Estamos fazendo todo o possível para privatizar em alta velocidade. Será que ele assumirá orgulhosamente, hoje, a assertiva orgulhosa de outrora? Assertiva reproduzida na assessoria de imprensa dele, a Veja.
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À esquerda, a P-57, construída no Brasil. À direita, a P-36, importada e hoje em grande profundidade
As estratégias de campanha, mais e menos sujas, como tratar mentirosa e superficialmente de aborto, incitar ódio religioso, reputar o sucesso econômico e a redução de desigualdades obras do acaso, são isso, estratégias.
O objetivo maior do grupo tucano-udenista e levar a cabo o que faltou para a conclusão da obra fernandina: assumir os destinos da Petrobrás e vendê-la na bacia das almas. É uma companhia tão grande – a quarta maior do mundo – que, vendida a qualquer preço rende comissões astronômicas.
Eles tentaram, mas não conseguiram, pois não houve tempo suficiente. Utilizaram um discurso de convencer néscios e trataram de todas as companhias estatais igualmente, como se os diferentes setores atendessem à mesma lógica.
Privatizar serviço público de telefonia é uma coisa. Desde que haja regulação estatal – que não há, porque o regulador trabalha para o regulado – pode ser um grande sucesso. E, um grande sucesso não é o que aí está: os maiores preços do mundo por uma das piores coberturas. Não sou eu quem diz e percebe isso, é qualquer pessoa que use telefone e internet e os estudiosos sobre o tema.
Privatizar a distribuição de energia é realizável, sem que se recorra ao discurso cretino de concorrência e coisa e tal, que não existe em qualquer lugar, porque ninguém vai fazer linhas redundantes. É preciso regulação estatal, o que virtualmente inexiste.
Além disso, foi extremamente canalha cantar loas à entrada no paraíso com a distribuição privatizada e a geração pública e sem investimentos. O famoso apagão deve ter sido uma punição dos deuses por tamanha impostura. Os maravilhosos capitalistas da distribuição iam vender o quê, se as geradoras pararam no tempo por incúria governamental fernandina?
Quando aproximou-se o maior de todos os negócios, eles não resistiram a um quê de piada antes da grande jogada. Deve ser a propensão ao gozo financeiro precedido de gozo humorístico. Quiseram mudar o nome da companhia, de Petrobrás para Petrobrax. Sim, esse x no final era a modernidade! Não sei, mas talvez pensassem em Rolex, sempre presente no imaginário de qualquer patife novo-rico brasileiro.
Para mim, é mais divertido pensar nesse imenso ridículo da mudança de nome da companhia – algo que lhe acrescentaria valor, diziam – que pensar na urdidura do negócio em si. A estória do nome é deliciosamente reveladora da mente colonizada.
Sabia-se, desde a idéia de vender a Petrobrás, que ela tinha reservas imensas, embora o pré-sal ainda não estivesse comprovado. Ou seja, iam vender pelo preço de antes o que já se sabia ter um depois!
Agora, fez-se uma operação de capitalização da Petrobrás, a maior oferta pública de ações da história mundial, em que o Estado brasileiro aumentou sua participação, até aproximar-se dos 50%. Antes da liquidação do preço das novas ações, formou-se um intenso processo especulativo para forçar a baixa do preço. De certa forma, foi bom para todos.
A baixa do preço permitiu, tanto ao Estado, quanto aos investidores, ingressarem no capital da Petrobrás a preços baixos, em relação ao valor patrimonial. E a oferta foi tão exitosa que precisou-se oferecer um lote residual. Ou seja, todos acharam que era um grande negócio, porque nessa área não é razoável supor que todos sejam estúpidos.
A Petrobrás tem potencial para ser a maior companhia do mundo. É bem administrada, tem mais da metade de seu capital livremente negociado em bolsa, notadamente na New York Stock Exchange – NYSE, tem uma claríssima política de dividendos, tem uma boa relação entre fluxo de caixa e endividamento e tem reservas comprovadas enormes.
A Petrobrás não precisa ser privatizada para melhorar seu desempenho, que ela comporta-se mais eficientemente que a maioria das petrolíferas, sejam públicas, sejam meio públicas, sejam privadas. Paga ao tesouro nacional grandes quantias em dividendos, recursos utilíssimos para uma repartição equânime entre os brasileiros de uma riqueza natural.
Além disso, paga royalties, porque o petróleo é um patrimônio da União Federal e ela tem apenas a concessão da pesquisa e extração.
Lembro-me agora de uma estória amplamente conhecida. Há oitenta ou noventa anos atrás, teriam perguntado a Rockfeller qual era o melhor negócio do mundo e o segundo melhor. Ele teria respondido que o melhor era uma companhia petrolífera bem administrada e o segundo uma administrada de qualquer jeito.
Ou seja, a Petrobrás – que é bem administrada – é um tremendo negócio, que rende grandes dividendos a todos os seus acionistas, inclusive o Estado brasileiro. Não há qualquer razão para querer alienar seu controle acionário, como quer o consórcio tucano-udenista, isso é pura iniciativa criminosa.
Acender as fogueiras é fácil e bonito, difícil é apagá-las, depois.
Nós temos, no Brasil, um défice de cidadania enorme, então as pressões sociais passam por canalizações corporativas. As religiões, que são corporações, entram no jogo para canalizar um tipo de pressão.
As corporações religiosas voltam-se para a obtenção de poder social, mais ou menos suave, consoante a época. Quando estão seguras de deter uma suficiente parcela de poder social, suas aventuras explícitas no âmbito político são mais discretas e pouco frequentes.
Por exemplo, em épocas de seguro poder social do catolicismo romano, no Brasil, não precisavam seus hierárcas atuarem diretamente no espaço político. Podiam fazê-lo no segundo plano, certos de disporem de robusto controle.
Á medida que recua seu poder social, precisam investir, primeiramente, em linhas semelhantes às dos que avançam. Assim, surgem, por exemplo, manifestações como a canção nova, um monofisismo de baixo nível. É, em poucas palavras, identificar uma disputa e optar por oferecer o mesmo que os que avançam.
O mercado das almas é daqueles com propensão marginal ao consumo quase ilimitada, e daí é possível essa pulverização enorme que se observa. Quase tudo que se ofereça é passível de ser adquirido, desde que tenha uma e outra tinta de novidade, que nesse âmbito não se está imune à moda.
Acontece que o Brasil é tremendamente liberal em termos sociais, ou seja, é tremendamente dissoluto de costumes. Convivem formas estritas e rigorosas com discursos estreitos, em um paradoxo aparente. O ponto de articulação e a explicação desse aparente paradoxo é a hipocrisia. Em doses cavalares, como as temos, ela desempenha a função do óleo que suaviza o contato das engrenagens.
Uma contraposição possível, no sentido de reduzir essa dispersão religiosa, seria o estímulo a uma religião cívica nacionalista, um pouco à semelhança da simbologia varguista. Claro que isso tem os riscos evidentes da sua semelhança com os nacionais socialismos, mais frequentemente chamados por seus nomes comerciais de fascismo e nazismo.
Essa enorme pulverização tem alguma vantagem e vários riscos. A vantagem parece-me residir em que torna improvável o triunfo dominante de uma só corporação, o que permite a continuação da dinâmica social. As desvantagens encontram-se na indigência intelectual e moral que está por trás da possibilidade de tantas denominações, tão assemelhadas, que à lupa, parecem consensuais.
Ora, o consenso é maior quanto menor for o conteúdo em torno a que se forma. A idéia mais amplamente sedutora das almas por força será a mais vazia, menos nobre, menos sofisticada, mais radical, menos sutil. Com massas – em todas as classes, sempre é bom destacar – tão aproximadas por pontos de comunhão enormemente singelos, que esperar senão movimentos de hordas volteantes e erráticas?
A identidade religiosa só entra no jogo político de forma normal quando ela é o catalisador de uma identidade nacional. Daí que, na Irlanda, por exemplo, faz sentido afirmar-se católico em contraposição a reformado, porque isso é afirmar-se irlandês em contraposição a britânico. Assim, na verdade, o religioso é quase puramente político e nacional, na sua afirmação exterior. Claro que isso não impede que o religioso seja propriamente uma questão de relação com a divindade, para cada pessoa em sua experiência.
Mas, quando o religioso, mormente tão despido de reais conteúdos religiosos, mete-se no político sem desempenhar esse natural papel de identificador nacional, ele é um elemento estranho e desnecessário ao palco político. Prestará um profundo deserviço, confundindo coisas que não são iguais, nem apreensíveis a partir da mesma metodologia.
No Brasil, a mais forte característica social é a confusão entre o privado e o público, no que se refere ao tratamento do público. A inserção das religiosidades nesse ambiente piora as coisas, já ruins, pois insere o meta-privado na discussão do público!
Os políticos, ao contrário do que se convencionou crer, não calculam bem os riscos que tomam. Ou só os calculam bem no curtíssimo prazo, ou, ainda, se os calculam bem são profundamente irresponsáveis e pagam para ver. Com relação à incitação religiosa, eles portam-se como o sujeito que descobriu uma nova bomba e não vai deixar de usa-la sob qualquer argumento, embora saiba a terra arrasada que ela produzirá.
Serra tem controle sobre o PV, disse Ciro Gomes, o sujeito que precisa ser considerado pela imprensa como destemperado, para que ela, grande imprensa, não seja a mentirosa.
Ciro disse que Dilma precisa compreender esses 20% de votos que teve Marina Silva e falar para eles. E diz – suprema heresia neste país hipócrita – que fala como cabo eleitoral de Dilma no Ceará, assim mesmo, claramente.
Diz que o discurso ético de Serra é uma farsa e que Na mesa de bar onde eu estiver, Serra jamais será guardião da ética.
Tem ocorrido, sim, uma queda no nível de escolaridade formal dos representantes do povo, na Câmara, e dos estados federados, no Senado da República. Houve, sim, um recuo do que se chama comumente voto de opinião. Por um lado, é bom que haja isso, como é bom que afinal um abcesso rompa-se e derrame o pus que traz dentro.
É uma ilusão julgar que os parlamentos foram, em uma época remota e idílica, reuniões de representantes excelentes. Neles, nos parlamentos, sempre houve massas e excelentes, independentemente de seus pertencimentos sociais, econômicos e de seus níveis de cultura formal.
O que é certo e perceptível é a desconcentração da representação. As mesmas massas e excelentes vão tornando-se mais representativas do todo dos cidadãos e não apenas de uma minoria seleta apenas sob o prisma de seu nível de predação. Por isso, sempre se fez necessário retardar ao máximo, no Brasil, qualquer avanço da democracia representativa.
É impostura das classes dominantes acusar um recuo no nível educacional dos representantes, porque ele decorre de um projeto cuidadoso de deseducação engendrado pelos que hoje reclamam. Quando perceberam que educação básica e média era a parte mais barata, retiraram o Estado dessa parte e puseram seus filhos em escolas privadas, que podiam pagar. Além disso, drenaram recursos públicos para essas escolas por meio de subvenções fiscais.
No mesmo movimento, perceberam que a parte cara da educação era a de nível superior. Então, tornaram-na pública e destinada aos que cumpriram a básica e média nos estabelecimentos privados. Ou seja, uma total inversão de propósitos públicos, que pôs o Estado em função dos interesses de uma minoria. Agora, reclama-se dos resultados?
É algo semelhante a retirar o acesso aos tratamentos de saúde e depois reclamar da quantidade de doentes, como se fosse situação auto-engendrada, sem causalidades identificáveis ou, pior, resultante da própria vontade dos doentes de adoecerem! Assim transita nossa impostura: quando não nos surpreendemos com as consequências de nossas próprias ações, acusamos os outros de serem responsáveis.
Ou seja, ou mentimos, ou adotamos a tese da culpa da vítima. Somos uma classe dominante profundamente deformada e massificada, uma decadência que não tem quaisquer traços de uma aristocracia. Podemos acusar o povo de ignorante e incapaz de escolher, podemos reclamar de sua incultura e de suas escolhas? Fizemo-lo deseducado para que mantivessemos nossas posições e agora o acusamos de ser ignorante?
Aqui cabe uma verdade sobre o teatro brasileiro. No fundo, quase ninguém das camadas dominantes acredita em democracia, por razões óbvias. Democracia, se houver, em um país com esses níveis de pobreza e concentração, vai acarretar prejuízos para nós mesmos. Então, uma imensa maioria está a repetir uma tolice em que não acredita.
Então, é perceptível – embora possa causar estranheza – que os militares foram melhores que os dois monstros partidários que criaram, a ARENA e o MDB, de resto muito parecidos. Melhores porque, bem ou mal, pensavam o país, enquanto esses arremedos partidários pensavam em si dizendo que pensavam no todo.
A partir dos anos de 1970, a grande verdade é que os militares foram instrumentalizados por esses partidos, ou seja, por cinco por cento da população brasileira. Claro que um e outro ser humano deformado, vestido em fardas, divertia-se a torturar, sequestrar e matar e nisso não era instrumentalizado por ninguém, apenas dava vazão à sua barbárie sob os olhares complacentes de quem estava pensando só em dinheiro.
Eles, os militares, aprofundaram o projeto de deseducação popular, instrumentalizados pelos cinco por cento dominantes. Mas eles, pelo menos, não se viam na patética obrigação de falar em democracia e coisas do gênero, nem de ficar a reclamar dos resultados, de resto bastante previsíveis.
Os que estão reclamando de eleições de um Tiririca ou mesmo do Romário, são os responsáveis por isso e falta-lhes perceber que, no fundo, não são melhores que eles, que são massa do mesmo jeito, um patético arremedo de aristocracia que se compraz em cultivar-se em colunas sociais de província.
Esse grupo social, particularmente a classe média alta, é um poço de aviltamento, superficialidade, arrogância, crença de que o mundo foi criado para agradar-lhe os gostos, ausência de responsabilidade, e uma profunda auto-confiança que somente uma profunda ignorância pode permitir.
Não percebe que existe em articulação com outros grupos sociais e comporta-se como se os outros grupos existissem em função dela. Na verdade, parece crer que todas as coisas foram dispostas tomando-a por centro de gravidade e referência. Que tudo existe contra ou a favor de seus interesses, que tudo deve ser-lhe perguntado.
Criado o mundo para acolher-lhe e agradar-lhe, é de esperar-se que não acredite em instabilidade, em possibilidade de mudança. É de seu feitio não compreender que os equilíbrios são muito mais tênues do que parecem, que resultam de jogos de forças muito intensas e dispersas e que tudo pode ruir facilmente.
É incapaz de gratidão, pois sua atitude mental é fundada em uma deformação que chamam mérito, embora com ela não se ganhem guerras, não se projetem aviões, nem se descubram penicilinas. É incapaz de respeito e de magnanimidade, porque mede tudo com sua régua pequena, que não é medida na escala do excelente.
Arremeda modos e costumes que reputa distintos, embora de elegância não tenha a mínima noção. Desconhece a proporção e a espontaneidade, que vai substituindo por uma representação que, de tão acostumada, torna-se sua profunda realidade. Uma realidade feita de imitações.
Tem uma biblioteca que não lê, porque é chique tê-las e, ler ou não, é um detalhe. Tem um e outro intelectual de frases feitas de estimação, porque é chique cultivar a excentricidade vazia. Tem um acervo de fotografias em Paris e Londres, embora a loja sem impostos do aeroporto tenha sido o seu local preferido.
Não tem memória e reputa desnecessário tê-la. Essa é sua pior característica, embora não seja a mais irritante ou mais evidente. Essa aversão pela memória torna-a vil a ponto de deixar-se subornar e sinceramente esquecer-se disso. E não entrega o que vendeu porque simplesmente acha que não fez negócio algum.
Nesse sentido, é incorruptível, não porque honorável, mas porque supõe que os subornos foram presentinhos merecidos. De tão impermeável e segura de ser merecedora de tudo, gratuitamente, dá-se ao espetáculo de ser comprada escancaradamente e não perceber, nem a piada, nem o aviltamento.
Quando mostra-se surpresa por alguma coisa, não é porque surgiu algo novo e imprevisto. É porque surgiu algo longamente gestado, bem em baixo de seus olhos, mas que ela não viu, porque sua janela é um espelho. Ela é Carolina da música de Chico Buarque, para quem o tempo passou na janela e só ela não viu. E depois guarda mais que dor, guarda rancor.
Isso não é montagem! O presidente ficou com os olhos rasos d´água. Não aceitar é uma coisa, não compreender é cegueira udenista.
O vídeo foi apontado pelo Julinho da Adelaide.
Acontece-me de seguir minhas leituras de Ortega y Gasset e acha-lo sempre claro e, mais importante, intelectualmente honesto. Além de obrigar-me a pensar, melhoro minha compreensão do castelhano, porque só o encontro nesta língua. Leio ainda mais detidamente, portanto.
A décima nona edição de Espanha Invertebrada é de 1934, portanto de uma das épocas mais convulsivas da história espanhola, precedente à Guerra Civil. Esse período não tem relações com o atualmente vivido no Brasil, embora um e outro aspecto possam ter paralelismos.
Interessante é que a análise da atuação das forças vitais de um país tem linhas de generalidade suficiente para conformarem um modelo. E, assim conformadas, são uma maneira de abordagem utilizável. O autor percebeu que a desagregação originava-se de uma intensa compartimentação dos grupos, de uma compartimentação excludente.
Em certo momento, o padre falava para o paroquiano, o militar para o militar, o advogado para o advogado, o engenheiro para o engenheiro e o trabalhador para o trabalhador. Ao mesmo tempo, todos comportavam-se como vencedores, não como lutadores. São posturas muito diversas, realmente.
O triunfante não precisa lutar, não reconhece perigos, não reconhece que seu triunfo possa não ocorrer, não reconhece que precisaria buscar adesões para obtê-lo. Pensa que ele existe por si e, por isso mesmo, fala para si, não para trazer outros à luta que antecede a qualquer triunfo.
Em certo ponto, a costumeira agudeza orteguiana vai a ponto extremo. No capítulo Pronunciamientos, ele trata de uma coisa então comum, em Espanha. Um e outro sujeito, representante de algum dos grupos sociais estanques, resolve pronunciar-se. Não o faz como a oferecer à análise, à consulta e à adesão um projeto. Fá-lo para transbordar idéias suas e só suas e de meia dúzia de idênticos.
O autor do pronunciamiento está convencido de que diz o que todos pensam, porque acha que todos pensam igual a si. Daí, não convida os outros àlguma construção, pensa estar a desvelar alguma unanimidade silenciada. O trecho adiante tem muito de aclarador e de violento diagnóstico:
Aquellos coroneles y generales, tan atractivos por su temple heroico y su sublime ingenuidad, pero tan cerrados de cabeza, estaban convencidos de su <<idea>>, no como está convencido un hombre normal, sino como sulen los locos y los imbéciles. Cuando un loco o un imbécil se convence de algo, no se da por convencido él solo, sino que, al mismo tiempo, cree que están convencidos todos los demás mortales. No consideran, pues, necesario esforzarse en persuadir a los demás poniendo los medios oportunos; les basta con proclamar, con <<pronunciar>> la opinión de que se trata; en todo el que no sea miserable o perverso repercutirá la incontrastable verdad.
Esse é o estado de espírito dos grupos que perderão as eleições no domingo próximo. Hoje, crêem que suas proclamações são o que o todo queria dizer ou escutar, mas são apenas as suas. Porque são proclamações, são intrinsecamente excludentes e auto-referentes. São falas de um grupo para ele mesmo, isso em uma realidade muito maior que um grupo.
Quando não resulta que o todo receba tais proclamações como suas verdades próprias, silenciadas mas suas, reputam que o todo é mesquinho, ignorante ou desonesto. Não lhes passa pela cabeça que os outros simplesmente percebam-se outros em face desses discursos proclamadores.
Não percebem que, quando venceram, foi por não terem assumido tal postura proclamadora restritiva. Foi por terem incluído ao seu âmbito de interesses mais interesses que os seus próprios. A política é sedução, mas não de si mesmo, evidentemente. Esgotada a sedução, fenecem os apoios e as possibilidades de sucesso, ao menos segundo as regras vigentes da representação.
Trágico é que não se percebe o esgotamento e então aplica-se o sentimento do urubu com raiva do boi. O pássaro não percebe como pode o grande mamífero herbívoro não querer morrer para servir-lhe de comida!
Na magnífica peça O doente imaginário, de Moliére, o médico tinha sempre a mesma receita para todos os males: purgar, dar clister e sangrar. Pouco importava a doença ou mesmo se ela existia realmente.
Advertido pelo Julinho da Adelaide, em comentário à postagem Europa: baixar salários e aumentar impostos. Eles só pensam nisso?, percebi que alguns grupos atuam segundo a lógica do médico da peça de Moliére.
Fernando Henrique Cardoso, o erudito iniciado nos mistérios eleusinos, foi esse médico por oito anos seguidos e ainda não despiu o jaleco. Durante seu consulado, o Brasil viu o desemprego aumentar constantemente. Ele propunha como remédio restrições aos direitos laborais e previdenciários, que seriam um arcaísmo a impedir a entrada no paraíso.
Os direitos laborais foram basicamente mantidos e os previdenciários recuaram um pouco. Agora, vigorando a mesma legislação trabalhista, criam-se milhares de empregos, a provar que o problema não eram as leis. Prova evidente, é bom que se diga, mas insuficiente para o médico buscar compreender outras terapêuticas.
Não me atrevo a supor que Fernando Henrique tenha a monomania do médico de Moliére por desonestidade, ou seja, por ter sido cooptado para isso. Não, ele não agiria por tais motivações, ele que é o fiador de um período em que nenhum negócio fez-se sobre que pairassem quaisquer suspeitas.
Fico constrangido de ter que flertar com a explicação que resta, ou seja, de que o homem que passeou com Aristóteles, assessorou Constatino no Concílio de Nicéia, poliu lentes com Spinoza, esteja errado. Pior, esteja e continue a estar, refém de uma monomania de purgas, clisteres e sangrias.
Outra mania interessantíssima era que a venda de tudo quanto fosse estatal seria remédio para os défices públicos. Vendeu-se o que se pode vender e os défices aumentaram.
Recentemente, o Estado brasileiro aumentou sua participação acionária na quarta maior companhia do mundo, a Petrobrás. Foi na operação de aumento de capital realizada há quinze dias, a maior do gênero já ocorrida, convém apontar. Curiosamente, andaram juntas uma maior estatização e a diminuição do défice público.
Como é possível isso?