Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

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Obama e a aposta certa na massificação.

Todos os governos norte-americanos desde o Presidente Jonhson apoiaram incondicionalmente o sionismo e trabalharam basicamente para os interesses de três complexos econômicos: o sistema financeiro, a indústria bélica e a indústria químico-farmacêutica.

Não é que me esqueça do complexo mediático, mas que o ponha na condição de intermediário entre o poder real e o poder político, o segundo desepenhado por empregados escolhidos pelo primeiro. A imprensa não é propriamente um complexo para que os governos trabalhem, mas a voz dos três grandes grupos onde está o poder real.

Essa voz permite que exista a aparência que é o jogo democrático, falsa peleja que só pode ser encenada com massas não apenas incapazes de pensar, mas incapazes de ter acesso a fatos.  Claro que estágios mais avançados da imbecilização espetacularizante chegam até a permitir a livre circulação de fatos, tal é o nível de lógica de partido e cegueira a que se terá chegado.

Hoje, de certa forma, atingiu-se o nível ideal de espetacularização para que o domínio seja quase pleno. É possível que evidências passeiem às vistas das pessoas e sejam percebidas exatamente como se não tivessem ocorrido ou, pior, que delas se extraiam conclusões contrárias ao que um ser mais ou menos livre extrairia.

Pois bem, o Presidente Obama disse, a respeito de mais uma erupção do afã matador israelense, que nenhum país tolelaria mísseis vindos de fora a cairem no seu território. A proposição é irretocável, sob um prisma abstrato, formal e sem quaisquer aparentes juízos de valores a turvarem o entendimento. O evidente da frase, deixemos para lá: que Obama simplesmente quer defender Israel, pois é natural defender o patrão.

Não me parece inteligente supor que Obama é pouco inteligente e que ele mesmo age e pensa como os destinatários da fórmula, de resto tão lógica. Ele não é burro; ele é um empregado bem formado, que consegue demonstrar simplicidade e sofisticação com certa naturalidade e por isso foi escolhido para o posto. Ele é muito mais serviçal e violento que os brutos, exatamente porque não age com brutalidade, mas com sutileza.

Recorrer às formas para esconder a matéria é usual. No âmbito político, implica público ignorante de história e já deformado para ter o campo de opiniões reduzido ao maniqueísmo mais binário possível.

A redução do público ao homem massa total – aquele que até a linguagem perdeu – e ao homem massa aparentemente não-massa  – aquel que detém a linguagem, alguma lógica formal, mas obra já no maniqueísmo atemporal – foi trabalho levado a cabo pelo cinema, pela TV, pela imprensa escrita e pelos escritores a soldo de um público inculto e da academia.

Obama diz que nenhuma nação aceita chuva de bombas extrangeiras, o que é o mesmo que dizer que não aceita invasão externa. Os palestinos constituem uma nação. Assim, os palestinos não é suposto que aceitem invasão e usurpação de suas gentes e territórios pelos israelenses, há cinquenta anos.

O trágico em Obama não é sua lógica, mas que a possa usar para extrair aplausos por ser tão lógico, de um público tão massificado que não perceba que a fórmula serve para qualquer situação.

O que Obama faria, se fosse mais inteligente ou mais livre.

O trecho adiante, retirei-o de uma entrevista de Tariq Ali. É simples e cortante. Lúcido, evoca episódio histórico e evidencia algo que não queremos crer: há, sim, na política, notadamente na internacional, posturas estúpidas que conduzem ou precipitam o caos. Ou seja, o controle e a capacidade dos governos, sob a perspectiva de atuarem a bem dos interesses do maior número, é um mito. Segue o trecho:

Pois bem, se os norte-americanos fossem totalmente racionais, o que teria acontecido é o que aconteceu com a viagem de Nixon a Pequim. Obama deveria ter voado a Teerã e ter chegado a um acordo, os iranianos estavam dispostos. Dariam-lhe as boas vindas, mas ele não fez. E o motivo é a oposição e resistência israelense. Houve forças inteligentes no governo norte-americano que disseram que podiam chegar a um acordo, mas o peso de Israel na elite governante dos EUA é muito forte, e não puderam respaldá-lo abertamente.

Obama não resistirá.

A questão dos limites do endividamento público norte-americano são muito reveladoras do nível de avidez da banca. Que os limites devem ser aumentados, é algo quase evidente e simples. A dívida norte-americana é imensa, em termos absolutos, mas não é tão significativa em termos relativos. Há estados que devem muitíssimo mais, como proporção de seus PIBs.

Ninguém minimamente razoável acreditou algum dia que as promessas de pagamento são pagáveis, caso exigidas. Elas são garantidas por inércia e urânio. Dívidas assim não são para serem pagas, o que é óbvio quando lembramos que o devedor imprime a moeda em que as restantes dívidas são denominadas.

Assim, o estado norte-americano tem a enorme vantagem da moeda, embora seja aprisionado pelos credores, que escolhem quanto emprestam e a quê preço. A dívida pública é um programa de transferência de rendas da população para meia dúzia de credores, bancos e outros estados.

Se os republicanos levarem a chantagem ao limite e não recuarem e se Obama, por seu lado, também não recuar, o mundo será outro, depois do calote oficial do que sempre se soube impagável. Seria a quebradeira generalizada, o que me parece uma oportunidade histórica rara.

A questão gira em torno da divisão da conta. Obama quer tributar mais os mais ricos, que há muito não pagam impostos nos EUA. Os republicanos aceitam trocar a aprovação do limite de endividamento pela extinção da pouca assistência social que ainda há no país. Não aceitam qualquer aumento de tributação nas camadas elevadas.

Eles podem levar o mundo à queda financeira – e ao imenso tumulto inicial que haveria – por insistirem na consagração da imunidade tributária absoluta dos muito ricos que, diga-se, já são quase imunes.

Claro que Obama irá recuar, porque não é imbecil e sabe que o destino de quem não recua frente aos interesse dos oito, dez ou vinte é saber finalmente a resposta à questão atormentadora da humanidade: há sobrevida? E claro que vastas massas cada vez mais pobres de norte-americanos pagarão a conta da sucumbência ampla, geral e irrestrita aos interesses financeiros.

O que ainda me chama bastante atenção no caso norte-americano, principalmente pelas imensas proporções que as coisas têm por lá, é a incapacidade de reação popular. Sim, na Europa impõem-se medidas similares, ou seja, em função exclusiva dos interesses de quatro ou cinco banqueiros, mas os pagadores ainda conseguem perceber que estão sendo obrigados a baixarem as calças.

Nos EUA, o nível de envolvimento político e de detenção de informações – além da capacidade de associa-las e dissocia-las – é muito baixo. O fulano reduzido à miséria, que morrerá sem tratamento porque não o pode pagar, ainda fará esforços para julgar-se culpado por tudo, ele, que foi um perdedor, um vagabundo naquele sistema maravilhosamente bem-disposto, que premia os fortes e capazes.

Ele nunca perceberá que não há fortes e capazes, senão os que surfam a inércia da onda social da acumulação. Que isso tudo era discurso viável quando as migalhas abundavam. E ele ficou refém inescapável dessa prisão discursiva e vai, ou penalizar-se, ou tornar-se um vândalo afogado em bourbon ordinário do Tennessee.

Quando essa bomba explodir, não sei se ainda haverá alguém mais razoável, entre os que decidem mesmo, o inner circle, que perceba a única solução, terrível mas a única: algum fascismo. Sim, porque é a forma de controle que a direita tem para massas muito empobrecidas, ignorantes e dispersas. Se não for um fascismo, será a fragmentação.

Um brasileiro em Washington, nos anos 70.

Por Sidarta

 

Sou mais afro-brasileiro do que judeu iberico brasileiro. Por conta disso, nos tempos em que estudei e estagiei nos USA não era preto nem branco… não era nada, só um latinoamericano pretensamente mais bem educado social e tecnicamente falando. Isso facilitou, de certa maneira, a não obrigação de tentar ser “compliant” com algum grupo racial ou hierarquicamente dominante no trabalho e poder ver que a democracia racial existia obrigatoriarmente dentro do trabalho mas só até terminar o expediente do dia.

Na primeira semana em Washington fui colocado junto com outros brasileiros, vietnamitas, salvadorenhos e outro “subdesarrollados” para “attent a lecture” sobre como não se sentir hostilizado pelas exibiçoes dos pretos nas ruas, principalmente com os latinos. Não tinha nenhum preto puro, aluno ou instrutor, na sala: “Andem sempre bem vestidos, sejam cordiais e não encarem os pretos direto nos olhos; voces não são americanos e eles não se sentem mais compelidos a os respeitar”. Disseram também que os cachorros americanos nas casas latiam pouco e raramente partiam para morder … mas que deixassemos que eles nos cheirassem.

Lendo atualmente um livro sobre o processo de ascençao (briga de foice) dos militares aos altos postos das forças armadas americanas, junto com parlamentares que são assessorados pelos militares e que agem junto aos fabricantes de armas, deparei-me com uma expressão dita por um almirante branco sobre um almirante preto de que, “desde a segunda guerra, os objetivos dos militares pretos não tinham mudado mas que agora eles estavam sabendo se aproveitar melhor de ONG’s, legislações contra o racismo, quotas e acusações de discriminação para alçarem vôos mais altos nos escalões militares e politicos”.

O alto comando militar americano adora receber ordem para matar mas parece gostar mais quando essas ordens saõ dadas por um presidente branco. Vai ser dificil mesmo para Obama ser o que não é ou não ser o que é…

Penso que é a rearticulação dos republicanos em cima das oscilações e do evidente oportunismo de Obama.

Obama não passará de quatro anos.

Bye

 

Obama elegeu-se presidente dos EUA a partir de um discurso de renovação e rompimento com políticas levadas a cabo polo antecessor Bush. Evidentemente, não se tratava de rompimento abrupto, nem profundo, porque isso não é possível na democracia de modelo ateniense que vivem os EUA, a democracia da Boulé, de quatrocentas famílias.

Tratava-se de suavizar a extrema truculência dos anos Bush, tarefa fácil considerando-se que os limites do razoável em mentira, violência, captura do Estado por financistas, petroleiras e industriais bélicos, e falta de sutileza haviam sido rompidos por larga margem.

Tratava-se de estancar o processo de empobrecimento do norte-americano médio, prover-lhe alguma ajuda estatal, como a saúde, por exemplo. Tratava-se de impor alguma regra aos mercados financeiros, apenas o suficiente para evitar que leve o mundo à ruína, especulando com dinheiro de mentira.

Tratava-se de reduzir a beligerância e as agressões perpetradas em todo o globo, contra quem não se pode defender, feitas para roubar recursos naturais e dar fluxo de caixa ao complexo industrial-militar.

Tratava-se de ser menos unilateral e imperialista, porque essa postura vai, a pouco e pouco, tornando-se inviável e profundamente antipática. De dar um pouco de inteligência às relações internacionais, reduzindo-se a percepção de arrogância desmedida.

Tratava-se de harmonizar o discurso às práticas e reduzir a imensa percepção de hipocrisia norte-americana no que se refere aos direitos humanos. Como um país sai arrogantemente a gritar acusações de violações contra os outros – e a matá-los por isso – e mantém um campo de concentração repleto de presos arbitrariamente, sem direito de defesa, sem acusação formal?

Essas suavizações não foram realizadas. Obama sentou-se no colo de Wall Street, do complexo industrial-militar, das petrolíferas. Deixou tudo como estava e piorou outras, como no caso da transferência de dinheiro de toda a população para os bancos de investimentos que, inclusive, não deixaram de pagar bônus milionários aos seus gestores.

Ora, para fazer isso, ou melhor, para não fazer o que prometeu e esperava-se, havia o candidato republicano! Obama guia-se pelo roteiro perfeito da auto-destruição política.

Para os que confiaram e puseram suas esperanças nele, é um traidor. Para os que o cooptaram é um que se entregou, como muitos, ao depois e, por isso, não é realmente um deles. Ficará em apenas um mandato, porque esse programa tem como donos verdadeiros os republicanos.

Todavia, essa continuidade vai acelerar a decadência norte-americana, que será profundamente dramática. Vai implicar em cada vez mais guerras, para dar vazão à produção bélica e para obter por saque o que não se obtém mais por produção. Vai aprofundar o fosso que separa as práticas dos discursos, ou seja, vai aprofundar a hipocrisia.

Não tenho muitas dúvidas de que terão que voltar-se para o Sul, ou seja, para a América do Sul. Mas, não será para simpatias e relações simétricas. Será para roubar-nos, no caso dos brasileiros, o petróleo, os minérios sólidos, a força de trabalho. Claro que o leitor de revista Veja – escravo cego e voluntário – dirá que isso é teoria da conspiração, mas é o futuro cristalino.