Não são todos os jogos do mundial que assisto totalmente sem som. São apenas os narrados por um funcionário da Rede Bobo que se destaca verdadeiramente na falação de tolices. Os outros eu os vejo com o mínimo volume possível, por hábito mesmo, porque afinal a narração e os comentários são desnecessários. O jogo vê-se.
Mas isso que me chama a atenção não é próprio da Rede Bobo. No fundo, todas as transmissões de futebol são parecidas e o que se destaca na Bobo é a quantidade, não a qualidade. Ela é pior porque tem mais do que torna ruim uma transmissão. Abusa da celebração da irrelevância, da oferta da bobagem com solenidade.
Tudo tem que ser tornado em alguma coisa especial, em alguma coisa que se explique com um número, com uma data. Então, quando jogam duas equipes nacionais, o pessoal da televisão começa a derramar-se em datas e números. Nesse preciso momento faz 473 minutos que a equipe tal não sofre gols em dias ímpares. Ou: quando a equipe tal joga com seu uniforme azul e a Lua está em conjunção com Marte sempre cai uma chuva fininha no segundo tempo do jogo e o atacante escorrega antes de alcançar a bola.
Ora, não há problema algum em se repetirem trivialidades e pseudo-estatísticas durante a transmissão de uma partida de futebol. Nada disso é importante e nenhuma dessas estatísticas consiste em algum dado útil a qualquer pensamento. O problema é anunciar essas bobagens com ares de solenidade, como se estivessem a oferecer preciosidades ao público. Isso é humor e deve ser tratado como tal.
Vai começar mais um jogo e o falador televisivo sai-se logo com alguma coisa assim faz seis anos, quatro meses e vinte e três dias que a equipe A não perde uma partida sempre que seu treinador calça a meia esquerda antes da direita e a humidade relativa do ar está maior que 50%. Sim, mas e daí? Fazia minha vida toda até que eu escrevesse esse texto e antes de escrevê-lo ainda não o tinha feito!
Façam piadas, senhores televisivos. Não há mal em falar cretinices desde que não sejam presunçosas.