Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

Categoria: Hipocrisias (Page 7 of 14)

Retrato do Brasil: a opinião de um jornalista sobre o médico preso.

Lê-se, hoje, no Jornal da Paraíba, na coluna de um jornalista, uma nota que é um instantâneo do modelo de sociedade que criamos: excludente e consagradora da igualdade relativa.

A nota, que começa com um lugar-comum tolo de latinice jurídica, permissa vênia, está escrita em tom de opinião. O jornalista diz que pessoalmente entende que as punições ao médico que cobrava ilegalmente por atendimentos pagos pelo Estado não devia estar preso em uma cela comum de presídio, que isso é punição muito rigorosa.

Os lugares-comuns e a redundância de falar-se em entendimento pessoal não importam aqui. Importam a afirmação de excesso de rigor, de falta de necessidade de prender-se o médico em cela comum e, principalmente, o que vem no segundo parágrafo da nota.

No segundo parágrafo, tudo está claro. O jornalista sugere que, para a sociedade, são mais interessantes punições de natureza pecuniária. Subjacente a essa noção está a lógica da igualdade relativa e da inflexibilidade social.

Significa que pessoas não-comuns – médicos, por exemplo – não podem ser presos em celas comuns. Significa, na verdade, que pessoas não-comuns não devem ser presas e, sim, pagar em dinheiro quando apanhadas a delinquir.

Ou seja, devem ser estabelecidos níveis diferentes de punições, segundo as posses das pessoas, e quem não tem dinheiro é punido com a perda da liberdade, ao passo que os possuidores são punidos com pagamentos. É a teoria da punição censitária, suprema afronta ao princípio de igualdade.

Para não parecer a defesa da desigualdade, pura e simplesmente, os propagadores disso inserem nos seus discursos o elemento eficácia. Dizem que a punição em dinheiro é mais eficaz para quem tem dinheiro para suportá-la. Na verdade, ocorre precisamente o contrário, porque quem tem dinheiro teme menos a punição incidente sobre o que tem.

Todos, sem exceção temem mais a reclusão, a privação de liberdade. Assim, sendo a reclusão a represália estatal mais temida, é também a mais eficaz do ponto de vista da prevenção, evidentemente.

O discurso é de uma fragilidade conceitual escandalosa, um sofisma mal-disfarçado, mas sempre se insiste nele e com êxito, pois fica a parecer sutileza intelectual e refinamento. Não passa do suporte intelectual mal desenhado da exclusão e da diferença ,que mantém classes de pessoas absolutamente distintas nesse país, embora as leis, os papéis, isso que nada vale, afirmem o contrário.

Para desmistificar simplesmente essa tese da eficácia das penas pecuniárias para os mais ricos, consideremos o seguinte:

um fulano tem 1 milhão de reais, no banco; uma conduta é considerada ilícita e a lei prevê para ela o pagamento de 100 mil reais de pena; a mesma conduta considerada ilícita agora resulta em reclusão de cinco anos. De qual das penas o fulano terá mais receio? Qual delas será mais eficaz para demovê-lo da conduta ilícita? A que está ao alcance dele ou aquela que não se resolve com dinheiro? É simples…

O pastor onanista.

A figura de um pastor evangélico norte-americano, fundamentalista, binário, metido nas vidas dos outros, capaz de tudo pelo acervo de preconceitos que chama de fé é previsível e entediante. Mas, às vezes, essas figuras vivem episódios cômicos.

Grant Storm é pastor evangélico fundamentalista, daqueles que saem a incomodar os outros aos berros e a perseguir homossexuais, em Nova Orleans. Grande fiscal de uma lei inexistente, vive – ou vivia – a gritar tolices contra os gays, com um megafone, na sua cruzada contra o que supõe serem desvios pecaminosos.

Eis que Storm – o perseguidor de gays – é pego pela polícia a masturbar-se em um parque público, vizinho a um parque de crianças. Lamento pela cena que a polícia teve que presenciar, mas acho delicioso o episódio, que me faz lembrar a genial frase de Machado de Assis, segundo a qual é bom rir da vergonha dos justos.

O sujeito que se sente à vontade para empreender uma cruzada contra grupos que não compartilham sua declarada opção sexual é daqueles que se incluem entre os justos, ou seja, um fariseu. Quando ele mesmo tem condutas entre aquelas contra que prega, o espetáculo está completo em um grande final, com as máscaras depostas.

Esses cruzados da luta fácil são uns infames. Falam, virulentamente, contra coisas que se inserem no próprio ambiente que os permite falar à vontade. É semelhante ao sujeito que fala mal da democracia porque ela mesma o permite a conduta. Deviam optar por grandes cruzadas, quem sabe ir cristianizar – ou evangelizar, como prefere o vulgo – os indonésios e assumir os grandiosos riscos do martírio.

Mas, não! A grande missão dos Storms da vida é ser fiscal de sexualidade, invocando livros traduzidos por analfabetos e, às vezes, escritos por semi-alfabetizados. No fundo, é um irresponsável e mentiroso vil, que não acredita em um átomo de sua declarada missão. Pois, se acreditasse na justeza da fiscalização de sexualidade e no seu êxito, combateria contra si próprio!

O trágico desses episódios espetaculares é que têm um desfecho melodramático, que não indica qualquer transformação pessoal. O sujeito vai expor-se a uma confissão pública, vai dizer que foi tentado por algum demónio, que sucumbiu porque tem fraquezas humanas, que vai penitenciar-se e que sempre esteve certo no que dizia. E vai continuar com suas taras onanistas em público!

Arrogância judiciária e a empulhocracia brasileira.

O chefe do sindicato dos juízes federais brasileiros disse que a categoria estava perplexa e chocada – um dia ainda se volta para o português escandalizado – com a resistência da Presidente Dilma Rousseff ao pedido de aumento salarial de 15% dos juízes. Eles têm salário inicial de R$ 21.000,00 e acham pouco, esse é o caso.

À parte o dinheiro, a indignação judiciária deu ocasião à espontaneidade e à sinceridade, coisas maravilhosas, um tanto raras, a revelarem profunda arrogância e percepção enviesada da realidade. O líder da corporação judiciária teve ocasião de afirmar que o governo não pode tratar um poder independente como se estivesse em uma negociação com motoristas de ônibus.

Mais adiante, outra afirmação interessantíssima e sistematicamente incoerente, a de que o governo não pode desconhecer o poder político dos juízes. Enfim, depois da arrogância, a volta ao disfarce e à confusão conceitual. Essa estória de poder independente associa-se à função deste poder e nada mais, ou seja, a independência é para aplicar a lei cabível a um caso. Não existe independência para resolver quanto se ganha, independentemente do resto do país e dos outros poderes.

O poder político dos juízes é uma impossibilidade no plano teórico, embora haja no plano real, evidentemente, como qualquer poder, que se baseia em chantagem. Não se trata de qualquer ilegalidade afirmar e praticar o poder político, apenas não se deve pretender que ele seja alguma prerrogativa institucional dessa classe burocrática. Trata-se, pura e simplesmente, de fazer pressões, como as podem fazer quaisquer classes.

A entrada em cena com formas de pedir explícitas e próprias de barganhas políticas vulgares é reveladora e significa uma boa tomada de riscos. É difícil recuar depois de se apresentarem as mais poderosas armas da chantagem, depois de chegar-se às etapas mais explícitas, sem se ter passado pelas sutilezas iniciais de rotina.

Com relação à arrogância e ao preconceito expressados contra os condutores de ônibus, a reação foi previsível e bem pensada. O chefe do sindicato dos motoristas afirmou o óbvio, ou seja, que houve preconceito explícito, e disse que dará entrada em ação contra o líder dos juízes federais. Isso basta, não interessa se terá êxito ou não.

É bastante complicado prever o esgotamento de algum ciclo, porque as condicionantes são muitas e diversas e ocorrem as euforias pré – morte. De maneira geral, a burocracia estatal brasileira não vive ciclos, porque sempre tem sido bem aquinhoada. Falo de maneira geral, porque dentro dela, há ciclos a envolverem uma e outra classe.

Como nunca alternamos propriamente momentos históricos marcados pelas opções políticas puras entre esquerdismo e direitismo, ficamos restritos a perceber os momentos pelas alterações nas classes burocráticas alçadas a intermediárias privilegiadas na simbiose do Estado com as grandes corporações privadas.

Enfim, na intermediação da predação privada dos dinheiros públicos alternam-se grupos e classes burocráticas, ao sabor de um padrão perceptível de alternâncias. Os limites cronológicos entre o predomínio de um e outro grupo não são fixos nem claros como uma linha divisória, evidentemente.

A lógica interna dos grupos demanda que sempre se busque mais, porque nunca se pode consolidar a idéia de ter-se chegado a um máximo, por razões evidentes: depois do máximo, sempre se decai!

Apenas como exemplo, lembro que recentemente, há pouco mais de vinte e cinco anos, os intermediários privilegiados da relação entre o Estado e as grandes corporações privadas eram os grupos burocráticos das empresas públicas de energia, telefonia, petróleo e do setor bancário. Esse grupo teve sua posição privilegiada demolida em poucos anos, em decorrência dos consulados de dois Fernandos Presidentes.

As linhas burocráticas jurídica e fiscal retornaram ao centro da cena e instalaram-se nas posições destacadas de apropriação das rendas estatais e de interlocução com os capitais privados. Na verdade, para os grande capitais, pouco ou nada importa essa alternância que se dá nos estratos médios – superiores da sociedade, porque essa camada ganhará as migalhas e sempre prestará vassalagem ao poder real.

Para que se constitua o que chamo empulhocracia jurídica são necessárias demandas e problemas judiciais em grande escala. O setor privado não as consegue prover na quantidade suficiente, a despeito das causas trabalhistas. Então, o Estado tem que desempenhar esse papel de criar o problema cuja existência interessa a todos.

O Estado atende a esse chamado, porque afinal sua vontade resulta das muitas vontades minimamente divergentes dos funcionários que dele se apropriam. Nesse ponto, alguém pode objetar o previsível, ou seja, que não se faz isso ou aquilo deliberadamente para que dê errado e crie problemas.

Realmente, se se vir a coisa toda com lupa, tomando-se um agente público isolado e o analisando, indagando suas inclinações psicológicas, seus motivos determinantes, suas finalidades declaradas, não se extrairá que aja deliberadamente para alimentar o sistema de problemas artificiais que se retro-alimentam.

Mas, o sistema todo confirma a tese e age por uma cumplicidade inercial independente dos seus componentes isolados. Se é preciso uma justificação, ainda que aparente, se são precisos atos que depois parecerão absurdos, para que um grupo tenha seus momentos de destaque, eles serão feitos.

No caso da empulhocracia jurídica, convém dizer que o sistema não atende somente aos interesses de uma burocracia estatal, porque os advogados privados são parte de uma estreitíssima simbiose, em que todos têm interesse nos problemas. Claro que todos viverão a falar mal da qualidade das leis, do desrespeito a elas, dos arbítrios do Estado, ou seja, de tudo que lhes resulta em ganhos.

A parte maior da litigiosidade judicial brasileira envolve o Estado. Alguém que não seja parte dessa cumplicidade, quero dizer, alguém que veja a coisa de fora e que tenha conhecimentos jurídicos, dirá que isso é um absurdo. Sim, porque o Estado – na forma de república democrática representativa constitucional – é a entidade em que o poder soberano do povo está funcionando praticamente.

Ora, a ação estatal não pode resultar em tantas e tamanhas ilegalidades, na medida em que ele é e faz a legalidade. Um problema do Estado ou contra ele resolve-se legalmente, nele. A demanda judicial contra o Estado é, portanto, uma anomalia, uma excepcionalidade, assim como são suas consequências práticas: uma justiça só para demandas estatais, um corpo de advogados do Estado, um corpo de fiscais da lei deste próprio Estado.

Se o número estupidamente elevado de causas deve-se aos defeitos das leis, está óbvio que todos são partes interessadas em que as leis tenham defeitos, porque não se cuida aqui de uma ciência obscura, para iniciados, senão que se cuida pura e simplesmente um sistema hierarquizado de adequações modelares.

As engrenagens desse sistema terão que seguir seu rumo de repetição de críticas aos erros e abusos, sempre dos outros, assim indefinidamente, porque não podem ou não conseguem ver o substrato do que está em marcha. Os serviços, entre eles os de resolução de conflitos legais, existem para a excepcionalidade deles acontecerem e, não o inverso. Ou seja, os conflitos não existem para que haja os serviços.

No final e ao cabo, trata-se de decisões políticas, que os agentes políticos tomam para atender aos mais variados interesses e sentem-se à vontade para tomá-las nas piores formatações possíveis. A cumplicidade na má-conformação dos atos legais é amplíssima, portanto, e se alimenta dela mesma.

Se, por exemplo, uma qualquer matéria legal dá ensejo a milhões de causas nos tribunais e se quer sinceramente que essas causas deixem de existir, basta resolver legalmente o que está a ser resolvido no mesmo sentido em milhões de processos diversos! Quem perde com a obviedade, essa é a questão!

 

 

 

Direitos Humanos: umas palavrinhas para afastar tolices.

Esse nome é inadequado e deve ser responsável por uma parcela de quanta estupidez fala-se a respeito. Claro que responsável por pequeníssima parcela, porque o maior responsável mesmo é a inclinação natural para a burrice, o fanatismo e a violência.

O cuidar de nomes é preciosismo meu. Explico-me apenas para ter ocasião de alinhar algumas palavras. É óbvio que ser-se humano não é condição exclusiva e suficiente para surgimento de qualquer direito. Na verdade, pode até ser, mas em um truísmo, ou seja, assumindo-se que todo e qualquer direito é humano. Isso não explica coisa alguma, todavia.

Direitos existem porque pessoas vivem conjuntamente, não porque pessoas existem. Da humanidade decorrem fome, necessidade de urinar e coisas do gênero. Direitos originam-se da necessidade de se regularem relações entra mais de uma pessoa: é social, portanto.

Os que se chamam direitos humanos são direitos fundamentais. Essa terminologia tem ainda a vantagem de ser muito menos arrogante, porque não carrega a pretensão universalista, algo a que o fundamentalismo dominante sempre aspira.

Mas, a grande tolice não é chamar a uns direitos humanos ou fundamentais, é não perceber o que são direitos. São regras, mais ou menos genéricas, com mais ou menos excepções conforme a ânsia detalhista e diversionista de alguma sociedade.

Basta assumir isto e também que algumas dessas regras são bastante gerais, umas até pretendem-se tão gerais que se proclamam devedoras de um princípio de igualdade. Aí está a raiz do que são direitos fundamentais: os mais genéricos possíveis, em que os destinatários consideram-se mais igualmente.

Essas regras podem ser estabelecidas pelo poder que se atribui ao Estado, entidade que detém a capacidade de criar regras, supostamente por consentimento dos cidadãos. O caso é que as tais regras são criadas, que existem e que a comunidade dos cidadãos vive a dizer que aceita esse modelo.

Se o povo aceita esse modelo, deve saber o que são leis e deve obdecê-las e não deve fingir ignorá-las, nem mesmo ignorá-las por orgulhosa estupidez. Se, por outro lado, não aceita o modelo, acha que o Estado faz leis erradas, deve insurgir-se, revoltar-se, pôr o Estado abaixo, qualquer coisa, excepto mentir ou ser estúpido.

No Brasil, são comuns violências aberrantes, notadamente por parte das polícias. São muitíssimo comuns contra pobres e pretos, deve-se dizer sem arrodeios. Quando elas acontecem e são noticiadas pela imprensa ávida por um escândalo ao dia surgem duas reações básicas: a histeria por conta da violação a direitos fundamentais e a repetição de que as vítimas são bandidos e não têm direitos.

Como advertências nunca são demasidas – embora sejam o cemitério do estilo – aqui vai uma: as reações básicas não excluem as mais ajuizadas. Estas últimas são minoritárias, mas existem. Feita a advertência, sigo adiante.

Quem, diante de alguma violência policial violadora de direitos fundamentais, põe-se a gritar que supostos criminosos merecem tal violência é estúpido ou desonesto, ou ambos ao mesmo tempo, o que é até mais comum. Estúpido porque devia saber que a violência não tem respaldo legal e desonesto porque se fosse a vítima invocaria o que rechaça e faria um discurso pelos direitos.

Em Recife, Pernambuco, a polícia deteve, na avenida à beira-mar, área nobre da cidade, uns suspeitos de crimes de furto. Deteve-os na praia, espancou-os e submeteu-os a tratamento humilhante. Jogou-os no chão, com as cabeças dentro d´água, pisou nas caras e fê-los comer areia.

Isso não é dever da polícia neste país. E não é dever sendo a vítima criminoso sentenciado ou não. Simplesmente não é, portanto é ilegal. Isso não é punição dentro da legalidade, porque punições legais por crimes são impostas pelo poder judicial, em processos abertos para a finalidade de apurar se houve crimes.

As punições por crimes, formalmente, neste país, são privações de liberdade ou de direitos, fixadas por um juiz ao cabo de um processo com ampla defesa. A polícia tem o dever de prevenir, investigar e reprimir crimes dentro dos limites da lei, limites que impedem, formalmente, espancar, torturar, humilhar.

Muito embora tudo isso seja elementar, quando se fala que um abuso ilegal é um abuso ilegal, o número dos estúpidos e dos hipócritas diz que acusar as ilegalidades é defender bandidos. Uma afirmação rasa e vulgar, porque um bandido só é culpado depois que o órgão estatal competente o afirma.

Eu gostaria, preferiria, que dissessem abertamente do seu desprezo por leis e coisas do gênero, coisa que não haverá, todavia, porque implicaria que os selvagens fossem nobres e sinceros, quando são patifes covardes. Não têm qualquer apreço pela igualdade legal, mas tampouco têm coragem de afirmá-lo, porque querem manter o discurso justificador hipócrita.

Ora, não há igualdades pela metade ou restrições à igualdade legal senão as previstas na própria lei. Ou bem é-se a favor disso, ou contra. Não há terceira via, para desespero da hipocritocracia vigente.

Mas o reino da relatividade legal avança, para tragédia dos estúpidos e desonestos que o promovem. Sim, porque o vale-tudo que quer manter a lógica do pau-no-lombo sem julgamento, da falta de direitos para bandidos, do linchamento, vai atingir aleatoriamente os espectadores bobos-alegres que o querem.

E serão atingidos sem perceberem porque avança o vale-tudo aleatório, firmes no discurso hipócrita, tomando pau no lombo eles mesmos e falando em direitos, eles que diziam que direitos existiam, mas não para a, b ou c. Que falavam em direitos sem saber o que são, que invocavam igualdades quando era para ganhar algum dinheiro ou disfarçar alguma patifaria.

Vamos propor o Estado policial, senhores! Vamos propor o fim dos direitos fundamentais e o estabelecimento dos julgamentos sumários ou, melhor, da falta de julgamentos. E vamos propô-lo dispostos a matar e morrer por ele! Bem, já é damais, não adianta instigar o vulgo a ter honra.

Estado mínimo é a proposta dos que não vivem sem ele.

O capitalismo brasileiro nunca teve discurso coerente com sua realidade, excepto por um e outro sujeito mais honesto intelectualmente. Sua realidade é de simbiose ou parasitação do Estado, ou seja, de lucros privados e prejuízos públicos. Mas, a coisa apresenta detalhes mais profundos, que evidenciam a desonestidade da repetição acrítica do discurso do Estado mínimo, precisamente por aqueles que predam o Estado.

Esta opção, a do discurso do Estado mínimo, parece atender a uma necessidade de se parecer crítico e de se renderem homenagens ao liberalismo teórico. O capitalista brasileiro típico sente-se mal no seu hibridismo e precisa disfarçá-lo; precisa, pois, afirmar um desejo que na verdade é profundamente inverídico.

A necessidade de distinção relativamente aos predadores sinceros visa a marcar uma aparente posição de modernidade – um tremendo anacronismo, pois sabe-se que essa modernidade é o dia-a-dia – e buscar aceitação social. Passa por afirmar um discurso que seria a sua absolvição teórica da tremenda apropriação de riquezas sem correspondentes méritos.

Se, de fato, esse grupo fosse composto por livres empreendedores que chegaram onde estão sem quaisquer ajudas estatais, o discurso estaria bem posto e significaria uma notável iniciativa de honestidade intelectual e de assunção de riscos políticos. Todavia, é mentira, porque a realidade os desmente impiedosamente.

Não é o caso de se alinharem aqui todas as formas de simbiose e predação do Estado pelos falsos livres empreendedores brasileiros.  Mas, convém dizer que o Estado mínimo seria a ruína desses hipócritas sem limites que o propõem. E, um e outro exemplo pode vir a calhar para o desenho dessa impostura.

Todos os grandes empreendimentos capitalistas brasileiros contaram com subsídios públicos, seja por via direta, seja por isenções tributárias, seja por empréstimos baratos. Assim funciona por toda parte, apenas não se o deve negar! Contaram ainda com subsídios indiretos, menos perceptíveis, como são as escolhas pontuais dos investimentos do Estado em infra-estruturas.

Se pensarmos nos empreendimentos médios, basicamente não industriais, a coisa é também evidente, embora pouco mais disfarçada, e talvez mais escandalosa. Deu-se que o Estado, apropriado privadamente pelos que falam mal dele, retirou-se de setores fundamentais de serviços, a que está formalemte obrigado. Falo, evidentemente, de saúde e de educação.

Nunca foi grande problema a omissão Estatal, desde que ela gere problemas somente para as camadas mais pobres da população, porque a constituição cumpre-se segundo as circunstâncias e seus intérpretes estão a serviço dos predadores do Estado. As questões do descumprimento de um e outro direito constitucional têm visibilidade quando são, na verdade, questões menores elevadas a espetáculo.

Na educação, o Estado retirou-se quase totalmente dos níveis básicos e parcialmente do nível superior. Abriu, assim, espaço para os prestadores privados. Estes últimos não ocuparam o espaço à força de empreendedorismo tomador de grandes riscos, como seria o caso em um sistema liberal puro e coerente consigo mesmo.

Obtiveram do Estado, que controlam e que se retirou de onde deveria estar, benefícios como as isenções fiscais e a mentira escandalosa das entidades sem fins lucrativos. É um panorama maravilhoso de escolas beneficentes, em que a benemerência curiosamente levou seus donos à riqueza!

No caso da educação de nível superior, a coisa vai mais além, porque os preços cobrados são ainda mais elevados e os subsídios ainda maiores. O mesmo Estado que deve ser mínimo – no discurso desses intrépidos empresários – praticamente isenta faculdades privadas do pagamento de tributos e financia o pagamento pelos serviços.

Ora, se o Estado renuncia a tributos e financia os alunos para que paguem a instituições privadas, porque não gasta esse dinheiro na criação e manutenção de universidades públicas? Ou, do contrário, se o Estado deve ser mínimo, porque não deixa as universidades privadas entregues à sua maravilhosa sorte de livre iniciativa?

O divórcio entre o discurso e a prática fica evidente na postura dos empreendedores, que são intermediários dos dinheiros públicos e não querem a atuação direta do Estado. Ora, isso não é Estado mínimo, é Estado a transferir dinheiros recolhidos de todos – por meio de impostos – para poucos prestadores de serviços que deviam ser públicos e para grandes industriais.

Alguns pretendem inserir uma pouca de sofisticação no discurso, alegando que não se trata do Estado abster-se de dispender recursos, mas que se trata de sua suposta incapacidade gerencial, o que não recomendaria sua presença direta nas prestações. Isso é mais uma variante da falácia, agora acrescida do lugar-comum tolo da capacidade gerencial.

Do ponto de vista gerencial – para usar o termo da moda – é uma estupidez acrescentar intermediários a uma cadeia de instituições cujo objetivo é prestar um serviço. Além disso, em setores de fortíssima demanda, que raio de diferença a capacidade gerencial vai fazer, se se trata de algo que todos querem?

Mais uma sub-variante dessa estória de capacidade gerencial é aquela da prestação por locadores de mão-de-obra. Segundo os teóricos do assalto disfarçado, seria mais barato contratar empresas locadoras de empregados que tê-los diretamente assalariados, porque os custos tributários estariam excluídos.

Aqui, a coisa é mais de mentira escancarada que de argumento sofisticamente elaborado. Os custos tributários – previdência, imposto sobre renda e fundo de despedimento arbitrário – serão pagos por alguém, obviamente. Esse alguém é o próprio Estado, o locador dos empregados, porque o locatário não é um filantropo, mas um predador brasileiro a discursar pelo Estado mínimo!.

Convém ainda lembrar que esses locadores de mão-de-obra provavelmente quebrarão ou mudarão de nomes e de sócios, promovendo a insolvência e a confusão. E aí, o maldito Estado virá em socorro dos empregados, que afinal são a parte mais fraca mesmo, e pagará tudo diretamente. A empresa locadora provavelmente terá quebrado, mas busque alguém saber se os sócios terão…

Em busca de exemplos, posso seguir alinhando os mais diversos, mas seria cansativo e até inútil. Importa somente mencionar, pela magnitude do saque e da hipocrisia, o caso da saúde provida por hospitais privados que recebem dinheiro do Estado. A maioria reclama a cada minuto, mas não vive sem esta simbiose. Se o Estado paga pouco por algum procedimento, inventam-se procedimentos e pronto, fiat lux.

No fim e ao cabo, é mais uma postura a revelar o quanto de mentira permeia o discurso das classes mais elevadas da sociedade brasileira e que consegue seduzir alguns daqueles que são prejudicados pela proposição. O problema é que a mentira, no fundo, é percebida e gera uma ambiente em que o vale-tudo e a hipocrisia são elevados à normalidade e a valores inevitáveis.

Hipocrisia, ignorância ou obrigação? Qual o móvel de Krause?

Compro jornais aos domingos, por hábito. Geralmente, três jornais de província: Diário de Pernambuco, Jornal do Comércio e Correio da Paraíba. Acontece com as folhas de província que seu baixo nível jornalístico não chega para dar raiva, apenas uma e outra risada interna.

Claro, pode haver gratas surpresas, quando veiculam alguma matéria boa, mas são raras. De toda forma, é melhor que ter raiva com o baixo nível de alta difusão, como é o caso da Folha de São Paulo.

O caso é que me deparo com uma matéria, no Jornal do Comércio, com o título Oposição tem que ser consistente, grafado entre aspas. Esta obviedade é de autoria de Gustavo Krause, um político pernambucano que é chamado ideólogo do DEM, uma agremiação política brasileira que mudou de nome várias vezes e começou sob o de UDN.

DEM é uma abreviação para democratas, nome que sucede a PFL, que significava partido da frente liberal. Um partido que insiste simbolicamente em associar-se a valores liberais ou, se assim preferir-se, a valores políticos direitistas puros.  É uma tentativa curiosa, quando se sabe que a direita brasileira nunca se caracterizou por ser liberal democrática.

O ideólogo alinha um e outro lugar-comum do discurso político pseudo-científico. Diz que o sistema político brasileiro é responsável pela negação da democracia e que há uma disfuncionalidade causadora de uma situação que estimula a idéia do partido único. Bem,  não sei de quem é a responsabilidade por esse discurso em mau português, se do ideólogo ou do redator da matéria, mas é possível decifrar o que significa.

Em resumo, trata-se de insatisfação com o insucesso eleitoral. O partido do ideólogo reduziu-se consideravelmente, tanto no parlamento nacional, como na ocupação de cargos executivos nos estados-membros. Então, é preciso justificar-se e por a culpa no sistema político, porque seria muito antipático voltar à acusação frequente de burrice do povo nas suas escolhas.

A primeira coisa que chama bastante a atenção é o afã na defesa da democracia. Ora, tanto o partido, como o ideólogo, cresceram no regime ditatorial que houve de 1964 a 1985! Aqui, poderia funcionar realmente a dicotomia que o ideólogo quer ver, ou seja, aquela entre democracia e ditadura, pois o regime que lhes permitiu o florescimento é antagônico ao que agora defende ardorosamente.

Nada mais que uma pouca de hipocrisia, tão comum, de resto, nos discursos políticos, poderia dizer-se. Todavia, o discurso não se quer apenas pragmaticamente político, ele tem pretensões de ser análise pura e metódica de uma situação. Aí, as coisas complicam-se um tantinho, porque a análise é ruim e disfarça mal sua real natureza: tentativa de justificação de um recuo por opção democrática.

O ideólogo dá as chaves de compreensão da real natureza de sua análise. Mais adiante, afirma que a oposição é elemento integrante do sistema democrático e que não haver oposições não faz parte do sistema. As chaves de compreensão encontram-se no divórcio radical entre as afirmações e aquilo que se viveu. Encontram-se, também, na assunção da premissa de que o ideólogo não está a falar mal de si próprio, até porque o texto não visa a ser uma auto-crítica.

Então, assumindo-se que não fala mal de si e do seu partido e que fala presumidamente em teoria, ou seja, abstratamente, conclui-se que move-se pela mais pura hipocrisia. Realmente, esse diagnóstico de disfuncionalidade e de falta de oposições caberia perfeitamente para o período em que o partido do ideólogo governou o país!

A afirmação de ausência de oposições disfarça outra coisa e beira uma figura de linguagem. O ideólogo toma a parte pelo todo, ou seja, assume que toda a oposição política é a sua e de seu partido, o que se mostra sumamente falso. Há oposições até dentro do governo atual, razão evidente da acomodação de vários partidos de interesses conflitantes na base de apoio parlamentar do governo.

Os ideólogos – em geral – transitam da ênfase no formal e no material, consoante suas conveniência de momento. Quando estão no poder, enfatizam o aspecto formal e dizem que não há problemas na sua ocupação duradoura, porque houve eleições e, portanto, vigora uma democracia formal.

Quando não estão no poder, mutam-se em ardorosos defensores da democracia material e dizem que a existência de eleições nada quer dizer, que é um aspecto meramente conformante da aparência de democracia e coisa e tal. Realmente, quando estão no poder em uma ditadura é melhor, porque não precisam sair a dizer coisas contraditórias a todo o tempo, limitam-se a aproveitar o poder e poupam os espectadores da pior parte: o discurso de conveniência.

Três pessoas matam. Por que uma é melhor que outra?

A hipocrisia não é natural do humano. São-no a vergonha, a auto-complacência e a vontade de poder. Naturais são inclinações potenciais, o que não significa que se manifestem em todos os espécimes e com as mesmas intensidades, em todas as ocasiões.

A hipocrisia é um fato social, ou seja, somente faz sentido em grupos, maiores ou menores. É a escamotação para um grupo, não para si. Mentir para si mesmo é outra coisa, com outras implicações. Novamente, uma explicação: a hipocrisia, fato social, tem também implicações para os indivíduos isolados, mas sua raiz é o grupo.

A hipocrisia social – em quaisquer termos comparativos – é uma resultante de muitas vontades de poder reunidas por algum motivador comum. Torna-se eficaz por meio da difusão da mesma opinião, ainda que suavizada com matizes de diferenças insignificantes.

Esses dois aspectos, o móvel e o instrumento, retro-alimentam-se. A existência de uma motivação comum gera a difusão do discurso hipócrita e esta, a difusão do discurso, reforça a motivação.

É fácil perceber que tal sistema tem muito de involuntário na sua marcha autônoma, ou seja, na sua replicação automática. Porém, essa componente inercial de irracionalidade não significa a inexistência de elementos voluntários bem definidos, na base do seu funcionamento.

O sistema resulta em um instrumento para a obtenção e a manutenção de poder, o que revela seu aspecto útil. E utilidade significa que a ferramenta não funciona apenas por si: ela é manejada deliberadamente, também.

A difusão da informação desempenha o papel da vontade racionalmente dirigida no sentido de usar a hipocrisia como instrumento de poder. Pois ela tem raízes sólidas nas mentalidades do público e convém regá-las sempre, para que se aprofundem mais e mais.

Mata-se e rouba-se bastante, no mundo. E isso faz-se para obter domínio, abstraindo-se dos casos minoritários de demência ou de honra. E prova que o domínio é buscado independentemente de considerações sobre os instrumentos necessários. Alguns, todavia, causam reprovações sociais variáveis e aqui entra a hipocrisia, como um óleo a facilitar o convívio de engrenagens de aço duro.

Hoje, um país, os Estados Unidos da América do Norte, faz tudo que sempre se fez para que seus cidadão gozem de elevada prosperidade relativa, a custo da pobreza, também relativa, dos outros. Nisso, nada há de inovador ou diferente do que fizeram países predominantes, na história.

Diferente é a massiva utilização da hipocrisia como instrumento para obter e manter a dominação. Evidentemente, essa circunstância é historicamente perceptível, porque os meios de comunicação de massas desenvolveram-se excessivamente a par c0m a ascensão desse país.

Tudo que esse país e seus vassalos – que predominaram no mundo anteriormente – fazem, faz-se desde que o planeta é habitado por gente que se considera humanóide e vive em comum. Mas, desse tudo comum, apenas o que fazem países que os EUA reputam indesejáveis é propagandeado e considerado ruim e absurdo.

Digo isso a propósito de mais uma de inúmeras revelações de resultantes de ações norte-americanas em nome de intenções aparentemente boas. O fato é que os EUA bombardearam a Sérvia – inclusive com munições de fósforo e urânio empobrecido, proibidas pela farsa que é a ONU – para criar um Kosovo e uma Bósnia livres da Sérvia.

Livres da Sérvia ficaram a Bósnia e o Kosovo e foram processados ilegalmente líderes sérvios. Todavia, não ficaram livres das máfias kosovares vários sérvios assassinados para a retirada de órgão destinados ao tráfico ilegal.

Um ex-procurado suíço, Dick Marty, produziu um relatório sobre os assassinatos de sérvios por máfias kosovares para retirada de órgãos destinados ao mercado ilegal. E disse que os países europeus e os EUA sabiam do que ocorria e nada disseram. Ou seja, faz-se um morticínio com armas ilegais, a bem de algo tão difuso como a liberdade, para instalar faltas de liberdade tais como essa.

Se nos voltarmos para o lugar mais que comum do discurso da implementação da democracia, lembraremos que os EUA promoveram inúmeras ditaduras, nas Américas do Sul e Central, na África e na Ásia, para estabelecer a democracia. Curiosos casos de remédios que matam os doentes, além de incoerência evidente.

Curioso também lembrar que a falta da tal democracia não causa qualquer espanto em países dóceis ou vassalos, como a Arábia Saudita e o Egito, sobre que os EUA não dizem uma palavra. Isso é compreensível e o silêncio da opinião pública também. Mas, o silêncio desta última não é estratégico, mas pura burrice e fala de crítica.

Os promotores da democracia e da liberdade não se furtam a manter campos de concentração de prisioneiros ilegais, nem de fazer seus súditos europeus cúmplices dessas práticas, embora falem sem parar contra o mesmo praticado por inimigos.

Os campeões da liberdade falam em direitos humanos e apontam o dedo contra seus inimigos, mas executam pessoas julgadas em processos mais que suspeitos, verdadeiros linchamentos públicos que nada têm com justiça.

Os líderes do mundo e campeões na utilização da hipocrisia decairão. Mas terão produzido danos profundos nas mentalidades de milhões de pessoas que não aprenderam a pensar de outra forma além da superficialidade e da aparência. Elas serão os clarões de uma estrela que morre, clarões perigosíssimos de explosões de hélio.

Avançaram o que não precisava de estímulo: a burrice generalizada da opinião acrítica das massas incontroláveis. Isso cobrará seu preço em incompreensão, em gerações sem rumo, em vale-tudo, em ápices de lugares-comuns repetidos como se fossem ciência. Isso levará muito tempo para reorganizar-se e deve-se esperar que a China seja capaz de fazê-lo.

Campo de Lula: assim será batizado pela Petrobrás.

A Petrobrás decidiu rebatizar o Campo de Tupi – imensa reserva de óleo em águas profundas – Campo de Lula, em homenagem ao Presidente que despede-se do poder amanhã.

Rapidamente, as oposições raivosas e pseudo-democráticas acusaram essa bobagem de ser um grande absurdo.

Especificamente, um dos próceres do oposicionismo neo-fascista, um diligente escravo a serviço de interesses anti-nacionais, ávido por destaque mediático a partir de qualquer tolice, correu a dizer que isso era o sintoma de uma ditadura e uma tentativa de perpetuar o nome de Lula na memória nacional.

Que é uma forma de inserir mais fortemente o nome do maior Presidente que esse país teve na memória nacional, é uma obviedade. Que tenha algo de ditadura, é uma tolice, alias nada estranha ao autor da assertiva.

Sinais de ditadura são precisamente aqueles que gente como o performático acusador querem apagar da memória nacional, quando se insurgem contra a condenação de agentes públicos que mataram, sequestraram, estupraram, espancaram cidadãos nacionais, sem processos, acusações formais ou oportunidades de defesa.

É curiosa uma tal acusação em um país que dá o supremo espetáculo de ridículo consistente em ter, em todas as grandes cidades, alguma avenida batizada de Presidente Kennedy!

Graças a Deus por tudo: heresia ou insinceridade?

Dissemina-se qual uma praga de gafanhotos e com os mesmos efeitos destrutivos a mania de tudo agradecer e imputar a um Deus. Falo em um Deus, assim no singular e com letra maiúscula, porque são tantos grupos a reivindicar deuses próprios como suporte de seus códigos de polícia moral que deve haver vários deles mesmo. E uso a maisúscula em respeito ao único, se houver, tão vilipendiado pelo uso indiscriminado e vulgar dessa palavra.

O problema de agradecer-se a Deus qualquer coisa é que isso é uma racionalização. E, no campo da razão, as coisas agradecíveis a Deus são, tanto prováveis, quanto improváveis.

O outro problema é que consiste em falta de sinceridade galopante. Se a proposição de Job faz sentido, ou seja, que Deus dá e retira e não está em causa indagar das razões, as proposições das pessoas são mentiras.

Vêem-se, em grande número de carros, de comentários, de quase tudo, coisas do tipo: foi Deus que me deu, graças a Deus tenho isso ou aquilo ou, ainda, esse coisa pertence a Deus – esta geralmente em automóveis.

Acontece que não correspondem essas afirmativas ao que os afirmadores têm nos seus íntimos. Se o sujeito perde o carro que dizia ter por doação divina ou ainda que dizia ser de Deus – incoerência suprema – fica com raiva e não se resigna como deveria se fosse o caso realmente de ganhar-se ou perder-se algo por vontade de Deus.

Ora, se alguém diz que tem algo porque o ganhou de Deus, deve assumir que o pode perder por desígnio desse mesmo Deus! E se algo perde-se porque Deus o quis retirar, não é dado ao depositário temporário insurgir-se contra isso, ou ficar com raiva, ou buscar indenização, ou matar, ou recorrer ao seguro, coisas que sempre ocorrem.

Se essas proposições têm a pretensão de serem racionalizações válidas, seus proponentes devem dizer que ganharam ou perderam alguma coisa graças a Deus. E dizer verdadeiramente, ou seja, com uma prática coerente com o dito.

Racionalização muito mais válida e ademais sincera é retirar as contingências materiais da vida da esfera do que é dado ou retirado por Deus. Reservar a esse Deus o que pode ser divino, que não inclui a distribuição de presentinhos aos funcionários de alguma agência de publicidade que usa seu nome.

É deixar de crer que um Deus pode ser agradado por discursos advogadescos e frases incoerentes, como se busca seduzir um juiz para ganhar uma indenização. Homenagens e agradecimentos mentirosos e efusivos fazem-se às pessoas, exatamente porque só se fazem entre iguais.

Ou vão assumir que esse Deus de que tanto falam, no fundo reputam-no uma pessoa qualquer?

Wikileaks: assimetria e mentira.

Os EUA deviam despir a fantasia de legalidade e outras tolices mais, que eles não levam minimamente a sério.

O negócio da acusação de estupro contra Assange é de desonrar a Suécia por dez gerações, se alguma vez tiveram honorabilidade.

Colocam-se um governo, ministério público, justiça e essa merda toda a serviço de prender um sujeito por um pretexto falso.

A acusadora viveu uma farra de 14 dias com Assange, foi a concertos, comentou a brincadeira no twitter e outras coisas. É óbvio que é um golpe orquestrado, nada tem de estupro.

Esse pessoal seria mais respeitável se mandasse dois agentes para sequestrar e matar Assange, pura e simplesmente, como sempre fizeram.

Mas, não. Armam uma comédia e chamam seus súditos para desempenharem os papéis mais infamantes. E eles aceitam!

Os EUA têm uma rede de hackers. A partir de uma lógica trivial, não deviam sair por aí falando em pirataria e coisa e tal.

Assim, a guerra é assimétrica em favor dos patifes. Usam ao mesmo tempo essa vacuidade que atende por sistema legal e os meios ilegais!

Os que divulgam as patifarias só dispõem dos meios ditos ilegais, o que é uma enorme desvantagem.

Espero que derrubem todos os sites de bancos e outras associações mafiosas desse tipo.

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