Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

Tag: Violência

Israel sendo legítimo filho de Josué.

Os meninos palestinos apedrejavam carros, em Jerusalém. A reação que o israelense condutor do carro nas fotografias acima julgou adequada foi atropelar os meninos.

Atacar o infiel é servir a Deus. O absoluto não se atem a coisas relativas, como a proporcionalidade, por exemplo. Então, a conduta do israelense é inculpável, pouco importando que o carro tenha 1.500 kg e a pedra 100 g.

Eles são coerente consigo próprios, têm que viver o tudo ou nada, têm que fermentar o ódio de cada nova geração, têm que viver Masada novamente.

Lucien Sarti atirava muito bem.

Quadro 312 do filme de Zapruder

Quadro 312 do filme de Zapruder

Quadro 313 do filme de Zapruder

Quadro 313 do filme de Zapruder

Frequentemente, as coisas mais improváveis são as mais fáceis de divulgar como verdades. Vale o conselho de Goebbels, ou seja, trata-se de repetir uma versão ao máximo e sentar em cima dos papéis. Acrescente-se à linha básica o afirmar-se que as evidências são tomadas para se construirem teorias da conspiração.

Os investigadores oficiais do assassinato de John Fitzgeral Kennedy concluiram – e convenceram a enorme maioria do público – que o Presidente foi alvejado por trás, no que seria um trabalho excepcional de um mal atirador, posicionado a enorme distância e manejando uma arma apenas razoável.

O corpo de John Kennedy foi primeiramente levado ao Dallas Parkland Hospital, mas ele já estava morto. Os médicos e enfermeiras que o atenderam na ocasião não corroboraram depois o que disseram à comissão Warren. Os depoimentos coincidem em um homem ferido por, ao menos, dois disparos, um no lado direito da cabeça e outro na garganta.

A comissão Warren afirmou que todos os ferimentos foram  obra de duas balas, uma delas a bala mágica – um projétil de 3 cm, revestido de cobre e com alma de chumbo, com 6,5 mm de diâmetro –  que teria atingido Kennedy em baixo do pescoço. Essa bala mágica, como merecidamente foi nomeada rapidamente, teria penetrado por trás e por baixo do pescoço de Kennedy, saído pela garganta, penetrado no ombro de Connally e, depois de tantos volteios, alojado-se no punho do governador.

Essa maravilha balística teria sua prova na própria bala, que se supõe encontrada no chão, singelamente, no Parkland Hospital. Esta prova irrefutável é uma bala quase intacta, apesar de todas as sucessivas camadas de ossos, tecidos humanos moles e tecidos de roupa que atravessou!

A teoria da única e mágica bala é de uma absurdidade tamanha que não merece maiores comentários. É interessante perceber que essa mesma absurdidade calhou muito bem à montagem das conclusões da comissão Warren. Ou seja, ao mesmo tempo em que o absurdo em si não é empecilho à crença em alguma mentira, ele também mostra a vantagem de desviar o foco das observações.

A comissão tinha o objetivo de concluir que um agente da inteligência da Marinha, especialista em radares, Lee Harvey Osvald, agira sozinho e por conta própria. Ele teria disparado três vezes em 5,7 segundos e conseguido atingir o Presidente em movimento, duas vezes, a uma distância de 58m, em um ângulo extremamente improvável.

Com uma rapidez que beirou a indignidade, tanto o corpo de Kennedy foi embarcado no avião oficial, quanto o vice-presidente Lyndon Baines Johnson foi empossado na presidência, dentro do próprio avião. O corpo foi submetido a uma autópsia oficial no hospital naval de Bethesda.

A comissão Warren realizou um grande trabalho de ajuste das variáveis e supostas provas disponíveis, no sentido de concluir pelo único atirador, situado no sexto pavimento do depósito de livros da escola do Texas. Na verdade, a teoria da bala única gera uma útil controvérsia que afasta a percepção do aspecto mais importante, que é a multipla origem dos disparos.

O filme de Zapruder contém inúmeros vestígios de manipulação, notadamente de retirada de quadros e posterior suavização dos buracos resultantes dessa retirada. Há um estudo cuidadoso da manipulação do filme de Zapruder aqui: www.assassinationscience.com/johncoetella/jfk

Isso porque tudo indica que houve muito mais que três disparos e que não se originaram do mesmo ponto e, além disso, que a limusine presidencial parou completamente e depois retomou a marcha, no meio dos disparos. A questão das conclusões da comissão e das muitas confusões com testemunhos e laudo de autópsia e a manipulação do filme de Zapruder era afastar a evidência dos multiplos atiradores e, consequentemente o complô.

O indivíduo que foi considerado o assassino era um antigo agente da inteligência da Marinha norte-americana, que trabalhava com radares. Criou-se o mito da deserção de Osvald, que foi para a Rússia. Realmente, ele esteve lá um tempo, mas há indícios de que desempenhou tarefas interessantes para o governo norte-americano.

Osvald teria teria ensinado os russos a detectarem corretamente, por meio de radares de pulsos doppler, os aviões espiões U2 que sobrevoavam a Rússia a tirar fotografias. Realmente, pouco depois que o avião U2 pilotado por Francis Powers foi abatido na Rússia, Osvald retornou aos EUA e foi levado para Dallas.

Há muito sentido nisso, se se toma em conta que os militaristas precisavam de um pretexto urgente para violar as convenções de Genebra e seguir seu rumo de aumento de despesas militares, a partir da crescente paranóia com a ameaça que seriam os russos. O militarismo quer qualquer coisa que não seja alguma paz.

Osvald destinou-se a ser o que chamam uma Patsy, ou seja, um bode expiatório levado a uma situação pré-concebida. Foi reiteradamente fotografado a brincar com armas e levado a discursos bobos de amor a Fidel Castro e a Cuba, o que não era minimamente difícil um agente fazer, desde que acreditasse estar desempenhando mais um papel.

Lucien Sarti era um corso envolvido em tráfico de heroína, em Marselha. Um bandido de bom currículo, pode-se dizer, e reconhecido como grande atirador. Especula-se que teria sido o graduado agente da CIA Cord Meyer a contratar o pessoal de Sarti para o assassínio de John Kennedy.

Sarti, muito oportunamente, foi assassinado pela polícia, na cidade do México, em 1972. O realizador de documentário Anthony Summers, autor do último episódio, em 2003, de The Man Who Killed Kennedy, obteve essa indicação de Christian David, um criminoso francês encarcerado, e foi corroborado por Micheli Nicoli. Significativamente, eles apontaram somente o nome de Sarti, que já estava morto.

É notável que o History Channel, produtor do documentário, tenha feito um desmentido, no ano de 2004, como forma de evitar processo movido por Gerald Ford, um ex-presidente e membro da comissão Warren. O episódio nono e último, intitulado The Guilty Men, apontava para a responsabilidade do Presidente Jonhson.

Um pouco depois do filme documentário do History Channel, o agente da CIA Howard Hunt, pouco antes de morrer, disse que o Presidente Lyndon Johnson ordenou o assassinato de Kennedy. Hunt foi o líder da operação que colocaria escutas no Hotel Watergate, onde se realizaria a convenção do partido democrata, em 1972.

Nesse ponto, convém afastar-se um pouco das estritas balizas cronológicas e da lógica investigativa ou jornalística para compreender porque Joe Kennedy Junior, John Kennedy, Robert Kennedy precisaram ser assassinados. Ou seja, para perceber em que eram ameaçadores e a quem.

A primeira inclinação – natural – é considerar que eles eram mafiosos demais. Todavia, no ambiente em que atuavam, no inner-circle norte-americano, o nível de mafiosidade dificilmente era muito diferente, de grupo para grupo antagônico. Daí, não parece razoável crer no excesso dos Kennedys como motivo de seu alto perigo, a justificar os assassinatos.

Convém lembrar que Joseph Kennedy era banqueiro riquíssimo já na década de 1920, então com menos de 30 anos de idade e que era irlandês e católico. Almejava a presidência e foi preciso empenho de Franklin Delano Roosevelt para afastá-lo legalmente da possibilidade de concorrer ao cargo.

Preparou então o filho mais velho para a missão. As circunstâncias conspiravam a favor, porque Joe Kennedy Junior, oficial da aviação norte-americana na segunda grande guerra, provavelmente retornaria para ser condecorado por bravura e seria improvável que perdesse para Truman. Morreu em circunstâncias estranhas, em um avião que explodiu sobre o canal da Mancha.

Passou-se a John, que enfim foi eleito. Em 04 de junho de 1963, o Presidente assinou o Decreto Presidencial n. 11110 (Executive Order), que praticamente retirava da Reserva Federal – uma entidade privada que não se confunde com os bancos centrais europeus – o poder de emprestar dinheiro a juros ao Governo Federal Norte-Americano.

Assim, Kennedy, com uma assinatura, punha fim a um dos maiores negócios do mundo, senão o maior, estabelecido em torno aos interesses de banqueiros que, na origem, eram principalmente britânicos. Claro que seria a mudança de um grupo por outro, mas não seria pouca coisa, pois o FED é a maior invenção da humanidade para por o mundo de joelhos, a partir da reserva de mercado para um grupo de banqueiros do maior tomador líquido de empréstimos que havia e há.

A isso adiciona-se uma e outra modificação na política fiscal para o setor de petróleo e uma discreta relutância em aprofundar a guerra no Vietnam. Estavam criadas as condições para haver três principais setores contra o Presidente: os bancos, as petrolíferas e a indústria armamentista. E esses setores sempre coordenaram bem seus interesses e conjugaram esforços quando necessário.

Sempre ficou mais evidente a participação dos setores petrolífero e bélico, mas creio que os banqueiros tiveram parte mais decisiva nesse entendimento que resultou na ordem de Jonhson para o assassinato. Na verdade, as indústrias vêm a reboque dos bancos, esse sim o maior dos negócios.

Um exército que atira no seu povo, para atender aos interesses de uma empresa estrangeira: Ciénaga.

Jorge Eliecer Gaitán

A companhia United Fruit plantava bananas para exportação, na região colombiana de Magdalena e mantinha os trabalhadores das plantações em condições próximas à escravidão. Esses trabalhadores mantinham vínculos por meio de contratadores, ou seja, por arrendadores de trabalho. O número é estimado entre 10.000 e 30.000 e tal imprecisão deve-se, tanto à precariedade dos registos, quanto à precariedade decorrente das relações de contratação por pessoas interpostas.

Em novembro de 1928, um sindicato lançou petição de reinvidicações, notadamente de respeito às normas de segurança do trabalho, de habitações com adequadas condições higiênicas e aumentos de 50% nas remunerações. Basicamente, tratava-se de pedir o cumprimento de quanto já se encontrava nas leis trabalhistas colombianas de então.

A United Fruit Company negou-se a atender qualquer das reivindicações e mesmo a iniciar qualquer negociação. Iniciou-se a greve dos trabalhadores e o General Carlos Cortés Vargas foi enviado à região, supostamente para intermediar alguma solução negociada entre os grevistas e a UFC.

Não houve grandes recuos da UFC, que insistia na manutenção das condições extremamente precárias dos trabalhadores das plantações bananeiras. As greves continuaram e evoluíram para o bloqueio dos embarques de bananas nos trens, em Ciénaga. O governo colombiano editou o Decreto Legislativo nº 1, que declarava o estado de sítio na região, por perturbação da ordem pública, e fazia do General Vargas chefe civil e militar da mesma região.

Cortés Vargas, pleno de poderes excepcionais, determinou a proibição de qualquer reunião de mais de três pessoas e prometeu atirar na multidão, caso desobedecido. Na madrugada do dia 06 de dezembro de 1928, Vargas ordenou a formação da tropa e leu as ordens para a multidão dispersar-se, em cinco minutos. Passados esses escassos minutos, deu-lhes mais um mísero minuto e cumpriu a promessa.

Então, o exército colombiano fuzilou trabalhadores colombianos desarmados, matando-os às centenas, para atender aos interesses de uma companhia estrangeira!  O próprio embaixador norte-americano, Jefferson Caffery, em informe para o Departamento de Estado, asseverava a ocorrência de mais de 1000 mortes.

O político Jorge Eliecer Gaitán denunciou a chacina no congresso colombiano, acusou os militares de ação premeditada em estado e embriaguez e mencionou trens carregados de cadáveres que seriam jogados ao mar. É óbvio que Gaitán tinha interesses políticos em fazer as denúncias. Ao menos eram interesses contrários àqueles de quem mandou o exército disparar contra seu próprio povo, colocando-se a serviço dos interesses de uma empresa de fora.

A UFC – United Fruit Company era apenas a face mais visível da duradoura vassalagem que a Colômbia presta aos Estados Unidos da América. O aspecto talvez mais simbólico do enorme poder que tinham, a ponto de fazer um governo ir aos píncaros de mandar o exército massacrar uma população porque esta contrapunha-se à empresa e pedia o cumprimento das normas laborais.

As UFCs, que são muitas e não somente bananeiras, caracterizam-se não apenas pela exploração profunda, como pela desfaçatez sem limites. Agora mesmo, acesso o sítio de internet da companhia – http://www.unitedfruit.org/gaitan.htm – e leio um texto em que desfaçatez, a hipocrisia e a indignidade transparecem em todas as palavras.

O site da companhia em benefício de quem mataram-se mais de mil colombianos trata do assunto, a propósito de uma brevíssima biografia de Gaitán, como se ela nunca tivesse estado na Colômbia. Parece até que não sabem nem mesmo o que é uma banana. Parece que o General Vargas era um desconhecido deles. Faltou apenas apresentar condolências aos descendentes dos que morreram por vontade da própria UFC e por execução do governo colombiano.

A violência e a quase total subserviência aos Estados Unidos da América caracterizam a vida, a economia e a política colombianas. A trajetória de Gaitán é emblemática desse modus político colombiano.

Jorge Gaitán poderia ser classificado como um liberal com preocupações sociais, pois nada que se aproximasse minimamente de um esquerdismo merecedor do nome havia então.  Político de origens médias, advogado, extremamente popular, seguiu o cursus honorum. Foi deputado, senador, prefeito de Bogotá, ministro de mais de um governo.

Candidatou-se à presidência pelo partido liberal e, por sua popularidade nas classes médias baixas, tinha enormes chances de vitória. Foi assassinado quando saia de seu escritório, episódio que desencadeou uma onde de violência sem precedentes em Bogotá, conhecida como o Bogotazo.

A multidão rumou para o Palacio de La Carrera, residência presidêncial. Tanques de guerra dispararam e mataram aproximadamente 300 pessoas. A confusão generalizou-se por Bogotá e espalhou-se pelo país. O governo fez concessões ao partido liberal e evitou uma guerra civil aberta. Ela, todavia, seguiu subterrânea.

O negócio da cocaína viria reanimar a violência na Colômbia. Traficantes enriqueceram vertiginosamente e cooptaram porções da classe política. Convivem – em harmoniosa hipocrisia – a produção e venda de cocaína com o vigoroso discurso contra essa atividade. Na verdade, a origem das duas coisas é a mesma.

Não há, nem na Colômbia, nem nos EUA, qualquer instância dirigente preocupada com o comércio de cocaína, senão como uma desculpa para mais violência e uma forma de turvar a percepção de coisas mais sérias. Os dirigentes políticos têm relações íntimas com o tráfico de cocaína.

Um primo do Presidente da Colômbia Álvaro Uribe, o ex-senador Mário Uribe, é processado por associação com o tráfico. O pai do Presidente, era ligado a Pablo Escobar, aquele que se tornou o protótipo de traficante demonizado mediaticamente. Um general do exército colombiano foi preso na Europa traficando cocaína. As conexões são muito evidentes para serem desprezadas.

O caminho da militarização precisa de desculpas e cortinas-de-fumaça para seguir seu rumo. Por isso, as acusações exaustivamente repetidas de envolvimento das Farc com o tráfico de cocaína são pueris, quando se sabe que quase tudo e todos estão nesse negócio. Na verdade são dois grupos que atuam no mesmo ramo acusando-se mutuamente e abrindo caminho para a continuação da violência.

Juntamente com as Farcs e com os inúmeros grupos mercenários, o exército regular colombiano desempenha um infame papel. O governo instituiu premiações em dinheiro e em promoções na carreira militar para a captura e eliminação de guerrilheiros das Farcs. Resultou em uma das atitudes mais infamantes que um exército pode ter – digna daquela de 1928.

Sabe-se que militares colombianos vêm assassinando camponeses que nada têm com as Farc e reportando as ações como de combate a essa banda guerrilheira, para receber as recompensas! É o caso conhecido como os falsos positivos. Ou seja, matança de civis com motivos fraudados para ganhar dinheiro.

Não é tarefa simples desmontar essa conflituosidade com tão fortes raízes históricas. E a insistência no disfarce, o desvio de atenção com acusações a países vizinhos, nada disso ajuda positivamente.