Uma mistura de esquizofrenia com burrice leva-nos a considerar prioridades imediatas as coisas mais tolas do mundo. E a roda da tolice gira, incessantemente, e faz surgir uma nova emergência com que todos se preocupam.
É condição necessária que a coisa seja da maior desimportância possível, ou seja algo que só pode ter alguma se for cuidadosa e seriamente tratada.
É condição necessária que a desimportância da moda seja abordada escandalosa e solenemente, mas nunca detidamente. É condição necessária que se admitam uma e outra piada, mas que nunca se pergunte o porquê de alguém ter alçado aquilo a assunto.
Neste momento, a tolice em evidência é a proibição de urinar-se na rua, durante o carnaval do Rio de Janeiro. 500 pessoas foram detidas porque cometiam esse delito gravíssimo. As tevês tratam das prisões, especialistas dão opiniões, um fulano acha isso, um sicrano aquilo.
Sinceramente, gostaria que o governo do Rio de Janeiro tivesse tomado essa iniciativa com o propósito consciente de fazer piada e desviar a atenção das suas fragilidades e problemas reais. Mas, a experiência prova que a tolice casa-se bem com a sinceridade e, portanto, para minha frustração, provavelmente cuidaram dos mijões por acherem isso importante.
Uma pessoa intelectualmente honesta, que visse a coisa desde fora – um estrangeiro – pensaria que todos os outros problemas estavam resolvidos e, então, os zelosos governantes tinham partido para cuidar dos detalhes. Que a implementação da sociedade perfeita estava quase levada a cabo e faltavam apenas detalhes.
Não! Está tudo por fazer e a polícia do Rio de Janeiro prendendo mijões!
Há poucos anos, a entrada no nirvana civilizatório, aqui no Brasil, se daria pela redução da tolerância alcoólica dos condutores, de quase nada a nada. Isso virou assunto a ser discutido, virou ponto de honra, virou medida de enorme seriedade, coisa que nos poria no mundo civilizado.
A mudança de quase nada para nada não podia resultar em outra coisa senão nada. O nirvana não chegou, os acidentes continuaram e aumentaram. De quase nada para nada não podia ser uma coisa importante, qualquer um que pensasse sabia.
Depois, outra forma de se atingir o paraíso veio a tona. Nesse país em que se pode roubar, matar, morrer por omissão de socorro em hospital público, ficar adulto analfabeto, estava terminantemente proibido fumar. Pronto, o mundo estava melhor, a vida em sintonia com os ditames da civilização.
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