Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

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Serra e o entreguismo escancarado.

Essa maravilha que são os vazamentos do Wikileaks deixou claro que o entreguismo era a força motora da campanha de José Serra, o corretor do Brasil.

Uma comunicação diplomática de dezembro de 2009, revela que a executiva da Chevron Patricia Pradal conversou com o então candidato José Serra sobre o modelo de exploração do petróleo brasileiro. E que o candidato assegurou-lhe que mudaria o modelo novamente, para diminuir a participação da Petrobrás e, evidentemente, leiloar a festa entre as petroleiras estrangeiras.

A representante da Chevron relatou as conversas ao Cônsul norte-americano no Rio de Janeiro, que as repassou ao Dep. de Estado. A preocupação dessa gente é o modelo de partilha, adotado para a exploração das imensas reservas do pré-sal brasileiro. Eles temiam que a Petrobrás assumisse papel muito destacado na exploração e queriam, como sempre querem, espaço para o saque.

Que José Serra representou os entreguistas, todos sabem, embora nem todos queiram aceitá-lo. Agora, o que sempre se soube está documentado sem eufemismos em uma correspondência oficial da diplomacia norte-americana, com aquela clareza de identificar os nossos e os outros.

Wikileaks: assimetria e mentira.

Os EUA deviam despir a fantasia de legalidade e outras tolices mais, que eles não levam minimamente a sério.

O negócio da acusação de estupro contra Assange é de desonrar a Suécia por dez gerações, se alguma vez tiveram honorabilidade.

Colocam-se um governo, ministério público, justiça e essa merda toda a serviço de prender um sujeito por um pretexto falso.

A acusadora viveu uma farra de 14 dias com Assange, foi a concertos, comentou a brincadeira no twitter e outras coisas. É óbvio que é um golpe orquestrado, nada tem de estupro.

Esse pessoal seria mais respeitável se mandasse dois agentes para sequestrar e matar Assange, pura e simplesmente, como sempre fizeram.

Mas, não. Armam uma comédia e chamam seus súditos para desempenharem os papéis mais infamantes. E eles aceitam!

Os EUA têm uma rede de hackers. A partir de uma lógica trivial, não deviam sair por aí falando em pirataria e coisa e tal.

Assim, a guerra é assimétrica em favor dos patifes. Usam ao mesmo tempo essa vacuidade que atende por sistema legal e os meios ilegais!

Os que divulgam as patifarias só dispõem dos meios ditos ilegais, o que é uma enorme desvantagem.

Espero que derrubem todos os sites de bancos e outras associações mafiosas desse tipo.

O império contra ataca. Wikileaks na berlinda.

Nas últimas semanas muito se tem falado acerca do Wikileaks. O “Wiki” é um gênero de página da internet, é isso ai, não é uma  página apenas (no caso a Wikipédia, que todos conhecem, e que popularizou o Wiki). Nesse tipo de página, pessoas podem alterar o conteúdo pelo qual navegam com facilidade e sem necessidade de revisão, de forma simples, um grupo de trabalho (global?) com as credenciais certas e objetivo comum, pode produzir conteúdo ad infinitum. O melhor exemplo é realmente o mais popular, a famosa Wikipédia, onde de acordo com níveis de colaboração dos usuários se constrói aquela que acredito ser a enciclopédia mais utilizada hoje em dia.

No caso do Wikileaks, o wiki serve a distribuição de documentos, via de regra diplomáticos, dos Estados Unidos da América. E seu grupo de trabalho, consegue tais documentos e os distribui de maneira eficaz, foi notícia nas ultimas semanas, pois divulgou um grande número de documentos que (novamente) colocou os EUA em saias justas diplomáticas pelo mundo todo. Conforme o tempo passa novas descobertas são feitas, e manchetes de jornal como as do El Pais – “Somos la octava potencia mundial y nos tratáis como un país de quinta fila” se tornam comuns.

Logicamente, o que já incomodava antes, agora parece ter subido de categoria, e os EUA decidiram por acabar com a brincadeira. Começaram uma caçada ao fundador do site, Julian Asange, e uma corrida por retirar o site wikileaks do ar. Na caçada ao fundador do site, acusaram-no de qualquer estpafurdice e colocaram a Interpol em seu encalço para que consigam prendê-lo a qualquer custo. Junto no pacote, começaram a lhe tomar dinheiro, e impedir doações. No caso do site… No caso do site é mais complicado, porque não há acusação formal estapafúrdia a se fazer contra o site, logo o que foi feito, muita pressão, a princípio. Primeiro começaram a retirar os apoios de servidores americanos que hospedavam o website, depois o mesmo ao redor do mundo em outros paises.

Resultado, hackers compraram a briga, se organizaram, e multiplicaram os servidores de hospedagem, além disso derrubaram websites de instituições financeiras que tomaram crédito de Asange, e de outras que lhe negaram doações, através de ataques DDoS(Ataque de negação de serviço, do inglês Distributed Denial of Service), nesse tipo de ataque, uma máquina mestre, comanda milhares (milhões?) de máquinas infectadas, a buscarem todas, ao mesmo tempo, determinada informação em um servidor, que vai sobrecarregar e parar ou travar. A figura demonstra bem o que acontece:

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Quando o império quer, não há direito algum.

O direito é a vontade do príncipe, como fez constar Justiniano nas suas compilações de leis. E fez bem, porque essa enunciação está correta e não conduz a ambiguidades. Pode melindrar as almas sensíveis que acham o poder repugnante e o direito a vontade de todos ou uma tábua de salvação.

Assim as coisas se parecem porque na enorme maioria dos casos ninguém está a incomodar verdadeiramente o poder. Então, ele consente que as coisas se encaminhem pelos trilhos da aparência de direito geral, abstrato e resultante da vontade geral. Para a maioria dos conflitos, a concepção idealizada e oblíqua do direito funciona.

Sua dimensão real mostra-se nos casos em que os interesses do império são contrariados. Aqui, ele é um instrumento de dominação e de repressão, pura e simplesmente. E uma parte do público sente-se traída nas suas convicções, apenas porque não alcançou ver de que se trata realmente.

Julian Assange e a Wikileaks confrontaram os interesses do império e de seus súditos mais próximos. Revelaram o que são, sem as vestes da legalidade, da relação entre iguais e de outras mentiras mais.

Para ele, não há mais direitos, portanto. Admiram-se que países ditos civilizados atuem contra ele? Admiram-se porque acreditam erroneamente que a diferença entre a Suécia e o Chade seja jurídica.

Assange e a Wikileaks foram roubados por um banco suíço, que confiscou seus depósitos sob o pretexto de um endereço errado. É de admirar que um banco suíço – que deve ter milhões em depósitos de tráfico ilegal de armas, de pessoas e de entorpecentes ilícitos – seja tão escrupuloso, assim seletivamente.

A justiça sueca – sim, daquele país conhecido pela profunda liberalidade de seus costumes sexuais – persegue Assange por duas relações sexuais consentidas. Sim, é isso mesmo, consentidas.

A justiça britânica – daquele país que até há pouco sentia-se à vontade para portar-se como parâmetro moral do mundo – apressa-se a dar cumprimento a uma ordem de prisão por relações sexuais consentidas. Realmente, sabe-se que a Inglaterra resolveu todos os seus problemas e pode ocupar-se de coisas assim tão importantes.

Como não servirá de grande coisa prender Julian Assange, é provável que o matem. E é também provável que isso seja feito com alguma desculpa legal. Afinal, o direito é um copo vazio, dentro de que se pode colocar qualquer coisa!

Iraque: americanos matam por brincadeira.

É absolutamente sórdido. Uma série de assassinatos resolvidos em conversas triviais, no rádio, como se estivessem tomando cerveja em uma bar de beira de estrada, no Texas.

Munidos de canhões de 20mm, no helicóptero, os sujeitos conversam na seguinte base: atiro ou não atiro? ora, foda-se, atire! e o cara com o celular? atire

E eles estranham que a maior parte da população mundial tenha, com relação aos EUA, um misto de terror, ódio e desprezo.

São os sentimentos cabíveis, pois os EUA são os maiores terroristas do mundo, são os maiores agressores e têm as condutas mais pusilânimes, porque delinquem e presumem-se santos.

Wikileaks e Brasil, um texto de Natália Viana.

Fui convidada por Julian Assange e sua equipe para trazer ao público brasileiro os documentos que interessam ao nosso país. Para esse fim, o Wikileaks decidiu elaborar conteúdo próprio também em português. Todos os dias haverá no site matérias fresquinhas sobre os documentos da embaixada e consulados norte-americanos no Brasil.

Por trás dessa nova experiência está a vontade de democratizar ainda mais o acesso à informação. O Wikileaks quer ter um canal direto de comunicação com os internautas brasileiros, um dos maiores grupos do mundo, e com os ativistas no Brasil que lutam pela liberdade de imprensa e de informação. Nada mais apropriado para um ano em que a liberdade de informação dominou boa parte da pauta da campanha eleitoral.

Buscando jornalistas independentes, Assange busca furar o cerco de imprensa internacional e da maneira como ela acabada dominando a interpretação que o público vai dar aos documentos. Por isso, além dos cinco grandes jornais estrangeiros, somou-se ao projeto um grupo de jornalistas independentes. Numa próxima etapa, o Wikileaks vai começar a distribuir os documentos para veículos de imprensa e mídia nas mais diversas partes do mundo.

Assange e seu grupo perceberam que a maneira concentrada como as notícias são geradas – no nosso caso, a maior parte das vezes, apenas traduzindo o que as grandes agências escrevem – leva um determinado ângulo a ser reproduzido ao infinito. Não é assim que esses documentos merecem ser tratados: “São a coisa mais importante que eu já vi”, disse ele.

Não foi fácil. O Wikileaks já é conhecido por misturar técnicas de hackers para manter o anonimato das fontes, preservar a segurança das informações e se defender dos inevitáveis ataques virtuais de agências de segurança do mundo todo.

Assange e sua equipe precisam usar mensagens criptografadas e fazer ligações redirecionados para diferentes países que evitam o rastreamento. Os documentos são tão preciosos que qualquer um que tem acesso a eles tem de passar por um rígido controle de segurança. Além disso, Assange está sendo investigado por dois governos e tem um mandado de segurança internacional contra si por crimes sexuais na Suécia. Isso significou que Assange e sua equipe precisam ficar isolados enquanto lidam com o material. Uma verdadeira operação secreta.

Documentos sobre Brasil

No caso brasileiro, os documentos são riquíssimos. São 2.855 no total, sendo 1.947 da embaixada em Brasília, 12 do Consulado em Recife, 119 no Rio de Janeiro e 777 em São Paulo.

Nas próximas semanas, eles vão mostrar ao público brasileiro histórias pouco conhecidas de negociações do governo por debaixo do pano, informantes que costumam visitar a embaixada norte-americana, propostas de acordo contra vizinhos, o trabalho de lobby na venda dos caças para a Força Aérea Brasileira e de empresas de segurança e petróleo.

O Wikileaks vai publicar muitas dessas histórias a partir do seu próprio julgamento editorial. Também vai se aliar a veículos nacionais para conseguir seu objetivo – espalhar ao máximo essa informação. Assim, o público brasileiro vai ter uma oportunidade única: vai poder ver ao mesmo tempo como a mesma história exclusiva é relatada por um grande jornal e pelo Wikileaks. Além disso, todos os dias os documentos serão liberados no site do Wikileaks. Isso significa que todos os outros veículos e os próprios internautas, bloggers, jornalistas independentes vão poder fazer suas próprias reportagens. Democracia radical – também no jornalismo.

Impressões

A reação desesperada da Casa Branca ao vazamento mostra que os Estados Unidos erraram na sua política mundial – e sabem disso. Hillary Clinton ligou pessoalmente para diversos governos, inclusive o chinês, para pedir desculpas antecipadamente pelo que viria. Para muitos, não explicou direto do que se tratava, para outros narrou as histórias mais cabeludas que podiam constar nos 251 mil telegramas de embaixadas.

Ainda assim, não conseguiu frear o impacto do vazamento. O conteúdo dos telegramas é tão importante que nem o gerenciamento de crise de Washington nem a condenação do lançamento por regimes em todo o mundo – da Austrália ao Irã – vai conseguir reduzir o choque.

Como disse um internauta, Wikileaks é o que acontece quando a superpotência mundial é obrigada a passar por uma revista completa dessas de aeroporto. O que mais surpreende é que se trata de material de rotina, corriqueiro, do leva-e-traz da diplomacia dos EUA. Como diz Assange, eles mostram “como o mundo funciona”.

O Wikileaks tem causado tanto furor porque defende uma ideia simples: toda informação relevante deve ser distribuída. Talvez por isso os governos e poderes atuais não saibam direito como lidar com ele. Assange já foi taxado de espião, terrorista, criminoso. Outro dia, foi chamado até de pedófilo.

Wikileaks e o grupo e colaboradores que se reuniu para essa empreitada acreditam que injustiça em qualquer lugar é injustiça em todo lugar. E que, com a ajuda da internet, é possível levar a democracia a um patamar nunca imaginado, em que todo e qualquer poder tem de estar preparado para prestar contas sobre seus atos.

O que Assange traz de novo é a defesa radical da transparência. O raciocínio do grupo de jornalistas investigativos que se reúne em torno do projeto é que, se algum governo ou poder fez algo de que deveria se envergonhar, então o público deve saber. Não cabe aos governos, às assessorias de imprensa ou aos jornalistas esconder essa ou aquela informação por considerar que ela “pode gerar insegurança” ou “atrapalhar o andamento das coisas”. A imprensa simplesmente não tem esse direito.

É por isso que, enquanto o Wikileaks é chamado de “irresponsável”, “ativista”, “antiamericano” e Assange é perseguido, os cinco principais jornais do mundo que se associaram ao lançamento do Cablegate continuam sendo vistos como exemplos de bom jornalismo – objetivo, equilibrado, responsável e imparcial.

Uma ironia e tanto.

*Natália Viana é jornalista e colaboradora do Opera Mundi

O Ministro da Defesa pode ser informante dos EUA?

Os preciosos vazamentos de despachos da diplomacia norte-americana, pela Wikileaks, revelam uma bonita amizade entre o Ministro da Defesa do Brasil, Nelson Jobim, e o embaixador dos EUA no país, Clifford Sobel. Vê-se que houve almoços, reuniões, em que Jobim falava mal da diplomacia brasileira, o Itamaraty.

Não é papel do Ministro da Defesa almoçar com o embaixador dos EUA para falar mal da diplomacia do seu próprio país, evidentemente. Mas, de Jobim consta até que fraudou a redação de alguns dispositivos da Constituição Brasileira de 1988, inserindo-os no texto sem os levar à votação plenária na Assembléia, portanto…

Consta dos informes que Jobim revelou ao embaixador Sobel os problemas de saúde que acometiam o Presidente Evo Morales. Novamente, não parece minimamente adequado que um Ministro de Estado funcione como repassador de informações ou fazedor de fofocas.

Finalmente, Jobim mereceu de Sobel a honrosa qualificação de talvez um dos mais confiáveis líderes no Brasil. Realmente, assim procedendo, adequa-se bem ao modelo de político confiável para os EUA, passador de informações que não pertinem ao cargo, cortejador de embaixadores norte-americanos. Não é primeiro a vestir esse fato.

É interessante lembrar que está em curso uma grande licitação internacional para a compra de 36 aviões de caça para a Força Aérea Brasileira. E que há três competidores, sendo um evidentemente norte-americano, um sueco secundariamente norte-americano e um francês. O melhor caça é o francês Rafale, o que ninguém põe em causa. E a proposta francesa, a mais cara, envolve transferência de tecnologia e fabricação dos aviões no Brasil.

Curiosamente, um dos despachos da embaixada menciona que Jobim disse ao embaixador que o Ministro Samuel Pinheiro Guimarães – à época Secretário – Geral do Itamaraty – trabalhava para criar problemas, porque odiava os EUA. Mais curiosamente ainda, a licitação para a compra dos caças é feita pelo Ministério da Defesa, cujo titular é Jobim. Que dificuldades seriam essas que Samuel Pinheiro Guimarães criava?

Convém indagar da Presidente Dilma se esse é o tipo de Ministro de Estado confiável para o Brasil. Sim, porque para os Estados Unidos da América é, nas seguras palavras de seu embaixador.

Porque somos facilmente conduzidos à subserviência.

Se o triunfo da massificação foi um projeto deliberado de poder, terá sido o mais engenhoso e pérfido já levado a cabo. Sempre houve poder, dominação, dominantes e dominados, evidentemente. Mas, os meios e as estruturas sociais para o exercício e manutenção dos poderes tornaram-se realmente diferenciados, a partir dos finais do século XIX.

A violência é o meio de domínio por excelência e pode ser praticada fisicamente ou economicamente ou ainda juridicamente. Aqui, entra em cena algo bastante sutil, a violência aparentemente contida em uma forma assumida como civilizada, padronizada, conformada consensualmente. E aqui, sobressai a extrema similitude do jurídico com o propagandístico.

A violência física e a econômica são muito concretas, facilmente tangíveis, evidentemente percebidas. A violência embalada em discurso e normas é pura confusão, todavia. O jurídico e a propaganda são as cortinas-de-fumaça mais perfeitas que há para esconderem a violência real e fazerem a vítima não perceber onde está.

Que a massificação existe é algo passível de poucas dúvidas. Pode ser enunciada de várias maneiras teóricas e também mediante imagens, metáforas. Eu diria que uma delas é aquela do teatro em que a platéia é convencida de que tanto faz estar em qualquer dos lados do teatro. O espectador é convencido de que poderia estar, indistintamente, na platéia ou no palco, que não há diferenças de posições, nem de competências.

O espectador no palco, por mais que creia ser ator – sem saber como – é apenas espectador achando que é outra coisa. Acontece que a subida do espectador ao palco destrói o espetáculo, porque ele é incapaz de ser ator. Ele acredita, porém, no que lhe disseram, ou seja, que é muito capaz e que pode e deve ser protagonista. Sente-se afagado por essa elevação de espectador a protagonista.

Claro que o espectador pode tornar-se em ator, mas deve seguir um roteiro, pois não basta crer que pode. É mesmo desejável que vise ao protagonismo, que conheça os caminhos da representação, que se disponha a segui-lo e aos esforços que ele pressupõe. Mas, subir ao palco pura e simplesmente apenas acaba o espetáculo e rebaixa os atores.

Quando todos crêem que são os protagonistas, que são os felizes destinatários de um mundo a seu serviço, embora nada tenham feito para merecerem tamanha distinção, na verdade jogam-se na vala comum da dominação mal percebida. São observados pelos donos do teatro, que mantém a sua propriedade, agora, tornando o teatro em comédia enorme e desencontrada.

Realmente, a melhor maneira de um grupo de relojoeiros manter-se exclusivo é fazer crer aos demais que eles podem produzir relógios, que é a coisa mais fácil do mundo, que não se preocupem em estudar como se fazem relógios. Claro que eles não farão relógios, mas comprarão relógios, felizes e crentes de que se trata de alguma banalidade que, se quisessem, fariam.

Uma das maiores perfídias dos últimos tempos foi a idéia de que a imprensa é um setor ocupado em dar informações imparcialmente e de que tem algum respeito pelos destinatários das informações. Esse respeito inexiste, porque o domínio não respeita as massas profundamente ignorantes. Outra, foi que o direito é um conjunto de regras que é cumprido pelos que as redigem.

A imprensa não é imparcial porque a imparcialidade não existe. Nisso, não há problema algum, desde que haja informações e desde que o destinatário das informações saiba que há lados e interesses. O problema existe se o público acredita em imparcialidade mediática, enquanto ele mesmo pratica o maniqueísmo mais rasteiro, porque afinal não é capaz de sair da dicotomia bom e ruim.

Levado a achar-se importante e julgador suficiente de tudo quanto se diga – desde a vida sexual das abelhas ao programa nuclear da Coréia do Norte – o público compõe-se de indivíduos que projetam suas díades pessoais bom e ruim em tudo quanto se lhe apareça à frente.

A grande jogada – para recorrer à terminologia vulgar e mais precisa – foi levar o público a crer que decide, que é importante, que detém competências, que é o destinatário privilegiado das mensagens do poder. Ele, o público, não é nada disso e recebe um bombardeio diário de desimportâncias várias.

O resultado é que está completamente anestesiado e incapaz de diferenciar uma nevasca de um morticínio, um jogo de futebol de uma decisão de lançar uma bomba atômica.

Assim, oferece docilmente sua adesão à própria submissão, porque não a vê. Desde que tenha como tomar dinheiro emprestado para comprar o telefone mais recente, que possa seguir uma moda, que possa emitir alguma opinião desencontrada e clamar por liberdade de expressão, tudo está muito bem. Acha-se seguro, mas a roda gira somente para ele.

Essas considerações, fi-las a propósito das reações ao vazamento de comunicações diplomáticas norte-americanas. São coisas, em sua enorme maioria, que se sabem.

Os EUA manipulam tribunais, como na Espanha, para obter julgamentos favoráveis ao seu campo de concentração de Guatánamo. Escondem do público mas falam francamente entre si do morticínio de civis no Iêmem, por conta de um bombardeio. Desdenham da Inglaterra, que se esforça para destacar sua relação fraternal com os desdenhosos.

Revelam que a realeza saudita pediu para os EUA atacarem o Iran, embora também revelem que não há qualquer ameaça tangível. Revela o desdém arrogante com vários líderes, tratados de forma aviltante e ridícula. Revela que a Sra. Clinton pretende ter espiões, mais que diplomatas a seu serviço.

Julian Assange, o mentor da Wikileaks, que fez os vazamentos dos documentos publicados pelo El Pais, The Guardian, Le Monde e Der Spiegel é um benemérito. E, por sê-lo, será perseguido infatigavelmente e provavelmente preso ou assassinado.

Mas, impressionante mesmo é a confiança dos detentores do poder na estupidificação geral. Confiança que geralmente revela-se uma boa aposta, porque o vasto público é realmente estúpido e encontra-se anestesiado. Somente essa crença explica que os EUA, por meio da Sra. Clinton, diante da revelação de suas imposturas e crimes, digam que as divulgações agridem a comunidade internacional.

Ou seja, reagem com mais impostura, hipocrisia e mentira à revelação desses móveis sempre presentes nas suas ações. E, à exceção de meia dúzia de pessoas, essa nova dose de mentira e impostura, será a reação correta, porque a mentira é o dia-a-dia do público massificado.

O grande público massificado ficará com a impostura da Sra. Clinton e com a indignidade dos líderes que foram tratados de forma aviltante. Porque o grande público massificado é impostor e indigno e não tem a menor percepção de que o dinheiro que os contratantes da Sra. Clinton lhes empresta para que se julguem suficientes pode ser dado ou retirado.

Enfim, se essa massificação foi um projeto deliberado, deve ter tido a participação do Príncipe do Mundo, que apenas pessoas não seriam capazes de tão grande obra.

Wikileaks revela patifarias da diplomacia norte-americana.

A Wikileaks fez um enorme vazamento de documentos secretos do Departamento de Estado Norte-Americano, que revelam o modo de agir imperial: estupidez, grosseria, arrogância e impostura.

Os documentos revelam inclusive crimes, como mandar espionar a ONU e seus delegados, que contam com imunidade diplomática, ao menos formalmente.

Revelam que os funcionários diplomáticos norte-americanos, a par com certas tolices imensas, tratam seus súditos de outros países – ia dizer aliados, mas não estou para eufemismos – com enorme desprezo. E utilizam suas embaixadas como centros de espionagem, o que sempre se soube.

E persistem na mentira, na impostura, no embuste, firmes na crença de que o resto do mundo compõe-se de subordinados imbecis. Sim, porque não economizaram palavras vulgares nem com os chefes de estado de países realmente grandes, como Alemanha, França, Inglaterra, Itália e Rússia.

O máximo do ridículo é atingido depois do vazamento, quando a senhora Rodham Clinton diz que se trata de um ataque à comunidade internacional. Não, senhora Clinton, trata-se de um ataque ao vosso país e ao corpo de funcionários dirigido por si. Ataque à comunidade internacional são os métodos que vossa senhoria determina aos seus subordinados.

Fica evidente o baixo nível intelectual e de cortesia que os norte-americanos têm e eles reclamam do vazamento do que os compromete! E querem conquistar a solidariedade dos ofendidos para a causa deles.

Uma coisa é certa, se os líderes europeus, tratados de forma vil, prestarem-se a dar solidariedade à impostura da indignação norte-america merecem realmente uma posição subalterna e os tratamentos que lhes são dispensados.