Não foi um jornalista ou um escrevedor sem maiores compromissos políticos que disse uma grande verdade. Foi o primeiro-ministro da Turquia, em visita a Paris, a dizer o óbvio, sem meias palavras e com fundamentos. Não é algo desprezível, considerando-se que a Turquia é aliada de Israel e que os chefes de estado e de governo têm um pacto implícito com o eufemismo e a hipocrisia. É do trabalho deles, enfim.
Se um país recorre à força de maneira desproporcional, na Palestina, em Gaza, usa bombas de fósforo, não vamos dizer parabéns. Vamos lhe perguntar por que age dessa maneira. Houve um ataque que deixou 1.500 mortos e os motivos apresentados são falsos.
A Turquia é um precioso aliado do estado israelense e uma das chaves disso é que a escassa água que corre na Palestina vem precisamente de cima, dos vizinhos turcos. O primeiro-ministro avançou uma interessante posição no jogo para entrar na UE, pois a crítica explícita a Israel insere-se nesse contexto também. Vejamos se o senhor Sarkozy e a senhora Merkel terão habilidades suficientes para o assunto.
Não vi a partida, que estava trabalhando. Mas, vi a notícia e os vídeos dos gols de Messi, hoje, contra o Arsenal, pelos quartos de final da Liga dos Campeões. O Barcelona desmontou o Arsenal, em um 4×1, com todos os gols marcados pelo artista argentino. Contenho-me para não começar a alinhar os lugares-c0muns usados para essas exibições fora do habitual.
Se o treinador da seleção nacional argentina fosse Pepe Guardiola, eu me arriscaria a dizer que seriam os vitoriosos do mundial deste ano. Mas, Maradona, o treinador, é inteligente, ao contrário do que pretendem seus críticos. Penso que tentará deixar Messi jogar da maneira mais próxima ao que faz no Barcelona. Se assim acontecer…
Além da beleza em si do futebol de Messi, esse tipo de atuação deixa-me empolgado por outras razões. Põe por terra a chatice do futebol pensado apenas a partir da compra e venda de futebolistas milionários. Claro que Messi recebe uma salário milionário, mas sua trajetória no Barcelona é um caso de desenvolvimento de longo prazo.
Outra chatice que é abalada – porque essa afinal nunca cede totalmente – é do futebol burocrático, de modelo italiano, focado no resultado, ainda que seja por um mísero gol. Ora, eu quero é ver espetáculo, beleza, muitos gols e isso Messi e o Barcelona oferecem. Que se cuide o Real Madrid e seus meninos mimados!
1: Tanga (Angola): Pano, capa. (dicionário Kimbundu-Português coordenado por J.D. Cordeiro da Matta) Tanga (Brasil): Espécie de avental com que certos povos primitivos cobrem o corpo desde o ventre até as coxas. (dicionário da língua Portuguesa de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira)
2: Kitanda (Angola): Feira, mercado. (Dicionário de Kimbundu-Português coordenado por J.D. Cordeiro da Matta) Quitanda (Brasil): Pequeno estabelecimento onde de vendem frutas, legumes, cereais,etc. (Dicionário da Língua Portuguesa de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira)
3: Mbunda (Angola): Trazeiro, nádegas, saracoteio. (Dicionário de Kimbundu-Português coordenado por J.D. Cordeiro da Matta)
Obs:O N e o M antes de consoantes, tem somente a função de anasalar estas consoantes. Bunda (Brasil): As nádegas e o ânus. (Dicionário da Língua Portuguesa de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira)
Todos direto do site de Dulce Braga, uma angolana que passava férias de verão em Portugal, radicada no Brasil dois meses depois da Revolução dos Cravos em Portugal, e dois meses antes do dia da independência de Angola. Que acaba de escrever um livro contando parte dessa história, Sabor de Maboque, uma fruta que tem um aspecto interessante e sem dúvidas, dá vontade de provar…
Suponha que eu compre uma barra de chocolate. Essa tal barra de chocolate com a qual eu iria me deliciar, está mofada. Tudo certinho, dentro da validade, na embalagem, mas mofada… E quando eu abro a embalagem com uma baita fome, ou vontade de comer o tal chocolate, que seja, descubro o mofo, oras, há suposições possíveis aqui, posso comprar outra barra de chocolate em algum lugar, caso tenha algum dinheiro sobrando, ou esperar para comer algo que me apeteça depois (ou não), com alguma paciência e alguma raiva.
Seria lógico então que, caso andando pela rua uma outra vez, não comprasse o chocolate no mesmo lugar, ou evitasse comprar aquela marca de chocolate. Seria mesmo lógico que eu diria a conhecidos, nas situações pertinentes, que não comprassem seus chocolates naquela loja, e que tambem não comprassem determinada marca.
Bem, agora imaginando que não seja um chocolate, e sim algo de maior valor pecuniário, é aumentada a possibilidade de eu ficar com fome, certamente a depender de meus gostos, com mais ou menos paciência, e mais ou menos raiva, também dependendo do valor.
Pois se isso acontece com um carro, a minha fome será uma certeza, tendo em vista que não tenho dinheiro pra comprar nem um carro, quem dirá dois. Então se eu vou comprar um carro, e descubro ao tirá-lo da embalagem que o mesmo está mofado, pronto, fiquei sem o carro. Pois bem, vou eu dizer que não comprem naquela loja, ou avisar aos outros que não comprem carros de determinada marca. E tudo bem não? Não!
No ano passado, em Portugal, tive a percepção de que muitas pessoas viviam além de suas posses. Apenas uma reunião de indícios, de impressões, nada, enfim, de científico ou fundado em pesquisas. Mas, bastava observar a voracidade com que se adquiriam os telemóveis e os computadores portáteis mais novos, os automóveis mais recentes, os lançamentos imobiliários. Por outro lado, as rendas do trabalho permaneciam bastante deprimidas, comparando-se à Espanha, por exemplo.
Quer-se consumir como o restante da Europa sem, contudo, produzir o equivalente. O ambiente estimula a crença nessa possibilidade. As estradas com portagens, por exemplo, são muito boas e cortam o país todo. Isso leva a crer em um país de automobilistas condutores das mais recentes máquinas. As telecomunicações, também boas e abrangentes, levam o consumidor a crer numa total integração aos padrões de consumo de outros países.
Leio, no DN, que o endividamento médio do português vai a € 18,3 mil euros, frente à banca estrangeira. E que essa dívida representa 111,7% da riqueza produzida pelo país, ou seja, que o pais está hipotecado aos bancos. Ora, não é exclusividade de Portugal dever mais do que produz e há variados exemplos disso. Os mais eloquentes veem dos EUA, que devem mais do que têm. Acontece que eles também possuem, a par com toda a dívida, as maiores forças armadas do mundo e isso permite a festa.
Uma das infâmias mais repetidas é que tudo está à venda, variando-se apenas os preços. Ora, muita coisa está, sim, à venda, mas não tudo. Chega a ser bastante arrogante enunciar uma verdadeira lei – o que acontece com uma proposição que tenha sempre ou tudo – reveladora das propensões humanas, sem exceções. Nem tudo está à venda, na verdade.
É desconcertante para as pessoas que vivem a precificar tudo constatar que as vontades podem reger-se por mais que regras de comércio. Perdem a certeza que tinham da existência de uma regra válida, imutável e segura, que pusesse as reações humanas como pressões por recompensas, apenas.
Quando alguém tem um comportamento que desmente a regra do tudo está à venda, é considerado louco, em maior ou menor grau. Essa é a única porta de saída aberta pelo sistema social. Para manter válida a norma e não tirar o chão debaixo dos pés das pessoas, os comportamentos que a contrariam são tachados de loucura. Pode ser diretamente, ou por meio de insinuações.
O indivíduo da fotografia acima desvendou a Conjectura de Poincaré, e desenvolveu uma solução algébrica que tornou-a em teorema. Esse problema era considerado um dos sete maiores do século e, por isso, o Instituto de Matemática de Clay instituiu um prêmio de um milhão de dólares para quem o resolvesse.
Grigory Perelman desdenhou do prémio que lhe foi atribuído e não o fez porque já fosse rico e por isso não precisasse do dinheiro. Em outra ocasião ele deixou de ir a uma cerimônia em que seria homenageado e agora, quando jornalistas do Daily Mail o procuraram para falar do assunto, nem abriu a porta e disse tenho tudo que quero.
Ele representa a grande ameaça. Enquanto é um ou são dois ou três, deixam-se ficar com o rótulo de loucos que não gostam de dinheiro. O rótulo anuncia-se discretamente por meio da enumeração de pequenos fatos denunciadores de excentricidades. Mas, se o número dos excêntricos se multiplica, há reação e de loucos passam a subversivos que devem ser eliminados.
Quando a regra é a vida privada exposta a preço certo, a indignidade elevada a norma, a competição selvática por duas moedas de prata, o despudor, um fulano que simplesmente não está interessado em um milhão de dólares, nem em dar entrevistas a jornais é uma exceção valorosa.
Uma notícia diz que dois moradores de rua foram mortos a pauladas, ontem à noite, na Praça Presidente Kennedy, na cidade de São Paulo. Não é a primeira vez que isso ocorre. E não é apenas em São Paulo que acontecem barbaridades como essas.
A violência extrema é praticada tanto horizontalmente, como verticalmente e essa constatação é assombrosa. Horizontalmente quer dizer na mesma classe ou no mesmo grupo. Moradores de rua brigam e matam-se por insignificâncias aparentes, por pequenas dívidas de álcool ou drogas ilícitas, por espaço. De certa forma, reproduzem nos estratos mais baixos o que se passa nos mais altos.
Verticalmente a violência pratica-se de forma quase lúdica, de cima para baixo, socialmente. Alguns agressores assimilaram a noção que o predomínio sócio-econômico autoriza a prática da violência contra os inferiores nessa escala. Isso reproduz um comportamento animal, ou seja, de relações predador-vítima, mas entre seres que são racionais.
A propósito da violência lúdica vertical, há espaço para lembrar um episódio que se deu em Brasília, há treze anos. Em 1997, cinco jovens de classe alta de Brasília, atearam fogo em um índio pataxó – Galdino Jesus dos Santos – que dormia em uma praça na capital da república. Ele morreu queimado.
A ONU divulgou esta semana um relatório afirmando que a falta de água limpa mata 2,2 milhões de pessoas e cerca de 1,8 milhão de crianças com menos de 5 anos de idade, anualmente. A causa da poluição é o despejo de resíduos sólidos que chegam a contaminar 2 bilhões de toneladas de água diariamente. As consequências diretas são o envenenamento da vida marinha e a contaminação de doenças.
A maior parte do despejo de resíduos acontece nos países em desenvolvimento: 90% do esgoto sem tratamento é lançado em rios e mares.
Agora pare e lembre daquele seu vizinho que usa água potável para lavar a calçada ou para abaixar a poeira da rua. Estamos bem, não estamos?
Pior que isso, ver que é um pensamento comum, principalmente entre o que imagino serem os envolvidos nessa notícia, adolescentes, mais sugestionáveis, e que aceitam mais facilmente paradigmas simples, a idéia de que “bandido bom é bandido morto” entra mais facilmente, até que ele mesmo se torna assassino… E agora?! Se matar? Ou mesmo matando ele não se tornaria assassino…???
Esse pensamento, e outros como esse, imperam nas mentes adolescentes, se a justiça der a punição cabível, de acordo com os acontecimentos, aos culpados pela morte, talvez o resto “dessa turma” específica de amigos, aprenda algo, e se não, pois nada, continuamos na barbárie. Aliás, o problema é bem maior, afinal, isso só resolveria o problema dessa turma, temos bem mais adolescentes no país, e esse povo, em algum momento vai ficar adulto. Com a educação que temos, recomendo a compra de suas armas, proteção pessoal vai ser cada vez mais, um problema bem objetivo, quando a classe média resolver matar por direito.
Marcelo Camelo fala um pouco sobre o assunto, sem a intimidade técnica, e por isso mesmo, acredito eu, com mais clareza:
Eles arriscaram, ganharam, perderam e começaram a perder mais. Foram-se aos Estados, quero dizer, aos políticos que conduzem os Estados, e pediram socorro. Os tais políticos agiram rápido, saquearam os cidadãos, de forma bem igualitária, e salvaram os bancos dos erros deles mesmos.
Se, durante o auge da festa, ou seja, antes da quebra evitada com dinheiro de todos, alguém dissesse que os bancos faziam avaliações de risco erradas, seria crucificado e coberto de infâmia por quatro gerações. Eles, os bancos, não podem errar, pois balizam-se pelas idéias liberais puras, ou seja, pela livre iniciativa, pela tomada de riscos, pela noção que o mercado premia os acertos e extirpa os erros.
O mercado não faz isso. Fazem-no os Estados. Premiam, tanto os acertos, quanto os erros dos bancos. Todavia, as populações, essas são punidas, tanto pelos acertos, quanto pelos erros dos bancos. A invocação da teoria econômica liberal pelos bancos é a mais pura desfaçatez que se tem visto, pois conseguiram operar em um esquema de sempre ganhar, ou seja, a própria negação do que dizem.
O que vem ocorrendo com a Grécia é exemplar. Não faço aqui qualquer elogio à condução das finanças estatais gregas, apenas algumas constatações. A seita bancária que atende pelo nome de Goldman Sachs ajudou o governo grego a fraudar seus números de endividamento público. É, no mínimo, partícipe da infração às normas comunitárias. Evidenciado o problema, o que acontece?
Acontece que a Grécia tem que cobrar de sua população o pagamento da conta e cobrá-la exatamente dos mais pobres. E acontece que o Goldman Sachs segue sua trajetória e paga bônus e premiações aos seus acionistas e dirigentes, como se tivessem produzido a mais bela obra de atividade bancária. Não nego que uma fraude tão bem elaborada seja uma bela obra, abstraindo-se de considerações axiológicas. Mas, também não ignoro que se essa bela obra fosse de outra autoria, que não de um banco, seria considerada um pecado mortal.