Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

Categoria: Um pouco de história (Page 3 of 5)

Mitos Tucanos 3: A vulnerabilidade externa

Recebi por email, não por acaso do próprio Andrei, a seguinte carta do professor Ricardo Carneiro* com tema já descrito no título.

Costumo, por via das dúvidas, sempre verificar a veracidade dos correios que recebo, para que não aconteçam coisas como essa: “Arnaldo Jabor” escreve um texto, que não é dele e tem que se desculpar ao vivo pela CBN… E ainda há quem aceite o referido texto muito bem. Não querendo defender Jabor claro, mas o texto não é dele, simples assim. Parece que as pessoas pensam que se escondendo por trás de qualquer nome de artista vão dar mais credibilidade ao que escrevem, sentindo-se livres para escrever qualquer bost… Bom, de forma que pelo menos o Ricardo Carneiro é realmente professor da Unicamp… E como o texto também está disponível no Blog de Nassif, que considero sério, resolvi publicar na íntegra. Espero que esteja tudo nos conformes.

Dentre os vários mitos alardeados pelos tucanos nos últimos anos está aquele que afirma que o Governo Lula recebeu como herança uma economia sólida e sem fragilidades, sobretudo no front externo. Nada mais falso. Há vários indicadores que podem mostrar isto. Escolhemos o mais sintético deles, o das reservas internacionais possuída pelo país.

O gráfico abaixo reconstitui o valor das reservas desde 1998. Faz uma distinção importante entre o que de fato eram reservas próprias e disponíveis e aquelas reservas que correspondiam aos empréstimos do FMI – as reservas emprestadas. Essa distinção era, aliás, uma exigência do Fundo com base no argumento de que na prática esses recursos deveriam ser devolvidos a curto prazo.

Como se pode constatar o volume de reservas é relativamente baixo, para uma economia aberta como a brasileira durante todo o segundo mandato de FHC. O dado mais significativo, porém é que essas reservas são declinantes. Elas eram de US$ 34,4 bilhões em 1998 e caem a menos da metade ao final de 2002. Ou seja, o Governo Lula herda desse ponto de vista uma situação crítica: reservas de US$ 16,3 bilhões, além de um acordo com o FMI.

A recuperação das reservas se faz de maneira continuada e significativa desde o primeiro ano do Governo Lula. Foi isto que permitiu já no terceiro ano do primeiro mandato pagar o empréstimo do FMI e, mesmo assim, manter um nível muito mais elevado de reservas próprias de cerca de US$ 53,8 bilhões. Apenas para ficar mais claro o significado desses números, o Brasil pagou em 2005 cerca de US$ 25 bilhões que devia ao FMI e ainda ficou com US$ 53,8 disponíveis, cerca de quatro vezes mais do que o herdado de FHC.

De lá para cá as reservas internacionais só tem aumentado; os últimos números apontam um valor em torno de US$ 270 bilhões. Elas constituem um importante seguro contras as turbulências externas como, aliás, se pode observar em 2008 e 2009. Não só inibiram um ataque especulativo contra o real como possibilitaram a reconstituição das linhas de financiamento do comércio exterior brasileiro. A conclusão desses números é portanto inequívoca: o Governo lula herdou uma economia fragilizada do ponto de vista das suas relações com o exterior e, reduziu substancialmente essa fragilidade.”

Grafico reservas internacionais

Grafico reservas internacionais

* Ricardo Carneiro é professor livre-docente do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e pesquisador do Centro de Estudos de Conjuntura e Política Econômica (Cecon) deste instituto.

Ravel, o basco que percebeu o começo do século XX.

O bebedor de absinto, de Éduard Manet.

La Valse é o século que se inicia depois de seu marco de calendário. Ele não começou em 1900, nem somente ao final da primeira grande guerra. Ele começa com uma aceleração que indefine as linhas e acentua os contrastes. Ele começa com formas novas de captação de realidade, como a fotografia.

Mas começa, apenas, não está findo. Ele, o novo, está começado quando a harmonia confortável da valsa, dança modelar de harmonia, decompõe-se na Valse de Ravel. A imprevisibilidade apresenta-se, a dissociação temática e harmônica já é o tempo que é depois da guerra.

Eisenhower adverte sobre o complexo industrial militar.

O Presidente Eisenhower parece ter-se dado conta das dimensões do monstro criado no pós segunda grande guerra mundial. O complexo industrial militar tornou, desde então, todo o discurso sobre democracia e liberdades palavras destituídas de qualquer contato com a realidade. Apenas, fórmulas a serem propagadas e repetidas acriticamente por quem não está a perceber onde e como opera o poder real.

Em tradução livre, a partir de 1:01 do vídeo, diz Eisenhower: essa conjunção de um imenso aparato militar e uma grande indústria de armas é nova na experiência norte-americana. Sua influência econômica, política e até espiritual é sentida em todas as cidades, todas as casas e em todos os escritórios do governo. Nós reconhecemos a imperiosa necessidade desse desenvolvimento, embora não deixemos de perceber suas graves implicações.

Em 1:38, a indicação do cuidado que deveria ser tomado, mas que foi impraticável, depois, como se sabe: no governo, devemos precaver-nos contra a aquisição de indesejável influência, seja voluntária ou não, pelo complexo industrial militar. O potencial para o desastroso avanço do poder mal colocado existe… Não devemos deixar o surgimento dessa combinação por em risco nossa liberdade ou nosso processo democrático.

Eisenhower foi clarividente e explícito, o que são coisas difíceis. Realmente, compreender um processo histórico passado já é bastante complicado. Compreender o momento do processo em que se vive, é mais difícil ainda. Ele esteve certo e a advertência não resultou…

Lucien Sarti atirava muito bem.

Quadro 312 do filme de Zapruder

Quadro 312 do filme de Zapruder

Quadro 313 do filme de Zapruder

Quadro 313 do filme de Zapruder

Frequentemente, as coisas mais improváveis são as mais fáceis de divulgar como verdades. Vale o conselho de Goebbels, ou seja, trata-se de repetir uma versão ao máximo e sentar em cima dos papéis. Acrescente-se à linha básica o afirmar-se que as evidências são tomadas para se construirem teorias da conspiração.

Os investigadores oficiais do assassinato de John Fitzgeral Kennedy concluiram – e convenceram a enorme maioria do público – que o Presidente foi alvejado por trás, no que seria um trabalho excepcional de um mal atirador, posicionado a enorme distância e manejando uma arma apenas razoável.

O corpo de John Kennedy foi primeiramente levado ao Dallas Parkland Hospital, mas ele já estava morto. Os médicos e enfermeiras que o atenderam na ocasião não corroboraram depois o que disseram à comissão Warren. Os depoimentos coincidem em um homem ferido por, ao menos, dois disparos, um no lado direito da cabeça e outro na garganta.

A comissão Warren afirmou que todos os ferimentos foram  obra de duas balas, uma delas a bala mágica – um projétil de 3 cm, revestido de cobre e com alma de chumbo, com 6,5 mm de diâmetro –  que teria atingido Kennedy em baixo do pescoço. Essa bala mágica, como merecidamente foi nomeada rapidamente, teria penetrado por trás e por baixo do pescoço de Kennedy, saído pela garganta, penetrado no ombro de Connally e, depois de tantos volteios, alojado-se no punho do governador.

Essa maravilha balística teria sua prova na própria bala, que se supõe encontrada no chão, singelamente, no Parkland Hospital. Esta prova irrefutável é uma bala quase intacta, apesar de todas as sucessivas camadas de ossos, tecidos humanos moles e tecidos de roupa que atravessou!

A teoria da única e mágica bala é de uma absurdidade tamanha que não merece maiores comentários. É interessante perceber que essa mesma absurdidade calhou muito bem à montagem das conclusões da comissão Warren. Ou seja, ao mesmo tempo em que o absurdo em si não é empecilho à crença em alguma mentira, ele também mostra a vantagem de desviar o foco das observações.

A comissão tinha o objetivo de concluir que um agente da inteligência da Marinha, especialista em radares, Lee Harvey Osvald, agira sozinho e por conta própria. Ele teria disparado três vezes em 5,7 segundos e conseguido atingir o Presidente em movimento, duas vezes, a uma distância de 58m, em um ângulo extremamente improvável.

Com uma rapidez que beirou a indignidade, tanto o corpo de Kennedy foi embarcado no avião oficial, quanto o vice-presidente Lyndon Baines Johnson foi empossado na presidência, dentro do próprio avião. O corpo foi submetido a uma autópsia oficial no hospital naval de Bethesda.

A comissão Warren realizou um grande trabalho de ajuste das variáveis e supostas provas disponíveis, no sentido de concluir pelo único atirador, situado no sexto pavimento do depósito de livros da escola do Texas. Na verdade, a teoria da bala única gera uma útil controvérsia que afasta a percepção do aspecto mais importante, que é a multipla origem dos disparos.

O filme de Zapruder contém inúmeros vestígios de manipulação, notadamente de retirada de quadros e posterior suavização dos buracos resultantes dessa retirada. Há um estudo cuidadoso da manipulação do filme de Zapruder aqui: www.assassinationscience.com/johncoetella/jfk

Isso porque tudo indica que houve muito mais que três disparos e que não se originaram do mesmo ponto e, além disso, que a limusine presidencial parou completamente e depois retomou a marcha, no meio dos disparos. A questão das conclusões da comissão e das muitas confusões com testemunhos e laudo de autópsia e a manipulação do filme de Zapruder era afastar a evidência dos multiplos atiradores e, consequentemente o complô.

O indivíduo que foi considerado o assassino era um antigo agente da inteligência da Marinha norte-americana, que trabalhava com radares. Criou-se o mito da deserção de Osvald, que foi para a Rússia. Realmente, ele esteve lá um tempo, mas há indícios de que desempenhou tarefas interessantes para o governo norte-americano.

Osvald teria teria ensinado os russos a detectarem corretamente, por meio de radares de pulsos doppler, os aviões espiões U2 que sobrevoavam a Rússia a tirar fotografias. Realmente, pouco depois que o avião U2 pilotado por Francis Powers foi abatido na Rússia, Osvald retornou aos EUA e foi levado para Dallas.

Há muito sentido nisso, se se toma em conta que os militaristas precisavam de um pretexto urgente para violar as convenções de Genebra e seguir seu rumo de aumento de despesas militares, a partir da crescente paranóia com a ameaça que seriam os russos. O militarismo quer qualquer coisa que não seja alguma paz.

Osvald destinou-se a ser o que chamam uma Patsy, ou seja, um bode expiatório levado a uma situação pré-concebida. Foi reiteradamente fotografado a brincar com armas e levado a discursos bobos de amor a Fidel Castro e a Cuba, o que não era minimamente difícil um agente fazer, desde que acreditasse estar desempenhando mais um papel.

Lucien Sarti era um corso envolvido em tráfico de heroína, em Marselha. Um bandido de bom currículo, pode-se dizer, e reconhecido como grande atirador. Especula-se que teria sido o graduado agente da CIA Cord Meyer a contratar o pessoal de Sarti para o assassínio de John Kennedy.

Sarti, muito oportunamente, foi assassinado pela polícia, na cidade do México, em 1972. O realizador de documentário Anthony Summers, autor do último episódio, em 2003, de The Man Who Killed Kennedy, obteve essa indicação de Christian David, um criminoso francês encarcerado, e foi corroborado por Micheli Nicoli. Significativamente, eles apontaram somente o nome de Sarti, que já estava morto.

É notável que o History Channel, produtor do documentário, tenha feito um desmentido, no ano de 2004, como forma de evitar processo movido por Gerald Ford, um ex-presidente e membro da comissão Warren. O episódio nono e último, intitulado The Guilty Men, apontava para a responsabilidade do Presidente Jonhson.

Um pouco depois do filme documentário do History Channel, o agente da CIA Howard Hunt, pouco antes de morrer, disse que o Presidente Lyndon Johnson ordenou o assassinato de Kennedy. Hunt foi o líder da operação que colocaria escutas no Hotel Watergate, onde se realizaria a convenção do partido democrata, em 1972.

Nesse ponto, convém afastar-se um pouco das estritas balizas cronológicas e da lógica investigativa ou jornalística para compreender porque Joe Kennedy Junior, John Kennedy, Robert Kennedy precisaram ser assassinados. Ou seja, para perceber em que eram ameaçadores e a quem.

A primeira inclinação – natural – é considerar que eles eram mafiosos demais. Todavia, no ambiente em que atuavam, no inner-circle norte-americano, o nível de mafiosidade dificilmente era muito diferente, de grupo para grupo antagônico. Daí, não parece razoável crer no excesso dos Kennedys como motivo de seu alto perigo, a justificar os assassinatos.

Convém lembrar que Joseph Kennedy era banqueiro riquíssimo já na década de 1920, então com menos de 30 anos de idade e que era irlandês e católico. Almejava a presidência e foi preciso empenho de Franklin Delano Roosevelt para afastá-lo legalmente da possibilidade de concorrer ao cargo.

Preparou então o filho mais velho para a missão. As circunstâncias conspiravam a favor, porque Joe Kennedy Junior, oficial da aviação norte-americana na segunda grande guerra, provavelmente retornaria para ser condecorado por bravura e seria improvável que perdesse para Truman. Morreu em circunstâncias estranhas, em um avião que explodiu sobre o canal da Mancha.

Passou-se a John, que enfim foi eleito. Em 04 de junho de 1963, o Presidente assinou o Decreto Presidencial n. 11110 (Executive Order), que praticamente retirava da Reserva Federal – uma entidade privada que não se confunde com os bancos centrais europeus – o poder de emprestar dinheiro a juros ao Governo Federal Norte-Americano.

Assim, Kennedy, com uma assinatura, punha fim a um dos maiores negócios do mundo, senão o maior, estabelecido em torno aos interesses de banqueiros que, na origem, eram principalmente britânicos. Claro que seria a mudança de um grupo por outro, mas não seria pouca coisa, pois o FED é a maior invenção da humanidade para por o mundo de joelhos, a partir da reserva de mercado para um grupo de banqueiros do maior tomador líquido de empréstimos que havia e há.

A isso adiciona-se uma e outra modificação na política fiscal para o setor de petróleo e uma discreta relutância em aprofundar a guerra no Vietnam. Estavam criadas as condições para haver três principais setores contra o Presidente: os bancos, as petrolíferas e a indústria armamentista. E esses setores sempre coordenaram bem seus interesses e conjugaram esforços quando necessário.

Sempre ficou mais evidente a participação dos setores petrolífero e bélico, mas creio que os banqueiros tiveram parte mais decisiva nesse entendimento que resultou na ordem de Jonhson para o assassinato. Na verdade, as indústrias vêm a reboque dos bancos, esse sim o maior dos negócios.

A Carta Testamento de Getúlio Vargas.

Em 24 de agosto de 1954, há cinquenta e seis anos, portanto, Getúlio Vargas suicidava-se. A mesma gente que o levou a matar-se, tumultuou o governo seguinte, de Juscelino. Levou Jânio a tentar um golpe antes de sofrê-lo. Deu um golpe em João Goulart. Instalou uma ditadura de 21 anos no Brasil. Desfez essa ditadura, pondo em seu lugar uma democracia que devia ser sem povo. E, agora, morre de raiva de Lula e da próxima vitória da candidata apontada por ele.

Segue a carta:

Mais uma vez, as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se novamente e se desencadeiam sobre mim.

Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes. Sigo o destino que me é imposto. Depois de decênios de domínio e espoliação dos grupos econômicos e financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci. Iniciei o trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social. Tive de renunciar. Voltei ao Governo nos braços do povo. A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a justiça da revisão do salário-mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar a liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre. Não querem que o povo seja independente.

Assumi o Governo dentro da aspiral inflacionária que destruía os valores de trabalho. Os lucros das empresas estrangeiras alcançavam até 500% ao ano. Na declaração de valores do que importávamos existiam fraudes constatadas de mais de 100 milhões de dólares por ano. Veio a crise do café, valorizou-se o nosso principal produto. Tentamos defender seu preço e a resposta foi uma violenta pressão sobre a nossa economia a ponto de sermos obrigados a ceder.

Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo, para defender o povo que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso dar a não ser meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida. Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater a vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no meu pensamento a força para a reação. Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta.

Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com o perdão. E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate.

Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto, O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na história.

Getúlio Vargas.

Campina Grande: o Palácio do Bispo.

Esta bela casa é conhecida como o Palácio do Bispo e situa-se na Av. Barão do Rio Branco, na zona central da cidade. Atualmente, abriga o gabinete do Prefeito Municipal.

Devo dizer que busquei, com alguma insistência, informações sobre a história do palacete, na internet. Não encontrei, nem no site da Prefeitura, nem no site da Cúria Diocesana, nem em qualquer outro. Claro que posso ter procurado mal. Enviei uma mensagem de e-mail para a Diocese, pedindo alguma informação sobre a história do palacete, caso dela disponham.

O edifício foi realmente sede episcopal do bispado de Campina Grande, instalado em 1949. É possível ver, na grade da porta central, um brasão com motivos eclesiásticos, nomeadamente uma cruz e uma mitra. Não sei se foi edificado para ser a sede episcopal, o que, em caso positivo, dataria o prédio dos finais da década de 1940.

De qualquer forma – ou seja, quer tenha sido feito para ser a sede episcopal, quer tenha sido feito antes – nada indica que seja mesmo anterior a 1940. O prédio tem um estilo eclético com alguns elementos classicizantes tardios, como as colunas e o balcão adiantado do segundo pavimento.

Nas décadas anteriores, de 1900 a 1930, passou-se pelo classicizante, pelo eclelético e pelo art déco, mas quase sempre em edificações de um pavimento e de maior pureza estilística. O estilo do palacete realmente não tem outros representantes na cidade, embora não seja formalmente complexo, o que se percebe, por exemplo, nas janelas e na quase ausência de elementos decorativos externos.

Não é uma casa pequena e tem recuos frontal e laterais, ou seja, encontra-se em um terreno grande. Significa que foi obra cara. Por exemplo, pode-se constatar que a sede diocesana de Recife, o Palácio dos Manguinhos – embora anterior e mais complexo arquiteturalmente – é um edifício do mesmo porte, ou até menor que o Palácio do Bispo em Campina Grande.

Bem, quando obtiver mais informações, volto ao Palácio do Bispo com menos conjecturas, ou talvez com suposições mais fundamentadas. O fato é que o prédio é bonito, bem proporcionado e encontra-se salvo da sanha demolitória!

A lei do estrangeiro e o ridículo da última ditadura brasileira.

Estive a analisar a lei brasileira do estrangeiro, uma norma produzida em 1981. E reforcei minha percepção de que convém para muitos destruir as memórias e a história, por três motivações básicas. Primeiramente, a mais banal e mais nociva: ignorância pura e simples, que leva muitos a considerarem a história uma bobagem.

Em segundo lugar, o desejo de escamotear crimes e infâmias, de esconder suas autorias, de evitar o julgamento posterior por absurdos cometidos.

Em terceiro lugar, a motivação mais interessante: esconder o ridículo. As obras ridículas, coitadas, muitas vezes ficam sem paternidade, ninguém as reivindica, não se fala delas. Bem, há casos em que ele não é percebido, nem mesmo depois de muito tempo. Nesses, o ridículo é ainda maior e seus autores são orgulhosos na sua afirmação.

Há diversas maneiras de chegar ao ridículo e uma delas é a desproporção entre meios e fins, entre a realidade material e o contorno formal que se lhe quer dar. Acontece isso com a tal lei do estrangeiro, pois ela é de uma inadequação quase cômica, mas não chega a tanto, é apenas ridícula.

Essa lei fornece preciosos aspectos de arqueologia histórica. Permite ver que um regime ditatorial tem uma coerência interna que se desvela na sua simbologia e nos conceitos e termos que utiliza. O último regime ditatorial brasileiro gostava muito do conceito de segurança nacional.

Não usava a consagrada fórmula soberania onde ela caberia teoricamente. Ora, não usava porque a soberania é do povo, em última análise, e o povo não manda em uma ditadura, nem formalmente. Por isso, onde tecnicamente deveria estar soberania estava segurança nacional.

A lei em questão usa e abusa desse conceito para abrir um campo de discricionariedade vastíssimo. É uma norma que trata da entrada, permanência e expulsão de estrangeiros do Brasil com um rigor imenso, como se este país fosse, na época, um destino de sonhos para grandes vagas de imigrantes.

Ora, desde há muito não havia grandes imigrações com destino ao Brasil, pobre, desigual, violento e pouco democrático. Ou seja, a realidade não demandava uma normatização com tais níveis de detalhe e de rigor, porque o país não tinha então – como não tem agora – problemas com ingressos de estrangeiros que disputassem empregos com nacionais ou que se entregassem à criminalidade.

O problema não havia, mas houve quem julgasse pertinente dar o remédio! Era basicamente o velho hábito de ver fantasmas onde nem gente viva existia.

Por outro lado, não obstante uma lei que permitia negar a entrada ou expulsar um estrangeiro a partir do único e vago critério de inconveniência – sim, está no artigo 26 da lei – e que veda o exercício de um sem-número de trabalhos, sabe-se que os grandes interesses dos capitais estrangeiros traziam o país a reboque.

Sabe-se que a participação de capitais estrangeiros em meios de comunicação de massas e até nos que operam sob concessão pública ocorria de forma mais ou menos escandalosa, como no caso da Rede Globo, pertencente pela metade ao Grupo Time-Life. Ou seja, enquanto no aspecto macro a festa corria solta e sem limites, no detalhe a lei afirmava limitações absurdas e detalhadas. Evidentemente ridículo e desproporcional.

Nixon tinha frêmitos nucleares.

Richard Nixon.

Richard Nixon foi o bandido mais inteligente da política norte-americana nos últimos cem anos. A grande viragem econômica do mundo deu-se com ele, por meio do maior calote já dado: a desatrelação do dólar norte-americano ao ouro. Isso permitiu a continuidade da elevação do nível de vida sem necessidade de poupança. Passariam, então, a ser os maiores consumidores e devedores do mundo.

Ele percebeu uma coisa que dá náuseas em muitos, mas que deve ser dita. Que o lastro do dólar em urânio enriquecido era mais forte que em ouro. Na verdade, um e outro sinal desse fascínio de Nixon pelo metal não-ferroso extremamente pesado já se conhecia.

A conversa mantida com Henry Kissinger sobre o lançamento de bombas nucleares no Vietnam já se conhecia. Então, ele já via sua popularidade despencar por conta da guerra no sudeste asiático e perguntou a Kissinger o que achava de usar as Bombas. O secretário teria objetado que era excessivo. O presidente o teria instado a pensar grande.

Encontraram uma forma menos drástica e mais sofisticada de acabar a guerra. Foi a visita de Nixon a Mao, na China. Essa magnífica manobra diplomática evidenciava que a guerra não tinha mais qualquer sentido, porque se o presidente norte-americano visitava o chinês estava claro que a tese do efeito dominó não tinha mais serventia e aplicação.

Agora, documentos que deixaram de ser sigilosos apontam que Nixon cogitou das Bombas contra a Coréia do Norte, em 1969, na esteira de tensões decorrentes da derrubada de uma avião de espionagem norte-americano pelos norte-coreanos. Na ocasião, elaborou-se um plano de nome Freedom Drop – essa insistência deselegante e ridícula com a palavra freedom devia ensejar estudos – que continha as linhas gerais de um ataque com vários artefatos nucleares táticos.

É interessante notar as estimativas de baixas civis, feitas na ordem de uns cem a alguns milhares. Revela claramente o baixíssimo nível de preocupação com a letalidade das medidas, pois de uns a muitos vai um imenso caminho. Essa imprecisão evidente permite ter idéia que o número de baixas civis não estava entre as grandes preocupações.

Essa vontade nixoniana de lançar as Bombas no sudeste asiático – diante de qualquer situação mais fraturante – também interessa para compreender-se o discurso norte-americano atual sobre as armas nucleares. Hoje eles falam bastante em evitar que algum país desenvolva essas armas porque não seriam detentores seguros e confiáveis das Bombas.

Mas, parece ficar muito claro em que mãos elas estão inseguras. Ora, eles cogitam a três por quatro lançar bombas atômicas sobre os outros, preocupam-se muito pouco com as baixas civis que isso acarretaria, e ainda sentem-se à vontade para acusar outros países de serem inseguros?

São coerentes, todavia. Israel treme-se de desejo de lançar as suas Bombas sobre o Irã e não faz questão de escondê-lo. E são festejados pelos Estados Unidos da América como seguros e confiáveis aliados! Claro, pensam da mesma maneira.

A Guerra do Paraguai. Um bom video.

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Um video – em quatro partes – bem claro sobre a Guerra do Paraguai. A última parte – deve-se dizer – é muito mal narrada em português, por um indivíduo que parece não saber ler.

Matamos, brasileiros, argentinos e uruguaios, 90% da população masculina do Paraguai. E roubamos partes do território paraguaio. E, depois, praticamente acabou-se o Paraguai. Basicamente, isso ocorreu por conta de insatisfações comerciais de Buenos Aires e do Rio de Janeiro com alguns êxitos na criação de gados e em uma pouca industrialização que ocorria no Paraguai.

Absolutamente ignorante de história e absolutamente descortês, hoje, uma rede de televisão brasileira acha razoável agredir os paraguaios a propósito de futebol. Uma rede de televisão que é detentora de uma concessão pública! Não terão bastado os assassinatos?

A história não se reduz ao dinheiro.

Esse homem buscava apenas dinheiro?

Tudo em Roma tinha preço, por ocasião e em relação ao período que vai das guerras contra Jugurta até o fim da república, segundo Salústio. Esse comentário feito sobre os negócios políticos romanos da decadência republicana foi apropriado como mote interpretativo da vida, por quantos adotaram as variantes do utilitarismo como forma de interpretar as ações humanas.

Acho que a aceitação dessa premissa – generalizada – não corresponde propriamente àlgum anseio ou crença na venalidade humana absoluta. Talvez, revele um receio da falta do que se convencionou chamar explicações racionais para os atos humanos e os fatos históricos.

Esse receio tem raízes na necessidade de tudo abordar a partir das relações de causa e efeito e na superficial compreensão do que seriam causas aceitas como racionais. Buscando-se mais em retrospectiva, percebe-se também na sua origem uma deformada separação entre causas objetivas e subjetivas.

A separação a que me refiro pôs de banda tudo quanto fosse motivação de honra como integrante das causalidades subjetivas e, rejeitando-as como imprestáveis à compreensão, tornou-as em não-causas ou em causas objetivas disfarçadas.

Ou seja, tornou-se preciso considerar apenas o que seria objetivo como móveis válidos de ações individuais ou coletivas, ainda que o âmbito da objetividade  tivesse que ser reduzido para que a tese mantivesse alguma coerência. A tese é basicamente que toda ação é uma busca de uma recompensa objetivamente identificável.

Sucede que as ações podem ser compreendidas como permanentes buscas de recompensas ou reações determinadas, mas nem sempre elas são facilmente identificadas. Então, à vista dessa dificuldade, vai-se atrás de alguma das motivações facilmente catalogadas no index das compras-e-vendas. Outra postura seria possível, ou seja, seria possível investigar mais antes de resolver-se pelo reducionismo.

Se algum problema resulta dessa generalizada crença na explicação do mundo pela variação dos preços das pessoas é a ignorância do que pode estar efetivamente por trás de tantos movimentos humanos. Ora, nem sempre mata-se para roubar, nem sempre mata-se para divertir-se!

Não há, como móveis e explicadores das ações humanas somente o dinheiro, a diversão e o disfarce, para desgôsto da maioria das pessoas que se crêem bem-pensantes. Essas motivações estão muito presentes, claro, mas não sozinhas. Conviria que o homem atual – aquele ser seguro na sua epistemologia utilitarista de custos e benefícios – se lembrasse de que há pouco mais de cem anos havia duelos de vida e morte. Neles, como o nome indica evidentemente, buscava-se uma morte, não uma recompensa em pecúnia.

Os duelos de vida e morte para mim não são admiráveis nem reprováveis, eles simplesmente eram algo que acontecia. Ora, as pessoas que duelavam são as mesmas que não mais duelam, feitas nas mesmas proporções de carbono, nitrogênio e outras substâncias. Da mesma maneira que deixaram de duelar podem voltar a fazê-lo ou podem estar a fazê-lo sem que se compreenda.

Conviria também – e aqui advirto da minha não-admiração, porque a bipolaridade é tão arraigada que pode parecer o contrário – lembrar que ainda hoje algum ibérico dispõe-se a vestir-se em trajos apertados e desafiar um touro de 800 quilos. É perfeitamente possível que se compreenda isso como a vontade de receber a recompensa em dinheiro, mas é também profundamente estúpido e redutor. Há, e todo o mundo sabe-o, formas menos arriscadas de ganhar-se dinheiro!

Sobre o dinheiro e seu papel de motor das ações humanas, transcrevo adiante um precioso trecho de José Ortega y Gasset, extraído do ensaio Mandam as montras, publicado em 16 de maio de 1927, no El Sol:

A questão é sobremaneira complicada e não é coisa para se resolver em quatro palavras. Vá tudo isso que digo apenas com uma possibilidade de interpretação. O importante é evitar a concepção económica da história que anula toda a graça do problema fazendo da história inteira uma consequência monótona do dinheiro. Porque é demasiado evidente que o poder social deste foi em muitas épocas humanas bastante reduzido e outras energias alheias à economia enformaram a convivência humana. Se os Judeus possuem hoje o dinheiro e são os donos do Mundo, também o possuíam na Idade Média e eram a escória da Europa.

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