Há muitas formas de ver a história política brasileira, quase todas a partir de certas díades clássicas. Uma delas parece-me a mais esclarecedora e pouco importa-me que os corretores tenham conseguido torná-la assunto proibido: nacionalistas e entreguistas.

Tanto esta é a mais importante que é precisamente aquela contra que mais se laborou. Um verdadeiro bombardeio mediático operou-se para tornar essa díade impensável, para dar-lhe ares de anacronismo, para fazer de quem a aborde um atrasado, um anti-moderno.

Os líderes entreguistas têm razões bastantes para sê-lo: são bem pagos. As pessoas comuns não têm qualquer uma, são mantidas na estupidez e até levadas a repeti-la, embora seja contra elas próprias. São a platéia de um espetáculo que desconhecem.

Há uma camada intermédia que recebe uma e outra migalha em pecúnia e também altas doses de imbecilização. Esses vão dormir tranquilos com alguma tolice modernosa e ambiental e entregam até as mães, se vier um dinheirinho e uma conversinha up to date.

A riqueza do Brasil em óleo é maior que o imaginado pelos leitores de alguma revista Veja da vida. E as possibilidades do mundo deixar de depender de óleo são muito menores que o imaginado pelos leitores da publicação mencionada. Só se deixará de depender dele quando ele acabar.

Essa riqueza é natural, ou seja, não é produto de qualquer trabalho humano. Ninguém pode reinvidica-la com suporte em qualquer tese, embora possa fazê-lo com bombas, é claro. Ela é do país inteiro e, portanto, deve servir a todos os seus cidadãos.

O país tem plena capacidade de explora-la em benefício seu, muito embora isso desagrade aos entreguistas. Tem-na técnica e financeiramente, bastando lembrar que a Petrobrás é a quarta maior companhia do mundo e detém conhecimentos da exploração em alto mar reconhecidos mundialmente.

Os entreguistas apostam na estupidez e no escamoteamento da informação. Dizem que não se exploram riquezas petrolíferas assim como o atual governo quer fazer. É mentira, pura e simplesmente, bastando para percebê-lo apontar o exemplo norueguês da exploração de óleo.

Essa será uma de suas últimas tentativas: oferecer-se aos interesses alheios aos brasileiros, de corpo e alma, como a mais alta aposta. É aposta elevada, porque muitos dos jogadores de fora já aceitam como normal que um país tão rico e tão vasto renda um pouco menos que uma tradicional colonia totalmente esmagada.

Quando já aceitam ganhar menos um pouquinho, surgem corretores do país a dizer-lhes que, caso cheguem ao poder, uma nova rodada de exploração colonial se abrirá e que o maior negócio do mundo será possível. Prometeram vender o pré-sal, claro.

O problema é que até o inquilino da Casa Branca desconfia da possibilidade de um negócio tal a estas alturas do jogo. Ele acha deveras desejável, mas tem dificuldades para crer que seja possível superar as possibilidades de compressão social e de assalto aos outros, nomeadamente quando os outros andam já meio crescidinhos.

Mas, os entreguistas insistem, até com certas doses de fé, que é necessário crer! E indignam-se que os selvagens não queiram aceitar seu mantra entreguista, que não reconheçam seu destino inferior de seres inaptos a cuidarem de si.

Têm medo de não cumprir o contrato, afinal nem celebrado assim tão convictamente pelos contratantes de fora. Têm receio de não poder entregar a seus patrões o que prometeram e ficarem sem patrões! Não se governam senão para servir e, portanto, não podem ficar sem patrões anglófonos, francófonos, germanófonos.