Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

Categoria: Hipocrisias (Page 5 of 14)

Entreguismo e a mudança que não foi.

Tornou-se lugar-comum nas discussões políticas brasileiras o tipo que foi, supostamente, esquerdista, no período inicial da ditadura inaugurada em 1964, e que, depois, mudou de idéia, porque viu a luz na estrada de Damasco.

Essa gente diz que teve um dia posições de esquerda, mas que, depois, chamados a ocuparem os postos-chaves do Estado, tiveram que assumir compromisso com a verdade única e religiosa que se travestia em economia.

Ou seja, já governantes, governaram para todos os interesses alheios aos do seu país, porque isso era inevitável e mais, porque isso seria bom inclusive para o próprio país. Revela uma capacidade de mentir extraordinária.

A insistência no destino imutável é de se notar. Imutável e impossível de ser diferentemente era tudo aquilo que seus patrões lhes impunham e que eles se empenhavam em vender ao público pagante, com a ajuda sempre preste de uma imprensa voltada aos mesmos fins.

Casos clássicos são os do ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso e do ex-ministro e ex-governador de São Paulo José Serra.

Essa mudança não houve, nem como aceitação póstera de suborno. O suborno foi aceito desde o princípio de suas atividades políticas e acadêmicas. Acadêmicas, aqui, vale apenas para Fernando Henrique, porque José Serra não se graduou em coisa alguma.

Eles contaram com financiamentos da Fundação Ford e da CIA, desde os inícios, como é o caso do CEBRAP. Foram comprados desde o início e muito significativo é que seus esquerdismos não tenham causado grandes embaraços a eles, em plena ditadura de extrema direita.

Essa gente não mudou, ela sempre foi a mesma coisa, apenas disfarçada ao início…

A vida como ela é… Na Espanha do PP.

Pra quem acompanha o blog há pouco tempo, eu estou fazendo doutorado em Direitos Humanos na Espanha, junto com Thiago Loureiro, desde 2009, pois bem…

Em 2009, quando chegamos aqui, existia um governo “socialista”, o governo do Partido Socialista Obreiro Espanhol (PSOE), a Espanha já estava em crise, não obstante, os serviços públicos, tinham fama de bons, tanto a escola pública, como o sistema público de saúde, e etc. Além disso, tinha-se um governo progressista, um dos primeiros na Europa a liberar o casamento civil homossexual, estava permitido o aborto, e a discussão em questão era se meninas de dezesseis anos poderiam ou não abortar sem consentimento dos pais, acredito que fizeram poucas mudanças no ensino, e aqui falo com um desconhecimento de causa gigantesco.

Mas uma dessas mudanças foi a nova matéria escolar Educación para la ciudadanía y los derechos humanos“, cujo nome fala por si, mas que versava sobre alguns conteúdos controversos, como educação sexual, tolerância de credo, sob uma perspectiva laicista, famílias monoparentais, e famílias homossexuais. Enfim, sob minha ótica, seria uma disciplina que tinha um bom conteúdo e estava bastante bem. Seria algo bastante parecido a algo que se queria fazer no Brasil, e que foi negado por alguns… Mas não é hora de entrar nesse assunto…

Pois bem, agora em 2012 retorno, agora com a Espanha sob o governo do Partido Popular (PP), e aqui se faz necessária a explicação das aspas no socialista do começo do texto. Em qualquer lugar, qualquer pessoa que acompanhasse a política daqui, diria que seria a mesma coisa um governo de esquerda e um de direita. Eu estava entre esses, e estava entre eles porque dizia-se que as medidas econômicas tomadas pelo governo de esquerda, do PSOE, eram as mesmas que o PP, partido de direita, adotaria. Se dizia então que tanto faria o governo, se o governante continuaria arrochando o povo, e por consequência, a classe média. Logo, o governo seria socialista, entre aspas.

Agora mesmo, faz muito pouco tempo que teve início o governo do PP, que aqui na Espanha foi votado, porém, não fariam falta os votos, já que Mariano Rajoy governaria de qualquer modo, por ser o escolhido do Banco Central Europeu, e para quem duvidar, basta abrir os olhos e observar o golpe de Estado dado na Itália.

Pois, primeira medida educativa, tirar a matéria Educação para a Cidadânia e Direitos Humanos, e substituir por outra, “Educación Cívica Constitucional”, que estaria livre de conteúdos controversos, e não “doutrinaria” “as crianças”.

Aqui a educação básica (Educación Secundaria Obligatoria – ESO – nosso ensino fundamental), é até os dezesseis anos, e o equivalente ao nosso ensino médio, o bachillerato, tem dois anos. No entanto, há um deficit de gente formada na educação fundamental, o PP resolveu o problema da seguinte forma, diminuiu-se um ano de ensino fundamental, e aumentou-se um ano de ensino médio, como a educação obrigatória é até os 16 anos, então as pessoas que não aprovavam no último ano de estudo, e depois paravam de estudar, agora vão ter obrigatoriamente de estar no mínimo mais um ano no colégio, e talvez até, fazendo uma coisa que não querem (já que ao acabar o fundamental, aqui, há vários cursos técnicos, inclusive superiores, e várias pessoas optavam por eles, que não podem ser feitos ao mesmo tempo em se faz o ensino médio), logo sem investir um centavo, vão aumentar o número de aprovados no ensino fundamental, me arrisco a dizer que vai virar estatística, e consequentemente propaganda de governo.

Bom, todo esse floreio sobre a tal disciplina escolar, é apenas mote, para as medidas mais perversas, eu falei antes que não investiram um centavo, na verdade, cortaram verba, e diminuiu-se o numero de professores, e os forçam a assumir disciplinas diversas, assim há (num exemplo esdruxulo, mas não sei até onde) professores de matemática, ensinando português e matemática, com um salário já mais baixo do que quando o governo começou, e escolas sem dinheiro suficiente para pagar a calefação durante todo o inverno, há cidadezinhas, onde os alunos vão as aulas com mantas, para se cobrir durante as aulas, alguém acha que dá pra prestar atenção e fazer anotações numa aula, a zero grau, mais ou menos, onde você tem que estar enrolado num cobertor?

Há, só mais uma coisa…

Para mudar um pouco da educação, vem a notícia quase absurda: todos os casamentos homossexuais realizados, estão em vias de ser anulados, e a lei que os permitia, em vias de ser revogada pelo tribunal constitucional, o equivalente ao nosso STF.

Esse é o governo de direita na Espanha, do PP, e a saúde pública… Bom, a saúde pública fica pra outro post…

 

A herança da Casa Grande.

A herança da Casa Grande tem raízes muito profundas no imaginário brasileiro. É um conjunto de idéias e posturas que se instala automaticamente nas mentalidades, por um ensino realizado à força de repetição automática e inercial.

Quem sabe que não está na Casa Grande sabe também – como de um saber intuitivo e não consciente – que deve aspirar a ela. Que deve reproduzir os modos do senhor, imita-lo, ir-se tornando nele na maneira de ser o que acha que faz o senhor.

Nós brasileiros sabemos – uma pequena parte de nós, que viajamos – o que é truculência e estupidez na passagem pela imigração. O caso da estupidez reiterada no aeroporto de Madri basta como exemplo.

Todavia, nós fazemos o mesmo com aqueles que reputamos oriundos da senzala. Falo do caso dos haitianos, evidentemente.

O Brasil nunca foi rigoroso com entrada de estrangeiros, até porque os que para cá vêm são majoritariamente caucasianos, ou seja, são identificados ao tipo do senhor. Então, entram, ficam, se quiserem e como quiserem.

Mas, a programação mental é fortíssima. A lassidão que sempre tivemos com norte-americanos e europeus converte-se no rigor exasperado contra haitianos, bolivianos, peruanos, paraguaios…mesmo que estejam em situações rigorosamente iguais.

Sabe-se que algumas dezenas de estrangeiros, principalmente norte-americanos, trabalham no setor pretrolífero, no Rio de Janeiro. E eles entraram, em sua maioria, como turistas! Ninguém os importunou e acho que não devem mesmo serem importunados, desde que ninguém seja.

Coisa semelhante ao preconceito com os haitianos vê-se em São Paulo, relativamente a bolivianos, paraguaios e peruanos, que geralmente trabalham em semi-escravidão nas indústrias têxteis.

Eles são vítimas de profundos preconceitos dos paulistas e paulistanos. Engraçado, como se São Paulo tivesse alguma origem nobre e honrosa!

O grande mito fundador de São Paulo são os bandeirantes! Um grupo de assassinos, ladrões, baderneiros, escravizadores de índios. Criminosos que todos na corte queriam à maior distância possível. É muito interessante, a propósito, ver a idéia que deles fazia o Padre Vieira.

E essa gente sente-se à vontade para destilar preconceito contra sul-americanos que vêm para trabalhar dez, doze horas por dia. Ou seja, a mentalidade dicotômica Casa Grande Senzala vai se reproduzindo sempre, bastando para tanto um termo de comparação, um inferior prototípico.

Inglaterra: uma fornecedora dos piores exemplos.

Um exemplo de modernidade e liberdade, na sempre celebrada Inglaterra, que se imputa a qualidade de origem do liberalismo:

Alan Mathison Turing foi matemático, lógico e cientista da computação. Tornou possível a aplicação de algorítmos em máquinas pré-computacionais. Considera-se um dos pais do que se entende por computador, hoje.

Durante a guerra trabalhou na decodificação das comunicações secretas da marinha de guerra alemã alemã, com êxito. Prestou, portanto, um imenso serviço ao seu país e ao esforço de guerra. Pode-se considera-lo um herói nacional britânico.

FOI PROCESSADO CRIMINALMENTE EM 1952, POR HOMOSSEXUALIDADE! Sim, na liberal e não socialista Inglaterra. E, sim, com relevantes serviços prestados ao Reino Unido!

Foi castrado quimicamente por meio de hormônios femininos, em 1954, por ordem judicial. Suicidou-se por envenenamento, profundamente deprimido com os efeitos de tão estúpida e agressiva medida, que desmembrou sua personalidade.

Para mim, é o episódio singular mais hediondo que conheço. Na Inglaterra!

Quais os limites do discurso imperialista norte-americano e europeu, fundado em democracia e direitos humanos?

Às vezes, significantes e significados parecem divorciados absolutamente. Quando se chega a tal ponto de dissociação, pode-se estar certo que o divórcio realmente deu-se.  Ora, níveis variáveis de dissociação entre significantes e significados são comuns nos discursos, mas a percepção de ruptura total é, sim, indicativa segura de seu acontecimento.

Claro que a questão passa pela autenticidade dos significados, posto que eles não se postulam como variáveis com margens alargadas. Os que assim são, por sua natureza, são os significantes, que são cambiáveis em ambiguidades resultantes da própria dificuldade em representar coisas.

Posso ser impreciso ao chamar cadeira a um banquinho de três pernas, mas a imprecisão não apontará necessariamente desonestidade minha, na medida em que duas coisas são verificáveis: 1 – que a cadeira existe, como objeto; e 2 – que o banquinho assemelha-se à cadeira. Além desses fatores, lembremos que posso estar diante de um problema como são as traduções.

Outra situação é aquela do discurso meramente teórico. Posso chamar cadeira a um banquinho, e cadeira ser um significante duplamente representativo, ou seja, de um significado conceitual, não factual.

Há um núcleo discursivo utilizado por governos centro-europeus e norte-americano – e por satélites oriundos da desagregação do Império dos Ingleses – que gira em torno à democracia e aos direitos internacional e humanos. Discurso que justifica, a posteriori, ações tomadas contra Estados soberanos.

Para que esse discurso faça sentido, é necessário que democracia e direitos humanos e internacional existam, em qualquer lugar. Eles somente existem se foram praticados, porque não são objetos materiais, são construção diária resultante de ações várias coordenadas.

O paradigma de existência deles é uma excentricidade: um modelo teórico. Pois bem, se assim é, ou quer-se que seja, temos que uma base conceitual é o molde em que práticas podem caber. Se as práticas couberem no molde, diz-se que existem democracia e direitos internacional e humanos. É um modelo jurídico, evidentemente.

Por outro lado, se práticas não configuram o que o modelo apresenta como receptáculo teórico, pode-se dizer que democracia de direitos internacional e humanos não existem, porque a realidade não se amoldou ao que se conceitua por essas coisas. A teoria prende a prática, na sua configuração formal, mas quiseram que assim fosse…

É claro, por ainda outro lado, que as práticas não se prendem pelas teorias, o que não apresentaria qualquer problema em um sistema dinâmico e aberto. Mas, embora o sistema geral da vida seja exatamente dinâmico e aberto, gostamos de fazê-lo de adequação póstuma, ou seja, de verificação de verdade da coisa pelo que se disse que ela era. Tudo bem, é válido.

O problema é que é uma prisão e desnuda hipocrisias profundas. O significado, em alguns momentos, deixa de existir absolutamente, enquanto o significante permanece disponível para os brados vais agressivos. Mas, a representação do nada é, ou o poder absoluto, ou a deificação, coisas, advirto, que não são iguais.

Hoje, para deixar a divagação teórica, tudo quanto são agressões de países a outros visam à dominação, notadamente o saque de recursos naturais. Sempre foi assim, desde que o mundo é mundo, mas há coisa nova. Hoje, ou há duzentos e cinquenta anos, as agressões fazem-se em defesa dos tais direitos humanos, internacionais e da democracia, e isso tampouco é o novo.

O novo é os defensores dos tais direitos e da democracia bradarem-nos em defesa do saque, sem ao menos cuidarem minimamente de aparentar cultivarem essas mesmas coisas. E, mais novo ainda é indignarem-se de alguém perceber que perderam esse cuidado, como se a inércia da agressão afastasse a necessidade da aparência.

Atualmente, os maiores agressores do mundo são, para ficarmos em número pequeno, os EUA, a Inglaterra e a França. Nunca esses países cuidaram de democracia e direitos senão superficialmente. Sabiamente, em outros tempos, protegiam esses valores internamente e esforçavam-se para esconderem a maioria das ocasiões em que o agir guia-se sem limites quaisquer além da força dos outros agentes.

O divórcio atual é completo e claro. É certo que apostam, inteligentemente, na burrice e desinformação generalizadas, mas até essa aposta revela-se demasiada, ante a flagrância da dissociação. Eles seguem falando o que não fazem nem aparentemente.

É muito engraçado que os governos francês e alemão insistam em serem democráticos e que, ao mesmo tempo, tenham deposto um governo grego que aventou a possibilidade de convocar um plebiscito sobre um assunto que interessa aos gregos. Contradição? Evidente.

É engraçadíssimo que intervenções nas políticas internas de vários países ocorram a bem de suprimir a falta de democracia neles, quando os interventores protegem outros países em que não há o menor, mínimo, traço de democracia.

É notável que os direitos humanos – seja lá o que for isso – sejam invocados por um país onde se pode ser preso sem acusação formal, onde investigações sigilosas são possíveis, onde um cidadão pode perder a nacionalidade por ato discricionário, em um país que mantém um campo de concentração. Notável também que os parceiros a leste desse país discursem mais baixo, mas com mais pretensão a sofisticação, no mesmo sentido e sejam cúmplices de uma rede de prisões ilegais. Mas, falam de leis.

Algo de bom nessa aproximação da ruptura há: é que se aproxima o vale-tudo não intermediado pelo entulho discursivo.

Brasil: a quem interessa o faz-de-conta?

Já é tempo do Brasil pensar no custo do faz-de-contas e se convém mantê-lo.

O faz-de-contas serve bem a interesses de um certo modelo político, à justificação de uma burocracia estatal que se julga o centro do mundo e a meia dúzia de advogados.

Por exemplo, a quais interesses serve a litigiosidade previdenciária que existe no Brasil? A vários, excepto àqueles dos beneficiários. Serve para justificar o aumento da burocracia judiciária, para justificar o aumento da advocacia pública, para justificar pedidos de aumentos de salários.

Serve para custear desnecessariamente escritórios de advocacia, com dinheiro público de uma sucumbência certa.

Ora, se em um certo tipo de causa judiciária, uma das partes perde 80% das ações e essa parte é o Estado, é muito mais barato reconhecer esse direito que fingir um litígio!

O sistema das transferências de recursos para municípios, nomeadamente nas áreas de saúde e educação, é outra farsa, outro faz-de-contas. Aqui, justificam-se as estruturas de fiscalização.

Realmente, estruturas burocráticas precisam de problemas que as justifiquem, a posteriori. Depois a da merda feita, ou seja, depois do desvio dos recursos, entra em cena o faz-de-contas das tomadas de contas e ações judiciais.

Pouquíssima coisa recupera-se. Na verdade, o sistema não funciona para que haja boas prestações de serviços de saúde e educação públicas. Ele funciona para irrigar um modelo político baseado na fidelidade dos prefeitos municipais.

E para justificar sucessivas camadas burocráticas de fiscalização. Fiscalização que chega depois do problema ocorrido, claro.

É óbvio que sairia muito mais barato, que seriam melhor prestados e que haveria mais transparência, se a União Federal prestasse diretamente aquilo que ela paga aos municípios para não fazerem.

Belo Monte e o tamanho da fazenda eólica.

É ótimo que se discuta a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte. Raramente pode-se discutir qualquer coisa e geralmente a discussão é obstada precisamente pelos que clamam por democratização dela.

É ruim que a contrariedade a Belo Monte tenha como ponta-de-lança tolices como o vídeo que atores de novelas da Globo fizeram. De tão vulgar, deixa claro como tratam vulgarmente qualquer assunto e qualquer público. É coisa de vender lavadora de roupas.

Nisso, há o de sempre: interesse e boa vontade. A última lamenta os impactos que uma obra tem. A primeira é questão de domínio, pura e simplesmente, e leva muita gente atrás. A pergunta é: a quem interessa.

Se nós queimássemos carvão e óleo, como a China, o Japão e os EUA, e quiséssemos queimar mais, eles patrocinariam a contrariedade ao aumento da fogueira e a manteriam acesa lá nos países deles.

Se nós quisermos dividir átomos de metais muito pesados, eles serão contra, porque é arriscado, principalmente de engendrar a bomba que devíamos ter feito há muito.

Se nós partirmos a sério para algumas fontes renováveis – eólica e solar, por exemplo – eles serão contra, também. E terão argumentos, como há contra tudo. Dirão que ocupam vastos espaços, que podem ser utilizados para produzir alimentos…

Afinal, para gerar o que Belo Monte gerará, uma fazenda eólica teria que ter quantas vezes a área do lago no Xingú?

Reuniões no serviço público e o amor involuntário do vaudeville.

O serviço público brasileiro tem um fetiche-mor: a reunião. Ela não é, como pode parecer a princípio, uma necessidade, convocada à vista da utilidade de haver mais de um servidor público reunido, para resolver o que só se resolve coletivamente. Claro, às vezes, ela desempenha precisamente tal papel, mas é raro.

Ela não é, na maioria imensa das vezes, uma abertura democrática ou uma assembléia deliberativa. Envergonhada de não ser a assembléia, ela também não se quer o palco de uma comunicação vertical de decisão, ou seja, não aceita ser uma oportunidade de exposição, pura e simplesmente.

Ela tem todos os ingredientes do amor das aparências, do nome consagrado, da exibição narcisística, do discurso tão longo como vazio, do falso escândalo. Ela é, enfim, uma encenação que, como teatro sai-se mal. As personagens, mais ou menos livres de roteiros minuciosamente estabelecidos, fazem o improviso previsível da competição na eloquência oca. Perde-se tempo…

Poucas coisas são menos aptas a desaguarem em alguma decisão coletivamente construída que uma reunião deste tipo. Ou bem a decisão já está tomada e a reunião é apenas um nome e a ocasião do convocador para expo-la, ou bem não há decisões a se tomarem e será o palco do desfile de pavões de parcas penas.

Essa ociosidade, falta de resultados, o câmbio oportunista de posições e o amor do discurso eloquente e oco foram retratadas magistralmente por Eça de Queiroz, a propósito do Parlamento Português no século XIX, acho que n´A Capital, mas não tenho certeza. Bem pode ter sido e foi que Eça distinguiu o assunto e seus atrozes ridículos mais de uma vez. Herdamos isso com uma avidez de herdeiros que superam o falecido.

Nada é mais proibido em uma reunião que a sinceridade, seja do silêncio, do comentário objetivo ou da afirmação da desimportância dela. Nada é mais bem-vindo que a competição das mesquinhezas que se afirmam, solenes, em discursos que se julgam merecedores de publicação. Tudo implica o recurso ao argumento do interesse público, embora só se trate de interesses individuais pequenos e rivais.

A reunião no serviço público atende, basicamente, a duas inclinações: primeiro, o hábito que as recomenda; segundo, a oportunidade de exposição da personagem afirmativa e participativa. Essa segunda inclinação merece algumas palavras. O serviço público joga no tabuleiro da pequena política corporativa, aquela que engrandece o mérito de não o ter, ou de te-lo pela reinvenção da roda, ou ainda de apenas afirma-lo em círculos.

O mérito é a abstração que mereceria quilos de papel profanado por tinta. Poucas coisas são menos percebidas e mais faladas que ele. A redenção estaria no seu reconhecimento, como se isso nunca houvesse ocorrido e como se não continuasse a não haver, em iguais proporções. Dele se fala como se nunca tivesse sido tomado como critério para algo, no serviço público.

Mas, esse critério mágico, ao tempo em que é incensado e cantado em maus versos, permanece esquivo e inatingível, porque assim tem que ser. A meritocracia é o Reino de Deus do serviço público; é a contradição em termos perfeita, porque pode ser atingida em vida!

O triunfante meritocrático é a figura perfeita do intrigante de longos discursos de reuniões e de pequenos pedidos individuais. Seu mérito é rotina de carreirismo de teto baixo, que se afirma intrépido e disposto a sacrifícios. Tudo estaria bem se o discurso casasse com a prática e o sacrifício pelo público não visasse a interesses privados.

O mérito, como a Graça, não se invoca; ou se tem, ou não se tem. O mérito pequenino que se proclama na reunião vem travestido de esforço, sacrifício e humildade. É instrumento de pequenas ambições, reconhecidas como válidas pela platéia de atores, que também valida os meios.

Olhar para o relógio de pulso é aceito. Pode ser um tanto descortês, se o espetáculo estiver no início, mas em geral é aceito.Objetar dentro da lógica dos sofistas em aparente conflito, também é válido. Que o espetáculo está mal encenado, vá lá, é ríspido mas não rompe as regras. Que o espetáculo não devia acontecer, é proibido, porque não se pode insinuar sua inutilidade.

A lógica a presidir essa encenação de mau gosto parece a tautologia que seria o desejo de protagonismo da prima-donna do teatro de fantoches! Em tal situação, todas as aspirantes combateriam o inexistente combate, guiadas todas pelas mesmas mãos. Pois é o que acontece na tal reunião no serviço público, um combate falso de vaidades expressas em discursos tão longos quanto pedantes, tudo guiado previamente e de desfecho previsível…

Vazamento de óleo da Chevron. Para quem trabalha a grande imprensa brasileira?

Passou-se uma semana do início do vazamento de petróleo no poço da Chevron-Texaco no Campo do Frade, ao largo da Bacia de Campos. A ANP estima que estejam vazando entre 200 e 330 barris por dia. Não é mais um pequeno vazamento: isto representa entre 32 mil e 52 mil litros diários. Essa informação, copiei-a do blogue do Brizola Neto, o Tijolaço.

Nada obstante, silêncio obsequioso da grande imprensa. Não surpreende, na verdade, pois estão todos comprados por interesses outros que não brasileiros. Só fazem escândalo por conveniência política.

Só convocam indignações e marchas e moralismos udenistas, seletivamente. Sua absoluta amoralidade e infidelidade ao factual são coisas evidentes.

Sua fixação é por o governo de joelhos. A grande impresa é a oposição ao governo, no Brasil. E só ela, porque o povo não é, obviamente!

Se vazasse um décimo do que está a vazar do poço da Chevron de um poço da Petrobrás, seria um bombardeio diário. Catilinárias contra a ineficiência da empresa estatal, que deveria ser vendida a preço de banana, no dia seguinte.

Onde estão os ambientalistas histéricos que se reúnem em partidos políticos que, na verdade, propõem a despolitização e assim escondem seu direitismo e entreguismo trânsfuga?

Anti-semitismo, a acusação máxima.

Leio, no Público, um artigo mal escrito que acusa, meio envergonhadamente, o jornal Avante, do PCP, de anti-semitismo. O artigo refere que o texto de Jorge Messias no Avante serve-se dos Protocolos dos Sábios de Sião, um texto anti-semita e falso.

A falsidade dos tais Protocolos foi decretada universalmente por quem ficaria mal com sua veracidade. Não se sabe a partir de quê definiu-se que o texto é falso, nem se sabe o que é um texto falso. Sabe-se o que é uma cópia, um plágio, mas não o que seja um texto falso. Será que significa apócrifo?

Não me interessam aqui, especificamente, nem os Protocolos, nem o texto do Público, nem o do Avante. Interessa-me algo bastante evidente: os judeus sionistas conseguiram interditar qualquer abordagem sobre eles e o poder que detém. É impossível falar sobre eles, sobre o poder que exercem, notadamente a partir da detenção do dinheiro, sem que surja a acusação de anti-semitismo ou a objeção do holocausto.

A objeção do holocausto é ridícula. Se ele aconteceu, não é razão para estancar toda e qualquer discussão que, no fundo, não lhe diz respeito. Do contrário, ninguém poderia falar de povo algum, porque todos sofreram massacres. Teríamos, para sermos fiéis e essa trava, que não falar de armênios, de africanos sub-saarianos em geral, de índios dos Andes, de chineses…

Talvez, essa desculpa sirva bem a quantos viram o tal holocausto judeu acontecer e acharam-lhe vantagens, como certos banqueiros judeus.

A interdição a partir da acusação de anti-semita esconde duas coisas. A primeira é a confusão deliberada entre anti-semitismo e anti-sionismo, que não são a mesma coisa. A segunda é que não há mais problema em ser anti-semita que em ser anti-islâmico, anti-chinês, anti-comunista, ou anti qualquer coisa.

Inclusive, as posturas anti qualquer outra coisa têm gerado assassinatos em massa, coisa que o anti-semitismo não tem! Claro, Israel, a teocracia judaica, tem à volta de 200 bombas atômicas, o que não recomenda maiores agressões.

Grande parte do sistema bancário mundial é detida por judeus e o sistema é responsável pelo empobrecimento crescente dos que já foram relativamente ricos e pela manutenção da pobreza dos que sempre foram pobres.Quando se acusa o sistema bancário, é claro que se acusam seus donos e boa parte são judeus. E daí?

Não há nisso anti-semitismo, nem algum problema com judeus, há acusação por uma concentração de poder que pôs o mundo de joelhos. Fica obstada a constatação a partir de argumentos tão bobos como os de anti-semitismo e de negação do holocausto?

O mundo precisava que houvesse mais judeus, porque aí haveria mais judeus pobres…

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