Alheio a tudo que não conheço – o que é um truísmo purinho – obviamente não sabia quem era B Fachada.
Olívia voltou de Portugal e trouxe-me a única coisa que me podia agradar, a mim que não queria e não quero nada trazido de viagens, porque fico sem conseguir disfarçar minha indiferença. Mas, Olívia é inteligente e trouxe-me simplesmente o Público de ontem, em papel. Trouxe-me ainda outras coisas boas, como portadora, manifestações de uma cordialidade e de uma inteligência que me fazem falta: livros bons mandados por Miguel, mas essa é outra estória.
O jornal de sexta-feira vem com um razoável caderno cultural, um que acho ruim e complicado ler nas páginas da internet. Nada como papel, convenço-me cada vez mais. No papel do caderno estava uma reportagem com entrevista, sobre Deus, Pátria e Família, música de vinte minutos de B Fachada. Evidentemente que é uma provocação, e principalmente com aqueles que aparentemente não são os destinatários dela. Sim, porque o destinatário aparentemente natural não verá a coisa senão vulgarmente, como reedição de um jogo já jogado.
O cara, o tal B Fachada, apresenta um pouco de reação aristocrática, que se percebe tanto na música, quanto na letra. A música tem frases melódicas lineares, simples, agradáveis pareceram-me. Tem fragmentações harmônicas bem marcadas, porque são vários pequenos andamentos nitidamente separados. E não recorre à batida, ou seja, ao ritmismo marcante.
A letra é a recusa do meio, do meio-termo, do meio bom, do meio ruim, do bonzinho e ruinzinho. Da intermediação pelos profissionais medíocres da representação política. Gente meia, de acordo a meio a meio, de precaução, de cuidados, de está ruim, mas, áh, podia estar pior.
Não à glória nacional
Não á força não letal
Já não canto sobre amores
Nem me perco no recheio
É que em terra de amadores
Basta ter o pau a meio
Isto, como se vê no verso acima, se não for um embuste do autor, é abordagem aristocrática. Desprezo pelo vulgo, afirmação de que entre amadores basta ter o pau a meio, não pode ser mais claro. Assim sendo, vai ser catalogado como alguma vanguarda, ser escutado muito por pouco tempo e percebido por quase ninguém.
Ele parece sair do binômio Apolo e Dioniso. Não parece estar a reclamar do predomínio apolíneo medíocre. Não clama propriamente por a entrada em cena de Dioniso, para ocupar o espaço e contrabalançar Apolo em sua versão vulgar. Ele parece convocar Hermes, o que resulta muito diferente…
Sim, outro característico muito aristocrático: está disponível gratuitamente aqui:
http://mbarimusica.com/download.aspx?file=B_Fachada_Deus_Patria_e_Familia.zip
das melhores análises que já li sobre o fenómeno
Obrigado e sejas bem-vindo à Poção.