Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

Categoria: Hipocrisias (Page 10 of 14)

O Golfo do México e a sociedade brasileira.

Um texto de Gustavo França.

O ano de 2010 marcou os Estados Unidos da América com a maior catástrofe ambiental da história do País: o vazamento de petróleo, por mais de cem dias, no Golfo do México.  A petrolífera BP, responsável pela exploração da plataforma, parece ter conseguido, finalmente, estancar o vazamento e, minimamente, amenizar a vergonha dos americanos perante os olhos do mundo inteiro.

Se fosse no Brasil, as críticas, certamente, viriam numa intensidade maior do que as lançadas contra os americanos, e com argumentos ainda mais carregados. Diriam que somos subdesenvolvidos, irresponsáveis, e todos aqueles adjetivos os quais sempre vem a tona quando vacilamos diante da comunidade internacional.

É bem verdade que muitas das opiniões sobre nossa pátria são preconceituosas e carregadas de argumentos sem o mínimo de fundamento. Mas uma, venha de onde vier, é, infelizmente, a mais pura realidade: a escancarada corrupção do povo brasileiro.

Em tempos de eleições gerais surgem incontáveis campanhas pregando o voto consciente, a escolha de candidatos “ficha-limpa”, e um sem número de conselhos dos mais variados tipos.

O voto constitui, inegavelmente, talvez a mais importante ferramenta posta a disposição por um regime democrático. É através do voto que distorções podem ser colocadas no prumo, quando se escolhem os cidadãos mais preparados e capacitados para gerir a máquina estatal. No entanto, o voto só tem o real poder de modificar quando é emitido por cidadãos plenamente conscientes desse poder, característica que, infelizmente, não está presente na quase totalidade do povo brasileiro.

A realidade social não mudará através da propagação do voto consciente. Chega a beirar a utopia acreditarmos na mudança da nossa realidade social tão-somente votando nos supostos políticos “ficha-limpa”, se é que esses seres existem. E isso porque a corrupção – repita-se, nosso maior problema – não cessará quando pressionarmos a tecla verde da urna eletrônica, como num passe de mágica.

A corrupção no Brasil é caso de saúde pública. Está na mente de grande parte dos cidadãos como uma mancha negra de petróleo que insiste em permanecer escurecendo nossa dignidade. É em virtude da corrupção que muitos definham em leitos hospitalares – isso quando os tem a disposição – enquanto uma meia dúzia de “espertões” comem camarão à beira-mar. É por meio dela que muitos matam, subornam autoridades públicas e permanecem impunes. É ela a causa de milhões gastos na manutenção de ferramentas para combatê-la, quando esse dinheiro poderia ser utilizado para alavancar o progresso brasileiro. E não falo do progresso econômico, mas do progresso moral e espiritual, como a construção de uma rede de ensino pública de qualidade, a especialização e valorização dos profissionais da educação e tantas outras ferramentas indispensáveis para alimentar a alma de um ser humano.

O povo brasileiro bem que poderia ser equiparado à fauna do Golfo do México, que demorará dezenas de anos para se livrar da lama preta e grudenta do petróleo. No entanto, diferentemente de nós, que vivemos mergulhados na corrupção por pura opção, a fauna do Golfo do México não pediu para se sujar de óleo nem vivenciar milhares de mortes determinadas pela irresponsabilidade humana. A sociedade brasileira, ainda que inconscientemente, está mergulhada na lama preta da corrupção por livre arbítrio, por opção própria.

É por isso que “votar consciente”, a esta altura, não exterminará, a curto prazo, o câncer chamado corrupção. Contra essa mazela só há um antídoto: uma revolução cultural profunda, vinda da sociedade para a classe política, e não no sentido inverso, como insistimos em acreditar.

Colocar nas mãos dos governantes a culpa exclusiva pela corrupção é tirar de nós mesmos a chance de estancar esse vazamento interminável que mancha de negro a nossa existência. E a revolução cultural começa por simples gestos que, somados, resultarão num futuro mais digno para cada brasileiro.

Comecemos, nós mesmos, a agirmos de maneira proba como meio de exorcizar a corrupção da nossa sociedade. E o voto, repita-se, não é o instrumento único para se alcançar a vitória sobre esse mal. O voto é a ponta superior da pirâmide, a complementação desta, a ferramenta a ser usada quando a base já estiver devidamente consolidada.

A farsa de Nurembergue.

Resposta honrada de Goering à farsa.

A vingança não precisa fantasiar-se de jurídico para atuar plenamente e o direito do vencedor só é direito se valer para o futuro. Os vencedores das guerras não têm compromissos jurídicos, evidentemente, pois a guerra essencialmente é diferente deste âmbito. Claro que há normas costumeiras e compromissárias que podem vincular países que venham a entrar em conflito, mas sua real observação é raríssima.

Admitindo-se a existência prévia de tratados sobre vedações na guerra, está-se a admitir acordos celebrados por Estados soberanos. Daí, seu descumprimento, posteriormente verificado, é conduta a impor responsabilidades aos Estados descumpridores das regras que aceitaram. Esse ponto deve ser fixado, para estabelecer a diferença entre responsabilização de Estados e culpa de pessoas naturais.

Esse direito de guerra não é penal, a toda obviedade, porque não trata da responsabilização pessoal de indivíduos, até porque as regras tratadísticas estabeleceram obrigações para os Estados. A partir do segundo pós-guerra do século XX, todavia, criou-se um direito penal de guerra, na ONU, com previsões de responsabilizações individuais. A obra é falha, como se vê adiante.

Há sessenta e cinco anos encenava-se o julgamento de vinte e dois acusados no Tribunal de Nurembergue. Destes, três foram absolvidos, nove condenados à prisão perpétua e dez condenados à pena capital, executada imediatamente. Aquilo que se chamou de julgamento não tinha precedentes históricos, nem normativos. Realmente, a anterior Liga das Nações não oferecia qualquer substrato de direito tratadista que se pudesse aplicar.

O aspecto mais evidente – tão evidente que sugere a desnecessidade de falar a respeito – é que não se tratou de aplicar regra penal. Não se tratou porque essa espécie jurídica obedece, ao menos nos países envolvidos, ao já longevo princípio da anterioridade das leis. Ou seja, não há crimes, nem penas, sem lei anterior que as definam e prevejam.

Essa é uma garantia presente em muitos sistemas legais, para evitar que alguém seja perseguido judicialmente por alguma conduta que não era ilegal e reconhecidamente reprovada. Ou seja, tudo aquilo que pode ensejar uma privação de liberdade, ou mesmo da vida, por sanção do Estado, deve estar anteriormente previsto, senão é apenas punição fora do direito.

No caso dos acusados em Nuremberg, civis e militares alemães que atuaram na Segunda Grande Guerra, não havia qualquer direito a incriminar suas condutas. E, caso houvesse, incriminaria também àquelas dos vencedores, que foram essencialmente as mesmas. O direito que se dizia aplicar era o dos vencedores ou, melhor dizendo, era a vontade deles, os vencedores.

Nurembergue foi a vingança envergonhada, que recorre ao teatro e à simulação. Os crimes que supostamente seriam julgados foram definidos no próprio estatuto do Tribunal, depois de praticadas as ações que se iriam julgar. Ora, nenhum dos países componentes do Tribunal admitia a retroatividade das normas penais, exatamente o que estava a ocorrer naquele julgamento.

A natureza de vingança com tintas de direito fica clara nas observações e comentários feitos mais tarde por gente que esteve naquela guerra. Recentemente, Robert McNamara, o secretário de defesa norte-americano que conduziu grande parte da guerra do Vietnam e que esteve nos planejamentos dos bombardeios do Japão, na segunda guerra, fez as pazes com a sinceridade, de maneira cortante.

No filme documentário As névoas da guerra, indagado sobre a utilidade estratégica dos bombardeios incendiários no Japão e, mais precisamente, sobre as bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, McNamara não deixa qualquer traço de hipocrisia: se tivéssemos perdido a guerra seríamos julgados como criminosos de guerra.

Não conheço quem tenha sido mais direto e preciso sobre o tema que o ex-secretário de defesa. Os vencedores julgaram os perdedores por ações que eles também praticaram, donde conclui-se que não julgaram a partir de qualquer direito, mas da vitória. Todavia, a partir de Nurembergue, a idéia da responsabilização criminal individual por condutas em guerras projetou-se na ONU.

Aparentemente, depois desse começo extra-jurídico, parecia que as coisas caminhavam para uma conformação mais sistemática. Ou seja, seriam estabelecidas normas penais internacionais, por meio de acordos, tratados e protocolos entre nações e a ONU, por algum seu órgão, julgaria as condutas que se inserissem nas hipóteses legais.

Todavia, a ONU nasce com uma mácula original a impedir que se tome a sério a própria instituição e seus declarados desígnios de ser uma grande instância jurídica supranacional. Essa mácula é o poder de veto dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança, que não precisam abster-se de votações que envolvam suas próprias condutas.

A fórmula implica – sem quaisquer eufemismos – impunidade total dos cinco integrantes permanentes: EUA, Rússia, França, Inglaterra e China. Ou seja, a instituição tem na sua gênese o direito do vencedor!

Se, por exemplo, tropas norte-americanas cometem barbaridades imensas, como as praticadas na Sérvia, os EUA podem votar na reunião que eventualmente discuta as infrações e podem vetar qualquer sanção! É uma piada? É mais que isso, é uma imensa farsa em que muitos acreditam piedosamente, inspirados por massiva propaganda do absurdo.

Os fiscais de patriotismo.

Um torneio de equipes nacionais, como a copa do mundo de futebol, da Fifa, é ocasião de exacerbação de ufanismos emocionados. As cores nacionais são o elemento mais marcante, estão nas roupas e nas caras das pessoas, em bandeiras e em faixas, por todos os lados, enfim. É mais ou menos como o choro, esse transbordamento nacionalista, substitui uma emoção forte por uma fraca. Assim são os símbolos, entretanto.

Eventualmente uso uma camisa da equipe argentina, o que não significa que me tenha tornado ou que me queira tornar argentino, mas uso-a. E percebo reprovações, umas mais diretas, outras mais laterais. Todas, porém, profundamente bobas ou hipócritas. Geralmente, as mais enfáticas são as menos sinceras, porque são bastante conhecidos os indivíduos que venderiam o país inteiro, enquanto agitariam entusiasmadamente a bandeira da nação vendida.

Os fiscais de patriotismo são os grandes infames, herdeiros da acusação inquisitorial, aquela que sabe muito bem quais são os riscos reais, mas prende-se aos sinais e aos detalhes. Um modelo quase perfeito de hipocrisia, depurada de seus elementos acidentais, destilada de quase todas as impurezas. Hipocrisia quase nua, que se socorre apenas de emocionalismo superficial para tapar-lhes as partes mais pudendas.

Eles querem a adoção da simbologia, a solidariedade na repetição dos lugares-comuns, a embriaguez sem sentido de uma catarse inexistente. Eles deviam ir a guerra, em homenagem a tão grande patriotismo. Mas, eles, quando vão à guerra, são os que desertam!

FHC não é bobo… E o Partido da Social Democracia dos Trabalhadores.

Fernando Henrique por esses dias deu uma boa entrevista ao programa Canal Livre da rede Bandeirantes de televisão, parte dela que está ai acima. Logo no começo desse trecho da entrevista, FHC claramente se intitula “intelectual”, ora, nada contra nem a favor, apenas observo que, para tanto, de acordo com nosso desenvolvimento filosófico-cultural autointitular-se intelectual significa ter estudado teorias européias sobre o seu tema, quer seja a sociologia.

É lógico que europa e america latina são dois lugares diversos em vários aspectos, e que algumas dessas teorias estudadas pelos “intelectuais” (não apenas Fernando Henrique), logicamente também deveriam diferir, ou não?!

Bom, não quero defender o PT, nem tampouco o PSDB, FHC diz coisas muito interessantes nessa entrevista, como por exemplo, a “esquerda” não se propõe mais hoje a tomada dos meios privativos para estatizar, e assim dar-se início a um regime socialista. O que se propõe é justiça social, redistribuição de renda, democracia, enfim… E isso é, ou deveria ser proposto proposto pela social democracia, mas o que acontece estranhamente, é que aqui não é… Ou é?!

Esses tais “intelectuais” vão a europa, desde qualquer ponto da América latina, estudar, aprendem teorias que dão certo da forma deles, europeus, e querem descer a aplicação dessas teorias goela abaixo aqui como se fossem a coisa mais normal do mundo, não é, e deveria ser óbvio. As teorias aqui deveriam ser refeitas, mesmo que usando moldes europeus ou de onde quer que sejam, mas de forma a se adaptarem. Por exemplo: não dá pra os estados unidos dizerem que tem que privatizar, efetivamente privatizarem, e nós corrermos atrás pra fazer igual, por um motivo simples, não somos os estados unidos.

Pois o modelo não diferiu tanto nesses oito anos, temos um governo social democrata com base sindical, “como na europa”, e com base sindical nos europeisamos. Talvez se o PT mudasse para Partido da Social Democracia dos Trabalhadores ficasse algo mais correto, e o PSDB, bem, o PSDB deveria correr atrás de alguma base sindical pra ter esse nome, ou então mudar pra Partido dos Intelectuais.

Brasil: país selvagem, hipócrita e racista. Estudante guineense é agredida na Universidade Federal da Paraíba.

Leio a notícia de que uma estudante de Guiné Bissau é agredida dentro da Universidade Federal da Paraíba – UFPB, em João Pessoa, por um indivíduo vendedor de cartões de crédito.

Kadija Tu é guineense e estuda Letras na UFPB. Foi abordada pelo agressor nos corredores do Centro de Educação. Ao assédio sexual e aos gestos obscenos sucederam-se agressões verbais racistas e físicas. A estudante foi levada a um hospital.

O Brasil, essa confusão de pobreza e falta de civilização, gosta de acreditar-se uma democracia racial, que não é. Quem quiser, entregue-se ao trabalho de verificar as estatísticas de vítimas de agressões e de homicídios. A enorme maioria dos agredidos são pretos.

Esta sociedade divide-se, basicamente, entre quem pode e quem não pode descumprir as leis. A raiz da divisão é de caráter racial e social. É assim, quer se queira, quer não se queira. E a pior forma de superar isso é negando a realidade.

A idéia de divisão é tão forte que permeia todas as classes sociais e as pessoas têm incutida nas suas cabeças, desde sempre, a noção de que poder infringir regras é sinal de pertencimento ao estrato superior. O infrator pretende-se em situação superior exatamente porque emula a atuação do senhor de séculos atrás. O senhor que não infringia leis porque elas eram o que ele achava que eram, porque ele as fazia, a cada momento.

O signo do Brasil, a sua marca distintiva, é o divórcio entre o que está escrito e o que acontece diariamente. As normas nada têm a ver com a realidade e assim é porque se quer que seja. No fundo, temos normas para dizermos que as temos, e só. Isso que aconteceu não merecerá grande reprovação social, embora seja crime, pura e simplesmente.

Vai triunfar a patifaria segundo a qual tratava-se de uma pretinha que vinha oferecendo-se e que, por capricho, respondeu inadequadamente ao indivíduo que lhe assediou. Ora, se é assim, por que não eliminamos toda a mentira que torna essas coisas crimes? É melhor rompermos com as aparências e sermos integralmente a selva.

Israel é uma ameaça à paz e não apenas no Médio-Oriente.

A despeito de todo o discurso auto-vitimizador e acusador dos riscos oferecidos por outros países, a partir de que Israel quer justificar ataques militares ao Irã, sabe-se que a origem maior de riscos bélicos, no médio-oriente, está precisamente em Tel Aviv. Não é segredo que Israel detém um grande arsenal nuclear, embora sua política de ambiguidade – negar o brilho do sol – tenha sido eficaz em desviar o foco da questão.

Esses guerreiros do deserto e seus aliados da América do Norte vivem a cansar o mundo com seu narcisismo moralizante, que sempre antecede às chuvas de bombas sobre as cabeças de alguém. Eles dizem que os outros, todos os outros submissíveis que não se querem submeter, são um risco a ser evitado com a destruição. Faz sentido, realmente, pois todo interesse contrário é um risco potencial.

Todavia, os seguidores de Weber são assim, eles precisam misturar às razões práticas o narcisismo moralizante, na forma de alguma sub-teoria política e religiosa. Considerando-se que a vontade de jogar bombas não recua, evidencia-se que essa etapa discursiva pode ser inútil e até arriscada. Arriscada porque a platéia do narcisismo moralizante finda por acreditar nele, assumindo o modelo, e pode, exatamente por ter acreditado, passar a descrer se as evidências de mentira se apresentarem.

A platéia, diferentemente dos redactores do roteiro, ignora o que está por trás e por isso mesmo é susceptível a negar seu apoio caso o roteiro seja desmentido factualmente, a partir da mesma lógica discursiva e com outras informações. É claro que a quantidade de difusores da informação desempenha um importante papel nisso, e que há muito mais difusores do discurso que do anti-discurso.

Bem, o caso é o jornal britânico The Guardian revela, hoje, que Israel ia vender bombas atômicas à África do Sul, em 1975. A primeira coisa a pensar é que só se vende o que se tem, portanto… A segunda é que a difusão nuclear, em si, não é considerada um risco por quem se dispõe a vender armas nucleares!

Em 1975, Shimon Peres, então ministro da defesa e hoje Presidente de Israel, e P. W. Botha, ministro da defesa da África do Sul, firmaram um acordo secreto, no seio de várias tratativas relativas para a venda dos mísseis Jericho (Chalet). Essas armas somente interessariam à África do Sul com ogivas nucleares, porque as convencionais eles sabiam fazer.

O acerto não foi adiante e o jornal sugere questões de custo, mas a cooperação entre os países foi produtiva. A África do Sul forneceu urânio a Israel – em forma de yellowcake – e este teria ajudado aquele a fazer suas próprias bombas nucleares, o que ainda é uma suposição.

Como sempre, irão adiante com outras justificativas, ou mesmo sem elas, que no fundo são desnecessárias, como tem provado a história. Todavia, é bom rir da vergonha do justo, como disse Machado de Assis.

Link da notícia, no The Guardian: http://www.guardian.co.uk/world/2010/may/23/israel-south-africa-nuclear-weapons

Dimona: aqui está a real ameaça à paz no médio-oriente.

Complexo nuclear de Dimona.

Os franceses e os norte-americanos sabem muito bem o que há neste sítio no deserto do Negev. Os primeiros porque ajudaram a construí-lo, a partir de 1958, e os segundos porque também ajudaram, posteriormente, a melhorá-lo e torná-lo um não-assunto.

No início, era um pequenino reator de fissão nuclear, de água pesada, com potência nominal de 26 MW, basicamente de tecnologia francesa. Na verdade, a planta tinha capacidade para 150MW.

Os gauleses também ajudaram na construção de uma planta de produção de plutônio. Estima-se que é capaz de produzir ao redor de 40 quilogramas de plutônio físsil, o que é suficiente para a obtenção de cinco bombas atômicas por ano. Feitas algumas continhas simples, chega-se à estimativa do atual arsenal nuclear israelense: 200 bombas atômicas!

Aqui, a ONU, nem qualquer outra coisa desse gênero, nunca entrou, nem quis entrar. Não é curioso?

Mentir vale a pena, está provado.

Científicas medições antropométricas.

Apostar na desinformação e na ignorância das maiorias é arriscar-se pouco. Assim, a mentira, principalmente se for de enormes proporções, vale a pena. No varejo, é mais arriscado, todavia. Portanto, convém ir até os limites da fábula, deixando para trás a simples desfaçatez. Para o êxito, contribuem diversos fatores, sendo que um agente destaca-se, no desempenho de dois papéis similares.

O agente é todo e qualquer meio que lide com a propagação de informações e os meios distinguem-se pela ação e omissão, ou seja, pelo que se diz e se omite. Há quem utilize o termo imprensa mas, na verdade, essa terminologia é muito restritiva, pois deixa de lado outros mecanismos de difusão e de escamoteação de fatos e idéias.

Atenho-me aqui precisamente à fábula dos Estados Unidos da América serem um país constituído sobre a idéia da liberdade. Porém, esse foco deve-se somente a circunstâncias históricas. Se escrevesse em outros tempos ater-me-ia a outros casos, porque os EUA são exemplificativos nos tempos atuais, somente.

A idéia de que a liberdade subjaz a todo o ideário norte-americano triunfou, a despeito de inúmeras evidências em contrário. É coisa velha, é o divórcio do discurso – triunfante – e das práticas. Não se fazem necessárias grandes teorizações, alguns exemplos deixam tudo muito claro.

A nação construída a partir da liberdade manteve e mantém campos de concentração, onde confinam-se acusados não submetidos a processos regulares e formais tendentes à privação de liberdade a partir de balizas legais. Esta mesma nação – orgulhosa de sua constituição plural e dos direitos civis e de cidadania – admite a perda da cidadania sem necessidade de processos regulares formais.

A pátria das liberdades modernas desenvolveu programas de eugenia positiva e negativa, até os anos da década de 1960, de forma bastante clara. Programas de seleção não-natural escolheram quem poderia e não poderia reproduzir-se, a partir de critérios raciais e religiosos, ocorrendo esterilizações massivas e rompimentos de matrimônios por decisões dos poderes públicos.

A mesma gente que praticou eugenia sob os auspícios de cientistas complacentes nunca deixou de fornecer às massas os discursos de acusação do regime fascista alemão pelas mesmas práticas. Sucede que os EUA desenvolveram métodos muito mais sofisticados que a simples eliminação física. Claro que a eliminação e outras brincadeiras médico-científicas deste tipo continuaram à disposição dos que com isso encontrassem infinitos gozos, bastanto dar qualquer coloração de pesquisa científica ao divertimento.

Conseguiram engendrar uma espécie de processo de eugenia por auto-exclusão psico-social do grupo reputado inferior. Além das condições sociais desfavoráveis aos perdedores, incutiram a idéia mais genial e perversa de tantas recentes criações do imaginário: a noção de culpa da vítima. Ao tempo em que é superior à eliminação física porque mantém a mão-de-obra, surte os mesmos efeitos práticos da exclusão drástica.

Essa gente – que levou as captis diminutio minima, media e maxima, do direito romano, aos píncaros – luta pelo mundo a bem das liberdades!

Mulheres árabes pagam 2000 euros por reconstrução de hímen.

O Dr. Marc Abecassis

Leio, na BBC em português, que o Dr. Marc Abecassis é muito procurado por mulheres árabes, ou árabe descendentes, na França, para cirurgias de reconstrução de hímen, pelas quais ele cobra à volta de 2000 euros. O médico assevera que a procura é maioritariamente de mulheres na faixa dos 25 anos, provenientes de todas as classes sociais.

O assunto chamou-me a atenção porque convencionou-se utilizar este exemplo como mais um das prisões sócio-culturais associadas ao islão e ao pertencimento étnico-social ao mundo árabe. Ou seja, de submissão a padrões culturais e religiosos, cuja infração pode levar à exclusão em graus variados. Ora, claro que é disso que se trata, mas a utilização do caso para acusar o islão ou a cultura árabe de impositores de sujeições sociais deixa entrever quanto somos complacentes com as mesmas coisas no nosso panorama cultural.

Por exemplo, uma vasta porção das populações masculinas jovens de cultura ocidental é refém da obrigação de gastar tempo e dinheiro em academias de levantar pesos, para ter braços fortes e músculos abdominais realçados, para utilizar engraçadas camisetas apertadas, em cores extravagantes e com desenhos estranhos, sob pena de exclusão social.

Uma vasta porção das mulheres jovens de cultura ocidental é refém da obrigação de submeter-se a cirurgias para inserir silicone nos peitos e na bunda, ou retirar gordura de locais vários, sob pena de falta de êxito matrimonial ou profissional. Aqui, é possível até apontar uma grande superioridade da himenoplastia, uma vez que demanda anestesia local e apenas 30 minutos, minimizando os riscos frente às grandes intervenções a que se submetem as jovens senhoras modernamente ocidentais.

Embora muita gente fale do ridículo e dos riscos associados às prisões sociais na raiz das condutas ocidentais, não há qualquer esforço maior de associá-los a causas profundas culturais, étnicas ou religiosas. Pairam como uma simples curiosidade superficial, um deleite de ocidentais livres. Enquanto algo intimamente semelhante, quando dá-se entre árabes, seja a prova irrefutável de uma inferioridade cultural e de uma dominação hedionda sobre as mulheres.

Ciro Gomes não é candidato nas presidenciais e o urubú fica com raiva do boi.

Ciro Gomes, ex-candidato a Presidente do Brasil.

Ciro Gomes é um político brasileiro, cearense nascido em Pindamonhnagaba, São Paulo. Teve uma exitosa carreira no Ceará e na política nacional. Foi governador daquele Estado na época em que novos grupos surgiam a propósito de afastar a velha política dos três coronéis que mandavam lá há décadas, alternadamente. No início, trocaram-se três coronéis por apenas um, Tasso Gereissati. Depois, Ciro Gomes, que lançou-se na política à sombra de Tasso, rumou por caminho próprio.

Ele é muito inteligente e, aparentemente, bastante sincero. Essa última qualidade é tão desprezada no país que recebe os nomes de incontinência verbal, destempero, pavio-curto, descontrole e outros mais que carregam significados negativos. Ciro já foi qualificado por tudo isso, exatamente nos seus melhores momentos.

Flertou com a nova direita brasileira, aquela que é sem querer o nome, que sempre foi mas diz que tornou-se. Seu capital político – votos – e sua inteligência puseram-no no governo de Itamar Franco, o vice-presidente que sucedeu a Fernando Collor de Mello e antecedeu a Fernando Henrique Carodoso. Foi ministro da fazenda em 1994, um dos cargos mais importantes de qualquer governo brasileiro e, então, de mais relevo ainda considerando-se o problema inflacionário, que foi atacado e debelado.

Integrava o PSDB, o mesmo partido de José Serra, de que se retirou em 1996, passando a uma legenda filiada a este, o PPS. Desta época pessedebista deve ter retirado sua convicção quanto à falta de escrúpulos do Serra e é conhecida sua assertiva sem suavizações: Se for preciso, Serra passa por cima da mãe com um trator!

Integrou os governos de Lula. Saiu do governo e, no PSB – Partido Socialista Brasileiro – elegeu-se deputado federal pelo Estado do Ceará, o mais bem votado parlamentar do Brasil. Lançou sua candidatura à presidência da república pelo seu partido, que é aliado do partido do Presidente. Nunca passou dos 10% das intenções de votos, aferidos nas diversas pesquisas e sua candidatura prejudicava a de Dilma Roussef, candidata do Presidente com chances reais de vitória.

Agora, o partido dele resolveu por um fim à sua candidatura e marchar na aliança com o partido do Presidente, apoiando a candidatura de Dilma Roussef. Claro que ele achou ruim e concedeu entrevista disparando para todos os lados. Isso é do jogo político-partidário e um homem experiente como Ciro Gomes pode achar ruim, mas não pode alegar desconhecimento das práticas.

Sintomaticamente, as hostes de José Serra apressaram-se a repercutir a retirada da candidatura de Ciro Gomes como uma violência antidemocrática. Sintomaticamente, o partido de José Serra negou-se a adotar a democrática realização de prévias partidárias para escolher seu candidato, destruindo assim a promissora candidatura de Aécio Neves. Reclamação é reclamação, mas querer dar-lhe ares de violação democrática é tão falso quanto uma cédula de trinta reais, notadamente vinda do PSDB.

O problema todo para José Serra, bem como para a candidatura lateral à dele de Marina Silva é que a saída de Ciro Gomes fortalece a candidatura de Dilma Roussef, apenas isso.

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