Eles têm de ser confundidos num processo que os legitime formalmente. Para isso serve o direito, essa forma cambiante de conferir aparências civilizadas às coisas mais brutais. E serve para tanto mesmo expondo suas contradições enormes. Por exemplo, em termos criminais, não se admitem crimes nem penas sem leis anteriores que os definam.

Todavia, os famosos tribunais de exceção desprezam absolutamente este princípio e o da territorialidade. Realmente, a extraterritorialidade é algo aberrante em termos de justiça criminal, porque o suposto criminoso nunca agiu a pensar que estivesse submetido a uma nebulosa jurisdição universal baseada numa lei que ainda não existia.

O que há – e é profundamente humano – é a vingança. Mas, como em relação a quase tudo muito humano, a cultura judaico-cristã tem vergonha da vingança e precisa chamar-lhe julgamento.

Uma questão de gênero.

Esse último ano certamente me deu pena do rapaz que teve que preparar uma retrospectiva da política nacional brasileira. Foi um ano intenso, e a cada novo acontecimento de seus últimos dias o ano mais parecia um seriado em que o roteirista brincava de ligar as pontas soltas do ano todo.

Também nesse ano, mais do que em outros, houve um acirramento político no Brasil entre os que se dizem de “esquerda” ou de “direita”, podendo ser considerados representantes de cada lado e tendo visibilidade nacional, estão os deputados federais Jean Willys e Jair Bolsonaro. Um homossexual que defende as políticas de gênero que acha pertinentes, e o outro um ex-capitão do exército brasileiro que as rechaça por completo, ou quase isso.

Esse fato levou à uma distorção não somente do assunto em si, como também de como tratá-lo. Ora, esse não é exatamente um assunto nacional, senão que é discutido em todo o mundo e não é de hoje. Em alguns lugares é mais bem recebido, ainda que não sem resistência a um ou outro de seus questionamentos.

Considerando gênero como a construção psicossocial do masculino e do feminino. há diversos conceitos, para determinar o que chamamos “gênero”: como símbolos culturais evocadores de representações, conceitos normativos como grade de interpretação de significados, organizações e instituições sociais, identidade subjetiva (SCOTT, 1988); como divisões e atribuições assimétricas de características e potencialidades (FLAX, 1987)”

Entre esses lugares onde o assunto é bem recebido, estão todas as nações ditas desenvolvidas, mais explicitamente América do Norte excluindo-se o México, Europa ocidental e Austrália. Via de regra são os mesmos lugares que o “típico brasileiro” se acostumou a dizer que são melhores em tudo, quando se referem diretamente ao Brasil. Esse costume eu identifiquei, ainda que não massivo como no caso Brasileiro, na Espanha com referência a assuntos pontuais, um exemplo seria um “típico espanhol” dizendo que o cinema espanhol é pior que o norte americano. O caso brasileiro é muito mais conhecido por mim, dai vem o “massivo”, não é que em outros lugares não exista, apenas que a situação de meu país é a que mais conheço.

Acontece que na Austrália um grupo de meninas iniciou um grupo de estudo sobre violencia machista que se formou numa aula de literatura, ou seja, contra violência de… Gênero!

Não somente isso, não satisfeitas com a ausência de assuntos como feminismo nos curriculums escolares australianos, as garotas de 8 a 15 anos ajudadas pela professora, iniciaram uma campanha de Crowdfunding para a elaboração de um KIT contra violência de gênero para ser distribuído e usado por professores e alunos em outras escolas australianas. O objetivo era conseguir 3000U$, as meninas conseguiram 12.000U$. Quatro vezes mais, certamente ajudadas por… Pais e amigos!

Na Espanha, onde de momento estudo e na mesma universidade, que é pública, existe um mestrado em… Gênero!

Nos EUA, mais exatamente em Nova Iorque, uma garotinha de 13 anos, passou a escrever um blog e defender mais ou menos o que defendem as meninas australianas, representando a ONU, que não é pouco, e falando de… Gênero. É um blog para adolescentes feministas.

Agora, eu sou do nordeste do Brasil. Lugar notoriamente conhecido por filosofias avançadas com as quais presenteou a humanidade fazendo-a evoluir muito… Só que não…

Não obstante eu compreendo exatamente como se sente um conterrâneo meu ao assistir um vídeo como esse:

Compreendo exatamente porque eu vejo o vídeo e sou tentado a pensar: “A criança claramente foi treinada nesse discurso!”. E não obstante, por morar ali, eu mesmo vi e tive companheiros de classe “afeminados”, que se vestiam de “homem” e eram ridicularizados inclusive pelas meninas de quem eram mais amigos. Crianças e jovens podem ser e efetivamente são bem cruéis quando querem. Por haver tido tais companheiros, me pergunto o que aconteceria se seus pais tivessem desde o princípio acatado a opção do filho e reagido como os pais dessa criança, defendendo-a incluso de outras crianças e outros pais.

Agora… Não sou pai. Falo sem conhecimento completo de causa, e sem medo de afirmar, quando vejo um pai que compra uma boneca para seu filho, vejo muito mais possibilidades nessa criança do que na nordestina, como eu, que foi, é, e será criada para reproduzir velhos preconceitos.

Acreditar e mais que isso, aceitar que existe o problema e lidar com ele, são apenas primeiros passos. É uma coisa no mínimo engraçada que no mesmo Nordeste em que dizem segundo a situação que você “seja homem”, porque de um “homem” se espera uma série de atitudes tais, adquiridas ao longo do tempo, também seja o Nordeste que rechaça que uma mulher também se edifica, e que em ambos os casos, o corpo biológico é mero detalhe. A referência é clara, as críticas a Simone de Beauvoir e seu texto presente no ENEM. Era preferível TENTAR desconstruir a filósofa, do que minimamente pensar sobre sua afirmação.

Da mesma forma que a aceitação é um dos passos para a solução, a politização exacerbada do problema é o primeiro passo para o abismo. Assumir a preferência por político A ou B que via de regra não fazem ideia do que estão falando e são contra ou a favor de partidos políticos com ideologias tal ou qual, é o abismo em si mesmo, e esse é o caminho que seguimos no Brasil.

Continuaremos durante muitos e muitos anos, vendo gerações de brasileiros visitarem Espanha, Austrália, e EUA, regressando de suas viagens a cantar a perfeição nesses lugares, enquanto são contra as coisas mais básicas que lá existem, em seu próprio país. Ações que caso seus filhos realizassem, com certeza seria motivo de seu orgulho, sendo defenestradas de dentro de casa, pelos mesmos pais que gostariam que seus filhos escrevessem para a ONU.

ENEM e ódio de classe.

Viajar é bom, desde que não seja a trabalho. Retornar pode ser bom também, mas é sempre meio complicado e trabalhoso. De volta a casa, constato que nada há para comer e beber, além de lembrar da necessidade de desfazer mala e pôr roupa para lavar. Tudo com a pressa de quem vai trabalhar no dia do retorno…

A obrigação de ir ao mercado com pressa é ruim, embora ir ao mercado, para um velho como eu, seja bom. Vou comprar coisas básicas: pão, queijo, fiambre – recuso-me a chamar presunto o que não é – alho, cebolas, tomates, alguma carne, feijões, cerveja. Mesmo rapidamente, o mercado agrada-me.

Chego ao caixa, ainda vazio, e há apenas um cliente na minha frente, na fila. Percebo que a funcionária do caixa conversa animadamente com a funcionária que põe as compras nos sacos, algo que estranhamente perdura por aqui e que deve perdurar, afinal é um emprego a mais.

Conversam sobre o ENEM, que a menina a empacotar as compras tinha feito, no final de semana imediatamente anterior. Era uma segunda feira e o exame ocorrera nos dias anteriores. O ENEM, deve-se explicar rapidamente, é o exame nacional do ensino médio.

Uma coisa tão óbvia quanto tardia; veio substituir o exame vestibular, como meio de seleção para ingresso no ensino superior. Trata-se de exame de avaliação a que se submete quem concluiu o ensino médio, o que antes chamava-se segundo grau. A nota obtida neste exame pode ser usada para concorrer a vagas nas faculdades que o aceitam como meio de seleção. Hoje, quase todas aceitam-no, a provar a eficácia do modelo.

Somado ao Sisu, ele aumentou imensamente as chances de preenchimento de vagas nas universidades, universalizou a concorrência e permitiu menores gastos para os pretendentes ao ingresso nas faculdades. Um só exame permite ao candidato concorrer aos cursos que quiser, no país inteiro, em igualdade de condições com os demais. O exame vestibular feito por cada universidade, para cada curso, era um filtro sociocrático, não meritocrático.

Na sistemática do ENEM e do Sisu, um candidato obtém nota e com ela candidata-se ao que quiser, onde quiser, em disputa com todos os demais, do país inteiro. É a ampla concorrência em forma quase pura.

Mas, retornemos à fila do caixa do supermercado. À minha frente havia um fulano com muitas coisas e ares de preocupação. Não estava contra a, b ou c, especificamente, mas estava preocupado com algo da vida. Esperou passarem todas as compras e pagou. As moças conversavam animadamente.

Atrás de mim estava uma dondoca. É impossível – e seria artificial também – não a caracterizar assim, porque era isto mesmo. Uma senhora jovem, de cabelos pintados a loiro, assim como loiros eram o relógio e os anéis. Vestida para festa, às oito horas da manhã, e com ar de discreta abjeção pela realidade, o que é diferente de distância ou devaneio. Não disfarçava a impaciência, embora não houvesse qualquer demora excessiva, nem fosse crível que tivesse algum compromisso.

Chega a minha vez. A moça do caixa vai passando as compras e logo pergunto à dos sacos se falavam do ENEM. Ela responde imediato que sim. Perguntei das provas. Respondeu-me que as primeiras tinham sido de língua portuguesa, matemática e não sei o que mais. Explicou-me, enfim, quais as provas e a ordem delas. Perguntei se ela tinha se saído bem. Disse-me que sim e continuou a falar, bem tecnicamente, para minha surpresa.

A senhora atrás não se conteve e nisso não deveria haver surpresa. Não se conteve mesmo que a conversa não tenha atrasado o andar da fila. Eu não me propunha a conversar a ponto de retardar a marcha normal de passar produtos, pô-los nos sacos e afinal pagar a conta. Ela não se conteve por conta do fato da moça ter feito o tal ENEM e dele falar com tanto desembaraço.

Virou-se para mim e disse: Esse negócio de ENEM é o fim do mundo, coisa desse governo! Ao que repliquei: Por que, minha senhora?

Continuou – e se dirigia apenas a mim – a dizer: O mérito, o mérito, era vestibular, as vagas dos melhores… isso tira a concorrência.

Respondi: Olha, isso aumenta muito a concorrência. A concorrência agora é todo mundo.

Ela ouve e não compreende, é claro, e segue: O senhor vê que acabaram com a justiça na faculdade.

Perco a paciência: Qual o problema? A moça não deve estudar? É pra ficar sempre onde esteve, não pode melhorar?

Ela: Não, não é isso, ela deve ser premiada pelo esforço!

Eu: Minha senhora, o esforço dela é maior que o meu; que o seu não sei, que não sei o que diabo faz ou estuda ou estudou. O meu mérito é simples: foi ter nascido onde nasci, estudado nos jesuítas, ter sido alfabetizado em três línguas, passado no exame vestibular mais difícil que havia há vinte anos. Só isso. Menos era vagabundagem. E eu não tenho raiva da menina que fez ENEM.

Não pude deixar de acrescentar, em epígrafe: A senhora, com mais méritos que eu, não pode ter medo dessa menina estudar!

Felizmente a dondoca calou-se. Deve ter percebido algo. Pouco é verdade.

Porque o golpe está em regime de urgência.

O golpe de estado atualmente tentado no Brasil, contra o governo eleito legitimamente, segue em ritmo frenético e, por isso mesmo, confuso. A pressa constantemente tem por consequência a confusão, o que pode ser bom ou ruim estrategicamente, a depender das habilidades dos agitadores e operadores.

É fundamental dizer claramente que este processo golpista – assim como seus precedentes – é preponderantemente exógeno. Internos são os agentes operadores localizados na imprensa, congresso nacional, poder judicial e movimentos supostamente populares que ninguém sabe como se financiam.

Sozinhos, estes operadores internos pouco podem. As elites locais sempre atingem acordos em que mantém quase intocados seus altos níveis de apropriação, mesmo em períodos de concessões mais ou menos tímidas às maiorias. Elas ganham em todas as situações, com algumas variações poucas que não invalidam a lógica capitalista. Logo, o núcleo da burguesia nacional, na ausência de estímulos externos, não patrocina golpes.

Provenientes da grande burguesia nacional envolvidos diretamente como agentes do golpe temos apenas os patrões da imprensa. Todavia, essa gente não é propriamente nacional. Historicamente, têm alinhamentos ideológicos fortes com os norte-americanos, além de participação capitalista externa. A imprensa é formatada de tal maneira que serve, queira ou não, aos interesses norte-americanos. É filha do modelo TV – Hollywood do pós-guerra; um modelo de propaganda, basicamente.

Cabem aos agentes locais do golpe duas missões básicas: dar formato jurídico à violação da institucionalidade e cevar o ódio difuso da pequena-burguesia. A segunda missão é de uma irresponsabilidade profunda, porque é a semente do fascismo, mas eles a levam a cabo, sem cálculos de futuro. Estão imbuídos em uma cruzada religiosa; sua tenacidade é quase de devoção.

A pressa explica-se por fatores geopolíticos e pela perda gradual de fôlego financeiro da imprensa local. Á medida que segue a decadência norte-americana – algo que se sabia seria terrível para o mundo e dramático para os vizinhos continentais – encurtam-se os prazos para fazer tudo que do apoio norte-americano dependa.

As decadências tem vários paradoxos aparentes. Um deles é que à perda de influência corresponde a abertura de mais frentes de combate, sejam políticos ou propriamente bélicos. Nisso, a analogia já feita aqui com a morte de uma estrela, creio ser bastante adequada.

Sucede que a perda de capacidades de enfrentar numerosas frentes de combate, a par com o crescente desejo de as aumentar, cobra seu preço em termos de realidade. A capacidade norte-americana de desestabilizar o mundo reduz-se. Recentemente, a entrada da Rússia na Síria, para dar cabo do Estado Islâmico criado pelos EUA, Israel e outros sócios menores, dá provas disto. Além de encurralados na exposição flagrante de suas hipocrisias, os associados da OTAN vêm-se diante de limites objetivos.

Por maior que o Brasil seja economicamente, não é mais importante que o jogo no tabuleiro do oriente próximo e da estepe asiática. Naturalmente os maiores esforços estão lá concentrados e, considerando-se que os recursos são finitos e decrescentes, fica claro que reduz-se sua capacidade de investir na desestabilização nas áreas menos importantes. Por isso a urgência em consumar o golpe no Brasil, pois será cada vez mais difícil financiá-lo e cada vez mais remota a possibilidade de emprestar a sexta frota para o impor na forma clássica.

As forças armadas brasileiras, hoje, não têm interesse no golpe de estado. Seus oficiais generais não estão dispostos a entrar na aventura. A experiência recente com governos da gente que está à frente do golpe mostrou-lhes que perdem dinheiro. Realmente, o período fernandino, de tão entreguista que foi, quase liquida com as forças armadas. Ora, os oficiais superiores tem honorabilidade no que tange às suas capacidades bélicas reais e não acham muita graça no sucateamento das suas armas.

Por outro lado, uma personagem central do esforço golpista parece ter sido muito mal escolhida. O presidente da câmara dos deputados é alguém muito sujo até para ser protegido pelos fortes esquemas da imprensa e do sistema judicial. Fazer sua integral blindagem mediática e jurídica é esforço semelhante ao de segurar água com as mãos. Sempre vazará por todos os lados.

Mesmo que a pequena-burguesia seja terreno fertilíssimo para a propaganda golpista escrita e televisiva, há níveis de contradições que tumultuam o processo e podem implicar massa crítica para uma reação sem quaisquer controles. As contradições da ponta-de-lança do golpe de verniz jurídico tornam-se muito evidentes e fica difícil escondê-las todas. O presidente da câmara é figura complicadíssima. Tirá-lo da posição será também complicadíssimo, porque ele tem apego pessoal à posição e sabe onde todos os outros possíveis substitutos almoçaram no passado.

Há razões para crer que se o golpe não se consumar neste ano de 2015, será inviável ao depois. Perderá inércia, porque os EUA não terão tempo de o ajudar tão intensamente quanto necessário, a imprensa terá de cuidar da sua situação financeira caótica e os agentes imediatos terão de cuidar de inúmeras defesas na arena judicial. Apenas espero que esse eventual fracasso do golpe não deixe em seu lugar algo tão ruim quanto: o desgoverno.

As prisões formais. Cumplicidade com a fraude, elemento de coesão social e boa consciência individual.

Época de declaração de ajuste anual do imposto sobre a renda das pessoas físicas, relativo ao ano anterior, é um frenesim enorme na pequena-burguesia brasileira. Convém lembrar que este grupo é a caixa de ressonância do discurso da excessiva carga tributária; acham que pagam muitos tributos…

É a mesma gente que viaja frequentemente ao exterior, notadamente para os EUA e para a Europa e de lá nada trás na cabeça, apenas nas malas. Se não fossem totalmente impermeáveis, trariam algo mais que a memória das vitrines; trariam informações a lhes permitirem comparações e certas purgas mentais.

Os tributos, em geral, nos EUA, são mais reduzidos que no Brasil ou na Europa, mas do Estado nada se recebe além de balas da polícia, por coisas tão sérias como ser meio preto ou estar em atitude suspeita, seja lá o que isto signifique.

Na Europa a tributação é muito mais elevada que no Brasil, seja sobre a propriedade imobiliária, sobre a renda, sobre o consumo, sobre as grandes fortunas. O retorno estatal pelos tributos cobrados ainda é considerável, principalmente na rede de proteção social aos mais pobres, mas isto recua velozmente.

No Brasil, a classe que mais reclama do pagamento dos impostos é aquela que não recorre ao Estado para coisas básicas como educação e saúde e benefícios sociais, porque exatamente não precisa disso, embora diga que gostaria de usufrui-los.

Na verdade, a pequena-burguesia instituiu em seu benefício um sistema muito melhor, que consiste em usar serviços privados e dividir a conta com o Estado e toda a sociedade, consequentemente, por meio de deduções de despesas feitas na base de cálculo de seu imposto sobre a renda. Deduções de despesas com serviços que são oferecidos gratuitamente…

Nesta época ouve-se muito o pequeno-burguês prototípico a falar de recibos de pagamentos por instrução com dependentes e principalmente despesas com saúde. Estão à procura de médicos, farmacêuticos, fisioterapeutas que vendam-lhes recibos de despesas e tratamentos não realizados.  É burla, é fraude evidente, não há como suaviza-lo.

E este ser médio, prototípico, trata o assunto abertamente, em clima de camaradagem e cumplicidade, se for com interlocutores da mesma classe social. Não lhe ocorre – mesmo que seja o mesmo sujeito a fazer passeatas contra corruções – que está a praticar nada mais que uma ilegalidade visando à evasão fiscal.

Alguns, diante da objeção mais sutil à pratica da compra dos recibos, veem com um argumento formal que toma o desconhecido como não ocorrido. Dizem que têm os recibos em mãos e que chamados a dar explicação, terão êxito.

Ora, um delito que não se descobre não é um que não aconteceu. A possibilidade de êxito no axcobertamento de um ilícito não faz dele uma prática lícita.

Melhor andaria o Estado se suprimisse todas as deduções da base de cálculos do imposto sobre a renda das pessoas físicas. Obrigaria a pequena burguesia a abandonar sua oceânica hipocrisia e pendor pela mentira e pedir serviços públicos melhores com sinceridade. Hoje, ela não demanda melhoras sinceramente, porque nunca esteve sinceramente preocupada com serviços que não usa, que são coisas para os mais pobres.

O espelho de Narciso e o suicídio involuntário.

A pequena-burguesia brasileira foi levada a crer que é importante, ou seja, que é o centro das atenções, o ponto em torno a que tudo gira, que suas opiniões são importantes e principalmente que ela tem algo relevante a dizer sobre tudo, como sói acontecer com Caetano Veloso. Essa obra de ilusionismo deve-se à imprensa mainstream, naturalmente.

Esse tipo de fantasia ajuda bastante a imprensa, na sua cruzada incessante contra qualquer governo que desconcentre, ainda que pouco, a apropriação de riquezas no Brasil. Além de imbecilizar as classes sociais suas clientes, a imprensa consegue aumentar a já enorme auto-referência. O narcisismo exacerbado, por seu turno, retroalimente a imbecilização.

As classes médias altas acham que ganham pouco dinheiro e querem que o dispêndio com programas sociais para os mais pobres seja-lhe dirigido. Por isso, com raivinha da atual presidenta da República, marcham em ordem unida com as outras duas candidaturas viáveis: a de Marina Silva, financiada pelo banco Itaú, e a de Aécio Neves, da direita de longa data e não aventureira.

Acontece que nenhum dos dois, nem a do Itaú, nem o queridinho da imprensa, suprimirá, caso eleito, dinheiro de programas sociais para entregá-lo às classes médias altas. Esse dinheiro, a parte do que for suprimido, será destinado ao grande capital, nomeadamente por meio do pagamento de juros remuneratórios de títulos públicos.

 Mas isso, que não é tão difícil de perceber para quem pensa sem se colocar como centro do mundo e sem recorrer a veículos de imprensa, não ocorre à maioria da pequena-burguesia e principalmente àqueles que são funcionários públicos. Mais extraordinária é a ausência de memória desta gente, que apagou os registros de como foi tratada no exemplo anterior mais próximo à candidata do Itaú e no exemplo eloquente que foi o governo do patrono do queridinho da imprensa.

Nada obstante, o ódio a que foi conduzida larga parcela da pequena-burguesia pela imprensa brasileira cegou-lhe totalmente a vista e obstou-lhe qualquer rasgo de sensatez, ainda que eventual e rápido. Se é verdade que o exemplo ensina, também é que se lhe esquece rapidamente…

Assim, pensando com o fígado e alguns poucos neurônios, muitos votarão contra si mesmos e contra o maior número, porque acham-se injustiçados por não receberem o que se acham merecedores, como centro do mundo que são.

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