Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

Categoria: Desimportâncias (Page 4 of 13)

Frita aí uns ovos com bacon, que Antonino tá com fome…

Muitos homens ricos, de riqueza antiga e rural, tiveram a ventura de serem também tolerantes e abertos, duas qualidades que os inspiravam à ditadura que é o mecenato dos pequenos intelectuais.

Esses seres acolhidos na casa senhorial rápido percebem que as citações, o escândalo por pouco, a fome e o desalinho do cabelo e das roupas, divertem o senhor mecenas. Eles representam seu papel.

Havia um senhor rico desse tipo que cultivava os seus intelectuais oportunistas e achava especialmente interessante recebê-los de manhã cedo, para o café, talvez como um gozo diferente para a ressaca do dia anterior.

E havia um intelectual desses – não uso sofista de propósito, porque não são – famoso pelo escândalo simples, pelo falar aos gritos e lançando perdigotos, pela avareza e pelo mal-disfarçado afã de servir.

Escreveu um livrinho de estrondo, como fazem os desconhecedores dos ventos. Estava no prelo, quando sobreveio uma revolução. O livrinho não era contra a redentora, mas podia ser tomado assim, afinal os redentores eram muito ignorantes.

O livrinho saiu com um posfácio, arranjado às pressas, que desdizia a obra toda! Assim, era mais seguro e de infâmia não se cuida, quando a obra é pouca.

Pois bem. Um dia de domingo qualquer, o intelectual foi tomar o café da manhã na casa do senhor rico. Estavam lá mais alguns elementos dessa fauna atemporal que precisa ir ter a uma varanda antiga.

O senhor, sentado, bebia café devagar. O coro estava calado, comia uma e outra coisa. O intelectual já estava no segundo ato e de forma furiosa.

Gritava, de um lado para outro, que Bacon isso e Bacon aquilo. Bacon, domingo pela manhã, mesmo se fosse bem traduzido em português por alguém que o leu, é uma maçada.

Pelas tantas, o dono da casa gritou a uma empregada: Ó, fulana, frita aí uns ovos com bacon, que acho que Antonino tá com fome!

Não se sabe se o senhor rico sabia de qual bacon se tratava, mas ele tinha razão…

Fernando Henrique Cardoso não conhece Biotônico Fontoura!

História realmente deliciosa, contada no site de Luis Nassif, que afirma tê-la ouvido um dia desses. Dá idéia da tartufice e da artificialidade de Fernando Henrique Cardoso. Fantástica, mesmo.

Um homem absolutamente incapaz de perguntar o que era aquilo que lhe serviam, porque evidentemente o sabia, embora não o soubesse. E absolutamente convicto de que o levam a sério. Notável! Fernando Henrique não pode desconhecer algo, não pode deixar de estar seguro em qualquer situação. Afinal, Fernando Henrique não sabia o que era Biotônico Fontoura, não deve saber o que é um Porto Cansado e nem o que é o ridículo.

História deliciosa que ouvi dia desses.

Na campanha de 1989, FHC correu toda a região da Bragantina, em campanha. Teve um encontro com correligionários na chácara de meu então sogro, seu Aguirre, em Bragança. Na caminhada, foi a Monte Verde que, embora em Minas, tinha uma chácara com amigos paulistanos. Chegou lá e só estava a filha do dono. Com a despensa vazia a moça procurou algo para servir. Viu um frasco com um licor, bem vedado com durex. Abriu e serviu.

FHC sorveu o precioso líquido e identificou logo o sabor: “Parece um Porto cansado”, referindo-se ao vinho do porto, devido à nata depositada no fundo.

FHC elogiou tanto que a moça temeu ter servido algum licor precioso que a mãe tinha guardado para ocasiões solenes. Voltando para casa, a moça foi se desculpando com a mãe, por ter violado a preciosidade.

E a mãe: “Mas, minha filha, aquilo era Biotônico Fontoura que eu coloquei no frasco para enfeitar a cristaleira”.

Porco agri-doce com arroz vermelho.

No século XVI os primeiros portugueses que chegaram à recém descoberta Terra de Santa Cruz trouxeram o arroz vermelho de Cabo Verde e introduziram-no na Bahia. De lá, a variedade foi levada ao Maranhão e, em seguida, a toda a região semi-árida do nordeste do Brasil. É o que se conhece por arroz-da-terra, uma espécie arbustiva, que não se cultiva em alagados.

Posteriormente, o arroz branco tornou-se predominante, pois sua produtividade é maior, desde que se disponha de muita água. Hoje, o arroz-da-terra, o vermelho, é raro; persiste em uma e outra região de cultivos mais rudimentares e tradicionais.

Ele é mais saboroso, os grãos são menores, o tempo de cocção é maior e o volume é nitidamente menor. Depois de vinte e tantos minutos na água fervente, eles se abrem e formam um compacto bloco de arrozes vermelhos e brancos, resultado dos grãos vermelhos dilatados e rompidos ao meio.

Uns sábios, dizem que um francês e um suíço francês, resolveram plantar arroz-da-terra no sertão paraibano. Já produzem bons queijos de coalho de leite de cabra, essa preciosidade que poucos apreciam nestas bandas. Inteligentes, eles cuidaram de embalar o produto discreta e ricamente e desatacaram sua produção orgânica, seja lá o que isso for. Seduziu-me, evidentemente.

Resolvi arriscar a combinação de porco agri-doce com arroz-da-terra, hoje. E resolvi assumir outro risco: isso seria comido com um Chardonnay chileno bem fresco, quase gelado. Convém dizer que todos os Chardonnay chilenos de vinte dólares são bons e alguns esplêndidos.

A princípio, o porco não recomenda um vinho branco gelado. Mas, alguns cuidados podem reduzir essa inadequação. Esse porco tinha pouca gordura e saiu do forno, não de uma frigideira. Estava relativamente leve, macio mas não suculento. Estava mais doce que o ideal, o que inicialmente gerou um pequeno conflito. A doçura, todavia, foi contrariada pelo vinho e o resultado foi agradável.

O arroz-da-terra, depois de muitas adições de água, resultou bom. Ele combinaria melhor com carne assada e vermelha sanguinolenta, mais que com porco ao molho agri-doce. Enfim, a combinação, embora possível, não foi a melhor.

O Chardonnay gelado, senhores sacerdotes do tinto cheio de madeiras, esse não merece qualquer repreensão…

A imbecilização juridicizante.

O pensar jurídico, ou seja, a partir de categorias e modelos jurídicos, espalhou-se e penetrou todos os pensares – claro, restam poucos – imbecilizando-os profundamente. Ora, uma lei interpreta-se porque é interpretável como maneira de buscar saber o que pretendeu dizer o legislador.

O que pretendeu dizer e fazer o legislador deve ser buscado e não é porque ele tenha sido ambíguo ou mesmo contraditório. É porque uma ordem vinda de um legislador não passa de suposta tradução do que quiseram os eleitores.

Assim não ocorre com outras coisas e a arte é a mais evidente delas. Aqui, o intérprete possível é o autor. Quem sabe ou não sabe o que quis dizer é ele.

Sucedeu o seguinte: o compositor e letrista de músicas Oswaldo Montenegro contou que foi fazer uma prova qualquer em uma universidade. Pelas tantas, deparou-se com uma questão que tinha um texto e pedia ao avaliado que apontasse o que o autor quisera dizer, entre as alternativas disponibilizadas abaixo.

O texto era dele, de Montenegro; era um trecho de uma canção dele. Até aí, pouca surpresa, pois as letras dele costumam ser utilizadas em provas. Mas, ele leu as alternativas de respostas ao que o autor teria querido dizer e não encontrou a correta!

Disse que teria marcado nenhuma das respostas, se a opção estivesse disponível. Sim, ele, o único que podia saber o que tinha querido dizer na canção, porque era sua obra, era incapaz de responder!

Se eu digo meu computador fica ligado todo o tempo, porque o gasto de energia é desprezível é tolo perguntar porque eu disse isso. Essa é uma afirmativa seguida da explicação e não pede interpretação ou pergunta sobre algum sentido subjacente.

O trecho artístico tem sentidos subjacentes, que podem ser comentados. Todavia, é sem-sentido indagar o que o autor quis dizer. É habitual comentar o que o observador percebeu, mas descobrir o que o fazedor da obra quis dizer é crer num psicologismo impossível.

Esse episódio, a princípio, pareceu-me cômico. Depois, sintomático da imbecilização profunda a que nos entregamos. Acreditamos em sentidos ocultos e na possibilidade de entrar no conhecimento das vontades alheias? Achamos que tudo está codificado e que somos profundos analistas das vontades dos artistas? Das vontades…

 

 

Um doido reconhece outro.

Moramos quase em frente ao grande terminal de integração, onde todos os ônibus de Campina Grande têm que passar. Daqui até lá são uns quatrocentos metros e é um local sempre cheio de gente. Barulhento, como todos os locais repletos, principalmente nesta terra de barulhos e gritos.

Porém, entre barulhos há deles que chamam a atenção, pois são barulhos invulgares. Um sujeito que conduz um carrinho de CDs está todos os domingos no terminal de integração dos ônibus. Todos os domingos, a partir de uma hora da tarde, ele põe a tocar uma música que me aborrece, mas não me irrita. Aborrece profundamente, é verdade, porque ela repete-se a tarde inteira, em volume altíssimo.

Mas, é extraordinário, é curioso, não deixa de ser incômodo, chega a ser cômico, mas deve ser mais que isso. Os versos dizem: Se converte Barack Obama, se converte Barack Obama, que o prêmio Nobel da paz não é teu, é de Jesus. Se converte Ahmadinejad, se converte Ahmadinejad… 

Segue pedindo a conversão de meia dúzia de líderes nacionais a Jesus, seja lá o que o pedido signifique. Diz – é desconcertante – que isso e aquilo não são de fulano nem de beltrano, são de Jesus.

Essa toada triste serve-se da melodia de Para não dizer que não falei das flores, de Geraldo Vandré! Assim, apropriando-se dessa canção, ou melhor, dessa melodia em que o verso condoeiro confunde-se com a melodia, a coisa parece mística de louco evangélico. Ninguém fica indiferente à sonoridade dessa obra de Vandré. Ele casou o tipo de verso ibérico antigo com o único ritmo que lhe seria possível. Essa canção assumiu significado político, para muito além do autor.

Pois sou obrigado a ouvir o sem-sentido do se converte Barack Obama, se converte fulano de tal, que o prêmio Nobel da paz é de Jesus, na melodia das Flores! Podia ser em inúmeras outras, mas o sujeito escolheu essa. E escolheu tocar a música a tarde inteira, todas as tardes de domingo, o que revela má estratégia de venda ou nenhum interesse em vender.

Esse sujeito conduz um carrinho com CDs, em que há a bandeira da Palestina! Quem é o sujeito que recorre a signos extremos, como são uma canção de religiosidade evangélica e moralista casada a uma melodia antiga e associada à insatisfação política de quarenta anos atrás? O sujeito que anda por aí com uma bandeira da Palestina. É um louco, provavelmente; não é um ladrão, certamente.

Em três ocasiões ele cumprimentou-me. Todas, as mais imprevistas e improváveis. Nelas, estava eu no carro, tanto conduzindo, quanto no banco do passageiro, com Olívia na direção. Passando devagar, ou saindo de um sinal recém aberto, o fulano que conduz o carrinho de CDs cumprimentou-me, com um aceno de mãos, vívido, dirigido a mim. Hesitante, cumprimentei-o ou, antes, retribui o aceno.

Nunca percebi bem porque os loucos me procuram e eles sempre o fazem. Não tenho medo de ser um igual, tenho medo de ser o extremo oposto: um sujeito a observar-lhes os modos e a querer mandar neles. Afasto-os, portanto, para não os ter próximos como objetos de assimilação ou de mando ou de jugo.

Mas, o cara cumprimenta-me sorrindo; ele já é meu íntimo e não posso dizer-lhe ó, filha da puta, põe a música mais baixo.

 

Os plurais foram-se da língua falada no Brasil.

Há tempos a abolição dos plurais na língua falada pelos brasileiros chama minha atenção. Realmente, agrada-me bastante pensar em coisas de pouca ou nenhuma utilidade prática; assim, penso mais livremente, certo de não estar a promover coisa alguma, a propor nada.

A princípio – além de um falar feio – parecia-me a renúncia a uma possibilidade riquíssima da língua: a flexão em número. Renúncia como outras tantas, que implicam perda de precisão, algo como usar uma mesma e única chave inglesa, ainda que se disponha de todo o jogo de chaves, cada uma com sua abertura específica.

Se assim fosse, provavelmente iríamos no caminho de outras supressões, como, por exemplo, a de gênero. E nada indica isso, antes, ao contrário, a língua falada no Brasil é bastante marcada por flexões de gênero. A tal ponto que parecem mais vincos semânticos que flexões de classes de palavras, de nomes e de qualificativos de nomes.

Por outro lado, nunca me pareceu que fosse algo como um uso coloquial, ou seja, como se usam termos diferentes em locais diferentes, para chamar a mesma coisa. Mas, tem, no fundo, a mesma desimportância das diferenças de usos de termos locais. Pode ter alguma relação com os usos locais, em termos de pronúncia, da mesma forma que algumas vogais suprimem-se na língua falada.

Na enorme maioria das vezes, o falante brasileiro não flexiona o substantivo em número, mas flexiona os artigos definido e indefinido. Ou seja, há plurais, indicados pelos artigos. É comum ouvir-se as casa e os carro. Está claro que se fala de mais de uma casa e de um carro, embora os substantivos estejam no singular. Mas, também está claro que o erro é meramente normativo, formal, e, não lógico.

De certa forma, o falar coloquial inseriu uma declinação, a depender somente dos artigos. Diferentemente acontece com a ausência dos plurais nas pessoas verbais. Essa ausência, além de parecer-me ainda mais feia, suscita mais pensamento.

Eles foi é construção um pouco mais difícil de perceber como ajuste perfeitamente lógico, embora simplesmente infrator de alguma regrinha formal. Uma maneira de assemelhar as explicações seria dizer que as ações tomam-se como substantivos. Mas, isso é falso, pois as pessoas não igualam, no falar, nomes e ações. Elas usam a mesma lógica que supõe a flexão somente nos artigos para supo-la apenas nos pronomes.

Somos simplificadores ao extremo e mal educados, formalmente. Nenhum problema com isso, todavia. Nem mesmo sob perspectiva gramatical, uma vez que a cada pessoa – sujeito, terceiro, singular ou plural – só pode corresponder uma ação. Eu é, tu é, ele é, nós é, vós é, eles é, são formas logicamente possíveis. Inclusive, em algumas línguas, as flexões não têm diferenças sonoras.

Problemas surgem se quisermos falar sem pronomes e artigos, o que é possível, como pode ser percebido neste período. E, vistas por este ângulo, as supressões de plurais são, sim, um empobrecimento. São uma renúncia a possibilidades mais amplas, embora não comprometam a comunicação, nem agridam a lógica da língua.

Cinema e Remix…

Ontem, por acaso, estava revendo um filme que vi há uns dois anos atrás.. Princesas, é a estória de uma prostituta espanhola que vive em Madrid, e sua amizade inusitada com outra prostituta, essa, da República Dominicana. O filme é bom, não tem nenhum figurão desses do cinema atual, o diretor não é famoso, ou pelo menos não o suficiente pra ser conhecido aqui pelo Brasil, os atores e atrizes da mesma forma.. Não passou no cinema, e não obstante, o filme é bom..

Por isso mesmo, depois de vê-lo me pus a pensar, por pura falta do que fazer, no cinema americano. Onde são necessários, não apenas grandes nomes artísticos conhecidos, como também grandes produções, muito dinheiro e etc.. E nada, ou quase nada, de criatividade. Segundo informação contida no o pequeno documentário “Everything is a Remix“, 74 das 100 maiores bilheterias dos ultimos 10 anos, são adaptações, de outros filmes, quadrinhos, histórias, e livros. Assim sendo, adaptações de coisas já existentes, algumas vezes até versões Hollywoodianas de filmes já feitos em outros lugares. Não que vá surgir em todo filme a idéia original, mas também não precisa ser tudo a cópia, da cópia da cópia. O Everything is a Remix sobre filmes é o segundo, e vale a pena ser visto:

Por gostar de filmes de super heróis, e esses majoritariamente serem americanos, pra mim, o exemplo clássico é o filme do Hulk, que tem uma versão em 2003, e outra em 2008, são completamente diferentes, muito ruins, como a maioria dos filmes de super hérois que eu gosto, mas não são continuação, não têm coorelação, enfim, são dois filmes do Hulk, com um elenco todo diferente, separados por.. 5 anos??

Com isso na cabeça fui navegar por ai, e encontrei essa série de fotos, de astros o cinema de antigamente e de hoje, onde os rostos se sobrepõe. E percebi que não só os filmes são cópias das cópias, os astros seguem tambem por um linha tênue de semelhança, não sou tão teórico da conspiração a ponto de pensar em clonagem, mas as semelhanças são muitas, e a fama também, é uma pena que a qualidade das películas tenha caido tanto… Mas a admiração é praticamente pelos mesmos rostos, mudam apenas os nomes…

Audrey Hepburn - Natalie Portman

Audrey Hepburn - Natalie Portman

Cary Grant - George Clooney

Cary Grant - George Clooney

Marlyn Monroe - Scarlett Johansson

Marlyn Monroe - Scarlett Johansson

James Dean - Robert Pattinson

James Dean - Robert Pattinson

Elizabeth Taylor - Angelina Jolie

Elizabeth Taylor - Angelina Jolie

 PS1: Os três vídeos da série “Everything is a Remix” são muito interessantes, o primeiro fala de música e se concentra um pouco em cima do Led Zeppelin, o segundo é sobre cinema, e é esse que foi postado, e o terceiro é sobre criatividade.. Os links são primeiro e terceiro.
PS2: O trabalho com as fotos foi desenvolvido por um estudante de arte sueco chamado George Chamoun e chama-se “Iconatomy“.

Novo tema, e fim do adsense.

Depois de muito tempo, a Poção muda novamente de tema. O que usávamos antes, era quase que excluivamente, por causa da facilidade de implementação do Google Adsense, uma experiência frustrada de rentabilizar o blog através dessa Meca dourada do Google.

O novo tema, penso eu, é mais limpo, facilita a leitura e tem um toque a mais que são as fotos carregadas no canto supeiror direito, são nove fotos diferentes, que mudam sempre que a página carrega, algumas de Campina Grande, outras de Recife, uma de nosso Druida-mor, enfim…

Tambem agora há mais integração com as redes sociais, é mais fácil compartilhar links do Blog pelo Twitter, Facebook, e Orkut, além do LinkedIn, e o Twitter da Poção está presente na pagina principal.

Além disso, tambem há agora a figura dos “posts relacionados” em cada post, que é auto explicativa, relaciona os posts com o mesmo, ou quase o mesmo conteúdo, no Blog. E por fim, mas não menos importante, os posts mais comentados agora ganham destaque, bom, tudo isso pra tentar dar mais interação a página, afinal os leitores tem que se manifestar também! Espero que as mudanças sejam satisfatórias e por agora é isso.

Turismo no Brasil: uns números que deviam fazer pensar…

Leio no jornal matéria insípida sobre o turismo no Brasil e o turismo que os brasileiros fazem no exterior. Insípida, porque o assunto o é, se se limitar a alinhar números e propor os lugares-comuns de sempre.

Os brasileiros que viajam para o exterior gastam três vezes mais que os estrangeiros que vêm para cá. Claro, tem o real valorizado, o que permite viagens mais baratas, mas tem muito mais que a simples vantagem cambial.

O Brasil sempre foi muitíssimo fechado e de uma forma paradoxal. Ao mesmo tempo que as classes mais altas sonham com modelos fornecidos na TV de matriz norte-americana, elas vivem sua auto-referência plenamente.

A maioria das pessoas, ou seja, não somente as classes mais altas, acredita em uma espécie de particularismo brasileiro, o que não é sinônimo, nem de patriotismo, nem de avidez por conhecer a história, a geografia ou o desenho social do país. É mais uma crença de quem só tem ao espelho e, portanto, só tem a si.

Assim, as pessoas pensam que temos as praias mais espetaculares do mundo, as comidas idem, a cordialidade e outros lugares-comuns. Ora, há praias e comidas por todo o mundo, afinal há um mundo todo por aí! A única coisa realmente diferente que há neste país é a amazonia, extraordinária mesmo, na sua abundância sem paralelos de água e de árvores.

Nossa surpresa somente decorre da nossa ignorância. Ficamos pasmados se alguém foi a outras praias ou a outras Miamis, porque não sabemos que elas existem e ainda achamos estranho que os viajantes saibam. Realmente, um dos caracteres mais interessantes da ignorância é projetá-la nos demais e, talvez seja a característica mais agressiva.

Além da inexistência de reais particularidades ou delas assim tão marcantes e distintivas, há o preço e a qualidade do que se oferece ao turismo. Aqui, tudo tornou-se caro antes de tornar-se bom e bem feito. A imagem do paraíso tropical, ingênuo, de índios semi-nus a caminharem nas terras, de restaurantes escondidos bons e baratos, é algo que só fez sentido como imagem, e mais, como imagem nossa de nós mesmos.

Insisto a falar em praias porque somente elas – além da amazonia, que é outra estória – podem ter algum atrativo. Dito isto, sou obrigado a concluir algo terrível, mas inevitável: as cidades não oferecem qualquer encanto particular.

O pouco de arquitetura bonita que há, seja antiga, seja moderna, é vulgar. Se se tratar de ver as belezas da arquitetura colonial ibérica, é melhor ir ao Perú e à Colombia. Se o caso é deliciar-se com prédios altos e revestidos de espelhos, melhor e mais barato é ir a Nova Iorque, onde eles estão bem à vontade.

Andar a pé é uma aventura complicada, porque os passeios não foram feitos para serem passeados, os assaltantes ainda são numerosos, tudo é monolíngue. Os transportes urbanos são um desafio, porque são coisas, em geral, para gente desafortunada, que não pode ter um carro. As linhas de metro são poucas e pouco extensas. Os táxis são cariíssimos e muito voltados para roubar os turistas.

Trens, abolimos quase completamente para o transporte de gentes. Servem apenas para levar e trazer minérios. Não há um aeroporto com estação de metro! Não há muitas pessoas que falem mais que o português. Ao mesmo tempo, tudo está muito caro!

Dada essa situação de coisas, porque a surpresa com a pouca atratividade do país para turistas estrangeiros, se o destino é ruim e caro?

 

O amor das aparências.

Tenho o gosto de andar pelos mercados. Não se trata de andar a comprar tudo que vejo, antes pelo contrário talvez. Trata-se de olhar aquela grande diversidade, que já me agrada bastante. Claro que esse diletantismo olhador acaba levando-me a comprar uma e outra coisa, mas não gera qualquer furor aquisitivo.

Eis que inauguram um novo mercado aqui, em Campina Grande, um deles muito grande, de uma rede francesa. Além de bem organizado, tem uma diversidade grande de produtos, o que me permite ficar a olhar desde produtos de jardinagem até queijos.

E permite ver outras coisas, também, porque é um lugar de grande aglomeração de pessoas. Neste caso, reforcei a percepção de que as aparências são adoradas, na selva real que se descobre por trás delas.

Um mercado novo, recém-inaugurado, está todinho organizado. No estacionamento, há faixas para passagem de pedestres, há vagas especiais para deficientes físicos e para idosos, marcadas bem claramente. Há caixas preferenciais para idosos, deficientes e mulheres grávidas há, enfim, tudo isso que dá aparência de educação.

Acontece que nada disso serve, ou serve muito pouco. Acabado de chegar ao templo do consumo, vejo um jovem sorridente pondo seu carro na vaga dos idosos. A tal vaga distingue-se de todas as outras, porque é inteiramente pintada em azul, com o nome idoso em letras brancas imensas. Mais adiante, já quase a entrar no mercado, quando passava na faixa de pedestres, quase sou atropelado por um automobilista apressado dentro de um estacionamento!

Duas coisas são possíveis, para explicar isso: a primeira é o desprezo voluntário e consciente das convenções e regras, como a dizer que são nada; a segunda é a ignorância do real sentido daquelas coisas pintadas no chão ou escritas em tabuletas.

O primeiro caso é menos grave, porque menos passível de correção. É questão de má-educação voluntária e não é reprimida. O segundo aponta o vasto espaço aberto para a melhora das nossas gentes. Precisam saber de quê se trata e, provavelmente, quando souberem as respeitarão.

Todavia, se não há disposição para reprimir os abusos voluntários de quem se pretende conhecedor das normas, nem há para educar quem não conhece as normas e as suas razões, melhor é abolir as aparências e evitar-se o ridículo de uma selva pintada em cores vivas e claras.

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