Um espaço de convívio entre amigos, que acabou por se tornar um arquivo protegido por um só curador.

Tag: SUS

Por que faz? Porque pode!

Este blogue ficou fora do ar alguns dias. Fez alguma falta? Não sei e, na verdade, acho que não, do ponto de vista da necessidade de alimentação de novidades, o que move a maior parte de quem anda a ver coisas na internet. Esse, afinal, não é um sítio de novidades.

Aqui não há furos jornalísticos nem inovações. Há muita chatice e coisas que interessam aos que aqui escrevem. Mas, soou como agressão o que o fez ter ficado fora por vários dias. Agressão não pessoal, mas à lógica do que permeia nossa vida: o mercado.

O domínio apocaodepanoramix.com estava registado na empresa UolHost. Este registo venceu-se e esqueci-me de pagar a renovação. Deu-se que no tal UolHost o domínio foi cancelado. Tudo bem.

Acontece que na confusa página da empresa registadora consta a possibilidade de resgatar o domínio, mediante o pagamento da renovação e um outro valor, estratosférico, diga-se logo.

Entrei em contato com o tal registador e pedi a emissão da guia para pagamento de quanto era necessário. Começou então uma romaria de contatos com vários atendentes despreparados. Todos a dizerem as mesmas tolices e a resolverem nada.

Ao final de um dia a conversar as mesmas idiotices com gente que se porta como barnabés resolvi registar o domínio em outro canto, com sutil alteração.

Ocorre que insistiam em perguntar o que havia e nada havia. E mantinham meu cadastro associado a um domínio já cancelado!

Ora, se já estava cancelado, porque manter meus dados relacionados com a criação de um domínio já cancelado? Chantagem, o que percebi logo.

Diante da insistência em cancelar meus registos os atendentes do UolHost limitaram-se a dizer asneiras e a pedir, ao final, que telefonasse para eles. Poucas coisas podem ser mais inúteis que telefonar para um serviço desses, em busca de cancelamento.

Aliás, há recente norma da ANATEL a prever que os consumidores têm direito a cancelar seus serviços contratados sem terem que penar ao telefone em ligações que sempre caem, passam de um a outro ou simplesmente não se completam.

Esse é o tipo de serviço privado que os privatistas dizem ser bons. Os mesmos tipos que se tratam à custa de todos os brasileiros no SUS, que dizem ser ruim…

Proposta para melhorar saúde e educação públicas no Brasil.

Os serviços de saúde e a oferta de educação são universais e gratuitos, nos termos da constituição brasileira de 1988. A fórmula é de abrangência que não se encontra em outros países, na medida em que universalidade e gratuidade não estão condicionados por qualquer coisa além do orçamento do Estado. Não se exigem quaisquer contraprestações, nem a nacionalidade brasileira.

Nada obstante a declaração na constituição, a realidade apresenta dois serviços ruins. É verdade que a saúde, por meio do SUS – Sistema Único de Saúde – teve melhoras na qualidade dos serviços prestados. Na educação, embora os investimentos tenham aumentado significativamente, os resultados são muito ruins: recentemente o Brasil ficou em penúltima posição numa pesquisa a envolver quarenta países.

Não se trata apenas de dinheiro, evidentemente, quando se buscam razões para as deficiências. Há desperdícios e ineficiência, mas a questão central não se encontra pontualmente. No fundo, há problemas porque os grupos detentores de poder real não estão preocupados com os problemas.

Ninguém reclama a sério dos defeitos dos serviços que não usa; no máximo faz ressonância a reclamações que se convencionou bonito repercutir, por pura conveniência de manter uma boa consciência.

Pois bem, o poder real, no Brasil, encontra-se nos estratos sociais que vão das classes média para cima. Esses grupos não se servem ou pouco servem-se de serviços públicos de saúde. Com relação à educação, esses grupos servem-se da educação de nível superior pública e, por isso mesmo, ela é superior à privada, na enorme maioria dos casos. Ainda pela mesma razão, a educação nos níveis fundamental e médio é ruim.

Aquilo que não é ofertado aos estratos médios e altos tende a funcionar mal, embora haja serviços públicos bons, como é o caso da educação superior, precisamente porque seu maior alvo são os estratos detentores do poder real.

A conclusão é inescapável e sua correção pode ser medida pela ojeriza que essa proposição desperá nas pessoas componentes das classes dominantes: para funcionarem SUS e educação fundamental e média é necessário que delas precisem as camadas média e alta da sociedade brasileira.

Ocorre que o sistema todo é conformado para evitar essa utilização de saúde e educação públicas pelas camadas média e alta, o que evita também a melhora da qualidade dos serviços.

Um Estado capturado por minorias cria mecanismos contraditórios às premissas de universalidade e gratuidade dos serviços de educação e saúde. Um desses mecanismos, que deveria ser suprimido – até por imperativo de coerência interna – são as deduções de despesas médicas e com instrução no imposto a ser pago sobre a renda.

É de uma clareza ofuscante a aberração que é deduzir do imposto pago aquilo que se despendeu com algo oferecido gratuita e incondicionalmente pelo Estado. Se algo é posto a disposição das pessoas sem custos e elas resolvem pagar por isso particularmente, não há qualquer razão para esse dispêndio por opção privada ser suportado duplamente extamente pelo Estado que já oferece o mesmo. Isso socializa os custos privados de classes privilegiadas, além de ser um contrasenso difícil de refutar.

Seriam legítimas deduções no imposto sobre a renda de despesas com serviços essenciais não oferecidos gratuitamente pelo Estado que cobra o imposto. Permitirem-se deduções com despesas em serviços ofertados gratuitamente é permitir que por decisão individual o privilegiado evada-se do pagamento de tributos, o que é disfuncional e aberrante.

Isso de a constituição prever saúde e educação públicas universais e gratuitas e ao mesmo tempo permitir que classes privilegiadas deduzam do imposto sobre a renda despesas com esses seviços é típico da hipocrisia fundante da nacionalidade. Faz-se uma bela declaração de intenções e, por vias laterais, faz-se outra norma a manter tudo como sempre esteve e a mesma sistemática de sangria de muitos em benefício de poucos, por meio do Estado.

Como sempre, percebido o esquema subjacente, hipocrisia e contradição são vertiginosos, até para nossos largos padrões brasileiros. E hipocrisia e contradição revelam-se também nas defesas do deformado sistema. Os beneficiários sempre dirão que tem que ser assim porque os serviços públicos são ruins e têm que partir para serviços privados.

Fiquemos com uma parte da objeção, desprezando a das conclusões, evidentemente, para minimizar os riscos de contaminação. Ora, se os serviços públicos são ruins, pode-se buscar sua melhora, ao invés de saquear o Estado para pagar por serviços privados. Pode-se também assumir postura mais sincera e honesta e deixar os serviços ruins para os pobres e pagar os serviços privados do próprio bolso, mas isso seria sonhar com um direitismo só direitista e não desonesto e oportunista, como é nosso comum.

O meio mais eficaz, não apenas de suprimir a contradição gritante, mas de encaminhar os serviços de saúde e aducação públicas para melhora é tornar as classes médias e altas clientes deles, deixando de ajudar esses grupos a pagarem por serviços privados, quando a constituição diz haver os mesmos serviços públicos, gratuitos e universais.