Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

Mês: setembro 2010 (Page 3 of 5)

O vento no canavial, de João Cabral de Melo Neto.

Não se vê no canavial

nenhuma planta com nome;

nenhuma planta maria,

planta com nome de homem.

É anônimo o canavial,

sem feições, como a campina;

é como um mar sem navios,

papel em branco de escrita.

É como um grande lençol

sem dobras e sem bainha;

penugem de moça ao sol,

roupa lavada estendida.

Contudo há no canavial

oculta fisionomia:

como em pulso de relógio

há possível melodia,

ou como de um avião,

a paisagem se organiza,

ou há finos desenhos nas

pedras da praça vazia.

Se venta no canavial

estendido sob o sol

seu tecido inanimado

faz-se sensível lençol,

se muda em bandeira viva,

de cor verde sobre verde,

com estrelas verdes que

no verde nascem, se perdem.

Não lembra o canavial

então, as praças vazias:

não tem, como têm as pedras,

disciplina de milícias.

É solta sua simetria:

como a das ondas na areia

ou as ondas da multidão

lutando na praça cheia.

Então, é da praça cheia

que o canavial é a imagem:

vêem-se as mesmas correntes

que se fazem e desfazem,

voragens que se desatam,

redemoinhos iguais,

estrelas iguais àquelas

que o povo na praça faz.

A máfia contra a Carta Capital.

Isso incomoda.

A Carta Capital é uma revista semanal brasileira, fundada pelo jornalista Mino Carta, genovês que veio ter ao Brasil ainda muito jovem. Mino tem uma mente clara, possui amplos conhecimentos e escreve elegantemente.

A revista não se compreende a partir das categorias político-ideológicas direita, centro e esquerda. Ela é uma boa publicação – a única semanal brasileira digna de ser lida – com matérias jornalísticas propriamente ditas, colunistas em economia, esportes, mundo corporativo, gastronomia e política.

Dedica uma parte à tecnologia, outra à saúde, outra à cultura. Publica, traduzidos e sob licença, artigos da The Economist, britânica especializada no que o nome sugere.

Conforme à grande tradição norte-americana e européia, a Carta Capital não escamoteia opiniões editoriais. Ou seja, não se prende à mentira que atende pelo nome de imparcialidade do editor, algo que não existe. O jornalismo é uma técnica de coleta e relacionamento de informações e, quando sugere alguma ligação que não decorre imediatamente e claramente de fatos, deve deixar isso claro.

O editorial, esse é uma opinião, um artigo assinado e de responsabilidade do seu autor. Não deve conter ofensas à honra e dignidade das pessoas, como não devem conter tais agressões quaisquer comunicações públicas, sob pena de sanção penal e civil. Esse é seu limite formal. Os limites materiais dão-nos os leitores e a maior ou menor credibilidade que eles têm.

No que tange a jornalismo, ou seja, a matérias que se referem a fatos, maioritariamente fatos políticos, as coisas regem-se pelas regras clássicas do jornalismo e, evidentemente, pelas mesmas limitações já mencionadas, relativamente à honra das pessoas. A Carta Capital faz boas matérias jornalísticas e não as tem contestadas com sucesso.

Do outro lado do espectro editorial brasileiro, tem-se a revista Veja, uma publicação rasteira, de baixo nível intelectual, de alinhamento político evidente, mas sempre negado, de oferta de conclusões prontas sem fatos comprovados, ou seja, toda e completamente de idéias e propaganda, mas sob o nome de jornalismo.

Essa publicação leva a sua editora, a Abril, a constantes condenações judiciais por ofensas sem provas a várias pessoas. Todavia, preferem pagar as indenizações a mudar seu estilo agressivo e infundado de agredir violentamente os seus inimigos e os inimigos dos que se servem dela.

O espectro de conteúdos habituais da revista Veja vai de qualquer coisa contra o governo atual a uma nova receita para emagrecer ou para ser feliz. Sua secção de cultura consiste na apresentação de uma lista de livros mais vendidos, apurada segundo critérios desconhecidos. Seu parâmetro de escolha de uma obra para tratar é o sucesso financeiro dela, sendo irrelevantes quaisquer considerações de cunho estético.

Sua linha editorial é o escândalo, qualquer um, semana após semana um novo e improvável escândalo. Seu modelo de perfeição é qualquer coisa que não seja daqui, pois bebe na fonte do colonialismo mental profundo. O paraíso já esteve, para a Veja, em Dubai, mesmo depois que Dubai revelou-se um imenso e falido casino e todo o mundo sabia disso.

Seu público maioritário é composto dos sujeitos caipiras e colonizados que sonham com Miami e com o porteiro do prédio a chamar-lhes de excelências e a agradecer a dádiva de serem cumprimentados pelos predadores vencedores. Na verdade, esse público é composto, tanto pelos predadores atuais, como pelos que sonham em sê-lo, pois a idiotia e a crença no vale-tudo existem em ato e em potência. Não convém perder a ocasião de render homenagem ao grande Aristóteles!

Pois bem, todas as publicações jornalísticas ou pseudo-jornalísticas brasileiras recebem por publicidade dos entes estatais. Elas celebram contratos com os poderes públicos, sejam para fornecimento de jornais e revistas, sejam relativos à publicação de propagandas.

A Carta Capital recebe esses dinheiros. A edição desta semana que se inicia – que tenho agora em mãos – tem duas páginas da Petrobrás (petrolífera com 51% de capital do Estado); quatro páginas da Caixa Econômica Federal (banco estatal); duas páginas de anúncio institucional para que as pessoas usem cinto de segurança nos automóveis.

A mesma edição tem duas páginas do Banco Itaú (o maior banco privado do Brasil); duas páginas da montadora de automóveis coreana Hyundai; uma página do Credicard; duas páginas da Braskem (uma petroquímica); duas páginas da TIM (a telefônica italiana dos espanhóis); duas páginas da CPFL (uma companhia de energia elétrica de São Paulo); duas páginas da montadora de automóveis alemã Volkswagen; um terço de página do banco inglês HSBC; meia página do Reserva Cultural, anúncio de filmes;  uma página do Credicard, anunciando dois concertos da banda Rush; e a última capa da Air France.

A Carta Capital recebe menos dinheiros do Estado, em troca de espaços publicitários, que todas as outras grandes publicações, sejam revistas, sejam jornais. Todavia, por ter declarado apoio à candidata Dilma Roussef – uma manifestação de honestidade editorial que as publicações outras são incapazes – é acusada de fazê-lo em troca de dinheiros públicos. É mentira de pernas curtas.

Que seja acusada de qualquer coisa pelos veículos parciais e frívolos que se dizem jornalísticos e imparciais é de esperar-se. Que a Procuradora Geral Eleitoral do Brasil o faça é compreensível, também, mas é formalmente absurdo. Pois a representante do ministério público no tribunal superior eleitoral intimou o editor da Carta Capital a dizer quanto a revista recebe do estado, a troco de espaço para publicidade.

Se a questão fosse de probidade no dispêndio público com publicidade, era o caso de solicitar essas informações a todas as publicações no país que recebem dinheiros públicos. Na verdade, nem disso seria o caso, seria de solicitar ao contratante informar quanto paga e a quem.

A solicitação ao receber, a um deles, é um absurdo conceitual, uma subversão da lógica. Não se pergunta a um contratado quanto ele recebe, principalmente tratando-se de uma comunicação institucional de um órgão estatal, como é o ministério público. Pergunta-se ao contratante, que se de probidade cuida-se, a coisa dirige-se ao poder público!

E pergunta-se quanto se paga a todos os que recebem, porque sem isso não há comparação e sem comparação não há possibilidade de verificar-se qualquer desproporção. Por que, então, a pergunta específica? Seria para constranger? Seria para lançar a suspeição de que um apoio declarado foi comprado?

Não se espera do ministério público eleitoral que lance suspeitas, que faça solicitações ao destinatário errado, que não explicite porquê faz essa ou aquela solicitação a um destinatário específico, quando vários encontram-se na mesma situação.

Assim fazendo, o órgão que deve cuidar da legalidade atrai a suspeição para si, o que é profundamente indesejável.

Campina Grande precisa de uma livraria.

A editora Alfaguara publicou novamente algumas obras do maior poeta brasileiro, João Cabral de Melo Neto, em edições preciosas. Reuniram em três volumes, chamados pelos nomes dos grandes poemas Morte e vida severina, O cão sem plumas e A educação pela pedra, grande parte da poesia cabralina.

Os volumes têm biografia, cronologia, bibliografia do autor, índice de títulos e um pequeno prefácio a respeito do autor e da obra. Queria compra-los para oferecê-los a um amigo, apreciador de boas letras portuguesas, que suponho gostará destes versos quase perfeitos.

Acontece que não há livrarias nesta urbe de quatrocentas mil pessoas, duas universidades públicas e três particulares! Há delas, claro, pequenas e bastante específicas, com livros jurídicos, livros religiosos, livros sobre informática. Não há, sem mais, a livraria como a entende o apreciador de literatura, aquela a que se vai quase por mania, para ver, pegar os livros, sentar, ler um e outro pedaço, tomar um café.

Pode-se comprar livros por meio da internet, o que é bastante prático se o sujeito sabe precisamente o que deseja e dispõe-se a esperar uns dias para ter o volume em mãos. Tenho comprado muitos livros assim, usados, em um ótimo sítio de internet, a estante virtual. É até melhor que alguma livraria se se deseja algo mais raro e fora de catálogo das grandes editoras.

Pois bem, o fato é que nos deslocamos 130 Km, até João Pessoa, para ir a uma livraria e comprar os tais livros de João Cabral de Melo. E não foi para ir a uma esplêndida livraria, mas a uma dessas de centro comercial, que vendem livros, revistas, jornais, discos,  filmes, petrechos de informática, máquinas de fotografar. Coisas como as Fnac ou Livraria Cultura.

Essas lojas são muito mais que livrarias e seu sucesso está precisamente nisso. São locais de convivência e de deixar passar o tempo. Não têm mesmo grandes acervos de coisas boas, porque quase tudo gira em torno a manuais de como ficar-se rico ou em paz consigo próprio. Todavia, são livrarias! São amplas, vendem de quase tudo, têm onde sentar-se, comer alguma coisa, tomar um café, uma água.

Não há uma loja dessas em Campina Grande! Arrisco-me a parecer atrevido em suposições de comércio e econômia, mas acho que estão perdendo um bom negócio. Uma livraria assim não dará prejuízos porque ela não vive propriamente de leitores ou amantes de livros, ela vive de quem precisa de um espaço de lazer e convivência, com o pretexto dos livros, que é uma desculpa aparentemente sofisticada para o frequentador.

Além de atender ao sujeito que a frequenta porque acha bonita a aparência intelectualizada, ela presta um grande serviço ao que visa aos livros mesmos. Ou seja, finda por ser boa para todos. Ninguém vai imaginar que uma Fnac retira a maior parcela de seus lucros dos bibliófilos. Ela vende computadores, jogos, bilhetes para espetáculos, comida, aparelhos de GPS, quase tudo enfim, e continua a vender livros.

Esses estabelecimentos tornam-se pontos de convergência de interesses diversificados e por isso mesmo são lucrativos. Não sou ingênuo a ponto de lastimar a inexistência de uma livraria de verdade, mas lamento profundamente que não haja nem das de mentira e creio que alguém está perdendo dinheiro nisso.

A UDN não gosta de eleições, gosta de golpes.

A UDN nunca gostou de eleições presidenciais, porque frequentemente as perdeu, ainda que com franco apoio dos meios de comunicação de massas. Conseguiram levar Vargas ao suicídio, conseguiram tumultuar o país após a morte dele, quase conseguem evitar a eleição e posse de Juscelino Kubitschek.

Levaram Jânio Quadros a tentar um golpe, porque começaram a por empecilhos ao governo dele tão logo perceberam que não o manobrariam a seu inteiro gosto. Tentaram impedir a posse do vice-presidente eleito regularmente, com argumentos totalmente inconsistentes.

Então, aliaram-se àlguns ociosos do Departamento de Estado norte-americano e à pior parcela do exército brasileiro e, finalmente, deram um golpe exitoso. Impuseram vinte e um anos de ditadura militar ao país, deformando o que já era mal conformado. Deixaram de herança a crença na violência e na impunidade a partir de critérios econômicos e ideológicos.

Apropriaram-se parcialmente de um governo desastroso, na redemocratização de fancaria de 1985. Ajudaram a fazer uma constituição em que os direitos e garantias fundamentais são meras decorações, em 1988.

Apostaram em um aventureiro, semelhantemente ao que havia ocorrido com Jânio, e o elegeram em 1989. Perceberam que ele – embora não conhecesse limites, era altivo e insubmisso. Depuseram-no sob o argumento de uma corrupção de palitos de fósforo, em defesa de uma moralidade de pervertidos, e ainda induziram as pessoas a crerem que foram elas a retirá-lo.

Tentaram apropriar-se totalmente do governo de um direitista clássico de Minas Gerais, que sucedeu ao Calígula deposto, sem muito êxito. Não reputaram, todavia, necessário depor o liberal que se instalara temporariamente. Breve, assumiriam diretamente por meio de um preposto talhado para a ocasião: um professor absolutamente disponível, profundamente elitista e arrogante.

Triunfaram por oito anos. Para tanto, foi preciso alterar as regras do jogo e permitir a reeleição, algo de que nunca haviam tratado antes e contra que se insurgem quando não podem colher seus benefícios. Valorizaram a moeda nacional mediante uma artificial paridade com o dólar norte-americano, obtida por meio de dólares tomados emprestados a preços altíssimos.

Às vésperas da segunda eleição do francófono submisso, esconderam que o país havia quebrado e obtiveram mais uma dose de entorpecente, na forma de um empréstimo caríssimo de 40 biliões de dólares, autorizado pelo patrão, natural do Arkansas.

Empreenderam uma corrida frenética para vender tudo quanto fosse possível das infra-estruturas estatais, sob o argumento de que o dinheiro apurado serviria ao pagamento da dívida que aumentaram exponencialmente. Não pagaram coisa alguma e discursaram que tinham aberto as portas do país a um maravilhoso mundo novo. Esconderam que era apenas neo-colonialismo e submissão periférica, na verdade.

Estimularam o sentimento de culpa da vítima, segundo o qual os problemas eram de responsabilidade total das pessoas, embora essas nunca se tenham beneficiado de qualquer grande negócio e nunca tenham percebido a fundo o que se passava. Quebraram o país mais duas vezes e finalmente, ao final desse saque de oito anos, entregaram a terra arrasada ao primeiro indivíduo realmente de origens populares.

Incapazes de recuar da impostura – como um gato é incapaz de esconder a cauda – disseram insistentemente que o homem de origens pobres fracassaria e precipitaria o país no caos. Alternativamente, disseram que, caso não houvesse esse caos, seria por conta da benfazeja herança que tinham deixado. Ou seja, depois deles, só podia haver, ou o dilúvio, ou um sucesso que a eles se deveria. O mundo eram eles!

O caos não veio. E o sucesso que sobreveio não se deveu a qualquer herança deles. Deveu-se à mudança evidente de rumo tomado, principalmente na prática de tímidas políticas de rendas mínimas para os mais pobres desse país imensamente pobre. O mercado interno aumentou bastante, com esse tímido aumento de rendas das classes mais baixas.

Aconteceu uma enorme crise mundial – que ainda está aí – e o país foi dos pouquíssimos que não sofreram seus efeitos, senão marginalmente. Eles tinham apostado que a crise destruiria o país, o que aconteceria, claro, se fossem eles a comandar na ocasião. Além de coerentes com sua forma de pensar, a destruição era para eles um desejo sincero. Se a economia fosse destruída, pouco importando os custos sociais disso, eles teriam algum argumento para voltar.

Como de hábito, disseram que o país escapou da crise, ou por acaso, ou ainda por conta das idéias deles, que teriam sido postas em prática. É falso, pois a crise foi evitada precisamente por medidas que eles nunca tomariam. Ao contrário do receituário dos submissos, estimulou-se o crédito e deram-se isenções fiscais a setores escolhidos precisamente. Resultou bem, para felicidade do país e infelicidade deles.

Não compreendem – aqui não vai figura de linguagem – porque seu representante na disputa presidencial deste ano perderá por larga margem. Nisso são profundamente ignorantes, porque convém não apostar sempre que as pessoas escolhem contra elas mesmas. As pessoas vão apostar a favor de si mesmas e elegerão a representante do primeiro homem realmente de origens humildes que foi presidente.

Oito anos sem parasitar o Estado é muito para eles, que se ufanam de fazer discursos supostamente liberais, mas não vivem sem saquear o Estado. Doze anos longe dessa entidade que para eles sociabiliza os prejuízos e concentra os lucros, podem ser o prenúncio do fim. Então, para evitar esse fatal distanciamento, vale tudo.

Eles têm como prolongamento empresas de comunicação de massas, jornais, revistas e TVs, que fazem o papel claro e agora inteiramente desnudo de suas agências de publicidade. No caso das TVs, há uma inconstitucionalidade evidente nisso, porque são concessões públicas, mas eles fizeram deste um país em que as legalidades são relativas.

"PIG não é porco, é Partido da Imprensa Golpista"

"PIG não é porco, é Partido da Imprensa Golpista"

A mentira, o crime e a impostura estão sendo levadas aos píncaros, em busca de um escândalo – qualquer um serve – que permita atingir a candidata que vencerá. Se não há fatos, criam-se. Se não há qualquer ligação entre os fatos criados e os autores que se querem, criam-se as ligações.

Dispõem também de agentes entre aqueles que deveriam cuidar da aplicação das leis. Então, os agentes mediáticos criam os supostos fatos e forjam relações destes com os que querem atingir e os agentes que deviam cuidar da lei tratam de aplicá-la à criação. Assim, faz-se um golpe com aparência de legalidade.

Assim sempre tentaram, pois é o modelo lacerdista da invocação da legalidade mão única, oportunisticamente e baseada em mentiras. Apenas quando isso não resulta, pensam em formas mais drásticas, como o golpe militar a que recorreram em 1964.

Sucede que não é possível, hoje, essa solução mais drástica. Por isso, apostam no modelo clássico forjado por Lacerda, com a máxima intensidade possível. Sucede que assim como não é viável a solução militar, presentemente, também não é razoável apostar no golpismo mediático-jurídico imune a reações.

E seria profundamente tolo pensar em reações esquerdistas, que isso nunca houve no país. É sensato imaginar reações de todas as colorações, por parte de quem quer que acredite em eleições e por parte de quem quer garantir a eficácia da sua escolha por voto. Ainda que a memória seja curtíssima, poucos ignoram ou são incapazes de comparar o quanto houve nos últimos dezesseis anos e essa percepção está evidente no resultado que se projeta para as eleições.

Se houve melhoras e vota-se por aprovação a elas, dificilmente aceita-se a subversão dos resultados de uma eleição por argumentos sofísticos de palavrório jurídico, ainda que decorado de moralismo de banca de feira. A decoração moralista nada acrescentará ao golpe porque eles não são confiáveis.

É curioso perceber que o descrédito deles advém não apenas de sua histórica prática, mas também de uma estratégia que desenvolveram recentemente. Eles estimularam uma crença de que todos os políticos são igualmente desmerecedores de credibilidade. Fizeram-no para atacar os outros, que aos olhos da população eram muito melhores que eles, de imagem negativa há muito.

Agora a estratégia vai causar-lhes prejuízos, porque se todos são iguais moralmente, são preferíveis aqueles que conseguem melhorar as vidas das pessoas!

O chilique do democrático e cordato Serra na televisão.

José Serra, candidato a Presidente, foi dar uma entrevista à jornalista Márcia Peltier, do canal de televisão CNT. Convém lembrar que Serra, ele mesmo ou por seus prepostos mediáticos, repete à exaustão que o atual governo é autoritário com a liberdade de imprensa.

Pois bem: ele perdeu o controle e foi de imensa descortesia com a jornalista, apenas porque ela disse-lhe que as quebras de sigilo de que tanto se fala deram-se antes do período eleitoral e falou das pesquisas. Acusou o programa de ser uma montagem, de ser um esquema do partido da candidata Dilma Roussef. Foi extremamente grosseiro e mimado e disse que ia embora e queria que o vídeo fosse apagado.

Pediu à emissora as fitas da gravação e recebeu-as! Ora, Serra, o democrático, quer escolher as perguntas que os jornalistas lhe fazem? Só fala e só responde a quem serve perfeitamente ao seu roteiro? E, ainda por cima, confisca as imagens de sua grosseria?

Campanha política nestas terras pobres e selvagens.

Campanha política significa para os sentidos visão e audição dois meses de agressões constantes e intensas. Já não contamos com padrões suficientes de limpeza urbana e isso piora muito durante as campanhas, por conta da quantidade de papéis jogados indiscriminadamente nas calçadas e ruas.

As agressões sonoras tornam-se em regra, com padrões rígidos de ocorrência. Desfilam pela cidade pequenos camiões munidos de aparelhos potentes de som, repetindo em alto volume propaganda dos candidatos. Não importam hora e local, pode ser em frente a escolas ou hospitais.

Essas práticas são ilegais e existem formalmente órgãos responsáveis por coibí-las. Não funcionam, simplesmente. A disfunção é aceita por todos, embora esses órgãos sejam pagos com dinheiro recolhido de todos. Seria melhor – ou mais barato – não os ter. Mas, precisamos viver a dualidade do real e do formal e gastar com isso.

Nestas plagas não somente toleramos o barulho, como parece que gostamos dele. Ele confunde-se com liberdade, ele identifica-se com alegria, com espontaneidade. Falar aos gritos assume-se como uma maneira normal de fazer-se compreender, pois não importa o conteúdo, importa o volume com que algum pouco conteúdo se afirma.

Entendemos que a desenvoltura grita e a timidez fala baixo. A alegria recebe sons em altíssimos decibéis e a tristeza quer algum silêncio. A arrogância cala-se e a simpatia destrói tímpanos. As religiosidades vendem-se aos gritos e os demônios só aceitam retirar-se se forem instados também aos gritos. Esse é o estado mental que temos na maioria das pessoas.

Se há alguma regra sobre barulhos, no fundo a desprezamos e reputamos uma excentricidade que alguém resolveu por em forma de lei, apenas para dizermos que temos esse tipo de regra a algum estrangeiro que considere isso importante. É, como diz o lugar-comum mais genial que existe sobre a psicologia social brasileira, coisa para inglês ver.

Aceitamos porque é o que está aí e sempre esteve, ou seja, o normal, a única coisa possível. Alguém pode até não gostar de barulho em alto volume, mas ficará envergonhado de afirma-lo, sentir-se-á ele próprio um ser exótico, que acha ruim algo tão normal, que não incomoda à maioria. Ora, pensará o incomodado, eu sou o deslocado dessa estória, incomodando-me com o que não preocupa ninguém.

Essa forma de incutir nas pessoas a vergonha e a estranheza de si por pensarem diferentemente de algo majoritário funciona como os sentimentos de culpa da vítima. Algo como aquela percepção canalha de que alguma jovem foi violada porque ela própria criou todas as condições para ser vítima do crime. Pensando assim não há crime, há vítimas criminosas.

Acontece – e sempre volto ao mesmo ponto – que pensando assim também não precisamos de leis nem de aparatos que se refiram à aplicação e cumprimento delas. Mas, somos tão infames e ignorantes que mantemos os aparatos, para participarmos da apropriação do público, embora eles sirvam a quase nada.

E conseguimos fazer o público pagar sem saber porquê, por algo que desconhece e com quê não se preocupa, no fundo. Uma parcela minoritária desse país vende às maiorias uma utilidade em que, nem o vendedor, nem o comprador acredita. Os últimos não sabem nem o que compram, na verdade.

Qual a aposta de Folha, Globo, Abril e congêneres? É suicídio ou golpe?

Estive lendo uma postagem de Eduardo Guimarães, no blogue Cidadania, que propõe uma questão mais sutil que parece à primeira vista. Ele parte de premissas sólidas, nomeadamente que: meios de comunicação como esses do título fazem campanha franca e agressiva para o candidato José Serra; este candidato, exceto se houver uma surpresa imensa, perderá as presidenciais de outubro próximo, por larga margem; os meios de comunicação mencionados não trabalham para perder mais credibilidade, leitores e dinheiro.

Assumindo-se as três premissas acima, parece totalmente ilógica a postura dessas corporações mediáticas, pois apostam no perdedor claro e, ademais, agridem até criminosamente os futuros vencedores. Isso lhes trará uma perda de respeitabilidade – da pouca que ainda lhes resta – desastrosa para sua própria existência.

Seria de esperar-se que ante a ineficácia de sua campanha retornassem ao jornalismo, ou seja, que deixassem de vender suposições ou puras mentiras como notícias e que deixassem de produzir editorias de propaganda à guisa de darem opiniões isentas. Mas, não é isso que se observa, pois seguem aprofundando sua atuação de propagandistas políticos.

Segundo uma lógica mais ortodoxa, estão a estimular que o próximo governo aja no sentido de democratizar a imprensa, de buscar a punição a quanto configurou crimes e ofensas indenizáveis à honra de pessoas e a fazer os concessionários públicos agirem como tal. Quer dizer, estimulam situações que serão fortemente contrárias aos seus próprios interesses.

Cometem suicídio? Buscam a própria falência? Não é razoável supor isso.

As coisas ficam mais claras – e mais logicamente compreensíveis – se estiverem a apostar em algo mais. Se estiverem a apostar em um resultado final independente daquele apurado na abertura das urnas. Nesse panorama, sua atuação encontra uma motivação logicamente perceptível, pois é instrumental ao golpe.

Eles precisam de conflitos, sempre!

Dois imbecis queimam o Alcorão.

Dois imbecis queimam o Alcorão.

A novidade do século passado foi a guerra ter-se tornado algo desejável por um elemento novo, além das habituais vantagens da conquista territorial e do saque ao vencido.

Ela tornou-se interessante em si mesma, por conta dos contratos governamentais que se podem celebrar, justificados pela guerra. Claro que sempre se soube e falou das vantagens dos fornecedores dos exércitos, mas isso não chegava para ser a motivação da tensão bélica permamente. Era um efeito lateral vantajoso para os fornecedores.

Hoje chega ao rol das motivações, provavelmente a mais destacada. É preciso haver conflitos permanentes e para haver conflitos permanentes ainda são necessárias algumas aparentes justificações, por mais tolas que possam parecer. O lobo tem que acusar o cordeiro de sujar a água que ele bebe, ainda que o primeiro conheça a lei da gravidade.

Para vender coisa pouca, carabinas e balas, por exemplo, há o tráfico de drogas, o México, a Colômbia e outras desculpas pueris. Para as coisas mais pesadas, há o espírito de Cruzada.

Para saquear Constantinopla e ocupar a Palestina, os bandidos liderados pelos franceses precisaram de mais que a própria vontade.  As massas que cortariam cabeças e eventualmente teriam as próprias cortadas, não se convenceriam pelas vantagens que não aufeririam. Seriam convencidas pelo espírito de Cruzada.

Há quem sirva à propagação desse estado de espírito sinceramente, ganhando materialmente pouco, quase que somente por estreiteza mental e fanatismo religioso. São utilíssimos aos que vivem do negócio da conflagração permanente.

Dois pastores imbecis do Tennessee queimaram exemplares do Alcorão. Não é provável que sejam grandes acionistas da General Dynamics, da Boeing, da EADS, da Dassault, ou de qualquer outra grande corporação bélica. São dois imbecis que desempenham um grande papel.

O livro ditado pelo Profeta iletrado não convida a qualquer intolerância contra os monoteístas que ligam suas raízes ao preconceito originado no deserto palestino. O livro afirma que o Galileu crucificado em Jerusalém foi um Profeta, merecedor de todo respeito como tal. O livro é extremamente respeitoso com a mãe desse Profeta.

Quando os seguidores do Profeta de Medina querem expressar suas raivas políticas e religiosas, eles queimam as bandeiras norte-americana, francesa, inglesa ou israelense. Eles não põem fogo nos textos daqueles escritores mal-alfabetizados em grego, do século I, ou na Torá, ou no Pentateuco.

Eles sentir-se-ão agredidos com essa atitude estúpida de dois pastores do Tennessee? Obviamente, e esse é precisamente o resultado que os senhores das corporações e dos bancos que com elas vivem em simbiose gozarão imensamente.

Eisenhower adverte sobre o complexo industrial militar.

O Presidente Eisenhower parece ter-se dado conta das dimensões do monstro criado no pós segunda grande guerra mundial. O complexo industrial militar tornou, desde então, todo o discurso sobre democracia e liberdades palavras destituídas de qualquer contato com a realidade. Apenas, fórmulas a serem propagadas e repetidas acriticamente por quem não está a perceber onde e como opera o poder real.

Em tradução livre, a partir de 1:01 do vídeo, diz Eisenhower: essa conjunção de um imenso aparato militar e uma grande indústria de armas é nova na experiência norte-americana. Sua influência econômica, política e até espiritual é sentida em todas as cidades, todas as casas e em todos os escritórios do governo. Nós reconhecemos a imperiosa necessidade desse desenvolvimento, embora não deixemos de perceber suas graves implicações.

Em 1:38, a indicação do cuidado que deveria ser tomado, mas que foi impraticável, depois, como se sabe: no governo, devemos precaver-nos contra a aquisição de indesejável influência, seja voluntária ou não, pelo complexo industrial militar. O potencial para o desastroso avanço do poder mal colocado existe… Não devemos deixar o surgimento dessa combinação por em risco nossa liberdade ou nosso processo democrático.

Eisenhower foi clarividente e explícito, o que são coisas difíceis. Realmente, compreender um processo histórico passado já é bastante complicado. Compreender o momento do processo em que se vive, é mais difícil ainda. Ele esteve certo e a advertência não resultou…

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