O banco sempre empresta o que não tem ou mais do que tem, ou seja, a descoberto. É a regra de ouro da atividade bancária, emprestar mais do que tem e a quem não pode tomar aquele dinheiro emprestado, até porque o melhor devedor é aquele que não pode pagar e não paga o total, nunca.
A dívida com o banco deve ser como a ferida que nunca sara; aliás esse é um dos fundamentos do poder. O outro é a mentira. Dependência, mentira e discurso são os fundamentos do poder. A coação física é um meio à disposição de quem opera os fundamentos. Assim acontece com os grandes poderes que se evidenciam: o dinheiro, a ciência, a dupla política e direito.
O dinheiro é uma representação e uma mercadoria denominada em si mesma. Fundamenta-se na dependência dela, na mentira de sua realidade e no discurso de que é impossível romper com seus mecanismo.
O mesmo acontece com os poderes da ciência, em que se destaca a medicina, e do político-jurídico. Aprisionam com a dependência do saber do especialista, com a mentira de suas certezas e da impossibilidade das coisas serem diferentemente e com o discurso que embasa sua verdade inquestionável. Tudo isso funciona porque não existe liberdade; foi esmagada.
Portanto, os bancos sabem que esse dinheiro financeiro, a juros, é de mentira. Nunca um banco será mais desonesto que o sujeito que deixou de pagar-lhe. É bom lembrar disso, para objetar moralistas de ponta de rua, sejam eles movidos por tolice, sejam eles simplesmente moralistas comprados pelos bancos.
Sim, porque foi elevada a axioma a bobagem dos contratos imutáveis e dos acertos livres. Foram todos levados à devoção a uma verdade não-sabida. Experimentem todos os que vivem a verdade do sistema financeiro irem buscar o que pensam terem nos seus bancos. Isso é exemplo vulgar e gasto, pois todo mundo sabe, ao final e ao cabo, que seria a quebradeira, porque aqueles números, em papel ou no computador, correspondem a nada.
A bancocracia é possível porque as pessoas dependem da crença em algo, em alguma estabilidade, aceitam bovinamente a mentira que lhes é oferecida – porque são ignorantes ou, não o sendo, não pensam mesmo – e precisam ter um discurso para reproduzir. No fundo, as três bases são a mesma coisa, decomposta em três fatores ou aspectos diferentes.
Mas, a questão é dizer que os caloteiros de um banco não são mais ladrões que ele, banco. A questão é pensar as coisas um pouco além do moralismo rasteiro do moralista sincero ou do moralista comprado.
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