O candidato à presidência José Serra é opositor do Presidente Lula. Este lançou e apoia a candidatura de Dilma Roussef, que foi ministra da Casa Civil, o mais poderoso ministério do governo brasileiro. Dilma Roussef está na frente em todas as pesquisas de intenções de votos e deve mesmo ganhar as eleições de outubro.
O candidato José Serra representa o modelo oferecido pelo governo de Fernando Henrique Cardoso e a candidata Dilma representa o que foi oferecido por Lula, isso é uma maneira inevitável de ver as eleições próximas. Ora, o governo de Fernando Henrique terminou mal avaliado e o de Lula termina muito bem avaliado.
O que faz José Serra? Faz um jogo de impostura e dissimulação e chega ao ponto de por imagens de Lula na sua propaganda eleitoral televisiva! Serra quer dizer que não é quem é. Quer dizer que está próximo a Lula, embora sempre tenha-se oposto a ele e tenha deixado ou estimulado que pessoas próximas a ele fizesse constantes acusações de baixíssimo nível contra o Presidente.
Serra devia colocar no seu programa imagens de Fernando Henrique, de quem foi ministro duas vezes e de quem é próximo desde há muito. Devia pô-las e defender o governo de Fernando Henrique, se conseguir encontrar aspectos defensáveis.
Realmente, agindo desta forma, Serra aumenta a percepção de que é destituído de escrúpulos, como diz Ciro Gomes enfaticamente. E de que é dissimulado e não merecedor de confiança. Com relação a confiabilidade e a limites, tem-se o eloquente exemplo de seus companheiros de partido Aécio Neves e Geraldo Alckmin, que já experimentaram a deslealdade que as ambições imediatas de Serra acarretam.
Nenhum dos dois utiliza muitas imagens ou referências a Serra em suas campanhas, embora sejam do mesmo partido. No caso de Aécio Neves, candidato ao Senado por Minas Gerais, ele, na verdade, não fala, nem pede votos para José Serra. Comporta-se quase como se não houvesse uma eleição presidencial daqui a dois meses.
Além de ser objetivamente ruim alinhar-se politicamente a Serra, ou seja, é algo que não acrescenta votos, ninguém sente-se ligado a ele por deveres de fidelidade, exceto grande parte da imprensa e alguns políticos menores que vivem de favores imediatos.
José Serra daria uma contribuição ao processo democrático se assumisse claramente o que é e o que representa. Se defendesse o governo e as idéias a que serviu longamente. Se defendesse um rol enorme de privatizações feitas a bem dos grandes grupos, apenas. Se defendesse a redução dos programas sociais de inclusão. Se defendesse a intolerância com pessoas de outras regiões do país.
Se defendesse claramente a subserviência aos interesses externos e a tese de que o Brasil está fadado, deterministicamente, a ser subdesenvolvido. Se defendesse o abandono a todas as alianças de sucesso com outros países sul-americanos. Se defendesse a abolição dos esforços diplomáticos brasileiros como país relevante no canário mundial.
Enfim, José Serra devia ser o que é, ao invés de abandonar-se à infâmia de ser um feroz opositor que usa oportunisticamente as imagens daquele a quem se opõe.