Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

Édipo, Apolo de Delfos e tudo graças a deus.

Há um deus por toda parte, em todas as ações, desde as mais simples; há em tanto e em tudo que nem parece único como dizem dele por aí. Está nos cumprimentos e nas fórmulas habituais do discurso: graças a deus.

Está nos carros, em frases na maioria sem sentido e algumas realmente hilárias: foi deus que me deu; propriedade de deus; deus é fiel; se deus me deu quem tirará – esta, ateísmo puro.

Você conversa com um sujeito e prepara-se para escutar um rosário de dádivas divinas. Tudo será se deus quiser. De forma tal que deve levar a um conflito de deuses imenso.

Deus dará prendas a todos e respostas a tudo! Curioso, lembrava-me de Édipo.

Preocupado com a peste que se abatia em Tebas, Édipo fica sabendo que devia-se a uma conspurcação.

Manda perguntar a Apolo de Delfos o que causou a conspurcação: ele diz que foi um assassinato. Pergunta mais uma vez, de quem: ele diz, de Laio.

A pergunta leva a outra: quem assassinou? O deus não responde mais…

Édipo resigna-se e diz que não se pode forçar a verdade dos deuses.

A lição de Édipo perdeu-se.

10 Comments

  1. Severiano Miranda

    Andrei, vi um vídeo pequeno de Saramago dando uma entrevista no UOL, e depois de uma pequena discussão com amigos no twitter, pra ademais disso que tu dizes, me lembro que quando era pequeno, a igreja era a favor. Explico, minha mãe sempre tomava parte em campanhas de ajuda, em Campina tinha Campanha da Violeta, eu não lembro ao certo de que se tratavam, mas eram para ajudar as pessoas essas tais campanhas, arrecadar roupas usadas, comidas, e porque não dinheiro também (esse eu não sei se realmente ajudaria as “pessoas”), mas a igreja era a favor…
    Em algum momento de quinze anos pra cá, parece que a guerra passou a dar mais resultados, e a igreja é contra tudo! A igreja, o templo ou seja lá o que for… O templo é contra a igreja, contra a ubanda, contra os gays, contra o que mais aparecer e der pra ser contra. A igreja eu nem sei mais contra o que é.
    E das campanhas que ajudavam as pessoas nunca mais ouvi falar. Não ajudam mais ninguem as igrejas nem os templos, há não ser que você vá na porta deles pedir a ajuda, e essa ajuda vem na forma de: “-Vire nosso fiel.. E você será salvo! SE PAGAR O DIZIMO!” NOSSA…
    Triste isso. Eu gostava mais do tempo que eram a favor.

  2. Adjamir Galvão

    Eu fico me perguntando se é ignorância ou pura má fé.

    1) Dizer que na igreja não existe mais campanha para ajudar ninguém?

    2) Dizer que a igreja é contra os gays? Procure lá na internet e veja a declaração do presidente da CNBB sobre a união civil. A igreja é contra o casamento gay e não contra a união civil.

  3. Adjamir Galvão

    Esquece de postar mais sobre o primeiro… procura no google tbm porque sei que se eu dizer vai ficar com mi-mi-mi

  4. Adjamir Galvão

    Só para adicionar mais lenha a quem tanto condena a igreja por atraso vai um trabalho de pesquisa:

    Procura saber quem foi que formulou a teoria do Big Bang. Depois pesquisa quem foi que ridicularizou a teoria e deu este nome como uma forma de chacota: “Big Bang”

    Bons estudos.

  5. Severiano Miranda

    =)
    Eii, eu não disse que não existia mais campanhas, só que delas eu não tomava mais conhecimento, como tomo das coisas que a igreja(s) é contra.

    E sobre isso da união civil, está ótimo, casamento seja uma instituição cristã, chama a união civil entre homosexuais por outro nome qualquer e blz, aliás, porque não chama isso só de união civil mesmo e ponto final? =)

  6. Severiano Miranda

    “Em 1927, o padre e cosmólogo belga Georges Lemaître (1894-1966) derivou independentemente as equações de Friedmann a partir das equações de campo de Einstein e propôs que os desvios espectrais observados em nebulosas se deviam a expansão do universo, que por sua vez seria o resultado da “explosão” de um “átomo primordial”.”*

    “Fred Hoyle é creditado como o criador do termo Big Bang durante uma transmissão de rádio de 1949. Popularmente é relatado que Hoyle, que favoreceu um modelo cosmológico alternativo chamado “teoria do estado estacionário”, tinha por objetivo criar um termo pejorativo,”*

    Tá, um padre criou a teoria, e um fisico inglês que tinha OUTRA TEORIA SOBRE, criou o nome pra tirar uma ondinha do primeiro… E? Agora a igreja pode cagar na cabeça de todo mundo?

    Além do que: “Os dados observacionais atualmente são suficientemente bons para se saber como é a geometria do universo.”*

    O padre matou mesmo Jesus!! =))) hehehehehe

    * FONTE: Wikipedia.

  7. andrei barros correia

    Édipo segue atrás da resposta e vai perguntar ao Divino Tirésias, o adivinho cego, quem matou Laio.

    Tirésias diz, mais ou menos, que se ele, Édipo, quer livrar a cidade da conspurcação por conta do assassinato de Laio, banindo o assassino, deve banir-se.

    É interessante que com a participação de um deus e de um adivinho semi-deus, Édipo ainda não estava plenamente certo da verdade. Seria preciso ainda indagar Jocasta e os dois escravos.

    É interessante notar como a intervenção dos deuses é profética e não dispositiva ou de comando da realidade nos seus detalhes cotidianos.

  8. andrei barros correia

    Severiano,

    Esse negócio de assistência ainda existe, que sempre serve para ocupar as mentes e pacificar as consciências. Claro que o mercado reduziu-se, pois concorrer com o governo é difícil!

    Agora, que a igreja de Roma é contra os gays, é mesmo, sem sofismas nem atenuações pueris. Claro que não é com o mesmo nível de brutalidade e com raciocínios tão estúpidos quanto os dos evangélicos neo-pentecostais.

    O negócio do casamento deixa tudo muito evidente. Temos aqui uma instituição nossa, que se chama por um nome nosso, que só admite aqueles que nós reputamos normais.

    Porque hoje temos pouco poder e não podemos simplesmente mandar passar a espada no pescoço dos diferentes, toleramos que o estado discipline a situação jurídica dos anormais, embora não deixemos de os considerar assim, e embora estejamos coalhados de anormais nas nossas fileiras!

  9. Daniel Maia

    De fato, Andrei, você está absolutamente enganado quando afirma que a Igreja católica “é contra os gays”. A linha de atuação já está há bastante tempo delineada: não assentir com determinadas práticas de uma pessoa ou de grupo social não significa diminuir a importância do indivíduo. Basta ler e conferir os sítios autorizados sobre o assunto. Não há mistério, nem sofisma. O que abunda corriqueiramente, via de regra, é difamação.
    Por outro lado, quem tem vivência eclesial pode confirmar isso e, aliás, pode falar com bastante segurança como se dá a convivência entre heterossexuais e homossexuais nas atividades pastorais.
    Por fim, eu realmente fico estarrecido com certas afirmações (“o mercado reduziu-se”). É impossível não reconhecer que todas as ações sociais de qualquer partido ou governo no ocidente não tenham ganhado impulso com a doutrina social da Igreja. De fato, não há concorrência.
    Por fim, pacificar a consciência é importante quando se chega à conclusão de que se violou, por ação ou omissão, um dever moral.
    E, quando a caridade é o princípio e o fim da existência cristã, não há outra alternativa senão cumprir o que o Mestre disse: “Pois eu estava com fome, e me destes de comer; estava com sede, e me destes de beber; eu era forasteiro, e me recebestes em casa” (Mt 25,35).

  10. Andrei Barros Correia

    Daniel, prezado, o mercado para assistência reduziu-se efetivamente, basta vermos os casos das santas casas de misericoórdia que, antes eram a base do assistencialismo médico e social em geral. E, hoje, tiveram um nítido recuo, porque o estado entro no campo.

    Isso não é ruim para os demandantes dos serviços, que os tem mais diversificados. Nem é ruim para a caridade organizada dos católicos romanos, que podem focalizar suas atuações. O caso dos velhos desamparados é exemplar.

    Agora, que o mercado a demandar assistência a instituições religiosas diminuiu e tende a diminuir se seguirmos essa suave redução de pobreza que tem havido é constatável.

    Isso pode ser uma bela ocasião para a igreja romana voltar-se, no que tange à caridade, a pontos mais específicos, a uma maior espiritualização – o que em muito equivale a dizer-se um aumento do nível intelectual – a projetos mais delimitados e, quem sabe, a um tipo de caridade por quê o mundo ocidental devia ter gratidão renovada: o mecenato artístico.

    Por séculos a igreja de Roma foi a maior contratante dos melhores arquitetos, engenheiros, mestres e contra-mestres e operários. Disso resultou muita organização urbana e muita beleza visual. Não é pouca coisa, antes pelo contrário.

    Além disso, patrocinou a escultura e a pintura como ninguém. Aqui tu perceberás o que há de importante e significativo, como sinal positivo de uma certa diferença, além do imenso patrimônio deixado. O crucificado de Velásquez é, para mim, uma obra de caridade espiritual imensa.

    Quanto aos homossexuais, divirjo de ti claramente. Se, antes do século XVIII, isso realmente não era problema sério na instituição, depois, o discurso da sexualidade vai inserindo-se e sendo apropriado, como discurso sistematizado e, portanto, mecanismo entre tantos que compõem os fluxos de poder.

    No século XIX e seguintes esse campo discursivo está plenamente estabelecido e sai-se do sexo para a sexualidade. Cria-se uma epistemologia da sexualidade e a igreja tem seu discurso na área. Um discurso, como os outros, de especialistas.

    E volta-se mais a modelos das tradições judaicas que àqueles da tradição grega, os seus dois elementos constitutivos básicos. E aqui há impureza. Impureza que pode ser tolerada mas, como qualquer impureza, essencialmente indesejável e foco inevitável de tentativas de afastamento – das impurezas.

    Como há um modelo das normalidades, há, por exceção, um modelo das anomalias. Entre estas últimas encontra-se a não reprodução e, consequentemente, as práticas sexuais que não são potencialmente reprodutivas.

    Que se aceite, como quem diz que tolera ouvir o contrário, não faz do contrário um não contrário.

    Presentemente, com a exacerbação até os píncaros do retorno às cavernas, que praticam as múltiplas denominações reformadas neo-pentecostais, parece que foi necessária uma subida de tom da igreja romana, ainda que bastante discreta frente ao paradigma dos primeiros.

    Bem, o ideal para uma conversa dessas era que saíssemos da catedral de Cuzco, cruzássemos a plaza e nos sentássemos em um bar, tomássemos umas cusquenhas e apreciássemos uma trucha a la plancha… Aí, sim, nos divertiríamos mais com provocações mútuas, constantes e sempre frutificadoras…

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