Leio no jornal matéria insípida sobre o turismo no Brasil e o turismo que os brasileiros fazem no exterior. Insípida, porque o assunto o é, se se limitar a alinhar números e propor os lugares-comuns de sempre.
Os brasileiros que viajam para o exterior gastam três vezes mais que os estrangeiros que vêm para cá. Claro, tem o real valorizado, o que permite viagens mais baratas, mas tem muito mais que a simples vantagem cambial.
O Brasil sempre foi muitíssimo fechado e de uma forma paradoxal. Ao mesmo tempo que as classes mais altas sonham com modelos fornecidos na TV de matriz norte-americana, elas vivem sua auto-referência plenamente.
A maioria das pessoas, ou seja, não somente as classes mais altas, acredita em uma espécie de particularismo brasileiro, o que não é sinônimo, nem de patriotismo, nem de avidez por conhecer a história, a geografia ou o desenho social do país. É mais uma crença de quem só tem ao espelho e, portanto, só tem a si.
Assim, as pessoas pensam que temos as praias mais espetaculares do mundo, as comidas idem, a cordialidade e outros lugares-comuns. Ora, há praias e comidas por todo o mundo, afinal há um mundo todo por aí! A única coisa realmente diferente que há neste país é a amazonia, extraordinária mesmo, na sua abundância sem paralelos de água e de árvores.
Nossa surpresa somente decorre da nossa ignorância. Ficamos pasmados se alguém foi a outras praias ou a outras Miamis, porque não sabemos que elas existem e ainda achamos estranho que os viajantes saibam. Realmente, um dos caracteres mais interessantes da ignorância é projetá-la nos demais e, talvez seja a característica mais agressiva.
Além da inexistência de reais particularidades ou delas assim tão marcantes e distintivas, há o preço e a qualidade do que se oferece ao turismo. Aqui, tudo tornou-se caro antes de tornar-se bom e bem feito. A imagem do paraíso tropical, ingênuo, de índios semi-nus a caminharem nas terras, de restaurantes escondidos bons e baratos, é algo que só fez sentido como imagem, e mais, como imagem nossa de nós mesmos.
Insisto a falar em praias porque somente elas – além da amazonia, que é outra estória – podem ter algum atrativo. Dito isto, sou obrigado a concluir algo terrível, mas inevitável: as cidades não oferecem qualquer encanto particular.
O pouco de arquitetura bonita que há, seja antiga, seja moderna, é vulgar. Se se tratar de ver as belezas da arquitetura colonial ibérica, é melhor ir ao Perú e à Colombia. Se o caso é deliciar-se com prédios altos e revestidos de espelhos, melhor e mais barato é ir a Nova Iorque, onde eles estão bem à vontade.
Andar a pé é uma aventura complicada, porque os passeios não foram feitos para serem passeados, os assaltantes ainda são numerosos, tudo é monolíngue. Os transportes urbanos são um desafio, porque são coisas, em geral, para gente desafortunada, que não pode ter um carro. As linhas de metro são poucas e pouco extensas. Os táxis são cariíssimos e muito voltados para roubar os turistas.
Trens, abolimos quase completamente para o transporte de gentes. Servem apenas para levar e trazer minérios. Não há um aeroporto com estação de metro! Não há muitas pessoas que falem mais que o português. Ao mesmo tempo, tudo está muito caro!
Dada essa situação de coisas, porque a surpresa com a pouca atratividade do país para turistas estrangeiros, se o destino é ruim e caro?
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