Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

Mês: maio 2011 (Page 4 of 4)

Picanha com bacon e vinho tinto, na caçarola.

Estou com uma gripe relativamente forte, muito constipado, mas ainda não o suficiente para deixar de pensar em comida. Hoje, queria comer carne de boi, fartamente.

Eis o que fizemos: uma picanha na caçarola, inventada na hora.

Toma-se uma peça de picanha, com a capa de gordura média, e corta-se em fatias de dois centímetros, mais ou menos, perpendicularmente.

Espremem-se oito dentes de alho e corta-se em rodelinhas um maço de cebolinha. Refogam-se o alho e a cebolinha em azeite, por um ou dois minutos e acrescenta-se bacon cortado em pedacinhos miudos. Tampa-se a panela e baixa-se o fogo. Passados outros dois ou três minutos, acrescenta-se um bocado de molho inglês – worcestershire – que baixa a fervura. Mantém-se a panela fechada e o fogo baixo.

Em seguida, aumenta-se o fogo e põe-se os cortes de picanha, arrumados de forma a ocupar toda a área da panela, que se tampa. Cinco minutos depois, viram-se os pedaços de carne mantém-se tampada a panela, agora com fogo baixo.

Mais cinco minutos e despeja-se um copo cheio até às bordas de vinho tinto seco. Daí em diante, são mais vinte minutos.

O resultado, maravilhoso, de uma carne macia e um molho consistente e escuro, sabendo ao toucinho fumado e aos alhos e ao vinho, come-se com arroz branco. Depois… um cochilo.

 

Humano: infra-humano, escravo.

Devo dizer infra-humano e intranscendente, para evitar dubiedades e previsíveis abordagens oriundas de platonismo das massas.  Não se trata de afirmar o humano como bom ou mau, não se trata de qualquer coisa a partir desse moralismo derivado da lei de um legislador ausente.

Trata-se do infra-humano por aquém da potência, por aquém da nobreza, por aquém da auto-percepção, por humano, enfim, pois que o mais carrega o menos em si. Só assim percebendo-se a questão, escapa-se das armadilhas da bipolaridade que resulta da moral de escravos.

A moral da justificação, como se a vida se justificasse, ou por convenções sociais, ou por recurso ao externo, é precisamente a mantenedora do infra-humano. Do que é apenas quantitattivamente diferente do humano, porque qualitativamente são idênticos, um está no outro.

Também não queria fazer o mais tênue recurso à noção de utilidade, para não gerar confusões, a lembrar de utilitarismo como corrente filosófica. Todavia, é necessário dizer-se que o infra-humano vê-se também no inútil, naquilo que é inútil para fazer atuar a potência do Humano.

Escrevo essas linhas mal conectadas a propósito de algo que me repugna: pessoas adultas a maltratarem animais. Falo em adultos, porque as crianças são outras pessoas, maltratam bichos, outras crianças, objetos, tudo, em maior ou menor proporção, a variar de uma para outra. Não falo de gente a maltratar gente, porque isso é outro assunto, que também tem a ver com o infra-humano, mas é outro assunto.

Foi bom ter mencionado a utilidade, para não precisar alongar-me sobre os bichos que matamos para os comermos. Sim, porque eles os bichos fazem a mesma coisa e ficamos, portanto, bem explicadinhos, todos nós, os que pensamos pensar e os que pensam sem se pensarem.

Nunca apreciei os jogos de caça, fossem de raposas, de aves ou de peixes. É um jogo de morte que as pessoas deviam jogar entre si, ao invés de fazerem simulacros com as caças sempre perdedoras. Um combate de morte entre gladiadores é muito mais nobre que uma caça à raposa, que é decadentismo puro.

Mas, os jogos de caça, em geral, têm ao menos uma vantagem: a vítima é abatida instantaneamente. Os maus tratos que atingem gatos, cachorros, jumentos, cavalos, bois, pássaros, são torturas precendentes a uma morte agoniada.

Uma mulher bate com um pau em um cachorro ou em um gatinho até que a cabeça dele estoure, perca a consciência, agonize com movimentos involuntários de patas já não comandadas por um cérebro morto. São imagens que não saem da vista e ficam a repetir-se em níveis diferentes e mais depurados de escândalo e asco.

Asco pelo infra-humano, que é plenamente capaz do mesmo com qualquer ser ou coisa superior a si mesmo, como contra o humano ou contra os bichos, ambos superiores ao infra-humano. O infra-humano reconhece no animal, sobretudo nos mamíferos, a nobreza que ele não tem, a nobreza de ser só o que é e conhecer sua precisa dimensão, a extensão de suas vontades. A inveja, que o infra-humano tem em doses imensas, fa-lo agir, portanto.

É assustador perceber que as pessoas fazem exatamente o que aceitarão que se faça a elas. O contrário dessa afirmação é o lugar-comum repetido, mas não é verdade. Elas estão no jogo, no mesmo. Elas, no fundo, aceitam muito bem as regras do jogo, por elas mesmas feitas e consagradas na prática.

O escravo bate e mata com avidez e gozo porque baterão nele e o matarão os outros escravos e os escravos com rendimentos financeiros de senhores. Ele faz o que julga ser uma questão de oportunidade, ou seja, põe para fora toda a sordidez e violência porque seu mundo é sordidez e violência. Os bons exemplos não valem coisa alguma – só frutificam em terra apta – os maus têm enorme força, são o normal…

Frederico-Guilherme Nietzsche caiu doente irremediavelmente – louco, diz-se – precisamente no dia em que agarrou-se a um cavalo que o cocheiro açoitava, em Turim, em janeiro de 1889. É óbvio que a loucura – essa que não há palavra mais precisa a denominar – já se instalava há tempos. Mas, é muito significativo perceber qual foi o evento capital a desencadear a instalação definitiva da compreensão profunda.

Saudades de Braga.

Lígia enviou-me um e-mail. Disse-me que vai a Portugal com a sobrinha Mirella, que deve lá estar por quinze ou vinte dias e pediu-me algumas sugestões. Estará duas semanas em Lisboa, com primas dela que lá moram, e tem três ou quatro dias para viajar. Parei pára pensar…

Não consegui evitar responder em uma longa mensagem, como se saboreasse todas as trivialidades que fizeram parte de meu cotidiano, por um ano. Não pude evitar a sugestão de ir ver a Ribeira do Porto, descendo de São Bento, a caminhar. De ir a Gaia, passando pela Ponte D. Luís, porque assim vê-se o Douro verde granítico.

Não pude deixar de dizer que, se possível, fosse a Braga. Que fosse ver a Catedral, que subisse a Rua do Souto, que tomasse um café n´A Brasileira, que olhasse a Avenida Central, a Avenida da Liberdade. Que, antes, entrasse à esquerda e fosse ver o Jardim de Santa Bárbara, que deve estar florido por estes tempos.

Fui fazendo sugestões que eram coisas comuns, há três anos… Não perdi a precisão, acho, pois consegui lembrar o preço de um comboio do Porto para Braga, consegui lembrar como é a cidade vista desde o Bom Jesus.

Lembro-me com saudades imensas de um passo após o outro, na caminhada pela feia Rua Nova de Santa Cruz, até chegar à passagem para a Rua Dom Pedro V, de calçadas estreitas até ao Largo da Senhora-a-Branca. Chove fininho e, na altura do Minipreço, a calçada alarga-se, há uma garagem de Volkswagen e, depois, a Igreja de São Victor.

Depois de São Victor,  mais memórias. O Largo da Senhora-a-Branca, a Av. Central.  Caminha-se mais lentamente, agora. Se tomo à direita, sigo pela avenida, com as gambas e a loja do paquistanês à esquerda. Se tomo à direita, vou aos correios, como ia frequentemente, mandar livros para os que gostam deles.

Posso ir lentamente até o Continente, comprar um jornal, alho, cebolas, carne moída, algum sabão que falta em casa. Passo a passo estou em casa e não estou nela. Sempre, ao mesmo tempo, sou de fora e sou do caminho. Vejo – com o só podem ver os que caminham – o rio que passa pequeno, os delumbrados das BMWs modificadas, as crianças que saem da escola, o gato Joaquim que está na janela na rua que aponta para o Continente.

Não vou ao supermercado. Viro à direita, vou ao centro pelo caminho mais longo…

 

 

Osama bin Laden morreu. O que importa?

Os bin Laden eram e são patrões. Gente de uma oligarquia saudita, aparentada aos da casa real, riquíssimos. Partícipes da riqueza gerada pela exploração do petróleo, na Arábia Saudita.

Como todos os poucos sauditas em situações semelhantes, os Bin Laden têm empregados representantes de seus interesses nos EUA e na Europa. Trata-se de investir dinheiros limpos, branquear dinheiros duvidosos, contratar fornecedores, comprar simpatias no Congresso e, claro, vender óleo.

Um dos representantes dos Bin Laden era George Bush, aquele que ainda fez parte de uma aristocracia que foi à guerra, ou seja, o Bush que sucedeu a Ronaldo Reagan. Esses Bush trabalham com petróleo e elegem-se no Texas, embora estudem – os que estudam – no leste.

Um dos vários Bin Laden é Osama, o que foi assassinado recentemente, em operação dos militares norte-americanos em terras paquistanesas. Parece que Osama nunca seguiu o destino mais comum aos Bin Laden, ou seja, não foi mais um príncipe saudita, rico e vivedor segundo as riquezas de passeios no Mediterrâneo em grandes barcos repletos de moças fremitosas ao fremir dos dinheiros.

Mas, a circunstância de ser o não-playboy não fez de Osama um não negociador com os Bush e o o governo norte-americano. Há pouco menos de trinta anos, Osama foi útil para o desiderato norte-americano de complicar a vida da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas na sua guerra contra os afegãos.

O que se desvia do habitual – e só se percebe muito depois – é que a disposição de Osama para negociar provinha de uma crença que não dependia propriamente de dinheiro. Alias, coisa que seria óbvia se os negociadores norte-americanos se ativessem ao fato de Osama ser rico! Eles compraram o que não estava à venda.

A questão das crenças e inclinações de Osama não vem ao caso, agora. Importa não esquecer que ele fez aquele acordo para dar combate aos russos da mesma forma que faria qualquer acordo para dar combate a quem fosse, momentaneamente, contra o povo que julgava agredido, ou contra suas idéias.

Importa não esquecer que ele não foi comprado integralmente, senão circusntancialmente. Claro que nada disso exclui a possibilidade de tratar-se de um patife – nunca de um louco – porque um árabe não tem que meter-se em assuntos da estepe, mas…

Os EUA responsabilizaram Osama e uma agremiação bastante implausível por explosões e matanças ocorridos em onze de setembro de 2001, em Nova Iorque e Washington DC. Esses episódios, a meu ver, estavam acima das possibilidades de Osama e de quantos seguidores ele tivesse. Excepto se contavam com facilidades como uma estranha sonolência das defesas aéreas norte-americanas e uma ignorância profunda dos serviços secretos sempre tão celebrados.

Depois desses feitos atribuídos a um potente Osama bin Laden, os EUA estiveram à vontade para atuar na sua área de preferência: a emergência. Ela permite o levantamento de quaisquer ordens, de quaisquer garantias, ela torna viável o estado de excepção. A guerra – chamada agora de justiça – tem livre trânsito, protegida por razões jurídicas.

A guerra não pode acabar-se. Ela é um fator mágico: gera receitas para o enorme complexo industrial militar, para o setor de prestação de serviços mercenários, para as corporações estatais que cuidam de segurança, para o setor financeiro e para as classes que se ocupam da direção governamental do estado.

Para esses últimos, a guerra e o estado de tensão neurótica permanente fornecem a desculpa para o levantamento de certas legalidades, sob o pretexto da exceção. A tensão funciona como causa excludente da normalidade legal e, por isso mesmo, é muito útil para os políticos.

Ainda tem outro efeito positivo para os governantes, porque ela embriaga as massas de fervor cego, sanguinário e patriótico. Assim enlouquecidas, as massas são conduzidas para onde for necessário. Às vésperas de um processo eleitoral em que o presidente Barack Obama apresentava-se com poucas chances de reeleição, o assassinato de Bin Laden foi o golpe certo.

Do ponto de vista de terrorismo e outras coisas desse tipo – todas muito diversas e chamadas pela mesma ambígua palavra – o assassinato de Bin Laden quer dizer nada. Não era líder de coisa alguma um homem que não podia estar por trás de todas as bombas explodidas no mundo. Não há uma rede organizada como querem crer cérebros que acreditam em organização. Não há porque pessoas com os interesses mais diversos simplesmente não se organizam.

Bin Laden vivia ni Paquistão há anos, com o conhecimento do governo paquistanês, é claro. Por dinheiro, eles os governantes paquistaneses só não entregam suas bombas nucleares. O restante está à venda, precisando-se apenas acertar-se o preço. Deu-se isso relativamente à localização de Bin Laden.

Disseram onde ele estava e os norte-americanos foram lá e mataram-no, pronto. Fizeram isso precisamente porque Bin Laden valia nada, porque se valesse, ou não diriam, ou cobrariam muitíssimo mais caro.

 

 

 

 

Passivos, guiados e limitados.

O que existe mais claramente é o que se precisa negar mais veementemente. É aquilo que deve ser contraditado a todo tempo, insistentemente.

O que há mais evidentemente é o pensamento limitado, balizado, turvado, condicionado. As margens de variações são tão estreitas que as pequenas diferenças, vistas de mais distante, anulam-se. As pequenas variações dão-se em um campo delimitado previamente e não consistem em qualquer diferença qualitativa.

Os grupos humanos são guiados e vivem segundo roteiros seguidos involuntariamente. A liberdade de ação e de pensamento é, portanto, um mito, que vive do seu contrário, a não-liberdade absoluta. Por isso mesmo é que se ouve e se repete sempre que se tem liberdade, para que se viva sem ela e sem perceber sua ausência.

A supressão da liberdade de pensamento, aqui tomada como potencialidade humana, é obra das mais grandiosas já realizadas. Sim, porque é quase inabalável e pode seguir triunfante mesmo na presença de todos os elementos que supostamente a ameaçariam.

No ambiente do pensamento único, dos hábitos, das emergências, do trabalho e do consumo, não há problemas na existência e na disponibilidade das informações, porque elas não serão usadas nem relacionadas. Elas serão apenas um adorno, preferido por uns  a outros tipos de adornos.

Ela, a informação, será um bem consumível como outro qualquer e, portanto, perderá seu carácter real e manterá apenas a aparência. O fulano que adquire alguma informação ou ares de pensador é uma variação tipológica social essencialmente igual ao outro fulano que, aos ares pensadores prefere ostentar um Porsche.

Todos os fulanos cabem em uma tipologia social previsível e pré-ordenada em todos os aspectos da vida exterior. Haverá guiões para todos os grupos, inclusive com as exceções aparentes que permitem àlguns sentirem-se diferentes, muito embora a própria diferença seja parte do que os iguala a todos.

Falo em aspectos da vida exterior porque os da vida interior terão desaparecido. A vida interior volatiliza-se em superficialidade de comunhão de despudores privados. Na medida em que mais e mais detalhes pequeninos de intimidade são compartilhados avidamente, menos particularidades e menos percepção há.

A vida interior, como percepção das externalidades e das interioridades ao mesmo e a todo tempo, dilui-se a tal ponto que se anula na comunhão de trivialidades sem consciência de si próprias. É um estado de dormência em que se vive, em um presente contínuo e sem portas de saída ou de entrada.

Não é que não se possa parar para pensar – até porque pensar não implicar para-se – como as maiorias gostam de repetir. É que não se pensa e isso não influi aparentemente no fluxo das vidas, porque não se pensa mas imagina-se que se o faz constantemente, e mais, livremente.

Algumas pessoas mais intelectualmente honestas, embora presas nas mesmas cadeias, têm a pequena ousadia de objetar com a inutilidade do pensamento. Mais honesto, mas não menos limitador, esse é o cinismo da ignorância utilitarista e segura de si. Talvez um cinismo temperado com preguiça.

O utilitarismo, compreendido somente nos seus aspectos mais vulgares, contribui enormemente com a manutenção do pensamento balizado e guiado. Torna-se um instrumento de uniformização, até de forma contraditória porque as utilidades supostamente implicariam em buscas, não em aceitações.

Ou seja, a noção de utilitarismo foi deformada pela superficialidade em noção de impossibilidade do diverso. A utilidade tem que ser considerada em mão única e, ademais, irrevogável. Esse formato é uma verdadeira conquista da incoerência, porque a crença generalizada na contingência mantém-se a partir de múltiplos indivíduos que afirmam a liberdade!

O teórico vai-me cansando o juízo e lembro-me de algo que soou muito interessante, recentemente. Trata-se da repetição geral de que em breve só haverá smartphones. Claro que falo de uma trivialidade e que abstraio da tolice imensa que o nome telefone inteligente ou sagaz carrega.

Mas, é um caso interessantíssimo a crença em algo certo e impassível de ocorrer diversamente: só haverá smartphones. Tudo bem, embora haja poucos smartusers de smartphones, mas eles serão todos, não haverá outros. Se você, no futuro próximo, quiser um telefone móvel para falar apenas, você terá um smartphone.

Não servirá de nada entrever que pode ser pouco smart ter um smartphone somente para falar, o que se fazia antes em um dumbphone. Você não estará diante de uma opção, você só terá à venda smartphones.

Mas, você provavelmente vai achar que sua liberdade amplia-se com a disponibilidade desses telefones muito sábios. Na verdade, terá que achar isso, porque terá vergonha de perceber que foi levado a comprar algo que lhe traz o que não quer ou precisa. E, para não se julgar tolo, passará a usar as possibilidades inteligentíssimas do telefone e se integrará plenamente ao modelo, agora sem vergonha, sem achar-se tolo e achando-se livre!

Usarás o que tens de usar, comprarás o que tens de comprar. Claro, terás uma alternativa, que será não ter telefone algum. E se optares por isso, serás catalogado em uma categoria própria, já prevista para tanto. Terás de aceitar-te como um ser exótico e assim oferecer-te à percepção socialmente compartimentada, a única possível.

A liberdade é de ser conforme a modelos pré-estabelecidos, as opções já estão dadas, mas o terceiro nunca é dado. Nem pode ser cogitado, até porque o utilitarismo de aba de livro que preside aos pensamentos leva a julgar inúteis quaisquer cogitações que fujam aos guiões padrões.

 

 

 

Wojtyla foi beatificado, mas esqueceram de Marcinkus!

 

Instituto per le Opere di Religione é o nome oficial do Banco do Vaticano, respeitável casa bancária que foi presidida pelo Bispo Paul Marcinkus, de 1971 a 1989. Um banqueiro longevo, como é raro acontecer. Uma longevidade que implicou na brevidade de outras instituições, como o Banco Ambrosiano, e na brevidade do presidente deste, Calvi.

A lavagem e o branqueamento de dinheiros das máfias – italianas e não italianas – foram tão intensas que Monsenhor Marcinkus teve que retirar-se de cena e voltar para Chicago. Claro que foi uma saída honrosa, daquelas que se devem aos grandes colaboradores. Não abandonaram Marcinkus ao azar, deram-lhe uma saída possível.

Ele aceitou-a, como aceitou quase todos os papéis, inclusive os mais grandiosos, como arquitetar e financiar a eleição de Wojtyla para Bispo de Roma. Alguns vêem também o desempenho de outros papéis difíceis – embora menos nobres – como a passagem de Luciani para outros tempos…

O caso é que Monsenhor Marcinkus operou grandes transformações, intermediou sinais, para utilizar-se a terminologia de Paulo. Por sua competência bancária, vários grupos formalmente inexistentes funcionaram como se fossem empresas detentoras de inocentes contas no Citibank, e nem empresas eram…

Sindicatos sem dinheiro funcionavam como prósperas iniciativas, por obra de Monsenhor Marcinkus… A Democracia Cristã era um aglomerado de bem-intencionados sem recursos e, nada obstante, havia dinheiro para mansões na Tunísia.

Hoje, beatifica-se Wojtyla porque uma mulher curou-se de Parkinson ou Alzheimer – não fui verificar – e se esquece de Marcinkus, companheiro de milagres e grande promotor do milagreiro beatificado. Ele, que operou milagres imensos, entre os quais não falar nunca, hoje é esquecido.

Para que justiça fosse feita, considerando-se que Wojtyla é beato oficial, Marcinkus devia ser santo!

 

 

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