Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

Saudades de Braga.

Lígia enviou-me um e-mail. Disse-me que vai a Portugal com a sobrinha Mirella, que deve lá estar por quinze ou vinte dias e pediu-me algumas sugestões. Estará duas semanas em Lisboa, com primas dela que lá moram, e tem três ou quatro dias para viajar. Parei pára pensar…

Não consegui evitar responder em uma longa mensagem, como se saboreasse todas as trivialidades que fizeram parte de meu cotidiano, por um ano. Não pude evitar a sugestão de ir ver a Ribeira do Porto, descendo de São Bento, a caminhar. De ir a Gaia, passando pela Ponte D. Luís, porque assim vê-se o Douro verde granítico.

Não pude deixar de dizer que, se possível, fosse a Braga. Que fosse ver a Catedral, que subisse a Rua do Souto, que tomasse um café n´A Brasileira, que olhasse a Avenida Central, a Avenida da Liberdade. Que, antes, entrasse à esquerda e fosse ver o Jardim de Santa Bárbara, que deve estar florido por estes tempos.

Fui fazendo sugestões que eram coisas comuns, há três anos… Não perdi a precisão, acho, pois consegui lembrar o preço de um comboio do Porto para Braga, consegui lembrar como é a cidade vista desde o Bom Jesus.

Lembro-me com saudades imensas de um passo após o outro, na caminhada pela feia Rua Nova de Santa Cruz, até chegar à passagem para a Rua Dom Pedro V, de calçadas estreitas até ao Largo da Senhora-a-Branca. Chove fininho e, na altura do Minipreço, a calçada alarga-se, há uma garagem de Volkswagen e, depois, a Igreja de São Victor.

Depois de São Victor,  mais memórias. O Largo da Senhora-a-Branca, a Av. Central.  Caminha-se mais lentamente, agora. Se tomo à direita, sigo pela avenida, com as gambas e a loja do paquistanês à esquerda. Se tomo à direita, vou aos correios, como ia frequentemente, mandar livros para os que gostam deles.

Posso ir lentamente até o Continente, comprar um jornal, alho, cebolas, carne moída, algum sabão que falta em casa. Passo a passo estou em casa e não estou nela. Sempre, ao mesmo tempo, sou de fora e sou do caminho. Vejo – com o só podem ver os que caminham – o rio que passa pequeno, os delumbrados das BMWs modificadas, as crianças que saem da escola, o gato Joaquim que está na janela na rua que aponta para o Continente.

Não vou ao supermercado. Viro à direita, vou ao centro pelo caminho mais longo…

 

 

4 Comments

  1. Severiano Miranda

    Rapaz… Tá bom de tu fazer outra pós graduação… Mas acaba essa primeiro! Afinal, Olivia já acabou a dela.. And here we go again!!!!
    =)

  2. miguel

    Caro Andrei,
    Está bonito este texto. Tem alma. Caminha-se contigo.
    Um abraço de fortes saudades.

    P.S. Aguardo a vossa morada para enviar uns livrinhos. Foi um apromessa minha! Fico a aguardar.
    Um forte abraço.

  3. Olívia

    Também senti muitas saudades ao ler o texto

  4. Maria José

    Andrei como diz Miguel este texto tem alma .Eu também senti saudades daquelas caminhadas sem pressa podendo-se observar a vida fluindo ao nosso redor.

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