Dois imbecis queimam o Alcorão.

Dois imbecis queimam o Alcorão.

A novidade do século passado foi a guerra ter-se tornado algo desejável por um elemento novo, além das habituais vantagens da conquista territorial e do saque ao vencido.

Ela tornou-se interessante em si mesma, por conta dos contratos governamentais que se podem celebrar, justificados pela guerra. Claro que sempre se soube e falou das vantagens dos fornecedores dos exércitos, mas isso não chegava para ser a motivação da tensão bélica permamente. Era um efeito lateral vantajoso para os fornecedores.

Hoje chega ao rol das motivações, provavelmente a mais destacada. É preciso haver conflitos permanentes e para haver conflitos permanentes ainda são necessárias algumas aparentes justificações, por mais tolas que possam parecer. O lobo tem que acusar o cordeiro de sujar a água que ele bebe, ainda que o primeiro conheça a lei da gravidade.

Para vender coisa pouca, carabinas e balas, por exemplo, há o tráfico de drogas, o México, a Colômbia e outras desculpas pueris. Para as coisas mais pesadas, há o espírito de Cruzada.

Para saquear Constantinopla e ocupar a Palestina, os bandidos liderados pelos franceses precisaram de mais que a própria vontade.  As massas que cortariam cabeças e eventualmente teriam as próprias cortadas, não se convenceriam pelas vantagens que não aufeririam. Seriam convencidas pelo espírito de Cruzada.

Há quem sirva à propagação desse estado de espírito sinceramente, ganhando materialmente pouco, quase que somente por estreiteza mental e fanatismo religioso. São utilíssimos aos que vivem do negócio da conflagração permanente.

Dois pastores imbecis do Tennessee queimaram exemplares do Alcorão. Não é provável que sejam grandes acionistas da General Dynamics, da Boeing, da EADS, da Dassault, ou de qualquer outra grande corporação bélica. São dois imbecis que desempenham um grande papel.

O livro ditado pelo Profeta iletrado não convida a qualquer intolerância contra os monoteístas que ligam suas raízes ao preconceito originado no deserto palestino. O livro afirma que o Galileu crucificado em Jerusalém foi um Profeta, merecedor de todo respeito como tal. O livro é extremamente respeitoso com a mãe desse Profeta.

Quando os seguidores do Profeta de Medina querem expressar suas raivas políticas e religiosas, eles queimam as bandeiras norte-americana, francesa, inglesa ou israelense. Eles não põem fogo nos textos daqueles escritores mal-alfabetizados em grego, do século I, ou na Torá, ou no Pentateuco.

Eles sentir-se-ão agredidos com essa atitude estúpida de dois pastores do Tennessee? Obviamente, e esse é precisamente o resultado que os senhores das corporações e dos bancos que com elas vivem em simbiose gozarão imensamente.