Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

A convalescença da Gata de Orelhas Amarelas.

A Gatinha de orelhas amareladas atingiu a maturidade sexual meio tardiamente. Passou-se quase um ano até ter seu primeiro cio. Ela sempre falou muito, quase em todas as horas, exceto, naturalmente, nas muitas em que estava dormindo. Mas, ela tinha um hábito bom. Falava muito, mas não falava alto, o que muito me agrada, porque a surdez parcial não se confunde com a tolerância ao barulho.

Eis que ela entrou no cio, pela primeira vez, há mais ou menos um mês. Pensei, não que fosse enlouquecer, mas que ficaria muitos dias sem dormir. Fiquei apenas dois. O caso é que a gata, quando está no cio, não fala, ela grita. Os miados, alternando tonalidades graves e agudas, sucedem-se a intervalos de cinco minutos, sem interrupções, a noite inteira.

Ora, eu moro em um minúsculo apartamento de 65 metros quadrados, no térreo, rodeado de vizinhos, que isso aqui é um bloco de apartamentos. Então, está claro que a gritaria da pequena felina incomodava muita gente, à noite. Não há o que fazer, além de deixar entrar um gato, o que eu faria de muito bom grado se não houvesse o problema de onde criar os consequentes gatinhos.

E incomodava-me também, com a diferença que eu suporto o incômodo, porque, afinal, ela vive aqui porque quisemos e gostamos dela. Mas, os períodos de cio têm aspectos desconcertantes. Sendo o apartamento tão pequeno, deixo a porta do quarto entreaberta, à noite, mesmo que o ar frio do condicionador escape um pouco. Não seria justo privá-la de preciosos metros quadrados em um espaço tão pequeno.

Acontece que as gatas no cio demarcam território urinando, quando estão no cio. Então, acordei algumas noites com um líquido quente a molhar o lençol e minhas pernas. A gata das orelhas amarelas tinha urinado em cima de mim, seguindo o inexorável rumo de sua natureza! Não é uma agradável maneira de acordar, às cinco da manhã, principalmente quando se é acometido de insônia. Acordo-me, vou tomar um banho, retiro os lençóis da cama para lavá-los, não consigo dormir mais e chego ao trabalho cansado.

Resolvemos, portanto, que ela se submeteria a uma castração, a uma esterectomia, para não haver mais cios. E, ontem, fez-se a operação. A coitada passou o dia inteiro deitada, prostrada, quase sem comer e beber, desequilibrada da anestesia. Dá pena e inspira cuidados. Ela quer lamber-se e morder os pontos, o que tem que ser evitado. Quer trepar nos sítios mais altos, o que não consegue pois deve doer muito.

E, acho que o pior, passados os dias iniciais, é que deverá falar menos. Isso acontece. As gatas e os gatos castrados ficam mais lacônicos, falam menos. Seremos dois, então.

2 Comments

  1. Olívia Gomes

    Ela já está bem melhor e falando também! 🙂

  2. maria josé

    Ela vai voltar a falar e as vezes até mais.A minha branquinha continuou a mesma coisa ,com a mesma alegria e energia e já tem 8 anos.

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