Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

A Telebrás recriada.

A internet brasileira passeando no relvado.

O governo brasileiro tomou a decisão de recriar a Telebrás, uma empresa estatal de prestação de serviços de telecomunicações. Desta vez, será voltada ao oferecimento de banda larga de internet, universalizada. Ou seja, deve fazer o que as concessionárias não fizeram ou fizeram mal feito.

As empresas privadas de telecomunicações já desfiam seu rosário de críticas. Todo o acervo de bobagens pré-concebidas foi tirado do baú e alguns jornalistas convocados a fazerem o ataque. A acusação principal é de heresia estatizante, esse supremo movimento cismático.

Acontece que ainda há quem se disponha a dizer que se formaram nuvens de fumaça a fim confundir e desinformar. Bresser Pereira, um economista inteligente, escreveu um claro texto, publicado no Estado de São Paulo, dizendo, em palavras mais ou menos suaves, que as objeções não passavam de tolices.

A entrada de uma empresa estatal no mercado é apenas uma forma de regulação. E, sem regulação estatal, o mercado age, sim, mas age contra o consumidor. É o que se vê nesse setor, no Brasil. Temos, ao mesmo tempo, as telecomunicações entre as mais caras e ruins do mundo. E temos, aparentemente, um mercado competitivo.

A lógica do comércio de laranjas e couves não se aplica ao de serviços concedidos. Os concessionários sabem disso, evidentemente, mas insistem no discurso da competição. Ainda que ela exista, basta um argumento de realidade para afastar o sofisma, ou seja, ela existe – admitamos essa inverdade – mas resulta em nada!

Na verdade, o empresário pouco está preocupado com a qualidade e difusão do serviço que presta. Sua preocupação são os resultados financeiros e não há porque disfarçar isso. Quem deve estar preocupado com os serviços é o poder concedente, que esse é seu papel. Se não atua, omite-se em detrimento do público.

Enfim, a recriação da empresa estatal de telecomunicações é um dever do estado brasileiro, que precisa levar as empresas privadas a melhorarem seus serviços, agora sim, por causa da competição.

19 Comments

  1. Rafael Vilar

    Lembro-me de uma reportagem exibida há mais ou menos uns 6 meses, em que foi feita uma comparação entre a capacidade de transmissão de dados e preços de internet de vários países. Para tanto, fizeram uma associação entre a internet e uma rodovia, onde o número de faixas de rolamento representava a capacidade do tráfego de informações, o pedágio o preço pago pelo serviço oferecido. Os dois extremos eram Brasil e Japão. Neste, a internet era comparada a uma rodovia com 12 faixas de rolamento, e o preço do pedágio apenas R$ 5 reais a alguns centavos. Já no Brasil, uma rodovia com a metade de uma faixa de rolamento, esburacada, e que o pedágio custava a ínfima quantia de R$125 reais.

    Não acho má idéia a Telebrás, todavia, melhor seria que o Governo federal se propusesse a fiscalizar(verdadeiramente) e impor metas a serem cumpridas.

    • Andrei Barros Correia

      Rafael,

      Essa comparação é muito boa, porque utiliza imagens bastante evidentes. Acontece com quase todos os serviços concedidos.

      O mais trágico é que o discurso da ineficiência do estado impregnou-se em todas as dobras do cérebro de muita gente. Ora, ele pode ser eficiente e ineficiente, é claro.

      É como diz Monte Alverne, mais abaixo. Eles estão tendo enormes lucros com as concessionárias. Então usam a imprensa para repudiar a criação da estatal.

      No final das contas, Rafael, a recriação da Telebrás é uma atitude regulatória. Pode até diferir conceitualmente, mas na prática é.

  2. Julinho da Adelaide

    Andrei. Não me espanta que sejam a favor da livre concorrência sem regulações os barões empresariais, a mídia a soldo destes e os tarados da academia. O que eu não aceito é o consumidor, maltratado desde sempre por esta gente, repetir bovinamente este discurso. Não sei se é uma limitação intelectual, vontade de estar com o discurso afinado com a mídia, vontade de parecer barão ou afinidade com as manadas. Mas o fato é que o ruído que esta gente provoca facilita a vida dos oligopólios privados e dificulta qualquer iniciativa do governo em manter as coisas em patamares civilizados, que no fundo é isso que quase todos precisam mas nem todo mundo quer. Inclusive uns que precisam e pensam que não querem. Isso remete a um dilema da democracia representativa. Se todos lutassem por aquilo que efetivamente lhes interessa as coisas seriam mais claras e provavelmente mais fáceis. Mas ai vem o diabo dos ideólogos e formadores de opinião com a ajuda da mídia para convencer as pessoas para lutar pelo que não lhes convém.

    • Andrei Barros Correia

      Julinho,

      Tu ressaltaste algo que sempre me chama atenção. Não é que o interessado faça o discurso para vender sua posição, um discurso basicamente apoiado em inverdades.

      É que o comprador aceite o discurso, acriticamente. Esse é o ponto. E acho que as razões são as que apontaste, todas juntas.

      Eles, mesmo que não convençam plenamente, desorganizam, desarticulam qualquer posição. O ruído, como disseste, produzido já é um êxito.

      Existe o papel mediático de desarticular, estou convencido disso. O bombardeio de informações sucessivas e confusas – inúteis, em sua maioria – nitidamente tendenciosas, desorganiza a percepção de um expectador já bastante limitado.

      E o expectador reage eufórico, pois acha-se destinatário de uma grande atenção da imprensa, essa grande coisa altruísta que dá importância a ele e o sacia da sede de novidades.

  3. CALOS VIEIRA

    Excelente a iniciativa do governo federal. Diante do que foi oferecido até agora pelas tele privadas, esta foi sem dúvida alguma a melhor alternativa. Parabéns.

  4. Germano

    Pingo nos i’s. Quem costuma defender o contrário são aqueles que estão respaldados em teorias econômica pretensamente científicas. Não sabem ou não querem saber que a Economia tem muito pouco de científico quando postula. Quando se diz, por exemplo, “o Estado é inficiente” o fazem não com ajuda do rigor científico, mas sim em um mero preconceito. Não é porque a telebrás (e de restos, as demais “brás”) eram o que eram sob o regime militar que se pode dizer, de maneira categórica, que a telebrás recriada não será diferente. Sabem que seria contrário a nova Telebrás? o estúpido Dick Cheney.

    • Andrei Barros Correia

      É difícil saber se os cientistas econômicos estão deliberadamente enganando, ou se enganam porque estão enganados também.

      De toda sorte, os móveis são os piores que há: má-fé e ignorância.

  5. Monte Alverne Sampaio

    AINDA…. Essa “imprensa livre” – livre para apregoarem o que lhes convém, ENCONTRA, ainda, campo fértil para plantar esta semente de baboseiras – de enganação da população, lógico, a menos informa, ou aquele, cliente cativa desta impresa LIVRE.
    Mas claro que eles nao querem que seja criada mais uma estatal, porque as QUE eles “compraram” do SOCIOLOGO e do seu Ministro da Saúde.Hum…te cuida ambulâncias….
    estao dando excelentes lucros e, por isso cobrando as taxas mais caras do Mundo, pelo uso das ENERGIA E TELEFONE.
    Eles nao tem interesse que o Estado se organize, seja competente, porque vem de água abaixo a máxima que eles sempre apregoaram…” o Estado é incompetente… nao deve mexer com economia,só deve fazer filantropia, cuidar da educação, saúde..etc”…porque estas nao dao lucro..
    Va…va…enganar outro….

    • Andrei Barros Correia

      Monte,

      Os que se contam entre os grandes capitalistas brasileiros não vivem sem o estado. Esses gangsters forjaram-se à sombra do estado, sugando seus incentivos, sociabilizando prejuízos.

      A livre iniciativa fica para o quitandeiro da esquina. O dono de uma telefônica privada, esse tem que comprar um diretor da Previ, um diretor do BNDES…

  6. André Raboni

    A visão é caolha, aquela de que a mão invisível há de corrigir o mercado. Essa mãozinha-boba sempre pende curiosamente para um mesmo lado – deve ser a gravidade-de-bolso dos filantropos de outrora.

    A concorrência do Estado pode e provavelmente será positiva. O desmando desse setor é imenso no Brasil. Não há regulação alguma, nem mesmo depois de o governo exigir certas obrigações. Faz-se vista grossa, pois qualquer processo durará sempre anos, e para o cliente pode ser uma ninharia tão grande (para uma empresa – falo especificamente da Oi/Telemar -, o somatório de milhões de ninharias, é outra coisa), que se desiste de qualquer aborrecimento, já que mesmo diante de chances de ganhar uma querela judicial, a única certeza é que o aborrecimento será enorme.

    Aqui, paga-se caro por um serviço chinfrim. Talvez o brasileiro esteja acostumado a isso. E é o típico hábito danoso. Aqui em casa, há semanas que a conexão está um lixo. Cai a cada 30 minutos. Como trabalho na internet, os prejuízos não são poucos.

    Outro dia, quando a internet estava boa, foi a luz que acabou, por causa de uma ventania. Um dia de trabalho perdido. E a Celpe é mais uma dessas concessionárias infames, que cobra caríssimo por um serviço essencial e tosco.

    • André Raboni

      (Complementando)

      Faz semanas que a internet aqui está horrível. Faz semanas que ligo e sou jogado de atendente a atendente, e necas de soluções.

      Geralmente, depois de 20 a 30 minutos, a ligação cai. Eles vencem pelo cansaço, mesmo. Sobra o fardo de pagar por uma internet de 2 Mb, e só receber 1 Mb – na melhor das hipóteses.

      • Andrei Barros Correia

        André,

        É caso de polícia, mesmo. São estelionatários. Vendem o que não têm para entregar.

        A comparação que ofereceu Rafael, lá em cima, é fantástica e dá a dimensão do engodo que nos obrigam a deglutir.

        Chega a ser engraçado as classes médias provando com esses serviços o suicídio que não conseguem perceber quando se despreocupam da saúde pública, por exemplo.

        O ciclo fecha-se. O sujeito que acredita nos serviços bons, desde que sejam pagos, experimenta-os ruins e pagos. E não vê que é a desconstituição de quanta bobagem puseram-lhe na cabeça.

        Acha que haverá uma competição redentora, um dia. Acha que haverá um procon, uma justiça. Acha, enfim, embora esteja atolado na m…, que o sistema é bom, que precisa apenas de uma e outra correção.

        O camarada está atolado na m… e mantém-se fiel ao discurso. É impressionante.

  7. Pedro

    Veja (sem trocadilhos) como é curioso o resultado desta enquete da Folha de São Paulo:

    23/02/2010 – 15h34
    TelebrásVocê concorda com a reativação da estatal Telebrás para o fornecimento de banda larga?

    92%
    15.587 votos Sim

    8%
    1.437 votos Não
    Total: 17.024 votos

    E isso que estamos falando de uma versão na internet de um jornal de São Paulo. No povão, se devidamente informado do que se trata, acredito que a aceitação seria maior. Ou seja, mais uma vez a mídia parece não refletir a opinião popular.

    • Andrei Barros Correia

      Pedro,

      É impressionante mesmo, esse resultado. Parece que as pessoas despiram-se das capas discursivas antes de votar.

      Lembrei-me, a propósito das mídias, que insistiram na estória das vantagens que teria um cliente de José Dirceu, no negócio da Telebrás. Afinal, ficou claro que nada disso ocorria, pois a rede de fibra óptica foi herdada sem ônus.

      Mas, o Bresser disse algo fantástico, coisa de um sujeito que está enfastiado com as lateralidades que visam a afastar do miolo da questão.

      Ele disse que a possibilidade de corrupção está em qualquer negócio e é assunto para o ministério público, para a controladoria.

      Se não se fizerem as coisas porque podem ensejar corrupção, então nada se faz!

  8. Rafael Vilar

    Essa foto ficou muito arretada!!! me acabo de rir quando olho pra ela!!

  9. Severiano Miranda

    Sobre essa privatização fala Eduardo Galeano:
    En su edición del 31 de enero del 98, el diario uruguayo
    El Observador
    felicitó al gobierno de Brasil por su decisión de vender la empresa telefónica nacional, Telebras. El aplauso al presidente Fernando Henrique Cardoso, «por sacarse de encima empresas y servicios que se han convertido en una carga para las arcas estatales y los consumidores», se publicó en la página 2. En la página 16, el mismo diario, el mismo día, informó que Telebras, la empresa más rentable de Brasil, generó el año pasado ganancias líquidas por 3.900 millones de dólares, un récord en la historia del país. El gobierno brasileño movilizó un ejército de seicientos setenta abogados para hacer frente al bombardeo de demandas contra la privatización de Telebras; y justificó su programa de desnacionalizaciones por la necesidad de dar al mundo señales de que somos un país abierto. El escritor Luiz Fernando Verissimo opinó que esas señales «son algo así como aquellos sombreros puntiagudos que en la Edad Media identificaban a los bobos de la aldea».

    http://www.scribd.com/doc/10484263/Eduardo-Galeano-Patas-arriba-La-escuela-del-mundo-al-reves
    Basta procurar por Telebras.

    • Severiano Miranda

      Entendi agora que na controvésia em torno da internet o buraco é mais embaixo, há produção de conteúdo na rede, e muito lixo também obvio, mas há pulverização de mídia quando a internet entra na jogada, meu irmão acaba de comprar uma televisão da nasa que pega Youtube. É a alforria. No youtube há muito lixo, mas há muita coisa boa, e a opção geralmente descarta a familia marinho, a guerra da internet cá por essas bandas ainda vai dar trabalho… Ninguem quer dar qualidade a um serviço que pulveriza a midia oficial.

      • Andrei Barros Correia

        Os marinho, frias, mesquita, civita da vida estão muito encastelados e não se dispõe nem a brigar em outro ringue.

        Pensaram que a coisa era o mesmo feudo de sempre e puseram-se em marcha para erigir as muralhas dele.

        Queres maior exemplo que os portais e provedores pagos, como o Uol. Quem precisa de provedores?

        Então, esse pessoal não tem meio milímetro de interesse que a internet seja boa no Brasil. Nem ampla.

        E eles são os patrões do ministro das comunicações!

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