Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

Os reatores nucleares da Marinha brasileira.

O reator de Angra II.

O Brasil tem duas usinas de produção de energia a partir da fissão do urânio, ambas em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro. Também há uma terceira em construção, no mesmo sítio. Dessas usinas, uma tem tecnologia alemã e outra norte-americana. Resultam de acordos celebrados na década de 197o e significam a tentativa de domínio, ainda que bastante tardia, da tecnologia nuclear.

Paralelamente aos projetos das usinas de Angra – adquiridas no exterior – o Brasil partiu para o desenvolvimento de tecnologias próprias, por meio da Marinha, visando a deter o conhecimento de todo o ciclo nuclear, ou seja, das etapas que vão da extração do urânio das jazidas, passando pelo enriquecimento até obtenção do material físsil, até ao projeto e construção de reatores.

Ademais dessas etapas do ciclo, os projetos da Marinha visam ao desenvolvimento de reatores pequenos, a serem utilizados em submarinos nucleares. E, obviamente, também ao desenvolvimento dos cascos desses submersíveis de propulsão nuclear. É uma tarefa mais difícil que a construção das usinas de geração, como as de Angra, porque implica na drástica redução do reator.

O programa da Marinha sofreu muitos reveses, quase todos imputados aos contingenciamentos de recursos. Falar dessas limitações orçamentais como se fossem uma isolada causa, sem outras antecedentes, foi a forma consagrada de turvar o entendimento. Todas as dificuldades impostas à Marinha deveram-se à sucumbência a interesses externos ao Brasil. Com a sucessão de governos que fizeram bem o papel de corretores de venda do país, isso foi relativamente fácil.

A opinião pública desempenhou também sua parte nesse teatro. Sem saber bem porque, alimentada por constantes rações de informações fragmentadas e opinativas, pôs-se ao lado do repúdio pelo domínio da tecnologia nuclear, assombrada por fantasmas criados por quem detém essa tecnologia e não renuncia a ela de forma alguma. Enfim, o domínio consiste em convencer o dominado a não querer o que viabiliza o dominador.

Eis que a Marinha segue, agora, seus projetos e marcha para a construção do reator pequeno, para os submersíveis. Adquiriu à França a tecnologia dos cascos que acomodam reatores, duplos. No horizonte de médio prazo, estão previstas seis embarcações nucleares de patrulha, o que é até pouco para uma costa imensa, como a brasileira. Desenvolvem reatores da ordem de 600 a 800 MW, o que os aproxima bastante da potência média das nucleares de geração de energia elétrica para a rede de consumo.

A geração nuclear é uma atividade inevitável para um país que queira desenvolver-se e crescer economicamente. Realmente, o crescimento econômico é muito intensivo em energia elétrica e os potenciais hídricos brasileiros somente são grandes nas bacias amazônicas. Surge daí uma dependência de longas linhas de transmissão, com todos os riscos que advém de uma malha tão extensa e intrincada.

Recentemente, a por em evidência o absurdo que seria deixar de lado essa forma de geração, os EUA retomaram o desenvolvimento de novas centrais nucleares. A França, nomeadamente, nunca os desprezou e, por isso mesmo, foi o país europeu menos atingido pela recente chantagem russa com o gás natural, preponderante nas matrizes energéticas de gigantes como a Alemanha.

Se o Brasil afinal não optar pelo aumento da geração nuclear na sua matriz energética, isso deve ser por considerações de ordem prática e suportada por dados objetivos. Ou seja, não deve afastar-se da geração nuclear apenas por sucumbir a interesses outros e ao discurso pueril dos riscos nucleares. Todavia, se a discussão encaminhar-se por rumos objetivos e não perturbados por aspectos laterais, não haverá outro caminho a seguir.

As novas usinas são evidentemente necessárias e o são por todo o país. Permitem um elevado nível de disponibilidade no sistema, ao contrário de outras fontes, como a eólica, por exemplo, mais cara e pouco disponível por razões óbvias: o vento não sopra sempre!

Alguém dirá que a total detenção do ciclo nuclear permitirá fazer as bombas. Claro que sim. E daí?

3 Comments

  1. Andrei Barros Correia

    Parei agora para observar melhor a fotografia que está na postagem.

    A piscina azul do reator é muito bonita mesmo.

  2. Thiago Loureiro

    Caro amigo…

    Eu nunca entendi direito o porquê de o Brasil ter parado os investimentos nesse sentido.

    E penso que temos mesmo é que desenvolver toda a tecnologia nuclear possível…

    • Andrei Barros Correia

      Thiago,

      Acho que o porquê da parada do desenvolvimento foi vontade externa de que não prosseguisse . Além do preço, é claro.

      É fundamental mesmo. Breve será a alternativa mais barata.

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