Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

Talharim com molho de salmão fumado e camarões.

Quando há tempo, gosto de gastá-lo da forma mais trivial possível: no mercado, a perambular e a pegar este e aquele produto, ler de que se compõe, de onde veio. Coisas de quem tem que perambular em uma grande cidade pequena desprovida de uma livraria…

Eis que me deparei com uma embalagem bem simpática de talharim, uma caixa em papel cartão, de bom gosto e simples. Vi que é feito em Recife, o que me surpreendeu um pouco pois não sabia dessa indústria de massas relativamente caras e supostamente de qualidade.

Vi, na lateral da caixinha, que o talharim era koscher, o que me interessou porque o rabino pode ser mais eficaz que a vigilância sanitária e porque revela que visam a clientela usualmente mais exigente. Peguei da caixa e segui a andar e a observá-la. Na outra lateral, havia uma receita, coisa que geralmente pouco me interessa. Mas, essa interessou-me, não para a reproduzir, mas para fazer algo parecido.

Era de um molho com salmão fumado, natas, mostarda em grãos e pimenta do reino moída. O salmão fumado é, ao mesmo tempo, delicado e profundamente saboroso, pelo que se pode usar pouco com grandes resultados. Pensei que esta riqueza de sabor acrescida de outros também muito marcantes, como os da mostarda em grãos e da pimenta podia resultar algo muito pesado. Mesmo que estejamos, hoje, com temperaturas agradabilíssimas à volta de 21º e sejua domingo, não convém uma avalanche de gostos pesados.

Resolvi trocar as natas por creme de leite leve, suprimir a pimenta do reino, trocar a mostarda em grãos por mostarda cremosa de Dijon e colocar o sumo de meia lima da Pérsia, profundamente aromático e enaltecedor do sabor fumado do salmão. E resolvi, ainda, acrescentar um pouco de camarões médios previamente cozidos na água e pouquíssimo sal. Os camarões assim cozidos ficam delicadíssimos em termos gustativos e conseguem impor seu sabor ao molho mesmo com pouca cocção.

Tomei uma caçarola e pus um pouco de azeite e sobre ele quatro dentes de alho e um pouco de cebolinha picadinhos. Fechei a panela e deixei em fogo baixo por quase um minuto. A idéia é cozinhar o alho e a cebolinha, mais que os refogar. Depois, o conteúdo de uma lata de creme de leite magro – 300 gramas – e uma colher de chá bem cheia de mostrada de Dijon. Isso fica a tomar fogo por mais alguns minutos, até levantar fervura e sempre mechendo até engrossar.

Usei duzentos gramas de salmão fumado, que são suficientes para três pessoas, ainda bem porque eis um ingrediente caríssimo por estas plagas. Cortei as lâminas de salmão em quadradinhos pequenos, de menos de um centímetro de lado. Cortei também os camarões em três partes, cada um, já sem cabeças e rabos e descascados.

Foram para a panela os pedacinhos de salmão, de camarão e o sumo de meia lima da Pérsia. Meche-se sempre, sem parar e por pouco tempo, já que tanto peixe, quanto crustáceo já estão cozidos, um em fumaça, outro em água, e precisam de pouco tempo para contaminar tudo com seus sabores.

Tudo pronto, põe-se o talharim no prato, espalha-se o molho por cima e polvilha-se com pouco queijo parmesão ralado, que não chegará a derreter, o que somente ocorre se o quijo for muito ordinário. Por cima de tudo, pedacinhos bem pequenos de tomates secos. Acompanhamos com um chileno de uvas Merlot, pouco mais que razoável, mas resultou fantástico.

3 Comments

  1. Olivia

    Estava uma delicia!

  2. Bira

    Rapaz, interessantíssima a alquimia!

  3. Sidarta

    Grande observação sobre a aprovação do rabinato!

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