Muitos homens ricos, de riqueza antiga e rural, tiveram a ventura de serem também tolerantes e abertos, duas qualidades que os inspiravam à ditadura que é o mecenato dos pequenos intelectuais.
Esses seres acolhidos na casa senhorial rápido percebem que as citações, o escândalo por pouco, a fome e o desalinho do cabelo e das roupas, divertem o senhor mecenas. Eles representam seu papel.
Havia um senhor rico desse tipo que cultivava os seus intelectuais oportunistas e achava especialmente interessante recebê-los de manhã cedo, para o café, talvez como um gozo diferente para a ressaca do dia anterior.
E havia um intelectual desses – não uso sofista de propósito, porque não são – famoso pelo escândalo simples, pelo falar aos gritos e lançando perdigotos, pela avareza e pelo mal-disfarçado afã de servir.
Escreveu um livrinho de estrondo, como fazem os desconhecedores dos ventos. Estava no prelo, quando sobreveio uma revolução. O livrinho não era contra a redentora, mas podia ser tomado assim, afinal os redentores eram muito ignorantes.
O livrinho saiu com um posfácio, arranjado às pressas, que desdizia a obra toda! Assim, era mais seguro e de infâmia não se cuida, quando a obra é pouca.
Pois bem. Um dia de domingo qualquer, o intelectual foi tomar o café da manhã na casa do senhor rico. Estavam lá mais alguns elementos dessa fauna atemporal que precisa ir ter a uma varanda antiga.
O senhor, sentado, bebia café devagar. O coro estava calado, comia uma e outra coisa. O intelectual já estava no segundo ato e de forma furiosa.
Gritava, de um lado para outro, que Bacon isso e Bacon aquilo. Bacon, domingo pela manhã, mesmo se fosse bem traduzido em português por alguém que o leu, é uma maçada.
Pelas tantas, o dono da casa gritou a uma empregada: Ó, fulana, frita aí uns ovos com bacon, que acho que Antonino tá com fome!
Não se sabe se o senhor rico sabia de qual bacon se tratava, mas ele tinha razão…