Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

Categoria: Infâmias (Page 14 of 20)

Dom Aldo Pagotto, um assessor de Torquemada misturado com filósofo de botequim.

O Bispo de João Pessoa, na Paraíba, Dom Aldo Pagotto, dispôs-se ao ridículo papel de gravar um vídeo – está no youtube, para quem quiser ver e ouvir tolices em tom solene – em que se diz preocupado com a candidata Dilma Roussef, que pretende alterar as bases do cristianismo e da família.

Não sei em que proporções Dom Aldo mistura presunção, ignorância e má-fé, que todos esses fatores podem estar presentes ao mesmo tempo. Na verdade, os dois primeiros geralmente apresentam-se em relações mútuas de causa e efeito. O terceiro é uma possibilidade.

Dizer que a candidata quer alterar as bases do cristianismo é presunção dele a supor uma presunção enorme dela. É ignorância profunda dele sobre as proposições de uma candidatura que não dedicou uma mísera linha de seu programa de governo a temas religiosos.

Dom Aldo joga ao lado daqueles que deixaram há muito as preocupações que caberiam a um Príncipe da Igreja, para servir a uma estratégia eleitoral baseada no terrorismo obscurantista que ficaria bem situada cronologicamente há mil anos. Na verdade, isso é preciosismo meu, porque atitudes como essas são deslocadas de historicidade. Dom Aldo poderia integrar a recente Igreja Argentina, aquela que abençoou e tomou parte ativa ao lado de uma ditadura que matou 30.000 pessoas, incluindo uma e outra freira francesa.

O único programa de governo que mencionou algum aspecto sensível às religiosidades foi o do PV, partido que é legenda anexa ao PSDB, pelo qual disputou o primeiro turno a candidata Marina Silva. O programa defendia a ampliação das possibilidades do aborto, o que é curioso em proposta de uma candidata evangélica, que provavelmente não leu programa algum.

Os programas de governo de Dilma Roussef e de José Serra simplesmente não falam do assunto aborto, tema subitamente alçado aos píncaros da importância para os destinos do país! Os propagandistas do Serra resolveram fazer disso um convite à radicalização e à abordagem da eleição a partir de um viés fundamentalista.

Isso prova a essencial indignidade e o oportunismo rasteiro da campanha de José Serra, que ataca Dilma por algo que ela não propôs! Ou seja, para acusar basta querer fazê-lo e ter o auxílio de alguns Aldos Pagottos, não sendo necessário que a acusação tenha qualquer pertinência com a realidade.

O mesmo Dom Aldo, que se acha importante a ponto de ler um comunicado com voz de locutor de rádio, em que anuncia que Dilma visa a por em risco as bases do cristianismo, ou seja, superestimando a si e ignorando o programa da candidata, é objeto de uma carta escrita por vários leigos, religiosos, diáconos e presbíteros, dirigida ao Núncio Apostólico no Brasil e ao Presidente da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil.

Na carta, os signatários apontam, basicamente, que Dom Aldo tem reiterados e documentados atos de preconceito em relação aos pobres. Que tem atitudes de desdém ou de humilhação relativamente a todas as iniciativas que se refiram a comunidades pobres. Que viola os deveres de discrição de prudência, indo a meios de comunicação de massas tratar de assuntos que não se referem diretamente à Igreja Católica.

É curioso que esse tipo de sacerdote caracterizado pela aversão aos pobres e subserviência aos mais ricos geralmente justifica-se pela separação das instâncias religiosa e política. Não obstante, em flagrante contradição, eles prestam-se a papel político ativo. Ou seja, eles, na verdade, não acreditam na separação que preconizam, apenas utilizam-na como desculpa.

Aborto: Bispos brasileiros deixam-se instrumentalizar politicamente.

Primeiramente, deve-se dizer que nenhum dos dois candidatos à presidência propõe a legalização ampla do aborto. Ambos propõem o óbvio, ou seja, que seja dada assistência médica no serviço público às mulheres que necessitarem dela, seja em decorrência de complicações no aborto, seja para realizá-lo nas hipóteses legalmente previstas – risco de vida, por exemplo.

Em segundo lugar, é preciso deixar claro que o Ministério da Saúde tem normas para tais atendimentos e que muitas delas foram editadas por José Serra, o candidato que, hoje, de forma canalha, torna essa bobagem em convite à ressureição de Torquemada. Serra foi ministro da saúde no governo de Fernando Henrique Cardoso e tratou da questão de forma clara e correta. Hoje, serve-se do tema para fazer terrorismo político religioso e assustar as massas.

Muitos religiosos, de várias denominações, prestaram-se ao infamante papel de ser instrumento de campanha para Serra, repercutindo mentiras e instilando um medo infundado. Se eles querem ter uma postura pública contra qualquer hipótese de aborto, inclusive quando há risco para a gestante e quando a gestação decorre de estupro, que o façam, fortes na sua estreiteza mental.

Se querem ser contra o aborto em qualquer hipótese, movam uma campanha contra a lei que o permite em algumas poucas situações. Mas, não movam uma campanha contra uma candidata que não disse o que afirmam ter dito. Isso é pusilanimidade e aceitação do papel de instrumentos de campanha.

Meia dúzia de bispos brasileiros, príncipes da Igreja, prestaram-se a esse papel de propagandistas políticos, papel muito desconforme ao que se supõe serem as atribuições e o nível de conhecimentos de um Bispo. Eles sabem ler, então duas conclusões são possíveis: ou não leram os programas e falam contra de forma leviana, ou leram e movem-se por má-fé deliberada.

Essa é uma falsa polêmica, criada artificialmente para atingir a candidata Dilma Roussef. Além da candidata nunca ter falado em propor a legalização ampla do aborto, essa é uma matéria afeta ao parlamento. E do parlamento ninguém fala!

O melhor comentário sobre essa patifaria toda em torno ao aborto e ao que não se disse sobre ele, fez Severiano. Ele disse que se os homens engravidassem ninguém perderia um segundo a contestar a possibilidade de aborto, que em uma sociedade profundamente machista como essa, nunca se negaria uma vontade masculina. É isso mesmo.

Israel sendo legítimo filho de Josué.

Os meninos palestinos apedrejavam carros, em Jerusalém. A reação que o israelense condutor do carro nas fotografias acima julgou adequada foi atropelar os meninos.

Atacar o infiel é servir a Deus. O absoluto não se atem a coisas relativas, como a proporcionalidade, por exemplo. Então, a conduta do israelense é inculpável, pouco importando que o carro tenha 1.500 kg e a pedra 100 g.

Eles são coerente consigo próprios, têm que viver o tudo ou nada, têm que fermentar o ódio de cada nova geração, têm que viver Masada novamente.

Jogo muito sujo do Serra.

Não acho beleza ou sofisticação nos argumentos tu quoque, que nem argumentos são, a rigor. Entre duas pessoas que tenham algum respeito por si e pelo interlocutor e não dissimulem, raramente uma objeção deste tipo será usada, porque serão improváveis situações limites que a recomendem.

Isso acontece entre particulares que se supõe discutem honestamente e um nível de clareza relativamente alto. Política, todavia, é outra esfera. Não que seja uma esfera onde tudo é permitido, ou onde funcione aquele eufemismo weberiano para o vale-tudo. É outra esfera em relação ao primeiro exemplo porque é pública e porque muitos estão quase sempre dissimulando e mentindo. Então, a objeção tu quoque tem muita serventia.

José Serra buscou fazer terrorismo contra Dilma Roussef dizendo que ela aprovará o aborto no Brasil. A estratégia visa a obter os votos dos religiosos cristãos praticantes.

Ora, o aborto no Brasil é materialmente uma realidade. Ademais, é uma prática virtualmente legalizada, inclusive por atos de José Serra quando era ministro da Saúde!

É infame e profundamente vil que Serra utilize o que ele mesmo normatizou como argumento para fazer terrorismo eleitoral, embora não seja surpreendente, vindo de quem vem.

Essa postura não tem paralelo em algumas acusações que se fazem a Serra. Quando se diz, por exemplo, que Serra pretende vender o que resta de patrimônio público é porque ele e o grupo de que fez parte realmente vendeu o que podia na ocasião. E quem acusa não fez o mesmo, portanto não está sujeito ao tu quoque.

As tentativas de suavizar a patifaria terrorista serrista baseiam-se na superficial idéia de que todos são no fundo iguais, embora não sejam. Idéia aparentada a tolices diversas que pretendem desprestigiar a política, afirmar a inexistência de ideologias e reduzir tudo a um discurso gerencial de manual de graduação.


A classe média brasileira. O tempo passou na janela e só Carolina não viu.

Esse grupo social, particularmente a classe média alta, é um poço de aviltamento, superficialidade, arrogância, crença de que o mundo foi criado para agradar-lhe os gostos, ausência de responsabilidade, e uma profunda auto-confiança que somente uma profunda ignorância pode permitir.

Não percebe que existe em articulação com outros grupos sociais e comporta-se como se os outros grupos existissem em função dela. Na verdade, parece crer que todas as coisas foram dispostas tomando-a por centro de gravidade e referência. Que tudo existe contra ou a favor de seus interesses, que tudo deve ser-lhe perguntado.

Criado o mundo para acolher-lhe e agradar-lhe, é de esperar-se que não acredite em instabilidade, em possibilidade de mudança. É de seu feitio não compreender que os equilíbrios são muito mais tênues do que parecem, que resultam de jogos de forças muito intensas e dispersas e que tudo pode ruir facilmente.

É incapaz de gratidão, pois sua atitude mental é fundada em uma deformação que chamam mérito, embora com ela não se ganhem guerras, não se projetem aviões, nem se descubram penicilinas. É incapaz de respeito e de magnanimidade, porque mede tudo com sua régua pequena, que não é medida na escala do excelente.

Arremeda modos e costumes que reputa distintos, embora de elegância não tenha a mínima noção. Desconhece a proporção e a espontaneidade, que vai substituindo por uma representação que, de tão acostumada, torna-se sua profunda realidade. Uma realidade feita de imitações.

Tem uma biblioteca que não lê, porque é chique tê-las e, ler ou não, é um detalhe. Tem um e outro intelectual de frases feitas de estimação, porque é chique cultivar a excentricidade vazia. Tem um acervo de fotografias em Paris e Londres, embora a loja sem impostos do aeroporto tenha sido o seu local preferido.

Não tem memória e reputa desnecessário tê-la. Essa é sua pior característica, embora não seja a mais irritante ou mais evidente. Essa aversão pela memória torna-a vil a ponto de deixar-se subornar e sinceramente esquecer-se disso. E não entrega o que vendeu porque simplesmente acha que não fez negócio algum.

Nesse sentido, é incorruptível, não porque honorável, mas porque supõe que os subornos foram presentinhos merecidos. De tão impermeável e segura de ser merecedora de tudo, gratuitamente, dá-se ao espetáculo de ser comprada escancaradamente e não perceber, nem a piada, nem o aviltamento.

Quando mostra-se surpresa por alguma coisa, não é porque surgiu algo novo e imprevisto. É porque surgiu algo longamente gestado, bem em baixo de seus olhos, mas que ela não viu, porque sua janela é um espelho. Ela é Carolina da música de Chico Buarque, para quem o tempo passou na janela e só ela não viu. E depois guarda mais que dor, guarda rancor.

Perderão sem saber porquê. Ou, mais do urubu com raiva do boi.

Acontece-me de seguir minhas leituras de Ortega y Gasset e acha-lo sempre claro e, mais importante, intelectualmente honesto. Além de obrigar-me a pensar, melhoro minha compreensão do castelhano, porque só o encontro nesta língua. Leio ainda mais detidamente, portanto.

A décima nona edição de Espanha Invertebrada é de 1934, portanto de uma das épocas mais convulsivas da história espanhola, precedente à Guerra Civil. Esse período não tem relações com o atualmente vivido no Brasil, embora um e outro aspecto possam ter paralelismos.

Interessante é que a análise da atuação das forças vitais de um país tem linhas de generalidade suficiente para conformarem um modelo. E, assim conformadas, são uma maneira de abordagem utilizável. O autor percebeu que a desagregação originava-se de uma intensa compartimentação dos grupos, de uma compartimentação excludente.

Em certo momento, o padre falava para o paroquiano, o militar para o militar, o advogado para o advogado, o engenheiro para o engenheiro e o trabalhador para o trabalhador. Ao mesmo tempo, todos comportavam-se como vencedores, não como lutadores. São posturas muito diversas, realmente.

O triunfante não precisa lutar, não reconhece perigos, não reconhece que seu triunfo possa não ocorrer, não reconhece que precisaria buscar adesões para obtê-lo. Pensa que ele existe por si e, por isso mesmo, fala para si, não para trazer outros à luta que antecede a qualquer triunfo.

Em certo ponto, a costumeira agudeza orteguiana vai a ponto extremo. No capítulo Pronunciamientos, ele trata de uma coisa  então comum, em Espanha. Um e outro sujeito, representante de algum dos grupos sociais estanques, resolve pronunciar-se. Não o faz como a oferecer à análise, à consulta e à adesão um projeto. Fá-lo para transbordar idéias suas e só suas e de meia dúzia de idênticos.

O autor do pronunciamiento está convencido de que diz o que todos pensam, porque acha que todos pensam igual a si. Daí, não convida os outros àlguma construção, pensa estar a desvelar alguma unanimidade silenciada. O trecho adiante tem muito de aclarador e de violento diagnóstico:

Aquellos coroneles y generales, tan atractivos por su temple heroico y su sublime ingenuidad, pero tan cerrados de cabeza, estaban convencidos de su <<idea>>, no como está convencido un hombre normal, sino como sulen los locos y los imbéciles. Cuando un loco o un imbécil se convence de algo, no se da por convencido él solo, sino que, al mismo tiempo, cree que están convencidos todos los demás mortales. No consideran, pues, necesario esforzarse en persuadir a los demás poniendo los medios oportunos; les basta con proclamar, con <<pronunciar>> la opinión de que se trata; en todo el que no sea miserable o perverso repercutirá la incontrastable verdad.

Esse é o estado de espírito dos grupos que perderão as eleições no domingo próximo.  Hoje, crêem que suas proclamações são o que o todo queria dizer ou escutar, mas são apenas as suas. Porque são proclamações, são intrinsecamente excludentes e auto-referentes. São falas de um grupo para ele mesmo, isso em uma realidade muito maior que um grupo.

Quando não resulta que o todo receba tais proclamações como suas verdades próprias, silenciadas mas suas, reputam que o todo é mesquinho, ignorante ou desonesto. Não lhes passa pela cabeça que os outros simplesmente percebam-se outros em face desses discursos proclamadores.

Não percebem que, quando venceram, foi por não terem assumido tal postura proclamadora restritiva. Foi por terem incluído ao seu âmbito de interesses mais interesses que os seus próprios. A política é sedução, mas não de si mesmo, evidentemente. Esgotada a sedução, fenecem os apoios e as possibilidades de sucesso, ao menos segundo as regras vigentes da representação.

Trágico é que não se percebe o esgotamento e então aplica-se o sentimento do urubu com raiva do boi. O pássaro não percebe como pode o grande mamífero herbívoro não querer morrer para servir-lhe de comida!

O problema é a Rede Globo.

Diga-se sem maiores introduções ou arrodeios: para veículos mediáticos como a Folha de São Paulo e a revista Veja, haverá o descrédito e o código penal. Jornais, como é sabido por todos, rumam para falências, umas atrás das outras. Um e outro vão manter-se, desde que busquem algo que parece à maioria desprezível: coerência e menos mentira.

O jornal O Estado de São Paulo parece ter percebido isso. Sempre foi um veículo menos ruim que a Folha de São Paulo, mais claramente direitista e menos adepto do vale-tudo. Esta semana, declarou-se em editorial de postura anti-Lula e, consequentemente, anti-Dilma. Ou seja, deixou a farsa da imparcialidade e adotou a correta afirmação de lado seguido.

Revistas semanais pseudo informativas, como é a Veja, buscam soluções para o colapso na transformação, nada sutil, em revistas de fofocas. Pseudo ciência, falsas novidades, glorificação da tolice, receitas para emagrecer, opiniões de Caetano Veloso sobre as órbitas dos planetas e propaganda partidária é seu receituário.

Além, é claro, de contratos generosos com o governo do estado de São Paulo. Contratos que não despertam a curiosidade, anômima ou declarada, de alguns operosos fiscais da legalidade. Aliás, agora que o jornal Estado de São Paulo afirmou-se partidário de José Serra, com um atraso de muitos anos, será que os diligentes fiscais vão perguntar-lhe se está comprado pelo candidato?

Não acredito que esteja, mas se se pergunta coisa semelhante a uns, convém que se pergunte a todos, apenas para democratizar o absurdo.

Com uma rede de TV aberta as coisas são diferentes, contudo. São concessionárias de um serviço público – radiodifusão de sons e de sons e imagens – e não podem agir ao sabor de seus únicos e exclusivos interesses editorias, embora a impostura lhes faça sorrir e dizer que fazem jornalismo.

É preciso identificar em que consiste o serviço público, quais são suas finalidades, perguntando isso ao público, seu destinatário. Não há outra abordagem possível, se as balizas legais atualmente válidas devem ser levadas em conta. Por outro lado, se é para ter lei no papel mas desprezá-las na prática, pode tudo continuar como está ou mesmo piorar.

É preciso promover a desconcentração da detenção de canais de TV e o estímulo à competição efetiva. É preciso que as concessões tenham prazos mais reduzidos de validade e possam ser renovadas em processos claros, com audiências públicas. É preciso que se veiculem conteúdos propriamente educativos e não apenas entretenimento de baixíssima qualidade, cuja única função e estupidificar os espectadores.

É preciso, enfim, uma legislação como a da Argentina – a Ley de Medios – porque se trata de um serviço público, não porque se queira limitar a liberdade de expressão, como desonestamente apontam as emissoras.

O problema da Veja é de nível, não de opção ideológica.

Direitismo e esquerdismo nada têm, conceitualmente, com banditismo ou mediocridade. Têm com idéias sobre a produção e a repartição dos rendimentos dos fatores de produção empregados, entre seus detentores.

Assim entendidos, em uma quase impossível pureza conceptual, tornam-se categorias ontológicas inconfundíveis com outras, como a moralidade, por exemplo. Claro que a substância teórica de uma e outra ideologia terá aqui e ali aspectos de outras categorias, mas não haverá confusão ou identidade de coisas.

Claro também que direitismo e esquerdismo tomados na sua face teórica são realidades puramente conceituais e que as ações que neles possam-se inspirar serão coisa diversa das mesmas ideologias. Aqui não falo, nem pretendo referir-me ou convidar àlguma abordagem weberiana.

Quero dizer que a ação política inspirada por uma e outra linha ideológica são práticas diversas das inspirações, porque umas são atuações e outras são pensamentos. Assim entendidas as ações, fica ainda claro que ambas podem ter suporte nas teorias em sua mais elevada formulação, ou em substratos dispersos e medíocres, sem reais conexões com os conceitos.

Podem ainda as atuações políticas inspiradas por uma e outra corrente ideológicas desviarem-se para o ilícito, para a mentira. E não há, teoricamente, algo que permita apontar uma inclinação maior ou menor de uma ou outra pelo ilícito, pelo jogo sujo.

Uma publicação como a revista Veja é, antes de tudo, um amontoado de mediocridade, de mentiras, de jornalismo seletivo, de anseio por produzir a imbecilização coletiva. Fixado um propósito, servindo àlgum interesse que a pôs a soldo, faz qualquer coisa que repute necessária à consecução dele.

Pouco importará se afirmará conclusões sem a mínima base fática, pouco importará se lançará o opróbio público sobre quem se sabia ser inocente das acusações, pouco importará se escolherá aspectos fora de contexto para formar uma acusação, pouco importará, afinal, a mentira.

Importará que sirva aos desígnios escolhidos, ainda que passe muito longe do que é jornalismo, embora insista em dizer que está a fazê-lo. Não é um meio para informar, é para incutir uma crença, sob a aparência de extrair conclusões válidas de fatos. Mas, geralmente, fatos não há. E quando deles há, são, ou deformados, ou partidos em sub-fatos cuja dispersão faz um quebra-cabeças impossível de ser montado.

A publicação pensou ser útil ao disfarce de sua infâmia fazer seus defensores – os sabedores da estratégia e os simplesmente bobos e mal-intencionados suficientemente para tomar para si a missão de difundir a tolice – defenderem que se trata de ideologia e moralidade.

Essa estratégia pode revelar-se perigosa para ela, porque identificando mentira, mediocridade e agressividade sem provas com postura ideológica direitista e moralista está a identificar uma forma de pensamento com a estupidez e a brutalidade. Depois de feito o estrago, não quererão ocupar-se em desfazê-lo ou não serão capazes.

Prestam um enorme desserviço à evolução institucional do país, porque não convém que se identifiquem mau-caratismo e falso moralismo com direitismo, porque conceitualmente não se identificam mesmo. Mas, é a trilha que seguem e estimulam seus prepostos, pagos e voluntários, a difundirem essa identificação, como se fosse uma justificativa.

Ora, duas pessoas de ideologias diversas, mas com o mesmo nível de conhecimentos, prezadoras do pensamento aberto e honestas intelectualmente vão entender-se sem precisarem jogar sujo uma contra a outra. As ocasiões em que um direitista e um esquerdistas que preencham os requisitos mencionados encontram-se e conversam sem problemas são muito maiores que se supõe.

Contrariamente, raras serão as oportunidades em que um direitista ou um esquerdista esclarecidos e honestos intelectualmente entender-se-ão com um selvagem do vale-tudo, ignorante das teorias e, principalmente, desonesto nas suas posturas consigo e com os outros. As proximidades, na verdade, só dão-se entre semelhantes e, entre patifes, por exemplo, não há amizade, mas cumplicidade delitiva. Um e outro ensaio de Montaigne vai bem a este propósito.

O grupo do vale-tudo, nos média e em outros setores, não é necessariamente conhecedor ou professador incondicional de alguma ideologia identificável. Há, no Brasil, vastas porções de grandes patrões – presumivelmente mais inclinados a uma ideologia direitista, portanto – que não se dispõe a ler o amontoado de mediocridades de uma Veja.

Simplesmente porque seus interesses financeiros e suas inclinações ideológicas não passam necessariamente pela agressividade mentirosa de neo-convertidos, esses que precisam ser mais violentos que aqueles no seio de quem vão ter, para provar a fidelidade da adesão ao vale-tudo.

Daí que o ambiente atual nos média brasileiros não se explica simplesmente por um corte entre direita e esquerda, mas por um corte mais profundo entre estupidez, mentira e mediocridade, de um lado, e jornalismo, de outro.

A Veja mente contra Ciro e Cid Gomes.

Meios como a revista Veja e o jornal Folha de São Paulo sairão menores desse surto de partidarismo agressivo, mentiroso e de baixo nível, a que se entregaram profundamente. Menores em termos propriamente mercadológicos, pois pequenos em termos jornalísticos são há muito.

A revista publicou matéria supostamente jornalística em que acusou o Deputado Federal Ciro Gomes e o Governador do Estado do Ceará Cid Gomes, irmãos, de praticarem corrupção com dinheiros públicos. Disse que isso estaria em papéis da Polícia Federal.

A Polícia Federal divulgou uma nota, no seu sítio de internet, dizendo o seguinte:

Fortaleza/CE: Em referência à reportagem publicada na Revista Veja, Edição nº 2183, páginas 82-83, intitulada “Integração Cearense”, a Superintendência Regional da Polícia Federal no Ceará informa que as investigações em andamento não alcançaram qualquer autoridade federal ou estadual detentora de foro privilegiado, tampouco o Governador do Estado do Ceará, CID FERREIRA GOMES e o Deputado Federal CIRO FERREIRA GOMES; por
esse motivo o processo que a revista faz alusão tramita em 1ª instância Na Justiça Federal do Ceará.

Informa ainda, que as investigações encontram-se sob segredo de justiça, razão pela qual nenhuma outra informação será fornecida.

Por: Comunicação Social/ Superintendência Regional da PF no Ceará

Tel.: (85) 3392-4867

A revista mentiu, portanto. Se não tiver provas do que disse, praticou o crime de calúnia e deve responder por ele.

« Older posts Newer posts »