A despeito de todo o discurso auto-vitimizador e acusador dos riscos oferecidos por outros países, a partir de que Israel quer justificar ataques militares ao Irã, sabe-se que a origem maior de riscos bélicos, no médio-oriente, está precisamente em Tel Aviv. Não é segredo que Israel detém um grande arsenal nuclear, embora sua política de ambiguidade – negar o brilho do sol – tenha sido eficaz em desviar o foco da questão.

Esses guerreiros do deserto e seus aliados da América do Norte vivem a cansar o mundo com seu narcisismo moralizante, que sempre antecede às chuvas de bombas sobre as cabeças de alguém. Eles dizem que os outros, todos os outros submissíveis que não se querem submeter, são um risco a ser evitado com a destruição. Faz sentido, realmente, pois todo interesse contrário é um risco potencial.

Todavia, os seguidores de Weber são assim, eles precisam misturar às razões práticas o narcisismo moralizante, na forma de alguma sub-teoria política e religiosa. Considerando-se que a vontade de jogar bombas não recua, evidencia-se que essa etapa discursiva pode ser inútil e até arriscada. Arriscada porque a platéia do narcisismo moralizante finda por acreditar nele, assumindo o modelo, e pode, exatamente por ter acreditado, passar a descrer se as evidências de mentira se apresentarem.

A platéia, diferentemente dos redactores do roteiro, ignora o que está por trás e por isso mesmo é susceptível a negar seu apoio caso o roteiro seja desmentido factualmente, a partir da mesma lógica discursiva e com outras informações. É claro que a quantidade de difusores da informação desempenha um importante papel nisso, e que há muito mais difusores do discurso que do anti-discurso.

Bem, o caso é o jornal britânico The Guardian revela, hoje, que Israel ia vender bombas atômicas à África do Sul, em 1975. A primeira coisa a pensar é que só se vende o que se tem, portanto… A segunda é que a difusão nuclear, em si, não é considerada um risco por quem se dispõe a vender armas nucleares!

Em 1975, Shimon Peres, então ministro da defesa e hoje Presidente de Israel, e P. W. Botha, ministro da defesa da África do Sul, firmaram um acordo secreto, no seio de várias tratativas relativas para a venda dos mísseis Jericho (Chalet). Essas armas somente interessariam à África do Sul com ogivas nucleares, porque as convencionais eles sabiam fazer.

O acerto não foi adiante e o jornal sugere questões de custo, mas a cooperação entre os países foi produtiva. A África do Sul forneceu urânio a Israel – em forma de yellowcake – e este teria ajudado aquele a fazer suas próprias bombas nucleares, o que ainda é uma suposição.

Como sempre, irão adiante com outras justificativas, ou mesmo sem elas, que no fundo são desnecessárias, como tem provado a história. Todavia, é bom rir da vergonha do justo, como disse Machado de Assis.

Link da notícia, no The Guardian: http://www.guardian.co.uk/world/2010/may/23/israel-south-africa-nuclear-weapons