Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

Mês: agosto 2010 (Page 3 of 4)

Campina Grande: desprezo pelo patrimônio arquitetônico.

Essas cinco fotografias retratam o local onde havia uma bonita casa, na Avenida Getúlio Vargas, em Campina Grande. Era uma edificação bastante característica da década de 1950, bem proporcionada, com uma fonte na frente.

Puseram-na abaixo, totalmente, rente ao chão. Restaram apenas alguns resquícios do revestimento de mosaico e um pedaço da fonte que havia, na entrada, além das grades.

A inscrição Jesus está voltando, que se vê na face interna do muro à direita, permite antecipar que vão edificar no local um desses templos de igrejas neo-pentecostais, que vendem o sucesso e ganham o dinheiro dos fiéis.

Essa gente tem muito dinheiro e nenhum senso histórico, artístico e estético. Para as finalidades a que se propõem, havia a possibilidade de erguer um galpão qualquer, com a feiúra que os caracteriza, em qualquer outro local.

Esta é uma cidade recente, de 140 anos e não tem, evidentemente, edificações de grande antiguidade. Viveu uma fase de enorme prosperidade devida ao cultivo de algodão e esse ciclo esgotou-se pelos anos de 1950-1960. Dessa prosperidade resultou um rápido e breve florescimento de alguma arquitetura, nomeadamente de residências de famílias ricas.

A cidade não encontra grandes barreiras físicas à sua expansão e poderia preservar o patrimônio arquitetônico que tem. Não são muitas as casa bonitas dessa época e essa que foi sumariamente posta abaixo para dar lugar a um templo que será vulgar e poderia estar em qualquer lugar, era uma dessas edificações bonitas.

Acabou-se, simplesmente.

Calor. Ainda se acredita que não está havendo aquecimento global?

Não sou cientista climático, mas não perdi, nem a memória, nem a capacidade de perceber as temperaturas, nem o interesse por informações. Sei, também, que as tendências só podem ser afirmadas a partir das séries de muito longo prazo. Mas, essas séries apontam, sim, um aquecimento médio nos últimos quatrocentos anos.

Verificam-se derretimentos de neves que se reputavam permanentes. Derretimentos e deslocações de grandes massas de gelo das regiões polares e sub-polares. Avanço nas áreas desertificadas, irregularidade crescente do ciclo de chuvas e estiagens. Picos de calor nos verões e de frio nos invernos. Maior indefinição entre as estações do ano.

Enfim, as sensações de calor absurdo nas épocas quentes são corroboradas por muitos dados colhidos e catalogados sistematicamente. Os céticos do aquecimento global dizem, basicamente, duas coisas: primeiro, que não seria possível afirmá-lo sem séries climáticas históricas extremamente longas; e, segundo, que ainda que esteja havendo, não é possível relacioná-lo com a atividade humana.

O argumento dos ciclos e de seu tamanho parece-me quase um sofisma. Ora, se se parte para pensar em ciclos imensos, tem-se que aceitar a existências de sub-ciclos, inseridos noss maiores. Aí, as coisas ficam na mesma situação. Se estamos dentro de um sub-ciclo de aquecimento – dentro de outro muito maior de aquecimento ou de esfriamento – pouco importa-me, a mim que estou sentido mais calor a cada ano.

Outra ponto do sofisma é considerar grandezas da magnitude da história de um planeta relacionáveis com o período de vida de uma geração. Ora, se um ciclo de aquecimento de quatrocentos anos pode ser desprezível numa escala que mede o surgimento da terra, ela é bastante palpável para as pessoas que sofrem seus efeitos.

Já a negativa dos efeitos das ações humanas no aquecimento e noutros aspectos do ambiente parece-me ciência financiada por companhias de petróleo e outras mais interessadas, pura e simplesmente.

O avanço das áreas desérticas, por exemplo, é um dado empírico incontestável e constitui-se em efeito e causa dentro da mesma cadeia de deterioração ambiental, de que o mais evidente e desagradável resultado são as temperaturas elevadas, cada vez mais constantes.

Os gases de efeito estufa são obra da atividade humana, quer decorram da queima de hidrocarbonetos, quer decorram dos flatos dos bois e vacas que nós comeremos. E, ao que tudo indica, eles agem, sim, no sentido de acarretar um aquecimento global. As devastações de coberturas vegetais nativas agem para reduzir a humidade, alteram o ciclo de chuvas e findam por resultar em aumentos de temperaturas.

As crescentes aglomerações urbanas aumentam o consumo de recursos naturais, notadamente em transportes, o que implica mais consumo de hidrocarbonetos.

Enfim, se isso é um ciclo que não permite concluir por uma tendência definitiva, não sei. Mas, sei que de uns tempos para cá está cada vez mais quente e não tenho dúvidas de que é necessário reduzir a voracidade com que se consomem recursos naturais finitos.

A música de Jorge Drexler…

Outro dia conversava com um amigo sobre a qualidade músical brasileira, a dos dias atuais e a de antes… Conclusão comum, foi que quanto mais elaborada a música menos simpatizantes tinha. Assim, a música clássica, brasileira ou não, estava sempre fadada a pequenos nichos de “entendidos”, onde por mais que se queira entrar, é muito díficil, por desconhecimento técnico mesmo.

Saltando um bocado do clássico, tem outros estilos, cada vez mais com divisões e subdivisões rotulares que mais me confundem do que auxiliam, música popular, worldmusic, samba, jazz, blues, rock and roll, heavy metal, bossa nova, manbo, a lista é imensa, e veja desse começinho, se captula uma coisa, escuto música daqui, da américa latina, e música em inglês, que toca e é vendida no mundo todo.

Nesse ponto disse a ele que estávamos mal acostumados, com uma música que já não se valorizava mais por aqui, Chico Buarque, Vinícius de Moraes, Antonio Carlos Jobim, Toquinho, Paulinho da Viola, essa lista também é imensa… E vou parando pra não cometer mais injustiças do que já cometi. Mas certo é que estavamos acostumados a uma qualidade musical extraordinária. Coisa difícil de se conseguir não só aqui, mas em qualquer lugar do mundo. Manter isso é praticamente impossível. E eis que hoje, não é que tenhamos música ruim, ou só música ruim, temos sim, é a realidade de não ter mais um Tom Jobim a nos encantar.

Me lembro de uma ocasião, provavelmente num filme sobre a bossa nova chamado “Coisa Mais Linda“, vi um caso em que Jobim conversava com alguém e, este lhe perguntava:

“- Rapaz, você tem músicas entre as mais tocadas do mundo! Concorrendo com os Beatles, explica como é isso, como se sente!!”

E ele respondia com calma, e mesmo sem dar muita impotância:

“- É, mas eles são 4…”

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Vote em um careca e ganhe dois. Isso é José Serra.

Não almoço com moralistas de ocasião, que compõem o tipo característico do pirata brasileiro que lança brados ao ar contra a corrupção de costumes. É a gente mais hipócrita e corrompida que há.

No vídeo acima, o candidato José Serra, muito sorridente, faz piada afável com o ex-governador José Roberto Arruda, o homem que foi filmado recebendo suborno.

José Serra é um paladino da moralidade!

A guerra humanitária.

Resultado de uma ação humanitária da OTAN na Bósnia.

Resultado de uma ação humanitária da OTAN na Bósnia.


Adianto que, para mim, o termo guerra humanitária é uma contradição em termos. Todavia, a julgar pela frequência com que essa motivação tem sido invocada para agressões, destruição e morticínio, estou em posição minoritária.

A promoção dos direitos humanos – ou fundamentais, em palavras mais precisas – impositivamente, sem considerações mais amplas sobre sua compreensão, tem levado países a justificarem guerras. E tem levado intelectuais a justificarem algumas formas de imperialismo cultural como a promoção de valores que seriam universais e desejáveis por todos.

Para que se chegue nesta noção de direitos fundamentais universais, dois requisitos são necessários. Primeiro, a aceitação de um padrão moral básico que se assemelha a uma verdadeira religiosidade panteísta. Segundo, que o conteúdo dos direitos fundamentais seja reduzido ao mínimo possível, porque ao mínimo de conteúdo pode corresponder o máximo de universalidade.

Trata-se de uma concepção liberal individualista muito própria de um liberalismo nascido nos finais do século XVIII. Essa forma de pensar os direitos fundamentais os reduz às liberdades negativas, o que implica uma esfera individual livre de pressões externas, quer venham do Estado, quer de outros indivíduos.

A crítica a essa visão teórica é relativamente fácil de fazer-se a partir da historicidade dos direitos. Ora, os catálogos de direitos fundamentais seguem uma marcha de ampliações, que já deixaram o paradigma do individualismo e das liberdades negativas para trás há muito. Com efeito, os direitos fundamentais coletivos e de liberdades positivas encontram-se consagrados em várias declarações e cartas de direitos fundamentais, mais e menos recentes.

De fato, como diz Bobbio, o postulado do jusnaturalismo e do racionalismo ético não tem fundamentação teórica. Tem existência positiva e postula efetividade, mas, no fundo, os direitos fundamentais são construções históricas, o que significa que dependem de conquistas e de consensos que não são mais que contingências.

Com relação à guerra por motivos humanitários, ou seja, àquela que se pretende justificada para a defesa de direitos fundamentais – na sua formatação mais restritiva de liberdades negativas – consiste em imensa contradição, mesmo que seja analisada a partir dos seus próprios postulados justificadores.

O exemplo recente da guerra na Bósnia-Herzegovina, na segunda metade da década de 1990, é muito eloquente. A guerra fez-se para estancar violações a direitos humanos. Para esse desiderato, violaram-se outros tantos direitos humanos, do mesmo nível daqueles que se queriam declaradamente proteger.

Violou-se o direito a vida e à integridade física em geral, de forma massiva. Violou-se o direito à propriedade – tão caro aos liberais individualistas – por meio pura e simplesmente da destruição dessa propriedade. E violaram-se vários outros direitos fundamentais de segunda e posteriores gerações, que os violadores, todavia, não se inclinam a reconhecer.

Violou-se o direito a um meio ambiente equilibrado e o direito à saúde, porque as forças da OTAN bombardearam os terrenos com artefactos de urânio empobrecido e de fósforo e com bombas de fragmentação – todos vedados em convenções da ONU. Os efeitos desses crimes de guerra serão sentidos no longo prazo, com a contaminação de terrenos e de cursos d´água.

Violaram-se os direitos ao patrimônio cultural, pois a destruição física atingiu indistintamente objetivos aparentemente militares e prédios de valor histórico. Também porque populações foram arbitrariamente deslocadas e isoladas, pondo em risco a continuidade de costumes e do uso das línguas.

Esses crimes foram cometidos a bem de levar uma liberdade cuja extensão é claramente reduzida. Trata-se de uma liberdade – caso exista em algum sentido – de viver na destruição, de perder raízes culturais, de perder parentes e outros próximos, de viver sob o terror e a tutela da OTAN e dos empréstimos de bancos alemães.

Há uma encruzilhada teórica que, para quem não sofreu os efeitos concretos da destruição, chega a ser engraçada. A guerra fez-se a bem de garantir as liberdades negativas, noção que implica a existência de deveres de não intrusão na esfera individual. Ora, as pessoas que tomaram bombas na cabeça poderiam invocar sua liberdade negativa contra os lançadores de bombas?

É terrível perceber a fragilidade, ou mesmo a falsidade, das motivações invocadas para alguma ação, utilizando o próprio suporte teórico dessas mesmas motivações. Resulta que se está diante, ou de uma tremenda dose de má-fé com impostura, ou de uma imensa dose de ignorância, ou de tudo reunido em alguma proporção.

A impostura pode ser revelada em vários casos a partir de um estudo cuidadoso dos fatores materiais subjacentes. Assim, no caso da invasão do Iraque, por exemplo, trata-se de pilhar a terceira maior reserva comprovada de petróleo do mundo e de sugar os recursos de vários Estados para grandes corporações sob contratos de reconstrução ou de fornecimento de mercenários.

A deficiência teórica, todavia, pode ser mais nociva e projetar seus efeitos mais demoradamente. Claro que se pode objetar que a tese serve à impostura, ou seja, ao disfarce de um saque. Pode, é verdade, e ususalmente desempenha esse papel. Acontece, porém, que as teses, as criações mentais sistêmicas, tendem a assumir uma realidade própria e vão a tornar-se em crenças, ou algumas formas de idolatria e fundamentalismo.

Assim, há quem pratique o imperialismo cultural sem ter de forma muito clara outro intuito além desse mesmo imperialismo. Quer dizer, passa-se a acreditar na missão redentora, independentemente de junto a ela haver ou não o roubo e a impostura. É o espírito de cruzada, enfim, onde misturam-se fanatismo disfarçado em teoria e instinto de rapina.

Precisamos de mais democracia participativa. Ou, um salário de R$ 26.000 é pouco?

Lê-se que os juízes da corte constitucional brasileira querem ganhar salários de 30.000 reais. Acham que o atual salário de 26.000 reais é pouco. É tolo não fazer comparações ou não fornecer os meios de fazê-las, porque quase tudo interrelaciona-se e, portanto é comparável. Convém apontar também que os oportunistas não gostam de comparações somente quando elas descortinam seu oportunismo. Quando os ajuda, recorrem a comparações sem quaisquer pudores.

Pois bem. 26.000 reais equivalem a 14.800 dólares norte-americanos e a 11.300 Euros.  E 30.000 reais correspondem a 17.142 dólares norte-americanos e a 13.043 Euros. Não é pouco, nem o atual, nem o que querem receber os juízes. Na verdade, é muito mais do que ganham seus congêneres mundo afora e não há qualquer evidência de que valham mais que os outros.

As pessoas que argumentam a favor desse absurdo usam de sofismas, confundindo administração pública com negócios privados. Há muito predomina uma deformação intelectual, no Brasil, que consiste em utilizar a noção de mérito deslocada de sua real significação para o interesse público.

O critério orientador das retribuições por funções no Estado é de utilidade do serviço público prestado, não de mérito como se entende nas relações privadas. Realmente, a verificação de suficiência técnica que se faz por meio de concursos públicos não é uma forma de seleção propriamente meritocrática, porque este é um conceito que vai muito além da simples detenção de conhecimentos técnicos.

Por outro lado, no serviço público lida-se com a idéia de legitimidade, a partir de que as investiduras têm que estar conformes à lei e ao que antecede à lei: a vontade popular. Aqui, nada há que se aproxime minimamente dessa deformada idéia de meritocracia. O que se convencionou chamar de meritocracia é, na verdade, uma burocracia corporativa auto-referente e anti-democrática.

O absurdo dos salários juizais – atuais e provavelmente futuros – percebe-se em outras comparações, além das externas. Neste país pobre e desigual, o salário mínimo atual é de 510 reais. Equivale a 291 dólares norte-americanos e a 221 euros. O salário atual do ministro do tribunal supremo, por sua vez, é cinquenta vezes maior que o mínimo. E será, breve, cinquenta e oito vezes maior!

Isso é pago com dinheiro tomado de todos, por meio de tributos cobrados em um sistema altamente regressivo, ou seja, que penaliza os mais pobres. Trata-se da superposição de duas camadas de injustiça, que se mantém firme porque os pagadores não são chamados a dizerem o que acham do preço e dos serviços que têm em troca.

Claro que uma situação dessas apenas se mantém com doses maciças de desinformação e supressão de mecanismos de democracia efetiva, participativa. Porque, esses senhores, regiamente pagos, seriam totalmente incapazes de defenderem – com aprumo e clareza – que precisam ganhar tanto para fazer o que fazem.

Terão coragem de dizer que seus congêneres europeus ou americanos trabalham mal? Que são menos capacitados que eles? Terão coragem de enfrentar a realidade de que trabalho melhor é feito por preço menor, mundo afora?

Lembrava-me, agora, a propósito de democracia participativa, do sistema constitucional francês de referendos e da conformação que lhe deu Charles de Gaulle. A constituição francesa de 1958 prevê duas formas de ser emendada. A primeira é por deliberação do parlamento, com a aprovação do presidente, seguindo-se uma necessidade de ser adotada por 3/5 do parlamento, em sessão conjunta do senado e da assembléia da república.

A segunda implica também que a proposição chegue ao parlamento e seja adotada em termos iguais pelas duas casas legislativas e aprovada pelo presidente. Todavia, a segunda volta de aprovação conjunta por 3/5 do parlamento é substituída por um referendo popular.

Em 1962, de Gaulle subverteu a ordem comum desse processo e levou uma emenda a referendo, diretamente, que veio a ser aprovada. O Conselho Constitucional reuniu-se e deliberou por sua adoção, porque o referendo expressava a vontade do povo soberano e, portanto, era mais que qualquer deliberação parlamentar quanto ao poder de emendar a constituição.

Questão de conhecimento de teoria do estado e de direito constitucional, de amadurecimento político e de coerência entre forma e matéria. Ora, se a constituição é resultante do poder soberano e se este é de titularidade do povo, nada impede que a aprovação popular legitime alterações na constituição. Na verdade, essa é a verdadeira formula que se harmoniza com a idéia de soberania popular.

No Brasil, adota-se a fórmula da soberania popular, mas apenas formalmente. Procura-se afastar essa tal soberania o máximo possível, estabelecendo várias camadas de legitimações derivadas e de tomada de decisões por órgãos de representação. Que tal se buscássemos nos aproximar mais daquilo que propomos nos papéis? Que tal, por exemplo, se o povo opinasse sobre esses miseráveis salários dos coitados dos juízes?

A lei do estrangeiro e o ridículo da última ditadura brasileira.

Estive a analisar a lei brasileira do estrangeiro, uma norma produzida em 1981. E reforcei minha percepção de que convém para muitos destruir as memórias e a história, por três motivações básicas. Primeiramente, a mais banal e mais nociva: ignorância pura e simples, que leva muitos a considerarem a história uma bobagem.

Em segundo lugar, o desejo de escamotear crimes e infâmias, de esconder suas autorias, de evitar o julgamento posterior por absurdos cometidos.

Em terceiro lugar, a motivação mais interessante: esconder o ridículo. As obras ridículas, coitadas, muitas vezes ficam sem paternidade, ninguém as reivindica, não se fala delas. Bem, há casos em que ele não é percebido, nem mesmo depois de muito tempo. Nesses, o ridículo é ainda maior e seus autores são orgulhosos na sua afirmação.

Há diversas maneiras de chegar ao ridículo e uma delas é a desproporção entre meios e fins, entre a realidade material e o contorno formal que se lhe quer dar. Acontece isso com a tal lei do estrangeiro, pois ela é de uma inadequação quase cômica, mas não chega a tanto, é apenas ridícula.

Essa lei fornece preciosos aspectos de arqueologia histórica. Permite ver que um regime ditatorial tem uma coerência interna que se desvela na sua simbologia e nos conceitos e termos que utiliza. O último regime ditatorial brasileiro gostava muito do conceito de segurança nacional.

Não usava a consagrada fórmula soberania onde ela caberia teoricamente. Ora, não usava porque a soberania é do povo, em última análise, e o povo não manda em uma ditadura, nem formalmente. Por isso, onde tecnicamente deveria estar soberania estava segurança nacional.

A lei em questão usa e abusa desse conceito para abrir um campo de discricionariedade vastíssimo. É uma norma que trata da entrada, permanência e expulsão de estrangeiros do Brasil com um rigor imenso, como se este país fosse, na época, um destino de sonhos para grandes vagas de imigrantes.

Ora, desde há muito não havia grandes imigrações com destino ao Brasil, pobre, desigual, violento e pouco democrático. Ou seja, a realidade não demandava uma normatização com tais níveis de detalhe e de rigor, porque o país não tinha então – como não tem agora – problemas com ingressos de estrangeiros que disputassem empregos com nacionais ou que se entregassem à criminalidade.

O problema não havia, mas houve quem julgasse pertinente dar o remédio! Era basicamente o velho hábito de ver fantasmas onde nem gente viva existia.

Por outro lado, não obstante uma lei que permitia negar a entrada ou expulsar um estrangeiro a partir do único e vago critério de inconveniência – sim, está no artigo 26 da lei – e que veda o exercício de um sem-número de trabalhos, sabe-se que os grandes interesses dos capitais estrangeiros traziam o país a reboque.

Sabe-se que a participação de capitais estrangeiros em meios de comunicação de massas e até nos que operam sob concessão pública ocorria de forma mais ou menos escandalosa, como no caso da Rede Globo, pertencente pela metade ao Grupo Time-Life. Ou seja, enquanto no aspecto macro a festa corria solta e sem limites, no detalhe a lei afirmava limitações absurdas e detalhadas. Evidentemente ridículo e desproporcional.

Mudanças no blogue.

A Poção passou a tarde fora do ar, por conta de umas alterações que estamos fazendo. Na verdade, esse plural é inadequado pois quem está fazendo as alterações é Severiano.

Enfim, trata-se de hospedar o blogue em um host que não é o próprio WordPress. Isso permite ter mais liberdade de temas, ou seja, de aparência do ambiente, e instalar mais livremente alguns plug-ins.

Claro que a transição, como quase todas, tem seus percalços. A lista de links, de blogues e outros sites, não foi migrada, ainda. Mas, será. O blogue está falando inglês, pelo menos na página de administração, mas será convertido em português, mais fácil e mais bonito.

Como de hábito, tivemos alguns problemas com o UOL Host, onde foram registrados os domínios apocaodepanoramix.com e apocaodepanoramix.com.br. O domínio .com.br continua com problemas, embora seja necessário apenas o UOL Host aceitar a mudança do DNS para o novo hospedeiro.

O que nos cabe fazer foi feito, ou seja, pagar ao tal UOL Host o que ele cobra, mas… Coisas das maravilhas dos serviços prestados por gigantes do capitalismo mediático brasileiro.

Escrevendo, agora, tenho ocasião de lembrar de outras maravilhas de serviços prestados por essas empresas que lidam com internet no Brasil. Hoje, pela manhã, estive sem conexão. Precisava de informações para escrever trabalho acadêmico e de acesso a sites do governo para meu trabalho mais propriamente dito. Nada!

A empresa que me fornece conexão de internet, a GVT, simplesmente passou toda a manhã inoperante. E ela é muito menos ruim que a Oi, que é a grande ofertadora de conexões a velocidades razoáveis. Quando a tal GVT entrou no mercado brasileiro foi celebrada efusivamente, porque oferecia serviços muito bons comparados ao padrão da Oi.

Agora, já há os episódios de paralisação do serviço, problema que fez da Oi a empresa pior considerada no mercado e a maior ré em processos judiciais por violações do direito do consumidor. É um longo caminho para a GVT ter uma reputação tão ruim quanto a de sua concorrente, mas parece já ter iniciado a marcha.

Na falta de um instrumento essencial ao meu trabalho, recorri, ingenuamente, a uma conexão 3G. Pura ilusão. Era tão fraco o sinal obtido nesta conexão da Claro – a maravilha ofertada pelo homem mais rico do mundo, Carlos Slim – que nem o site da presidência da república, que oferece a maior base de legislação brasileira, abria.

Resignei-me à falta de internet e ao tempo de trabalho perdido, e fui varrer a casa e aguar os pezinhos de coentro que plantei. Além de brincar com a gata, naturalmente. Isso, no fundo, é melhor que trabalhar, mas é difícil saber que o trabalho não realizado é apenas trabalho adiado. Mais adiante tem-se que fazê-lo e em menos tempo.

Assim caminham as coisas para quem contrata serviços neste país. Se fossem baratos, seria possível dizer que pelo ruim paga-se pouco, mas não é o caso.

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