Desde os anos da década de 1970 cogitam-se usinas de geração de energia a partir de fissão nuclear a se instalarem no Nordeste do Brasil. Nas duas décadas seguintes, o assunto saiu de pauta, principalmente por conta dos elevados custos. Atualmente, o assunto volta à evidência e planeja-se a construção de duas centrais nucleares em sítios às margens do Rio São Francisco. Esta localização é quase óbvia, à vista de estabilidade geológica, disponibilidade de água e pouca densidade populacional.
Sucede que os projetos de usinas nucleares sempre suscitam, notadamente por estes lados, objeções muito emocionais e destituídas de sólidas razões. A segurança, enfim, é a objeção sempre pronta a romper a barreira dos dentes dos porta-vozes do senso comum. Elas não seriam seguras, repete-se à exaustão. Mas, aqui existe bastante confusão e razões para crer que as imagens das explosões patrocinadas pela Força Aérea Norte-Americana no Japão fixaram bem fundo uma matriz de rejeição emotiva. É curioso que pouca gente associa um automóvel movido a gasolina a uma bomba de napalm, embora fosse algo razoável.
Acabo de ler um relatório escrito por Fábio Bittencourt, em novembro de 2009, sobre o assunto segurança das usinas nucleares, intitulado Energia nuclear é realmente perigosa?. É um texto muito esclarecedor, que evita a chatice de um paper acadêmico, de um alinhamento de opiniões ou de uma tabulação de estatísticas (embora apresente fartamente dados relativos). O autor alinha dados que comprovam a menor letalidade da geração nuclear, quando comparada às matrizes hidrelétrica, a carvão e a óleo e gás.
Menciona os resultados do estudo encomendado pela Comissão Reguladora Nuclear do governo norte-americano, que resultaram no relatório WASH-1400, publicado em 1975. As curvas de riscos traçadas a partir das probabilidades dos diversos acidentes e dos consequentes riscos de morte evidenciam que o risco de morte é comparável ao de uma pessoa ser vitimada por um meteorito.
O que me prendeu mais a atenção, todavia, foi o autor ter abordado a relação entre as fontes de energia e armamentos de guerra. Sim, porque isso é que está forte no imaginário do medo com a geração nuclear. Ele lembra que a energia hidráulica foi utilizada como arma de guerra, por exemplo na guerra sino-japonesa, em que os chineses arrombaram uma barragem no Rio Amarelo acarretando a morte de 500 a 800 mil pessoas. Lembra também o farto uso de bombas incendiárias, que consistem basicamente em gasolina gelatinosa. E conclui com a evidência de que a energia nuclear foi a menos utilizada como arma de guerra.
Voltarei ao assunto em outras ocasiões, em relação também a outros aspectos a serem considerados. E, com relação a segurança, acho que é tempo de ver as coisas mais objetivamente.
Bom e muito oportuno esse tema. Visitei algumas usinas nucleares nos USA e na Europa ocidental e nunca vi tanta providencia de segurança em andamento. Simplesmente não havia acidentes nessas usinas.
O caso de Chernobyl foi quase que proposital (um crime culposo) e os russos/ucranianos aprenderam direitinho a lição; depois disso adotaram os padrões franceses de segurança de nucleares.
Com as dificuldades para o licenciamento ambiental de hidroeletricas (e hidroeletricas trabalham com um fator de aleatoriedade na disponibilidade de água que deve ser bem avaliado e considerado para que não venham a secar e a provocar a situação pela qual está passando agora a Venezuela e por onde o Brasil e o nordeste tambem tiveram problemas recentes), a unica maneira de se suprir um mercado crescente e voraz por energia eletrica próximo aos centros de carga (grandes linhas são mais sujeitas a desligamentos de grandes cargas)é com a construção de nucleares.
Discute-se muito a alternativa eólica e há poucos anos o eng. Givanildo Almeida, da CHESF, defendeu tese de doutorado no Imperial College em Londres sobre o maximo que se conseguiria injetar de energia eólica no nordeste sem causar prejuizos e instabilidades. Esse numero é da ordem de uns 20% da carga, o que é muito pouco se ainda contássemos com esse potencial eólico instalado.
No frigir, outras formas de energia convertidas em eletricidade podem contribuir em pequenos pedaços e em algumas horas (solar não funciona à noite, por exemplo)mas a geração de base terá que vir de uma fonte confiável e de alto potencial: nuclear ou grandes hidraulicas.
Como as fontes de grandes hidraulicas estão na amazonia, com exploração dificil e eventualmente custosa ao meio ambiente, resta-nos a nuclear para atender aos mercados dos centros de carga no nordeste.
Obrigado pelo objetivo comentário, Sidarta.
Aproveito para pedir-lhe, caso tenha a informação, os valores dos mega-watt instalados, por tipo de geração.
Eu estou procurando uma fonte confiável para me responder algumas perguntas para uma matéria sobre energia nuclear na região Nordeste. Se vocês puderem me indicar alguém ficarei agradecido.
Hugo,
O site da eletronuclear tem um bocado de informações. Vale à pena uma visita.