Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

Obama não passará de quatro anos.

Bye

 

Obama elegeu-se presidente dos EUA a partir de um discurso de renovação e rompimento com políticas levadas a cabo polo antecessor Bush. Evidentemente, não se tratava de rompimento abrupto, nem profundo, porque isso não é possível na democracia de modelo ateniense que vivem os EUA, a democracia da Boulé, de quatrocentas famílias.

Tratava-se de suavizar a extrema truculência dos anos Bush, tarefa fácil considerando-se que os limites do razoável em mentira, violência, captura do Estado por financistas, petroleiras e industriais bélicos, e falta de sutileza haviam sido rompidos por larga margem.

Tratava-se de estancar o processo de empobrecimento do norte-americano médio, prover-lhe alguma ajuda estatal, como a saúde, por exemplo. Tratava-se de impor alguma regra aos mercados financeiros, apenas o suficiente para evitar que leve o mundo à ruína, especulando com dinheiro de mentira.

Tratava-se de reduzir a beligerância e as agressões perpetradas em todo o globo, contra quem não se pode defender, feitas para roubar recursos naturais e dar fluxo de caixa ao complexo industrial-militar.

Tratava-se de ser menos unilateral e imperialista, porque essa postura vai, a pouco e pouco, tornando-se inviável e profundamente antipática. De dar um pouco de inteligência às relações internacionais, reduzindo-se a percepção de arrogância desmedida.

Tratava-se de harmonizar o discurso às práticas e reduzir a imensa percepção de hipocrisia norte-americana no que se refere aos direitos humanos. Como um país sai arrogantemente a gritar acusações de violações contra os outros – e a matá-los por isso – e mantém um campo de concentração repleto de presos arbitrariamente, sem direito de defesa, sem acusação formal?

Essas suavizações não foram realizadas. Obama sentou-se no colo de Wall Street, do complexo industrial-militar, das petrolíferas. Deixou tudo como estava e piorou outras, como no caso da transferência de dinheiro de toda a população para os bancos de investimentos que, inclusive, não deixaram de pagar bônus milionários aos seus gestores.

Ora, para fazer isso, ou melhor, para não fazer o que prometeu e esperava-se, havia o candidato republicano! Obama guia-se pelo roteiro perfeito da auto-destruição política.

Para os que confiaram e puseram suas esperanças nele, é um traidor. Para os que o cooptaram é um que se entregou, como muitos, ao depois e, por isso, não é realmente um deles. Ficará em apenas um mandato, porque esse programa tem como donos verdadeiros os republicanos.

Todavia, essa continuidade vai acelerar a decadência norte-americana, que será profundamente dramática. Vai implicar em cada vez mais guerras, para dar vazão à produção bélica e para obter por saque o que não se obtém mais por produção. Vai aprofundar o fosso que separa as práticas dos discursos, ou seja, vai aprofundar a hipocrisia.

Não tenho muitas dúvidas de que terão que voltar-se para o Sul, ou seja, para a América do Sul. Mas, não será para simpatias e relações simétricas. Será para roubar-nos, no caso dos brasileiros, o petróleo, os minérios sólidos, a força de trabalho. Claro que o leitor de revista Veja – escravo cego e voluntário – dirá que isso é teoria da conspiração, mas é o futuro cristalino.

3 Comments

  1. Sidarta

    Excelente análise…hoje à tarde iniciaram o bombardeio da Líbia a partir do mar e de artilharia já instalada na Tunisia e no Egito, recentemente tomados.

    Os russos no PRAVDA estão tambem dizendo coisa parecida ao que voce falou, onde mostram que os americanos já estão suavisando criticas a movimentos muçulmanos em antigas republicas da uniao sovietica e fechando negocios com eles e até com a Al Qaeda onde for possivel cooptar com eles e com o governo, ou na porrada onde a reação for maior.

    Por outro lado, tendo autorizado a derrubada do jumbo da PanAm sobre a Escócia, Kadafi, para mim, e com 40 anos no poder sem ter tido a sutileza de se proclamar rei, é um FDP maior do que alguns que estão sendo botados para fora.

    Mas não menos FDP foi o ex-primeiro ministro da Inglaterra, Gordon Brown, que libertou da prisao perpetua em Londres o cara que colocou a bomba no jumbo porque o cara teria somente uma semana de vida … e já vai com mais de um ano vivendo bem na Libia. Algo do acordo com a Inglaterra deixou de ser cumprido por Kadafi ou conseguiram descobrir que as reservas de petroleo da Libia poderao ser muito maiores do que se pensava.

    Concordo com voce, daqui há uns dois anos Obama estará lendo o caderno de classificados de Illinois à procura de uma casa para alugar lá por perto de Peoria (foi para essa cidade, onde já estive, que o congresso americano propôs transgerir a capital dos USA desde Washington quando os russos explodiram uma bomba termonuclear nos anos 1950’s

    Obama out é também a opção mais desejada por Israel…

  2. Sidarta

    Sou mais afro-brasileiro do que judeu iberico brasileiro. Por conta disso, nos tempos em que estudei e estagiei nos USA não era preto nem branco… não era nada, só um latinoamericano pretensamente mais bem educado social e tecnicamente falando. Isso facilitou, de certa maneira, a não obrigação de tentar ser “compliant” com algum grupo racial ou hierarquicamente dominante no trabalho e poder ver que a democracia racial existia obrigatoriarmente dentro do trabalho mas só até terminar o expediente do dia.

    Na primeira semana em Washington fui colocado junto com outros brasileiros, vietnamitas, salvadorenhos e outro “subdesarrollados” para “attent a lecture” sobre como não se sentir hostilizado pelas exibiçoes dos pretos nas ruas, principalmente com os latinos. Não tinha nenhum preto puro, aluno ou instrutor, na sala: “Andem sempre bem vestidos, sejam cordiais e não encarem os pretos direto nos olhos; voces não são americanos e eles não se sentem mais compelidos a os respeitar”. Disseram também que os cachorros americanos nas casas latiam pouco e raramente partiam para morder … mas que deixassemos que eles nos cheirassem.

    Lendo atualmente um livro sobre o processo de ascençao (briga de foice) dos militares aos altos postos das forças armadas americanas, junto com parlamentares que são assessorados pelos militares e que agem junto aos fabricantes de armas, deparei-me com uma expressão dita por um almirante branco sobre um almirante preto de que, “desde a segunda guerra, os objetivos dos militares pretos não tinham mudado mas que agora eles estavam sabendo se aproveitar melhor de ONG’s, legislações contra o racismo, quotas e acusações de discriminação para alçarem vôos mais altos nos escalões militares e politicos”.

    O alto comando militar americano adora receber ordem para matar mas parece gostar mais quando essas ordens saõ dadas por um presidente branco. Vai ser dificil mesmo para Obama ser o que não é ou não ser o que é…

    Penso que é a rearticulação dos republicanos em cima das oscilações e do evidente oportunismo de Obama.

  3. Andrei Barros Correia

    Prezado Sidarta,

    Vou tornar este último comentário teu em postagem. É precioso no que chamo de psicologia social de mesa de café.

    Obama fez o papel do cooptado. Tudo bem, mas o cooptado mente mais que o original e, depois, não não é chamado para jantar.

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