Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

Osama bin Laden morreu. O que importa?

Os bin Laden eram e são patrões. Gente de uma oligarquia saudita, aparentada aos da casa real, riquíssimos. Partícipes da riqueza gerada pela exploração do petróleo, na Arábia Saudita.

Como todos os poucos sauditas em situações semelhantes, os Bin Laden têm empregados representantes de seus interesses nos EUA e na Europa. Trata-se de investir dinheiros limpos, branquear dinheiros duvidosos, contratar fornecedores, comprar simpatias no Congresso e, claro, vender óleo.

Um dos representantes dos Bin Laden era George Bush, aquele que ainda fez parte de uma aristocracia que foi à guerra, ou seja, o Bush que sucedeu a Ronaldo Reagan. Esses Bush trabalham com petróleo e elegem-se no Texas, embora estudem – os que estudam – no leste.

Um dos vários Bin Laden é Osama, o que foi assassinado recentemente, em operação dos militares norte-americanos em terras paquistanesas. Parece que Osama nunca seguiu o destino mais comum aos Bin Laden, ou seja, não foi mais um príncipe saudita, rico e vivedor segundo as riquezas de passeios no Mediterrâneo em grandes barcos repletos de moças fremitosas ao fremir dos dinheiros.

Mas, a circunstância de ser o não-playboy não fez de Osama um não negociador com os Bush e o o governo norte-americano. Há pouco menos de trinta anos, Osama foi útil para o desiderato norte-americano de complicar a vida da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas na sua guerra contra os afegãos.

O que se desvia do habitual – e só se percebe muito depois – é que a disposição de Osama para negociar provinha de uma crença que não dependia propriamente de dinheiro. Alias, coisa que seria óbvia se os negociadores norte-americanos se ativessem ao fato de Osama ser rico! Eles compraram o que não estava à venda.

A questão das crenças e inclinações de Osama não vem ao caso, agora. Importa não esquecer que ele fez aquele acordo para dar combate aos russos da mesma forma que faria qualquer acordo para dar combate a quem fosse, momentaneamente, contra o povo que julgava agredido, ou contra suas idéias.

Importa não esquecer que ele não foi comprado integralmente, senão circusntancialmente. Claro que nada disso exclui a possibilidade de tratar-se de um patife – nunca de um louco – porque um árabe não tem que meter-se em assuntos da estepe, mas…

Os EUA responsabilizaram Osama e uma agremiação bastante implausível por explosões e matanças ocorridos em onze de setembro de 2001, em Nova Iorque e Washington DC. Esses episódios, a meu ver, estavam acima das possibilidades de Osama e de quantos seguidores ele tivesse. Excepto se contavam com facilidades como uma estranha sonolência das defesas aéreas norte-americanas e uma ignorância profunda dos serviços secretos sempre tão celebrados.

Depois desses feitos atribuídos a um potente Osama bin Laden, os EUA estiveram à vontade para atuar na sua área de preferência: a emergência. Ela permite o levantamento de quaisquer ordens, de quaisquer garantias, ela torna viável o estado de excepção. A guerra – chamada agora de justiça – tem livre trânsito, protegida por razões jurídicas.

A guerra não pode acabar-se. Ela é um fator mágico: gera receitas para o enorme complexo industrial militar, para o setor de prestação de serviços mercenários, para as corporações estatais que cuidam de segurança, para o setor financeiro e para as classes que se ocupam da direção governamental do estado.

Para esses últimos, a guerra e o estado de tensão neurótica permanente fornecem a desculpa para o levantamento de certas legalidades, sob o pretexto da exceção. A tensão funciona como causa excludente da normalidade legal e, por isso mesmo, é muito útil para os políticos.

Ainda tem outro efeito positivo para os governantes, porque ela embriaga as massas de fervor cego, sanguinário e patriótico. Assim enlouquecidas, as massas são conduzidas para onde for necessário. Às vésperas de um processo eleitoral em que o presidente Barack Obama apresentava-se com poucas chances de reeleição, o assassinato de Bin Laden foi o golpe certo.

Do ponto de vista de terrorismo e outras coisas desse tipo – todas muito diversas e chamadas pela mesma ambígua palavra – o assassinato de Bin Laden quer dizer nada. Não era líder de coisa alguma um homem que não podia estar por trás de todas as bombas explodidas no mundo. Não há uma rede organizada como querem crer cérebros que acreditam em organização. Não há porque pessoas com os interesses mais diversos simplesmente não se organizam.

Bin Laden vivia ni Paquistão há anos, com o conhecimento do governo paquistanês, é claro. Por dinheiro, eles os governantes paquistaneses só não entregam suas bombas nucleares. O restante está à venda, precisando-se apenas acertar-se o preço. Deu-se isso relativamente à localização de Bin Laden.

Disseram onde ele estava e os norte-americanos foram lá e mataram-no, pronto. Fizeram isso precisamente porque Bin Laden valia nada, porque se valesse, ou não diriam, ou cobrariam muitíssimo mais caro.

 

 

 

 

5 Comments

  1. Severiano Miranda

    Ótimo texto como sempre! Lembrou-me o livro do italiano que tu e Olivia me emprestaram! Agamben né? Falando nele, eu devolvi? Tenho o péssimo hábito de não entregar livros emprestados! Caso não tenha entregue, assim que chegar juro que procuro!!!

  2. Andrei Barros Correia

    Rapaz, lembra-se mesmo de Aganben, do Estado de Exceção. A propósito, tu o devolveste sim, não te preocupes.

    Já viste o resultado da última pesquisa de popularidade Obama, depois do assassinato?

  3. Severiano Miranda

    Claro, se fosse video game, o resultado da pesquisa seria:
    “You Win.”
    Bom… https://www.facebook.com/home.php#!/notes/betty-brito-rosado/hip%C3%B3tesis-caso-bin-laden/129617453779863
    Ai tem uma discussao inocente, porém vàlida pra mim.. =)
    Merece la pena.

  4. Felipe

    Teorias (permitidas pela omissão do Obama)
    Acredito que Osama bin Laden já estava morto, causa “natural”, quando os americanos invadiram o Paquistão para filmar o mais novo sitcom que inspirará livro e filme.
    Após Bush, Osama elege seu cognata Obama.
    Mais grave é encenação:
    Em acordo com Bush, Osama destrói as torres.

    Culpado: Saddam – Eua invadem o Iraque (Produtor de Petróleo – Fronteira Terrestre da Arábia Saudita para o Leste)
    Tomam o Afeganistão do Talibã à procura de Bin Laden (Oleodutos e Fronteira Chinesa)
    Assumem o Paquistão como Parceiro estratégico (Fronteira Chinesa)

    A Guerra americana está declarada e é contra a China.

  5. Andrei Barros Correia

    Felipe,

    Disseste o que ninguém diz. A coisa mais cara do mundo, antes de acabar-se a URSS, era o exército vermelho na fronteira com a China.

    Sabe-se quem pagava a conta…

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