Acabo de ler A Privataria Tucana: é demolidor e não encontro adjetivo melhor que esse, por mais lugar-comum que seja.
O livro é um sucesso editorial, para nossos padrões, porque em menos de um mês venderam-se 120.000 exemplares. Nada obstante, a chamada grande imprensa permanece no profundo silêncio com que recebe qualquer coisa inconveniente para os que ela defende.
Se fôssemos um país de leitores de livros, arriscar-me-ia a dizer que José Serra e grande parte dos tucanos acabaram-se politicamente. Todavia, nem somos muito leitores, nem cultivamos a história, coisas que, afinal, relacionam-se intimamente. Além disso, a comunicação televisiva é dominante e, nas TVs, os tucanos mandam em quase tudo. Os jornais escritos, em sua imensa maioria, são panfletos partidários.
O livro deixa claro que as privatizações levadas a cabo no programa de desestatização dos governos de Fernando Henrique Cardoso foram, na verdade, doações de patrimônio público, que houve uma festa de saída e retorno ao país de dinheiros ilegais, que o estado patrocinou aquela maravilha chamada assunção de riscos empresariais.
O mais importante é colocar face a face a realidade que o livro desnuda e o discurso que esteve por trás da sanha privatista. Dizia-se que haveria aumento de investimentos, que haveria aumento na competição, melhora na prestação dos serviços e diminuição da dívida pública.
Quanto à diminuição da dívida pública, pode-se dizer sem receios que não ocorreu e a promessa foi simples mentira. Ela, na verdade, aumentou bastante. Sim, porque antes de privatizar empresas e serviços estatais, este mesmo Estado endividou-se profundamente para vender empresas com investimentos já feitos!
São casos de banditismo, bem documentados pelo autor. Não quero ater-me aos esquemas de branqueamento de capitais, praticados pelos envolvidos próximos a José Serra, o que o livro afirma e prova. Queria lembrar, como já dito acima, o divórcio radical entre o realizado e as promessas.
O BANERJ – Banco do Estado do Rio de Janeiro – foi vendido por 330 milhões de reais ao Banco Itaú. Acontece que o governo do Estado do Rio de Janeiro demitiu, antes da venda, metade dos 12000 funcionários do banco e assumiu as despesas com as indenizações e com o fundo previdenciário dos funcionários do banco. Para fazê-lo, ou seja, para vender por 330 milhões um banco bem enxuto e sem despesas, o Estado do Rio de Janeiro contraiu um empréstimo de 3 bilhões de reais!
A Vale do Rio Doce, segunda maior mineradora do planeta, foi avaliada sem se considerarem as suas jazidas! Foi vendida por 3,2 bilhões de reias e, hoje, seu valor em bolsa de valores é duzentas vezes maior…
No caso da telefonia, ou seja, do sistema Telebrás, a infâmia e o saque não foram menores. Antes das privatizações, o Estado Brasileiro promoveu aumentos das tarifas que chegaram a 500% em alguns casos, para evitar que os novos donos privados tivessem que enfrentar a antipatia dos consumidores. Ou seja, a antipatia dos consumidores voltava-se para o Estado.
Todos os negócios foram realizados com polpudos empréstimos do BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. Aceitaram-se as chamadas moedas podres, títulos públicos absolutamente desacreditados, negociados no mercado por frações ínfimas de seus valores de face. Foram aceitos nos leilões pelos seus valores de emissão!
Em resumo, nas privatizações o Estado Brasileiro gastou para entregar a meia dúzia de oportunistas empresas de serviços monopolísticos ou quase – como na energia e nas telecomunicações – e para entregar a segunda maior mineradora do mundo e a maior siderúrgica da américa do sul a controladores que não gastaram nem 05% dos preços de compra. Um conjunto de crimes de lesa pátria, enfim.
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