A seleção brasileira jogou contra a Alemanha, na Alemanha, em uma partida que valeu nada. Perdeu por 3 gols a 2, o que não é o final do mundo, principalmente tendo a Alemanha como adversária. Claro que a equipe brasileira vem jogando mal, basta lembrar o festival de mediocridade apresentado na Copa América, recentemente.

Não vi a partida de hoje, porque resolveram disputa-la no meu horário de trabalho, sem me perguntar a opinião! Esse pessoal do futebol é mesmo bastante antidemocrático, logo percebe-se.

O avanço da idade e da minha iniciação nos mistérios divinatórios têm permitido-me afirmar o que não sei, com grandes chances de acerto. Não vi a partida, mas acho que foi transmitida pela Rede Bobo, com exclusividade. Estabelecida essa premissa por adivinhação, as consequências advém naturalmente e, agora, por lógica formal comum.

Vai começar a sessão de linchamentos pessoais e destruição de personalidades. O que vai dar certo, porque o público tem anos ou décadas de instrução com o inominável da rede bobo. Todo mundo fala tudo, ninguém entende porra nenhuma, até porque não vê o jogo. Ouve o que dizem os narradores e prende-se aos detalhes. Daí, ou põe no céu, ou lincha! Enquanto isso, o mafioso-mor surfa na onda da copa de 2014.

Imagino já o imaginável, ou seja, o dia seguinte no trabalho. E, olhe que eu trabalho em uma repartição pública! Todos os lugares-comuns falados pelo narrador – inominável, sempre é bom frisa-lo – serão repetidos. Como o modelo de superficialidade imbecilizante funciona bem, eles fornecem três ou quatro aspectos de nada, o que permite ao sujeito ávido por falar que fale como se o fizesse por si.

O especialista que cada um acredita ser também poderá achar-se um especialista único e original, porque terá três ou quatro irrelevâncias a escolher para que uma delas pareça sua opinião.

Assim, acontece com tudo. A coisa mais previsível do mundo é um ambiente de trabalho ou alguma reunião na segunda-feira. Todos os falantes no ambiente estarão vomitando pedaços mal-digeridos da bobagem que mais lhes chamou atenção na revista Veja ou no programa Fantástico, da Rede Bobo, ou no futebol que passou na Bobo. Invariavelmente!

Funciona um pouco como uma novela, do ponto de vista esquemático. Na novela, os tipos sociais básicos estão presentes, quase sempre a partir de cortes maniqueístas. Então, há modelos básicos para todas as pessoas se identificarem. E, indentificando-se, o sujeito sente-se lisonjeado, pois um decalque dele está na televisão. Há mesmo tipos falsificados, que parecem ter até mais sucesso, pois acrescentam fantasia à identificação.

Na análise do futebol funciona assim. A culpa é de um jogador, ou é da bola, ou do juiz, ou de qualquer detalhe imbecil que isoladamente nada significa. Nunca é do chefe da banda…