Uma pessoa muito estimada queixava-se, há pouco, de receber uns vinte e-mails diários com as mais diversas e sórdidas vulgaridades contra a Presidente Dilma Roussef.
A julgar por meu interlocutor – admitindo-se que muitas comunicações dão-se entre pessoas da mesma classe social – trata-se de gente de classe média alta. Ou seja, as classes médias altas urbanas brasileiras são profundamente vulgares e agressivas, além de pouco instruídas e bastante vaidosas.
São profundamente subservientes e incultas e dão o cú à brincadeira para agradar qualquer coisinha que venha de fora, ao mesmo tempo em que esforçam-se ao máximo para exercer seu preconceito de classe contra aqueles cujo trabalho barato os enriqueceu.
São entreguistas: corretores auxiliares dos grandes corretores do país. São aqueles que, relativamente a Lula, faziam piadas grosseiras quanto à falta de instrução formal do Presidente. Faziam piada – suprema vulgaridade – com o fato do Lula ter perdido um dedo da mão, em um acidente de trabalho!
Com a doutora Dilma – que é engenheira mais capaz que nove entre dez desses profissionais no Brasil – qual piada farão? Farão o óbvio, que a vulgaridade é previsível. Farão piadas simplesmente porque ela é mulher, porque é divorciada, porque não está magra.
Com essa gente nada se faz, excepto, é claro, roubar o Estado e promover tertúlias de gente a pensar que uísque é o auge da elegância.
Bom comentário; reconheço que fui também assediado por uns dias com um aumento de mails de conhecidos e desconhecidos com um conteúdo muito parecido com os que recebi na reeleição de Lula: alertas contra “o analfabeto”, contra o marxismo/leninismo ateu, contra a guerrilha urbana e o incêndio dos canaviais e até contra a estatização das bodegas e dos bares.
Como recusei-me a responder a qualquer um dos mails, ou a repassá-los, ou seja, recusei-me a entrar no jogo, a pressão tornou-se inócua, foi passando e mudando também os alvos, que passaram a ser casos velhos de corrupção ou do mensalão.
Além do que você fala no seu diagnóstico sobre o tipo de reação de um extrato social mais virulento e saudosista dos tempos de Medici, e do gosto de bajular e do poder que eles tinham de “denunciar qualquer coisa”, há também nessa sua postagem um componente que penso poder caracterizar como sintomatologia da “síndrome da dor de corno suburbano”.
É a dor daquele sujeito que teve a mulher seduzida para dar um passeio no carrão do chefe, não foi nem comida mas o cara assumiu-se como um corno com pretenções de poder intermediar benesses junto ao patrão (ou ao chefe da facção local do tráfico de drogas ou de influência).
Foi demitido do cargo, não tem mais poder mas continua com os delírios de voltar a ver a mulher no carro do patrão e a se mostrar disponível para se tornar de novo um corno ou ex-corno poderoso.