José Luis Rodríguez Zapatero, Presidente de Governo da Espanha, disse que apoia uma intervenção militar na Líbia, desde que haja respaldo em Resolução do Conselho da ONU e apoio da Liga Árabe, para não parecer que estão apenas a querer roubar o petróleo. E para não parecer que se trata de neocolonialismo.

Ora, mas é precisamente disso que se trata, de garantir o petróleo e de continuar o colonialismo com tons suaves. Não se cuida de evitar morticínios ou violações a coisa alguma, porque eles acontecem diariamente em locais pobres de recursos e não despertam qualquer atenção.

A questão é que os limites estão muito próximos e invocar as desculpas formais habituais pode ser invocar o nada. Resoluções da ONU há delas para todos os gôstos e inclinações, para justificar o que se queira, conforme os interesses de quem as podem propor e, principalmente, segundo os de quem as podem vetar.

A Liga Árabe existe, ainda? É aquela de Mubarak e de meia dúzia de reis bancados por interesses não-árabes? É isso o que Zapatero acha justificação suficiente? Quantas pessoas de verdade, no Norte da África e na Península Arábica estão preocupadas com Resoluções da ONU ou papéis de Mubaraks e Al Sauds?

A Senhora Rodham Clinton ofereceu, recentemente, um comentário mais interessante que a simples desconexão formal de Zapatero. Este último deixou perceber o real motivo no que dizia ser a aparência a ser evitada. A primeira partiu para a análise errada, para a posição de recomendar aumento da dose de um remédio que já compromete o paciente de morte.

Hilary Clinton disse que os EUA estão perdendo a comunicação. Pode ser, mas não será por falta de bombardeio mediático e, sim por esgotamento da fórmula. Ela disse com a comunicação o que alguns franceses diziam com a manteiga: se algum prato não está ideal, mais manteiga.

Ela, a Sra. Clinton, está errada. Eles podem estar a perder prestígio e respeitabilidade, mas não é por falta de comunicações. Os EUA e a Europa monopolizam as comunicações – sejam elas jornalísticas, sejam culturais ou de entretenimento – para que sempre veiculem mensagens favoráveis a si.

Até os aparentes contrapontos são aqueles permitidos e escolhidos para manter-se uma coleção previsível de objeções binárias. Objeta-se nos limites propostos pelos próprios objetados. Faz-se oposição ao imperialismo nos termos em que os imperialistas acham divertido.

Ocorre que a realidade, vez por outra, revela-se mais forte que a aparência. Imagine-se, por exemplo, que décadas de pobreza em um país rico em petróleo um dia fazem as pessoas ficarem com raiva. E mais litros de tinta ou mais tempo de falação em televisões não adiantarão mais. É uma questão de aliviar-se a pressão, mais que de tentar escamotea-la.

Os EUA perdem prestígio no mundo porque são, objetivamente, os maiores agressores que há no globo. Por conta de suas necessidades internas, sejam de fluxo financeiro para seu complexo industrial-militar, seja para suprir suas necessidades de consumo, distribuem tiros e bombas como nunca se fez.

Assassinam em qualquer parte, aleatoriamente. Iniciam guerras que somente podem trazer lucros a quem vende armas. Criam conflitos antes inexistentes apenas para desviar a atenção para algum escândalo de política interna. São, enfim, um elefante desgovernado, que podem liquidar com vastas quantidades de pessoas ao sabor de uma pisadela aqui ou acolá.

Porém não conseguem livrar-se das explicações dentro de seu próprio modelo. Com relação às revoltas que se alastram desde o noroeste da África até às arábias, insistem nessa tolice de facebook e twitter, como se todos estivessem conectados a essas coisas. Como se os seus meios de inatividade confortável fossem os grandes intermediários das ações dos outros.

Ora, quem estava na rua, aos gritos, a trocar tiros, a incendiar carros, não estava em casa a escrever mensagens de 140 caracteres! Se isso fosse verdade – essa estória de revolução graças à internet – todas as anteriores teriam se devido ao papel! As revoltas devem-se às insatisfações, não aos meios destas propagarem-se.

Acontece que o paciente vai continuar a tomar os mesmos remédios, em doses cambiantes, até morrer ou curar-se por ele mesmo. Na verdade, os médicos não podem ver a doença, porque então teriam somente duas opções: rasgar suas licenças de médicos ou aceitarem-se assassinos.