Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

Mês: maio 2010 (Page 4 of 6)

Dilma Roussef é favorita nas presidenciais e o golpismo volta à cena.

Carlos Lacerda, patrono da campanha de José Serra.

Não existe direita liberal no Brasil e isso sempre foi um problema. Não existe até mesmo por imperativo de coerência, porque não há iniciativa privada em sentido próprio neste país. Aquilo que se chama iniciativa privada atenderia melhor pelo nome de oportunismo privado de iniciativa com capitais públicos.

No lugar político que caberia a uma direita liberal, existe um grupo que discursa contra o Estado, ao tempo em que precisa apropriar-se dele a qualquer custo. Esse grupo pretende-se liberal e democrata, mas é visceralmente hipócrita e golpista, portanto anti-democrático na essência. Seu modelo encontra-se em Carlos Werneck Lacerda.

Lacerda dedicou a vida a urdir golpes de estado, incapaz de ganhar nas eleições aquilo que ele e seu partido desejavam. Nada obstante, fazia-o a bem da democracia! O modelo lacerdista de política fica bem compreendido na sua proposição a respeito da iminente eleição de Juscelino Kubitschek. Disse que Juscelino não podia vencer as eleições, se vencesse não podia assumir e, se assumisse o cargo não podia governar. Realmente, é uma bela síntese da ideologia golpista.

Essa figura infame era bastante conhecida por seus aliados. Jânio Quadros, de quem Lacerda era aliado, desprezava-o profundamente. Os militares que deram o golpe de estado de 1964, de quem Lacerda era aliado entusiasta, desprezavam-no também e cassaram seus direitos políticos em 1968.

Pois bem. A candidata à presidência Dilma Roussef está à frente de seu oponente, José Serra, nas pesquisas eleitorais, seguindo uma trajetória de evolução constante nas intenções de votos. É natural que assim seja, pois representa o Presidente mais bem avaliado da história brasileira, enquanto seu oponente representa um Presidente que faliu o país três vezes e deixou a maior dívida pública da história como legado.

O candidato José Serra, que originalmente não integrava o núcleo neo-fascista brasileiro que tem no golpe sua linha de ação política, encontra-se plenamente envolvido por essa gente, presentemente. É assombroso, mas os aliados de José Serra já adotam o discurso lacerdista abertamente! Há pouco, um deputado federal dessas hostes teve a desfaçatez de afirmar que Dilma Roussef não podia ser eleita e, se eleita, não podia ser empossada.

Há, todavia, dois obstáculos a essa linha de atuação golpista. O primeiro é a vontade popular. O segundo é a inviabilidade de convocar as forças armadas para a empreitada golpista, atualmente. Se, a despeito das evidências, levarem adiante a tentativa – e parece que levarão – teremos uma boa oportunidade de viver a catarse política sempre adiada nesse país do acordo perpétuo.

Sem povo e sem baionetas, convocam-se os juízes, pois que o direito e as pessoas prestam-se a qualquer coisa. São receptáculos sem forma definida, aptos a conterem qualquer conteúdo. Mas, até nesse campo tão sombreado, a empreitada não parece ser tão fácil, porque não são todos os homens de toga que se divertem com a dialética da patifaria jurídica. Uma parcela significativa sabe que a política joga-se em outro campo e depende mais de votos populares que de interpretações enviesadas que podem até afirmar a quadratura do círculo.

Feira de Mangaio, por Clã Brasil e Sivuca.

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Quem não conhecer, preste atenção. A canção é linda e a interpretação digna da beleza dela. O senhor de cabelos e barbas brancas que está sentado é Sivuca, um dos maiores músicos brasileiros. As meninas que tocam são irmãs, todas são hábeis musicistas e formam o grupo Clã Brasil.

Padre Cícero, livro biográfico de Lira Neto.

Padre Cícero Romão Batista


Um texto de Andrei Barros Correia.


Alcides ofereceu-me o livro Padre Cícero, escrito por Lira Neto, com entusiasmada recomendação de leitura. Disse-me que a prosa do autor é boa e o livro baseado em ampla pesquisa documental. Acabei de ler a obra e corroboro as impressões dele, o livro realmente é bom, o estilo simples e direto, as bases documentais apresentadas de maneira fácil.

Já havia lido uma obra sobre o Padre Cícero e os eventos supostamente milagrosos sucedidos no Juazeiro, na segunda metade do século XIX, um livro do acadêmico norte-americano de Columbia Ralph Della Cava, chamado Os milagres do Joaseiro. Esse é um interessante estudo, de alguém completamente estranho ao ambiente dos acontecimentos. Mas, é uma obra nitidamente de pesquisa acadêmica e, ademais, traduzida para o português.

O livro aqui comentado não sugere que os milagres tenham ocorrido, nem que se tenha produzido um embuste. Não promove o Padre Cícero a santo, nem afirma que foi um bandido. Não põe toda ênfase na religiosidade do Padre, nem na atividade política por ele desenvolvida. O autor – e isso é admirável – conta a história da personagem sem acusá-la ou santificá-la e, mais que isso, sem incorrer na aparente neutralidade de formato acadêmico.

Socorre-se da farta correspondência epistolar e telegráfica mantida na época, entre o Padre e vários interlocutores, nomeadamente os bispos, os cardeais inquisidores, os amigos e apoiadores, os políticos, inserindo-a exitosamente na narrativa. Muitas cartas e telegramas estão transcritos na obra, com pertinência cronológica e sem tornar cansativa a leitura. Preciosa correspondência! Tive reforçada a impressão de que o Padre viu-se em meio a uma situação que ele propriamente não criou mas, que depois de iniciada tampouco podia ser travada.

Punido pela igreja – sempre temerosa das manifestações de religiosidade mística popular – viu-se na contingência de defender-se como podia. E o fez pelos meios ortodoxos, frente ao tribunal do Santo Ofício, a Inquisição, e também por meios heterodoxos, pois tornou-se político. De fato, nem sempre é razoável esperar que um homem acuado e convicto de não estar a cometer delitos resigne-se às punições e indignidades que se lhe impõem.

Cícero Romão Batista nasceu na cidade do Crato, na região do Cariri, situada no extremo sul do Estado do Ceará, próxima às divisas com os Estados da Paraíba e de Pernambuco. Região inserida no sertão nordestino, assolado por períodos secos realmente trágicos e local de práticas religiosas tendentes a um misticismo próprio. Pobre e católica à sua maneira, enfim.

O padre estudou, quando jovem, em uma espécie de pré-seminário mantido na cidade paraibana de Cajazeiras pelo famoso padre José Maria Antônio Ibiapina, uma figura interessantíssima. Homem nascido em família remediada, Ibiapina foi advogado e deputado e abandonou a vida profissional e política para tornar-se missionário católico nos sertões nordestinos e sair a construir capelas, escolas, cemitérios, açudes e outras obras.

Posteriormente, Cícero ingressou no seminário de Fortaleza e ordenou-se sacerdote. Retornou à sua terra natal, o Crato, e terminou por instalar-se em uma pequeníssima e paupérrima freguesia chamada Joaseiro, a leste do Crato. Passou a cuidar da capela do local e a reunir uma comunidade piedosa, onde antes todos eram considerados vagabundos, bêbados e desordeiros.

Rapidamente, Cícero tinha ao seu redor um grupo de beatas, a viverem em função dos modelos religiosos então em voga: trajes próprios, intermináveis períodos de orações, comportamento litúrgico próprio e vida em comum. Esse formato comunitário agregava em torno à religiosidade e ao padre pessoas que não dispunham de estruturas familiares tradicionais, basicamente por conta do fator desagregador que é a pobreza da região.

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Os russos ganharam a II guerra mundial. Mais um pouco sobre a manipulação de informações.

Soldados russos em Stalingrado.

A informação em si não tem ideologia. A forma como ela é oferecida aos receptores tem. Entram em cena omissões, ênfases seletivas, mentiras e exagerações, a tornar em ideologia algum fato. Claro que algum fato pode ser suporte de uma ideologia, a dizer que ela produziu um êxito, mas o fato sem discurso não é mais que isso, é inerte.

Os russos, sob o que então se chamava União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, venceram a II guerra mundial contra os alemães. Não é algo de se estranhar, porque a guerra deu-se entre alemães e russo e, portanto, seria vencida por um dos dois. Evidentemente, essa conclusão não implica negar a participação de outros povos, secundariamente.

Os espaços vitais buscados pela Alemanha não estavam em outro sítio senão na URSS. Com o restante da Europa, Adolfo Hitler construiria uma União Européia avant la lettre, com a capital em Berlin e, não em Bruxelas ou Strasburgo, evidentemente. Nisso retomava parcialmente o que Bonaparte fez com mais engenho e sucesso, com a sede em Paris. Napoleão federou e seduziu os tedescos do Reno e seduziu e avassalou os italianos do Vale do Pó e da Emília Romana. Durou mais e ficou nas mentes de quem experimentou.

Adolfo Hitler destinou 3/4 dos esforços de guerra alemães à frente oriental, o que é sinal evidente de onde a guerra foi lutada. Muito embora cinema e sub-literatura tenham incutido profundamente nas mentalidades as supostas importâncias de detalhes como a guerra no deserto e outras coisas deste tipo, como o desembarque na Normandia, a guerra ocorreu do Elba para oeste.

Winston Churchill, que não era minimamente tolo, pode registrar nas suas memórias que enquanto se divertiam com seis (06) divisões alemãs na frente ocidental, os russos enfrentavam cento e oitenta e cinco (185) divisões alemãs. Simplesmente, trinta vezes mais! Um estúpido pode continuar a não compreender, mas um parcial que preze minimamente o que traz dentro do crânio pode até calar-se, mas não pode ignorar a evidência.

O mesmo Churchill sabia muito bem que Adolfo Hitler havia poupado os soldados ingleses em Dunkerque, permitindo que se evadissem, embarcando de retorno à ilha. Chegava a ser constrangedor e, por isso mesmo, o episódio foi habilmente tornado em uma escapada conseguida com muito esforço. A verdade é que a Wehrmacht deixou-os evadirem-se, porque o Fuhrer ofereceu um gesto simpático aos ingleses.

Na resolução de fazer a guerra à Rússia houve fartas doses de sub-avaliações. O General Halder teria ocasião de dizer, um mês depois de iniciada a ofensiva, que a estimativa de enfrentar 200 divisões era equivocada, pois havia aproximadamente 360! A opinião do General Bluimentritt também é significativa do obstáculo e do histórico desprezo de alemães e russos por poloneses. Ele diz que a resistência e capacidade de lutar dos russos nada tinha a ver com a incapacidade dos poloneses.

Já em 11 de agosto de 1941, Franz Halder, o General bávaro de vastos serviços militares prestados à Alemanha, diria que é cada vez mais evidente que subestimamos o poderio desse colosso russo não só na esfera econômica, como, também, na militar.

O comentário mais revelador veio do Marechal-de-Campo Gerd von Rundstedt, um aristocrata prussiano em serviço desde 1892,  que se havia retirado em 1938, ao saber que Fristch havia sido espionado pela Gestapo. O Fuhrer o reconvocou ao serviço ativo às vésperas do início das hostilidades. Ao que tudo indica, Rundstedt era um militar e só isso.

Capturado, ao fim da guerra, o Marechal-de-Campo Rundstedt disse: Percebi, logo depois de termos começado o ataque, que tudo o que se escrevera sobre a Rússia não passara de tolices.

De minha parte, creio que Adolfo Hitler era mal dotado como militar e levou a esse campo a mitomania que funciona na esfera política. Na política, super estimar ou sub-estimar são rotinas próprias desse âmbito de atuação. Na guerra, é a diferença de gastar demais ou perder. É significativo que muito oficias alemães tenham alegado, no embuste de Nuremberg, que eram apenas militares no desempenho de suas funções: e muitos eram apenas isso.

Terminada a guerra, a parte do mundo em que vivo passou a aclamar-se como única vitoriosa de um grande conflito. E passou a produzir material de propaganda desse êxito, negando o real obtenedor da vitória. Claro que isso esteve e está perfeitamente inserido na necessidade de escamotear qualquer mérito de um novo oponente.

Esse esforço teve sucesso, porém ao custo de ignorância. Passado o tempo e aumentada a distância dos fatos, esse sucesso cobra um preço grande, porque aquilo que era feito deliberadamente por quem sabia o que fazia, passa a ser uma verdade crível para quem vem depois. E até para os sucessores de quem vendeu a mentira propositadamente. Hoje, é como se o vendedor do entorpecente o consumisse!


Em ano de Copa do Mundo…

Depois da escalação de Dunga, técnico da seleção brasileira, não falar nada, nadica de nada, de futebol, é sacanagem… Então vai esse pequeno vídeo, que não por acaso, é da Argentina… Mas calma, poderia ser aqui perfeitamente, não que seja motivo de orgulho, afinal, de tanto gostar de futebol, eu preferiria qualquer das outras benesses, mas em ano de copa, deixemos a chatice pra depois…

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Severiano Miranda

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