Aconteceu um episódio que mistura patifaria e ridículo, em doses imensas. Um repórter da revista Veja – o maior lixo editorial brasileiro com pretensões informativas – tentou invadir o apartamento do Zé Dirceu, no hotel em que ele hospeda-se, em Brasília.

Sim, o fulano tentou enganar a camareira, dizendo-se o hóspede daquele apartamento e que tinha perdido as chaves. Uma estratégia tosca, que não deu certo, porque a camareira sabia muito bem quem era o hóspede costumeiro do quarto.

Desmascarado, pois a camareira avisou à gerência do hotel, o tal repórter saiu às pressas, sem pagar a conta! Mas, o agente semi-secreto da Veja tornou à carga. Retornou ao hotel, identificou-se com outro nome, disse que era assessor de um certo prefeito e que precisava deixar uns documentos importantes no quarto do Dirceu. Novamente, a ação dessa mistura de Clouseau com empregado de Corleone resultou mal.

O hotel apresentou queixa formal, na polícia, por tentativa de invasão.

Está claro que se ia produzir um escândalo, essa coisa difusa de que vivem meios de comunicação do nível da Veja. Ou iam implantar escutas no quarto, ou forjar documentos acusadores ou qualquer coisa desse jaez mafioso que está por trás da falta absoluta de limites e atuação clara no âmbito mafioso.

Zé Dirceu é um sujeito inteligente, muito tenaz e político vinte e cinco horas por dia. Tem, além dessas características, outra muito interessante: mete-se em tudo e assume os riscos correspondentes. Nesse sentido, não é um canalha, porque joga as regras do jogo e fá-lo com mais desenvoltura que a enorme maioria dos políticos.

Ele foi alvo – o que não carrega juízo de culpa ou inocência – de uma manobra bem orquestrada para fragilizar o ex-presidente Lula, no início de seu primeiro mandato. A imprensa contrária ao ex-presidente criou uma coisa chamada mensalão. Essa coisa seria um esquema governamental de pagamento mensal e constante por apoio parlamentar.

A criação da farsa baseou-se em duas coisas existentes. A primeira é o financiamento ilegal – por fora – de partidos políticos, que gastam nas campanhas eleitorais muito mais que o declarado oficialmente. Outra, foi a filmagem de um  pedido trivial de suborno, por parte de um funcionário subalterno da Empresa de Correios, que nenhuma ligação a Dirceu tinha. O valor é bastante esclarecedor, pois esse imenso meliante recebeu R$ 3.000,00! Sim, a república devia ser abalada por um pedido de U$ 1.500,00, feito por um subalterno!

O público recebe a bomba já armada, tudo misturado e uma versão final pronta e já com os acusados condenados. Todavia, Lula e Dirceu estão muito longe de serem estúpidos. O ministro poderosíssimo afastou-se do cargo e cuidou de defender-se. O presidente afastou de si o tal escândalo e o mundo seguiu seu rumo.

O problema desses escândalos é precisamente sua vacuidade e a diferença entre alguma base fática e a versão oferecida pelos media. São instrumentos táticos que servem à uma estratégia maior, de longo prazo. Assim sendo, destinam-se a terem vida curta e a sucederem-se, uns aos outros. Então, ou bem um desses escândalos tem massa crítica suficiente para uma total derrubada do alvo, ou bem vai esvair-se aos poucos, à espera do próximo.

O lastro do mensalão são coisas diversas do que se acusou Dirceu e o governo em geral. Trata-se do fluxo de caixa dos partidos políticos e envolve a todos eles. O mensalão, como foi vendido, é profundamente improvável, embora fosse uma grande idéia, caso posto em prática, porque comprar continuadamente é mais barato que esporadicamente.

O caso é que o problema do financiamento ilegal de partidos, se levado às últimas consequências, implicaria enormes prejuízos em todo o espectro político partidário e isso não convinha, obviamente, a um escândalo desencadeado por visões politico partidárias. E Dirceu, evidentemente, sabe disso e sabe de muito mais.

Levaram o caso ao supremo tribunal. O ministério público denunciou algumas figuras políticas, entre elas o Zé Dirceu, pelo que seria o mensalão. Ou seja, denunciou pelo que não aconteceu, mas pode levar, ao menos hipoteticamente, a descobrir-se o que acontece…

Da forma que se fez a denúncia e tratando-se de réus poderosos e dispostos a defenderem-se adequadamente, parece claro que redundará em absolvição. Não sei se os media, Veja principalmente, terão coragem de apostar ainda mais e atacar o tribunal, a insistir na inexistência que encobre outra coisa. Por isso, a tentativa de invasão – prova da possibilidade da convivência da patifaria com o ridículo – faz bastante sentido.

A publicação precisa de alguma coisa, e qualquer uma serve e qualquer meio é para ela possível, para manter a pressão sobre Dirceu. Não pode haver um Zé Dirceu absolvido e sempre sabedor das coisas e disposto ao combate.