Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

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Um Barcelona quase perfeito.

Acabamos de ver Barcelona x Zaragoza. Embora tenha findado apenas em um gol a zero para o Barça, foi uma exibição quase irretocável de posse de bola com passes rápidos. E o goleiro do Zaragoza esteve em grande dia.

Não foi à toa que a equipe espanhola ganhou o mundial quando deixou de ser fúria e tornou-se o Barcelona com o goleiro do Real Madrid!

Serra e o entreguismo escancarado.

Essa maravilha que são os vazamentos do Wikileaks deixou claro que o entreguismo era a força motora da campanha de José Serra, o corretor do Brasil.

Uma comunicação diplomática de dezembro de 2009, revela que a executiva da Chevron Patricia Pradal conversou com o então candidato José Serra sobre o modelo de exploração do petróleo brasileiro. E que o candidato assegurou-lhe que mudaria o modelo novamente, para diminuir a participação da Petrobrás e, evidentemente, leiloar a festa entre as petroleiras estrangeiras.

A representante da Chevron relatou as conversas ao Cônsul norte-americano no Rio de Janeiro, que as repassou ao Dep. de Estado. A preocupação dessa gente é o modelo de partilha, adotado para a exploração das imensas reservas do pré-sal brasileiro. Eles temiam que a Petrobrás assumisse papel muito destacado na exploração e queriam, como sempre querem, espaço para o saque.

Que José Serra representou os entreguistas, todos sabem, embora nem todos queiram aceitá-lo. Agora, o que sempre se soube está documentado sem eufemismos em uma correspondência oficial da diplomacia norte-americana, com aquela clareza de identificar os nossos e os outros.

Tribute to the Euro Currency.

Oh, life is bigger
It’s bigger than you
And you are not me
The lengths that I will go to
The distance in your eyes
Oh no, I’ve said too much
I set it up

(chorus)
That’s me in the corner
That’s me in the spotlight, I’m
Losing my religion
Trying to keep up with you
And I don’t know if I can do it
Oh no, I’ve said too much
I haven’t said enough
I thought that I heard you laughing
I thought that I heard you sing
I think I thought I saw you try

Every whisper
Of every waking hour I’m
Choosing my confessions
Trying to keep an eye on you
Like a hurt lost and blinded fool, fool
Oh no, I’ve said too much
I set it up
Consider this
Consider this
The hint of the century
Consider this
The slip that brought me
To my knees failed
What if all these fantasies
Come flailing around
Now I’ve said too much
I thought that I heard you laughing
I thought that I heard you sing
I think I thought I saw you try

But that was just a dream
That was just a dream

(repeat chorus)

But that was just a dream
Try, cry, why try?
That was just a dream
Just a dream, just a dream
Dream

Brasil: as raízes da deformação social – Atualizado.

O Programa Internacional de Avaliação de Alunos – Pisa divulgou os resultados das avaliações de 65 países. O Brasil ficou na 53º posição, ou seja, muito próximo das últimas. Ainda que tenha melhorado em relação a 2006, a situação é terrível. Como disse a Economist, a situação brasileira evoluiu de desastrosa para muito ruim.

Há dois dados que merecem olhar atento e menções cuidadosas e sem eufemismos, por isso transcrevo adiante passagens da matéria da revista, citada na BBC em português:

Mesmo escolas privadas e pagas são medíocres. Seus pupilos vêm das casas mais ricas, mas eles se tornam jovens de 15 anos que não se saem melhor que um adolescente médio da OCDE”

“Apesar do avanço, a revista diz que dois terços dos jovens de 15 anos são incapazes de fazer qualquer coisa além de aritmética básica.”

A primeira conclusão é que a falta de educação é bastante democrática e permeia todas as classes sociais, embora as mais altas não o aceitem.

A segunda conclusão é que o nível de escolaridade médio é obscenamente baixo. A enorme maioria das pessoas não é capaz de compreender um texto, qualquer que seja ele, nem de expressar-se por escrito, ainda que em um bilhete.

E expressa-se oralmente por uma linguagem repleta de termos ambíguos, repetidos e plurisignificantes. Claro que sempre haverá um e outro linguista a chamar essa imprecisão de riqueza da oralidade. Mas, isso é o germe da pobreza e da aceitação da dominação, sem percebê-la.

Nesse ambiente, os que dominam razoavelmente algumas ferramentas lógicas, ou seja, sabem construir um período minimamente coerente, têm aberto o caminho da pequena sofística e obtém as migalhas que bastam-lhes para serem 10% da população.

O incremento da concentração de rendimentos permite que as camadas médias permaneçam mais ou menos onde se encontram, na escala social, com menos competências. Isso porque as vastas camadas baixas e baixíssimas não possuem, de regra, educação alguma. É aquilo que vulgarmente enuncia-se naquele dito genial: em terra de cego, quem tem um olho é rei.

É interessante que a revista Economist não consegue escapar da prisão das suas condicionantes ideológicas. Ela diz que o problema é de dinheiro. Ela tem que referir tudo a dinheiro, é claro, mas incorre em uma contradição. Se a publicação diz que o nível das escolas privadas e públicas é muito semelhante e se sabe que as primeiras são caríssimas, devia perceber que a associação está errada.

Gasta-se muito dinheiro em educação privada no Brasil e, nada obstante, ela é péssima. Evidentemente que mais dinheiro ainda poderia significar um incremento marginal de qualidade, mas a falta dele não é a causa principal dessa comédia de horrores.

O ponto central é o pacto pela mediocridade. Esse acordo é daqueles que se pactuam com Satanás de fiador e os contratantes acham imensas vantagens nele. Dá-se algo como o sujeito que está feliz por pagar juros de 10% porque algum vizinho está a pagar 11%. Apenas o fulano desconhece que há quem pague 09%.

O pacto pela mediocridade funciona assim: um pequeníssimo grupo chama outro menos pequeno e garante-lhe que não se deve preocupar com bobagens de livros, investigações e coisas do gênero, porque eles estão a engendrar um mundo maravilhoso de abundância, que será obtida por duas razões, a primeira mágica, a segunda o trabalho de um terceiro grupo.

O segundo grupo – o menos pequeno – acha a idéia sedutora, mas antevê por entre algumas sombras que ainda falta algo para fechar a conta. Claro, diz o grupo mais pequeno, mas pensamos nisso também. O pacto vai ser firmado com o terceiro grupo também!

O grupo intermédio, sincero nas suas desconfianças, objeta timidamente que talvez o terceiro grupo não queira aderir. Mas, a verdade descortina-se a uma revelação do primeiro grupo: ora, o terceiro grupo é incapaz de expressar sua vontade, precisa ser tutelado. Fiat lux!

Firmamos por ele, que precisa ser tutelado e afinal não compreende coisa alguma do extenso contrato.

Permito-me inserir, aqui na postagem, o comentário de Rafael, porque corrige informações que retirei da Economist por meio da citação da BBC. Porque traz informações precisas e porque traz uma boa análise. Segue o comentário do Rafael:

As performances das escolas privadas e das públicas não são semelhantes. A nota média das escolas privadas brasileiras no teste da PISA foi de 519. A das públicas foi de 398. Há um gap na qualidade delas, e ele é enorme. A distância entre um estudante de escola privada brasileira e um de escola pública é semelhante àquela entre um estudante britânico e um colombiano. Em média, aliás, a nota do estudante de escola privada brasileira supera a de um estudante americano médio (497), e também a de um estudante britânico médio (502) ou a de um estudante médio de um país médio da OCDE (497). Nem por isso a The Economist chamará de medícores as escolas de seu país, do Reino Unido. Mas com países da América Latina, usa-se muito nos textos dessa revista de adjetivos vazios como sucedâneo de uma análise dos fatos. Essa revista, aliás, se notabiliza por sempre tentar interpretar a realidade dos fatos e prever tendências futuras com um número muito reduzido de conceitos, todos eles invariavelmente extraídos de uma visão de mundo liberal. Que a The Economist prevê como fadada à ineficiência qualquer tentativa de melhorar a qualidade do ensino público através do aumento de gastos no setor, é prova disso. O argumento dela nesse sentido – um argumento, aliás, muito tosco e simplista – é o de que os gastos relativos ao PIB do Brasil nesse setor já são maiores que a média dos gastos dos países membros da OCDE. Em vez disso, a The Economist recomenda como exemplar a estratégia adotada pelo governo São Paulo – um estado que, apesar de rico, fornece uma educação pública muito ruim, até abaixo daquela da média brasileira, algo que a maioria dos brasileiros que lêem jornal já devem saber bem.

O judiciário é mal avaliado pela população e não percebe as razões!

Leio um artigo de Marcelo Semer – que é juiz – a propósito de uma recente pesquisa do IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Apurou-se uma nota média conferida pelos cidadãos à justiça de 4,55, em escala variável de 0 a 10. Trata-se de uma percepção muito negativa, que a corporação, ou ignora, ou despreza. Claro que há exceções, como é o caso do autor do referido artigo.

A corporação judiciária tenta condicionar sua avaliação popular a critérios estabelecidos por ela mesma. Essa é uma clássica atitude auto-referente, evidenciada na crença de que os avaliadores não têm percepção própria e que devem ver somente aquilo que os avaliados querem mostrar.

Assim, a corporação judiciária moldou sua propaganda institucional a um discurso e a várias metodologias características de corporações privadas. Assumiu como ponto central a busca da eficiência, mas de uma eficiência que ela própria definiu. E enfatizou bastante um suposto meio de controle, que não passou de mais um órgão administrativo e corporativo interno.

Insiste na propaganda de meios adotados por ela, principalmente o fetichismo informático, como se fossem por si sós finalidades atingidas. Divulga números e mais números de processos e de metas atingidas, como se isso tivesse algum significado material. Aponta como causas de quaisquer problemas as leis, nunca seu próprio funcionamento. E pede sempre mais dinheiro para gastar com salários e prédios faraônicos.

Em um país de 190 milhões de pessoas, por mais que a enorme maioria encontre-se excluída do acesso a uma educação razoável e a informações de qualidade, vai tornando-se difícil enganar a todos apenas com esse envelhecido discurso de metas de eficiência e adoção de processos digitais.

Há um divórcio entre toda essa conversa e a realidade percebida. E, principalmente, há um divórcio entre a maneira que a corporação quer ser avaliada e aquela como deve ser, porque é um órgão do Estado e deve contas ao público pagante.

Considerando-se que a entidade submete-se a todas as regras pertinentes ao serviço público, não é minimamente razoável que rejeite qualquer análise e avaliação, por considerar que bastam-lhes as suas análises e avaliações internas. Essa corporação, enfim, não é imune ao controle social e democrático de suas finalidades e de seus custos.

Na verdade, dá-se precisamente o contrário. Trata-se de um órgão do Estado, investido de amplos poderes de aplicar as leis e muito caro, portanto deve submeter-se aos mais amplos controles democráticos. Não estão imunes esses senhores ao princípio de que às maiores recompensas e aos maiores poderes correspondem as maiores responsabilidades e obrigações de prestar contas.

Todavia, provavelmente a maioria da corporação não perceberá a raiz do seu decrescente prestígio social, porque acha que não depende de qualquer legitimidade popular para seguir seu rumo privilegiado. Continuará a investir em propaganda superficial, que disfarça seu profundo enclausuramento. E continuará a ser mal avaliada sem perceber porque.

As togas afinal parecem-se muito.

Leio, no Público, que o sindicato dos juízes de Portugal acusa o governo de agredir a independência da função judicial. Essa reclamação é sempre a mesma, qualquer que seja o problema.

Quando eles querem falar de dinheiro, falam de independência judicial. Acho que se envergonham de falar abertamente, e sem motivações outras que as pessoais, sobre os salários. Então, caso tenham as remunerações reduzidas ou não as consigam aumentar como querem, acusam os governos de irem contra a independência judicial.

Mas, uma pergunta que devia ser óbvia: o que raio tem a independência judicial com os salários? Afinal, o que é independência judicial? Será algo como a bela situação da justiça e do ministério público espanhóis, revelada pelos comunicados diplomáticos norte-americanos?

Será que não percebem o sabor a chantagem desse tipo de associação? Será que não se dão conta que essa associação equivale a dizer paga-me senão vendo-me?

Se essa lógica é verdadeira, terá que ser também aquela segundo a qual todos os mal-remunerados têm o direito de corromperem-se! E tem outra implicação terrível, de que os mal pagos destinam-se irremediavelmente à dependência, à venalidade.

A parte cômica do negócio são as expressões em linguagem corporativa indecifrável, a provar que o uso do cachimbo entorta a boca. O comunicado do sindicato qualifica a política remuneratória como uma discriminação negativa inqualificável. Pois bem, se é inqualificável, deixemos isso para lá…

D. Duarte afirma que é melhor empréstimo do Brasil que do FMI!

Não havia, até agora, lido uma linha do que pensa D. Duarte. Não sou monárquico, nem deixo de sê-lo, pois não é algo como aderir a uma equipe de futebol. É, antes, uma necessidade ou desnecessidade política, ou seja, algo que pode ter sentido, como tem na Espanha. Para Portugal, hoje, não teria grande serventia, além dos riscos de alguma união dinástica…

Mas, não será por conta da desnecessidade política da monarquia, nem das desconfianças com a figura do herdeiro presuntivo bragantino, que se lhe devam negar as homenagens pela sugestão genial que deu.

Pois D. Duarte afirma que um empréstimo do Brasil a Portugal seria sempre melhor que um do FMI e mais, que o primeiro poderia desempenhar para a CPLP o papel que a Alemanha começa a fartar-se de ter na UE.

É admirável que D. Duarte esteja preocupado com isso, embora sejam idéias muito antigas. Para termos uma noção das diferenças possíveis entre seres aparentados, o fulano Bragança que se diz herdeiro da coroa imperial brasileira ocupa-se em estar presente a eventos de entidades proto-fascistas, a acompanhar-se de dignitários da Opus Dei e a falar de direito natural! Por isso mesmo, não seduz qualquer um, pois é um herdeiro preso a tolices e desassuntos.

Alguém poderá dizer que D. Duarte repete obviedades. A grandeza, todavia, está precisamente nas obviedades que a maioria julga inexistências. Ele diz, por exemplo, que Angola pode vir a ser, futuramente, o que o Brasil será brevemente, ou seja, uma potência econômica.

O Brasil tem  capacidade de ser o motor do desenvolvimento económico de todos os países lusófonos. Dito assim, parece singelo, perceptível em números, mas quem o haveria de dizer? Lançou, ou relançou, o grande projeto, o único afinal que faz sentido para a lusofonia.

Wikileaks e Brasil, um texto de Natália Viana.

Fui convidada por Julian Assange e sua equipe para trazer ao público brasileiro os documentos que interessam ao nosso país. Para esse fim, o Wikileaks decidiu elaborar conteúdo próprio também em português. Todos os dias haverá no site matérias fresquinhas sobre os documentos da embaixada e consulados norte-americanos no Brasil.

Por trás dessa nova experiência está a vontade de democratizar ainda mais o acesso à informação. O Wikileaks quer ter um canal direto de comunicação com os internautas brasileiros, um dos maiores grupos do mundo, e com os ativistas no Brasil que lutam pela liberdade de imprensa e de informação. Nada mais apropriado para um ano em que a liberdade de informação dominou boa parte da pauta da campanha eleitoral.

Buscando jornalistas independentes, Assange busca furar o cerco de imprensa internacional e da maneira como ela acabada dominando a interpretação que o público vai dar aos documentos. Por isso, além dos cinco grandes jornais estrangeiros, somou-se ao projeto um grupo de jornalistas independentes. Numa próxima etapa, o Wikileaks vai começar a distribuir os documentos para veículos de imprensa e mídia nas mais diversas partes do mundo.

Assange e seu grupo perceberam que a maneira concentrada como as notícias são geradas – no nosso caso, a maior parte das vezes, apenas traduzindo o que as grandes agências escrevem – leva um determinado ângulo a ser reproduzido ao infinito. Não é assim que esses documentos merecem ser tratados: “São a coisa mais importante que eu já vi”, disse ele.

Não foi fácil. O Wikileaks já é conhecido por misturar técnicas de hackers para manter o anonimato das fontes, preservar a segurança das informações e se defender dos inevitáveis ataques virtuais de agências de segurança do mundo todo.

Assange e sua equipe precisam usar mensagens criptografadas e fazer ligações redirecionados para diferentes países que evitam o rastreamento. Os documentos são tão preciosos que qualquer um que tem acesso a eles tem de passar por um rígido controle de segurança. Além disso, Assange está sendo investigado por dois governos e tem um mandado de segurança internacional contra si por crimes sexuais na Suécia. Isso significou que Assange e sua equipe precisam ficar isolados enquanto lidam com o material. Uma verdadeira operação secreta.

Documentos sobre Brasil

No caso brasileiro, os documentos são riquíssimos. São 2.855 no total, sendo 1.947 da embaixada em Brasília, 12 do Consulado em Recife, 119 no Rio de Janeiro e 777 em São Paulo.

Nas próximas semanas, eles vão mostrar ao público brasileiro histórias pouco conhecidas de negociações do governo por debaixo do pano, informantes que costumam visitar a embaixada norte-americana, propostas de acordo contra vizinhos, o trabalho de lobby na venda dos caças para a Força Aérea Brasileira e de empresas de segurança e petróleo.

O Wikileaks vai publicar muitas dessas histórias a partir do seu próprio julgamento editorial. Também vai se aliar a veículos nacionais para conseguir seu objetivo – espalhar ao máximo essa informação. Assim, o público brasileiro vai ter uma oportunidade única: vai poder ver ao mesmo tempo como a mesma história exclusiva é relatada por um grande jornal e pelo Wikileaks. Além disso, todos os dias os documentos serão liberados no site do Wikileaks. Isso significa que todos os outros veículos e os próprios internautas, bloggers, jornalistas independentes vão poder fazer suas próprias reportagens. Democracia radical – também no jornalismo.

Impressões

A reação desesperada da Casa Branca ao vazamento mostra que os Estados Unidos erraram na sua política mundial – e sabem disso. Hillary Clinton ligou pessoalmente para diversos governos, inclusive o chinês, para pedir desculpas antecipadamente pelo que viria. Para muitos, não explicou direto do que se tratava, para outros narrou as histórias mais cabeludas que podiam constar nos 251 mil telegramas de embaixadas.

Ainda assim, não conseguiu frear o impacto do vazamento. O conteúdo dos telegramas é tão importante que nem o gerenciamento de crise de Washington nem a condenação do lançamento por regimes em todo o mundo – da Austrália ao Irã – vai conseguir reduzir o choque.

Como disse um internauta, Wikileaks é o que acontece quando a superpotência mundial é obrigada a passar por uma revista completa dessas de aeroporto. O que mais surpreende é que se trata de material de rotina, corriqueiro, do leva-e-traz da diplomacia dos EUA. Como diz Assange, eles mostram “como o mundo funciona”.

O Wikileaks tem causado tanto furor porque defende uma ideia simples: toda informação relevante deve ser distribuída. Talvez por isso os governos e poderes atuais não saibam direito como lidar com ele. Assange já foi taxado de espião, terrorista, criminoso. Outro dia, foi chamado até de pedófilo.

Wikileaks e o grupo e colaboradores que se reuniu para essa empreitada acreditam que injustiça em qualquer lugar é injustiça em todo lugar. E que, com a ajuda da internet, é possível levar a democracia a um patamar nunca imaginado, em que todo e qualquer poder tem de estar preparado para prestar contas sobre seus atos.

O que Assange traz de novo é a defesa radical da transparência. O raciocínio do grupo de jornalistas investigativos que se reúne em torno do projeto é que, se algum governo ou poder fez algo de que deveria se envergonhar, então o público deve saber. Não cabe aos governos, às assessorias de imprensa ou aos jornalistas esconder essa ou aquela informação por considerar que ela “pode gerar insegurança” ou “atrapalhar o andamento das coisas”. A imprensa simplesmente não tem esse direito.

É por isso que, enquanto o Wikileaks é chamado de “irresponsável”, “ativista”, “antiamericano” e Assange é perseguido, os cinco principais jornais do mundo que se associaram ao lançamento do Cablegate continuam sendo vistos como exemplos de bom jornalismo – objetivo, equilibrado, responsável e imparcial.

Uma ironia e tanto.

*Natália Viana é jornalista e colaboradora do Opera Mundi

Violência no Rio de Janeiro.

Antes de dizer qualquer coisa sobre os conflitos violentos entre polícia e fuzileiros navais e traficantes de drogas ilícitas, no Rio de Janeiro, convém apontar que este tipo de embate não é novidade, convém lembrar que já houve outro muito pior, em São Paulo, e convém ter reservas com a espetacularização mediática.

Não se trata de negar a gravidade das coisas, nem os fatos em si. Mas, de lembrar que, em maio de 2006, a banda criminosa PCC promoveu ataques em São Paulo de maior intensidade, que resultaram em 490 assassinatos, promovidos como resposta policial. Um morticínio indiscriminado que vitimou quem estivesse pela frente. Como foi praticado em zonas pobres, quem estava pela frente eram os pobres, que não são todos associados a quadrilhas de criminosos. Pena de morte ilegal e censitária, portanto.

A imprensa divulgou – embora com menos ênfase que hoje – os resultados dos ataques. Não se interessou muito, todavia, com os resultados brutais da repressão aleatória, que vitimou uma imensa maioria que nada tinha com a estória. Agora, neste caso do Rio de Janeiro, insiste-se bastante na ação repressiva, que acarretou até o presente em torno a 30 mortes.

Esta ação coordenada da polícia do Rio de Janeiro e da infantaria da Marinha – os fuzileiros navais – foi muito mais precisa e direcionada aos criminosos somente. Pode ser muito escandaloso o desfile de carros blindados armados de metralhadoras .50, mas é inegável que não consistiu em um morticínio aleatório de quantos estivessem na linha de tiro de policiais fora de controle.

Os resultados previsíveis são uma migração dos traficantes de entorpecentes ilícitos para regiões mais periféricas do Rio de Janeiro, pois eles não vão se desmaterializar, nem serão todos eliminados. Serão tangidos para espaços mais afastados da cidade e, sob essa perspectiva fica claro que o problema fica adiado e afastado geograficamente do centro mais evidente, apenas.

Todavia, violência por violência, já houve maior e com resultados piores, imputáveis aos agentes do estado, como no caso de São Paulo.

Onde houver um mercado consumidor de psicotrópicos ilícitos haverá oferta deles. Se essa oferta é maior ou menor, isso terá reflexos somente nos preços, que são a forma clássica de ajuste entre demanda e oferta.

A ilegalidade do comércio e do consumo d´algumas substâncias psicotrópicas não resulta na diminuição de sua demanda. Isso, dizem todos os números e pesquisas feitos a respeito. A ilegalidade é, sim, um aumento do custo da atividade, que é repassado ao consumidor final. Com efeito, subornos, armas e balas compõem o custo dos entorpecentes ilícitos e são repassados aos destinatários finais.

Está claro que a repressão a ataques criminosos, praticados contra pessoas e bens, privados e públicos, é dever do estado e deve ser levada a cabo. Dar salvas de tiro morro abaixo, incendiar carros, caminhões e ônibus, bloquear vias públicas, assaltar estabelecimentos comerciais, tudo isso são crimes a serem reprimidos. E a repressão deve ser intensa e bem coordenada, servindo-se de meios proporcionais.

Todavia, esse tipo de problema não deixará de ocorrer se o centro da questão não for abordado. Se a venda de algo que se quer comprar for ilegal ela persistirá e atrairá a violência. Se ela for legal, ocorrerá da mesma forma, mas sem a violência, liberando o estado para ocupar-se do real problema, que é de saúde pública.

Realmente, apenas uma mente profundamente deformada acreditaria que a legalização dos entorpecentes ilícitos teria o efeito de aumento no consumo. Eles são consumidos livremente e, no fundo, isso é uma questão de liberdade. Sucede o mesmo com o jogo de azar que, quando e onde é proibido, continua a ser praticado e oferecido, apenas que clandestinamente e mais caro.

É uma estupidez profunda – exceto para quem vive de vender armas e terror – fazer de um conflito comercial uma guerra aos tiros. Grupos que disputam mercado de entorpecentes ilícitos devem ser levados a disputarem espaço como o disputam redes de supermercado, não como gangues que resolvem seus problemas à bala.

Do ponto de vista do problema imediato – traficantes lançando ondas de ataques e roubos indiscriminados – a reação policial e militar é a postura correta e a forma como fez-se agora no Rio tem sido superior a outras ocasiões. Mas, a médio e longo prazo, a coisa tende a repetir-se, apenas em circunstâncias geográficas distintas.

Não basta que o estado aumente sua presença nas zonas mais pobres, onde atuam as gangues criminosas, será preciso deixar para o código penal o que é crime, ou seja, não criar mais problemas. Por que essa estória de guerra e mata-mata é burrice. Enquanto houver um bom negócio haverá quem o queira fazer, assumindo os riscos. Então, o mata-mata teria que ser constante.

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